Antares escrita por Tahii, éphémère


Capítulo 3
Talvez o mundo possa ser nosso essa noite


Notas iniciais do capítulo

[Tahii] OOOOOOOOOIE! Tudo bem com vocês, pessoal? ♥

A Quldditch está com problemas de internet, então talvez ela não apareça aqui nas notas por enquanto [força, guerreira!]. Mas, eu digo por nós duas, que estamos muito felizes com o feedback de vocês. Obrigada aos que começaram acompanhar, aos que favoritaram e aos que conversaram com a gente nos comentários... ♥

Esse é um capítulo que eu, particularmente, gostei muito de escrever. Fiquem atentos aos detalhes para descobrirem algo sobre o Alvo... hehehe

Boa leitura para vocês ♥

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Estava difícil prestar atenção em algo ou, simplesmente, parar de pensar sobre a realidade que havia batido em sua porta; a falação interminável do professor Binns apenas deixava as coisas piores. Rose sempre gostou de História da Magia, era a aluna mais empenhada em formular questões e dar as respostas que os demais não sabiam, mas não se sentia concentrada o suficiente para ajudar seus colegas lufanos a não morrerem de sono. Até mesmo porque a maioria estava contente, sussurrando sobre as malditas marcas, delirando sobre um futuro totalmente incerto, fazendo o professor reclamar das conversas paralelas a cada quinze minutos. 

— Rose — Roxanne chamou baixinho, arisca quanto ao alvo dos olhos fantasmagóricos do professor. — Você não comentou nada sobre a sua marca. 

Deveria responder? Ou simplesmente dar ombros? Talvez fosse uma pergunta à qual devesse se acostumar, passaria um bom tempo de sua vida tendo que deparar-se com o inegável e deprimente fato de que era uma alma única. Ela respirou fundo, o coração batendo dolorosamente em seu peito conforme se encontrava cada vez mais imersa numa situação tão patética; virou o rosto para a prima esperando que sua expressão fosse mais clara do que palavras, olhos cansados de ficarem marejados, maçãs do rosto vermelhas por estarem excessivamente secas. 

— Tem certeza? — ela aproximou para falar mais perto de seu ouvido. Rose assentiu, voltando a encarar seu pergaminho vazio de anotações. — Procurou direito? 

— Sim — engoliu a seco, apoiando os cotovelos sobre a carteira numa tentativa de aguentar o peso que passara a sentir em seus ombros. 

Ela estendeu a mão por cima da de Rose, apertando-a carinhosamente. Na pele negra de Roxanne, enrolada ao seu pulso como se fosse um relógio, estava sua marca: l’estoile¹, uma carta de tarot cujo desenho era uma mulher abaixada à beira de um rio, o céu cheio de estrelas de oito pontas. Durante todo o dia, Rose se deparou com diversos desenhos — por vezes bem estranhos — e com toda a euforia dos alunos do sétimo ano. Apenas alguns eram discretos para não sair exibindo a marca, ou sensatos para poupar os ouvidos alheios de histórias sem pé nem cabeça. O Clube de Duelos, que ocupava o último tempo da segunda-feira, talvez devesse ter o nome mudado para algo relacionado a fofoca e tumulto, visto que era mais atrativo escutar os murmúrios aleatórios do que prestar atenção nos alunos que subiam ao palanque. 

Por sua vez, a Weasley estava atenta à terrível performance de Lorcan, que perdia vergonhosamente para Alice Longbottom, do sexto ano, embora ainda aparentasse estar se divertindo com a derrota. Ela era realmente boa em Feitiços, o professor Flitwick vivia elogiando a garota para qualquer um que quisesse ouvir; Rose se lembrava de uma semana em que ela havia conjurado um patrono corpóreo no clube, era uma adorável salamandra de fogo. 

— Não precisa nem comentar — Lorcan disse num sorriso enquanto andava em sua direção, passando os braços pelos seus ombros, dando um beijo nos cabelos ruivos. — Alice deveria duelar com o Flitwick, não comigo, um mero mortal tão… tão aceitável

— Isso significa que você tem que se empenhar mais — respondeu, observando a movimentação de escolha da próxima dupla. 

A primeira a subir os degraus foi Megan Creevey, uma sonserina que Rose conhecia apenas de vista: era a capitã do time da Sonserina, ex-namorada de Lorcan e motivo de algumas das reclamações de Alvo durante o verão. Haviam boatos de que ela ainda não havia superado totalmente o término, principalmente nos jogos de quadribol, mas não era algo que sequer ocupava os pensamentos de Rose; era típico de sonserinos arrumar problemas por bel prazer, não seria uma grande surpresa ela desafiar Lorcan para um agni kai² numa tentativa de humilhá-lo ou armar uma enrascada durante a temporada de jogos. Quem subiu para duelar com ela foi Scorpius, cuja expressão não era das mais descansadas. 

Por alguns instantes Rose pensou que, talvez, não fosse a única a ser, bem, única, já que no dia anterior a marca dele ainda não havia aparecido. Ela conseguiu respirar fundo, enchendo-se de uma falsa esperança que apenas lhe causou uma intensa acidificação no estômago. No entanto, ao forçar a visão, uma observação mais atenta do loiro permitiu que enxergasse, no antebraço de Scorpius, uma grande flor cobrindo a pele. Sua camisa estava dobrada até os cotovelos e ele mexia sem parar o braço, impossibilitando uma vista mais precisa. Mas, de qualquer forma, estava lá.

Rose se aconchegou no abraço de Lorcan. Sentia que poderia desmoronar ali mesmo, e para que o namorado não percebesse seus olhos vermelhos e a força que fazia para não chorar, repousou a cabeça em seu ombro e assistiu o duelo que se desenrolava. 

— Se me machucar, vai ficar sem artilheiro — Scorpius disse enquanto se curvava diante de Megan, cuja risada zombadora podia ser ouvida de longe. Ao se virarem para voltar às posições, era nítido o sorriso presunçoso do rapaz; ele pensava que poderia ser uma boa oportunidade de descontar a falta de gentileza de sua capitã durante os treinos. 

— Se me machucar, vai ficar sem um braço — retrucou, os olhos brilhando de emoção. Ela era conhecida pela sua intensidade, determinação e vontade de ficar por cima, sempre. Ergueu a varinha na direção de Scorpius, a sobrancelha arqueada esperando pelo momento oportuno de desarmá-lo. — Vai sentir muita falta dessa margarida, Malfoy? Estupefaça! 

Protego! Por Merlin, Creevey. Incarcerous! — uma grande corda apareceu no ar, voando na direção da garota. — Isso é uma rosa

Oppugno! — a corda mudou de direção, logo diminuindo de tamanho.

Reducto! Expelliarmus!

Megan mantinha a coluna ereta e um braço às costas, parecendo saber exatamente o que fazia. Arqueando as sobrancelhas e adotando um olhar de censura — que davam a certeza ao Malfoy de que estava ferrado —, ela plantou o pé direito à frente, obstinada. Os músculos de Scorpius, retesados e doloridos pela noite mal dormida, não não tinham a mesma desenvoltura que os de sua adversária; sua postura estava torta, conseguia sentir, e seu tronco inclinava-se mais para a frente do que o necessário, o que o desestabilizaria com muita facilidade. A moça devia ter percebido.

Protego! Trip! — o rapaz tropeçou em seus pés, deixando a varinha cair no chão. — Confudus! 

Finite Incantatem! — proferiu, sentindo o baque de desorientação pela baixa qualidade do feitiço de defesa; antes de se levantar, acenou com a varinha e gritou em resposta — Immobilus! 

— Seus feitiços parecem de primeiranistas, Malfoy — zombou, sem conseguir sair do lugar. — Glacius!

Protego! Rictusempra! 

— Ele só está fazendo gracinha porque sabe que vai sofrer retaliação nos treinos — Lorcan comentou, as risadas escandalosas da garota enfeitiçada reverberando pela sala e abafando sua voz. — Megan não sabe perder. 

— Ninguém sabe — Rose respondeu num murmúrio.

Finite Incantatem! Quietus! — ela voltou ao normal, saindo do lugar e apoiando as mãos nos joelhos. — Quero ver agora, Malfoy.

— Pra mim, isso é roubo — a Weasley deu ombros com a observação. Megan só estava sendo esperta, não havia caminho mais rápido para ganhar um duelo do que tirar a voz do oponente para que ele não conjurasse nenhum feitiço. 

Estupefaça! — Scorpius fez um movimento com as mãos, dando apenas alguns passos para trás. Havia conjurado um feitiço de proteção não-verbal, o que ocasionou assobios por parte da platéia que, por diversos motivos, torciam contra Megan. — Stupefy! — era um encantamento bem avançado, Scorpius precisou de muito esforço para impedi-lo, o que deveria realmente fazer caso não quisesse cair no chão feito uma batata. Teve sucesso, mas sua mente não foi forte para aguentar os próximos. — Immobilus! Expelliarmus! 

A varinha de Scorpius voou longe, dando fim ao duelo dos dois. O rapaz recebeu um cumprimento do professor Flitwick sobre o feitiço não-verbal e andou até onde Alvo e Adam Zabini estavam. Ao descer do palanque, Lorcan Scamander lhe fez um aceno estranho com a cabeça — visto que ele nunca havia feito questão de cumprimentá-lo —, e Rose parecia ocupada procurando poeira no chão. À sua volta, diversos olhares cravavam em si, e tinha certeza que nenhum deles desejava parabenizá-lo como o professor fez, mas ainda não conseguia entender o que havia de errado para ser alvo de tanta comoção. Isto é, até se dar conta de que tinha dobrado as mangas do uniforme e que sua marca estava à mostra. Tomado por uma onda de constrangimento, desdobrou a camisa e cruzou os braços firmemente contra o peito. Sem conseguir evitar, lançou mais um olhar furtivo para a Weasley, do outro lado do palanque. Ela permanecia cabisbaixa, levemente pálida. 

No dia seguinte, porém, Rose sentiu-se estranhamente revigorada. Não por causa de uma ou outra alma única a que se referiam os boatos que corriam pelos corredores, ou porque tinha aceitado que ela mesma era uma — não, o desespero era real demais, e criou raízes bem rápido dentro de sua cabeça, reforçado pelos burburinhos constantes sobre o assunto. Era por causa do dia confortante e absurdamente normal que tivera.

Parecia besteira pensar nas coisas daquela perspectiva, mas ela não poderia se importar menos, não quando sentia-se tão bem a ponto de retribuir o largo sorriso de Lorcan com sinceridade. Aquilo, claro, aumentou o entusiasmo do rapaz com marcas em geral, mas ela sequer ligou, principalmente porque, pela primeira vez desde o equinócio, podia contar nos dedos das mãos quantas vezes o Scamander perguntou sobre sua marca. Era estranho, claro, mas gradativamente aliviador.

Por isso, quando os primeiros raios de sol da quarta-feira começaram a adentrar seu dormitório, saltou da cama animada, os resquícios de vigor do dia anterior ainda eletrizando seus sentidos. Durante o café da manhã, haviam apenas duas ou três pessoas além dela no Salão Principal, e a biblioteca ainda tinha o ar parado das horas que passou fechada quando ocupou uma das mesas e terminou todos os relatórios que sobraram. Aproveitando a oportunidade, embrenhou-se no mar de prateleiras e buscou um exemplar de Romeu & Julieta ao se lembrar do pergaminho que ainda não tinha terminado.

Quando rumou para as estufas de Herbologia, que ocupava o primeiro horário da manhã, encontrou Lorcan nas escadas, pouco antes de atingirem o exterior do castelo. Cumprimentou-o com um abraço por trás e um beijo leve, mas quando entrelaçou suas mãos e seguiu o caminho, Rose não pôde deixar de incomodar-se com algo; não sabia dizer o que era, porque Lorcan ainda lhe parecia normal, tagarelando sobre tudo com o mesmo sorriso de sempre, mas sentia, no fundo de seu estômago que começava a revirar com nervosismo.

Já nas estufas Rose colocou-se do outro lado da mesa, ao lado de Dominique, se irritando com a dificuldade em concentrar-se no que fazia uma vez que seus olhos pareciam se atrair a Lorcan como metal à ímã. O tempo todo ele pareceu muito concentrado em arrancar os ramos estragados de uma planta cheia de dentes, com delicadeza para não ser alvo de nenhuma mordida, e não desviou o olhar para a ruiva em nenhum instante. Vestia a capa azul e as luvas adequadas para a atividade, como todos na estufa, e por mais que continuasse vasculhando o namorado por algum sinal, por menor que fosse, não conseguiu encontrar nada.

Isto é, até que ele terminou a atividade um bocado mais cedo. Lorcan foi até a porta, colocou as luvas usadas no cesto ao lado e, ao tirar a capa para pendurá-la ao lado da porta, Rose viu; as mangas da camisa dele não estavam arregaçadas aquela manhã. Olhando por sobre o ombro por alguns rápidos instantes, ele abriu um sorriso e direcionou a ela uma piscadela antes de deixar a estufa.

Rose piscou vagarosamente. Um rosnado ligeiramente gutural, vindo do vaso à sua frente, a despertou do torpor em que mergulhou, mas ainda não conseguia pensar direito quando voltou a acariciar alguma das folhas até que conseguisse retirar a substância necessária daquela planta. Nem sabia como tinha terminado a atividade, para falar a verdade. E quando saiu das estufas, Lorcan, que geralmente esperava por ela ao lado do caminho serpenteante, não estava lá

Durante as demais aulas não conseguiu, de novo, focar no que estava acontecendo fora dos seus pensamentos acelerados, o que lhe gerou uma preocupação pela proximidade dos NIEM’s. Precisava estudar, precisava pelo menos ouvir o que seus professores diziam, mas se via emocionalmente incapaz. No horário livre após o almoço, aproveitou a oportunidade para finalizar o pergaminho da aula do professor Baldrick. 

— O que ela significa, Rox? — Dominique tocava a marca de Roxanne, tentando falar baixo para não atrapalhar a prima. Pelo jeito, Rose era a única que estava postergando os centímetros de tragédia.

— Depende.

— Você sempre diz isso — apoiou o rosto sobre a mão, sem desviar o olhar da carta de tarot. — Depende do quê?

— De tudo. O seu espelho não tem um significado sozinho, ele depende de outras variáveis para constituir um sentido. Se não, ele é apenas um espelho. Essa carta é apenas uma carta até eu conhecer essa pessoa. 

— Mas você tem alguma impressão? 

— Não, você tem?

— Hm, tenho, mas nada certo… 

— Imagino que esteja com esse papo furado para saber o que eu acho.

— Está vendo como você é talentosa, Rox? — a morena riu, debruçando-se sobre a mesa. 

— Não sou capaz de dizer quem é a sua alma gêmea, Dominique, é difícil de entender algo tão simples assim? 

— Você acionou o relógio astral? — ao terminar a última linha, Rose ergueu o rosto para as primas. — Quer dizer, não sei se ele realmente funciona, porque o meu ainda está rodando como se eu tivesse uma marca, mas talvez possa ajudar nessa sua ansiedade. 

— Não está ajudando, e nem vai adiantar alguma coisa por um longo tempo — Rose sentiu um certo aborrecimento por tal colocação, outro detalhe que deveria se acostumar caso não quisesse passar a vida se chateando. 

— Por quê? — pigarreou, guardando as coisas em sua bolsa. 

— Segundo ele, faltam doze anos, sete meses, trinta dias e umas dezessete horas para eu ter a primeira conexão. 

Mesmo com a aura séria da conversa, foi impossível que elas não explodissem em risadas. Chegava a ser patético pensar que poderiam levar uma vida inteira para achar alguém capaz — ou não — de proporcionar uma certa completude astral. Rose não entendia como essa lenda havia ganhado tanta importância num mundo em que, a cada dia, via-se mais liquidez nas relações. Como todos pegavam para si a ideia de que em algum lugar havia alguém feito especialmente para lhe amar? Sendo que não havia garantia nenhuma, apenas uma imensa margem de erro. Rose era a prova disso. 

Continuaram debatendo sobre a aplicação do relógio astral até o início do período da tarde. A professora Septima Vector, felizmente, abordou um assunto complicado e interessante o suficiente para atrair a atenção das mentes algébricas mais brilhantes de Hogwarts, sem deixar um neurônio disponível para pensamentos relacionados à qualquer marca estúpida. Por outro lado, a aula de Transfiguração foi desumana, o que deixou Rose com a impressão de que tinha sido atropelada por uma manada de hipogrifos famintos. E, para deixar as coisas um pouco mais estranhas, deu de cara com Lorcan quando saiu da sala. 

— Ei — ele estava com as mãos nos bolsos da calça, a capa aberta, sobrancelhas levemente franzidas. Rose quase sorriu, abraçando-o e deixando um selinho em seus lábios. — Está muito cansada?

— Um pouco — bastante. Se uma sensação estranha não estivesse lhe apertando o peito, provavelmente diria que gostaria de tirar um cochilo antes da ronda. — Como chegou tão rápido aqui? Pensei que tinha aula com o Hagrid. 

— Digamos que eu matei aula… Estava pensando em algo e eu queria falar uma coisa com você — ela assentiu. Lorcan pegou a alça da bolsa de Rose e colocou em seus ombros; deu alguns passos lentos e, novamente, enfiou as mãos nos bolsos. 

— Sou toda ouvidos — sua voz saiu num tom mais baixo. O rapaz olhava para o chão, mexia as sobrancelhas como se estivesse elaborando o que ia dizer. Estavam quase fazendo a curva do corredor e ele ainda estava quieto. — Lorcan?

— Nós não conversamos ainda sobre as marcas — aparentemente nervoso, ele virou o rosto para ver a expressão da garota. Rose nunca havia sido boa em esconder sentimentos, e não seria diferente daquela vez. — Talvez seja necessário. 

— Me lembro de várias vezes em que tocamos no assunto, principalmente sobre as marcas de Garret e de toda a Corvinal.

— Quero falar sobre as nossas — enfatizou, fazendo-a assentir. — Você não comentou nada sobre a sua, apenas cogitamos algumas hipóteses, então… Eu quero saber mais, eu preciso saber mais.

— Saber mais o quê? Se a minha marca tem a ver com você?

— Só estou perguntando por que você não me contou nada, não precisa ficar na defensiva. 

— Não estou na defensiva, Lorcan — ela parou de andar, forçando-o a fazer o mesmo. — Pensei que tínhamos concluído que elas não significam nada, você disse que elas não significam nada. 

— E eu estava errado — soltando um longo suspiro, o rapaz olhou para os lados, esforçando-se o máximo para escapar do olhar inquisidor da garota. — É estranho saber que você tem uma pista sobre a pessoa certa gravada na sua pele. 

— Você disse que a pessoa certa não tem a ver com a marca, tem a ver com o coração. Não estou te entendendo. O que quer dizer com isso? — não houve resposta, até os quadros que observavam ficaram quietos. — Que não sou mais brilhante? Que a sua lâmpada não tem mais nada a ver comigo? — seria difícil, para ela, se conter. Fechou os olhos, passando a mão pelos cabelos, e quando voltou a fitar Lorcan, viu seus olhos verdes marejados. — Você quer entrar nessa busca insana pela sua alma gêmea, é isso? 

— Por que você está agindo como se eu fosse o único a ter esse desejo? Todo mundo quer, todo mundo quer achar a sua cara metade e, pelo menos, eu estou sendo sincero com você… Não consigo continuar enquanto essa febre não passar, não quero te chatear por isso. 

Muito obrigada pela sua consideração, Lorcan — deu risada, pondo as mãos na cintura. — Você fala dessas malditas marcas há séculos, sempre disse que elas não influenciariam em nada o nosso… Quer dizer, não que tenhamos algo, porque isso é outra coisa que você adia pensando nessas malditas marcas que até ontem você jurava não importar. 

— As pessoas mudam, Rose, eu não sou o mesmo de antes do equinócio. Você também não é! 

— E de onde você tirou que eu não sou?

— As marcas mudam a gente… — Lorcan passou os dedos por debaixo dos olhos, para conter as lágrimas. Ele sempre chorava quando estava nervoso. — Mudam a ponto de escondermos coisas um do outro.

— Quem está escondendo, Lorcan? E o quê? Por Merlin! A única mudança que eu estou vendo é você voltando atrás com o que disse, mudando suas promessas porque agora  é conveniente mudar. 

— Você está escondendo a sua marca de mim. Será que é impossível se colocar no meu lugar por um instante? O que você pensaria caso eu não te mostrasse a minha? No mínimo você sabe que ela não tem nada a ver comigo e está adiando o inevitável.

— O inevitável? O nosso “término” é inevitável?

— Rose — ele respirou fundo, fitando-a com o resto de coragem que parecia ter. — Estou sendo sincero, eu não consigo

— Claro que não consegue, eu nem esperava que conseguisse — Rose estendeu o braço para pegar a bolsa no ombro do loiro. — Tudo bem. Se é o que você quer, tudo bem. Eu respeito você.

— Não aja como se não estivesse sentindo a pressão.

— Hm, não estou sentindo. Sabe por quê? — embora os olhos de Lorcan continuassem vermelhos, seu maxilar parecia travado num nervosismo extremo. Se Rose o conhecia bem, suas mãos deveriam estar geladas e um pouco trêmulas dentro de seus bolsos. Naquele momento, contudo, nem ela tinha forças o suficiente para impedir seu corpo de trepidar. — Por que eu não mudei depois do equinócio, a marca não me mudou, simplesmente porque eu não tenho uma. Talvez seja um outro bom motivo para não continuarmos com isso. Você tem o direito de correr atrás da sua alma gêmea, já que tem uma. Aproveite sua chance, vasculhe em cada canto do mundo… Eu, por outro lado, não tenho nada para procurar, principalmente agora que perdi o que pensei ter encontrado. 

Sem mais, Rose fez um aceno educado com a cabeça e continuou o trajeto em direção ao quadro da Mulher Gorda sozinha e a passos largos, tomada por uma ira descomunal. Não ouviu Lorcan chamar seu nome, não viu nenhuma objeção, nenhuma reação que mostrasse que ele poderia se arrepender de sua decisão; e ela sabia, bem lá no fundo, que ele não estava errado. O ponto central não era encontrar a alma gêmea, mas não se arrepender de não ter procurado. Ao mesmo tempo, ela não poderia se culpar por ser uma única, por não ter quem procurar, por não ser o que ela e Lorcan haviam, de certa forma, planejado. 

Chegando em seu dormitório, tirou os sapatos, deixou a bolsa ao pé da cama e deitou-se de bruços, sentindo uma imensa vontade de dormir por anos, mesmo tendo total consciência de que devia cumprir sua ronda. Rose não teve outra reação além de respirar bem fundo numa tentativa de conter a angústia corrosiva que crescia em seu coração. Talvez estivesse imune de sofrimento por um tempo, visto que era mais desesperador o fato de não se encaixar na lenda das marcas. 

Quando decidiu se levantar, sem querer jogou no chão o relógio astral que guardava embaixo do travesseiro. Ela pegou o saquinho aveludado e o tirou de lá de dentro, sentindo-se ainda pior ao ver que trabalhava normalmente. 

01 dia 07 horas 39 minutos

Rose riu sozinha, negando com a cabeça, guardando-o de volta no saquinho. Era mais insano pensar que Dominique esperaria doze anos para a sua conexão ou que Rose teria a sua na próxima noite, provavelmente durante a aula de astronomia, sendo que nem tinha marca? 

Dentre todos os trending topics em Hogwarts, o assunto probabilidade estava bem ranqueado; as conversas aleatórias em corredores, salões comunais, aulas, refeições e banheiros sempre envolviam dados estatísticos não oficiais sobre as chances de cada indivíduo achar sua alma gêmea. 

— Salamandra. De fogo! — Alvo Severo Potter, durante o jantar da Sonserina, era um bom exemplo. Estava indignado pelo significado recém descoberto de sua marca, mal conseguia devorar as asinhas de frango que tanto gostava. — Qual a probabilidade disso fazer sentido para alguém? 

— A pessoa pode ter tido uma má experiência com salamandras durante a infância — Zabini propôs, sério. — Ou ela pode estudar salamandras na Ásia, o que explicaria o kanji. Ela pode gostar de comer salamandras também, ou ter uma de estimação. 

— Tá bom, Adam, ele já entendeu.

— Isso é impossível. Quem tem uma salamandra de estimação? — bufou, afastando o prato. — Esse negócio é perda de tempo total. Não é como se fôssemos achar a nossa alma gêmea amanhã. 

— Você comprou o relógio astral do seu tio? Porque eu comprei — o rapaz moreno enfiou a mão no bolso da capa, analisou os ponteiros por alguns segundos e sorriu animado. — Dois anos, quatro meses e dezessete dias. Tenho certeza que vai ser um dia ensolarado de julho que irei na sua casa, sua irmã já vai estar com a marca dela, teremos a conexão assim que eu entrar e falar “oi, Lily”... Já consigo ver tudo. 

— O nome disso é delírio — o Malfoy pontuou, rindo enquanto bebia o suco. — Não dá para saber se esse negócio funciona. E se você ficar tão focado nele e perder a conexão?

— Não dá para perder a conexão, bobinho — Adam sibilou, revirando os olhos, logo sendo acometido pela dúvida. — Ou dá?

— Nunca vi essa conexão acontecendo, ninguém fala nada com nada, essas marcas são estranhas, e a minha não tem nada a ver com a da Hubi — o Potter fez cara de choro, passando a mão pelos cabelos. — Estamos perdidos, à mercê da crueldade do destino.

— O sr Baldrick provavelmente falaria isso. 

Scorpius não sabia nada sobre a marca do professor Baldrick, nem de nenhum outro docente de Hogwarts — todos eram bem discretos, talvez justamente por assistirem ao colapso adolescente que acontecia anualmente em março —, mas de certa forma, ele era o único bruxo no castelo capaz de responder as perguntas existenciais que envolviam a lenda. Scorpius anotou num pedaço de pergaminho o que perguntaria na aula de sexta-feira: o que é destino? Só de pensar nas diversas possibilidades de respostas, sentia um pingo de esperança borbulhar em seu estômago. Não tinha expectativas reais de encontrar sua alma gêmea, e da mesma forma que quis uma marca para sentir-se bem, queria um consolo que lhe desse sanidade durante a vida. Se o destino fosse o responsável por encaixar as peças do quebra-cabeça, restaria a ele apenas esperar. 

Diga-se de passagem, Scorpius conseguiu ficar bem mais calmo do que a maioria de seus colegas por um bom tempo, o suficiente para quase lhe render um atraso na sexta-feira. Após o jantar, pensou que seria uma boa ideia adiantar alguns relatórios para a reunião com McGonagall no fim de semana, só não levou em consideração que já era tarde para mexer com coisas chatas e potencialmente sonolentas. Acordou num susto, de repente, sentindo o coração disparar de receio em interromper Aurora Sinistra. 

Saiu correndo em direção à Torre de Astronomia, conjurando um Lumus com a varinha para não tropeçar em seus próprios pés. Os alunos já estavam lá, mas, por extrema sorte, a professora não havia começado ainda. Decidiu não dar um peteleco em Alvo para não denunciar sua presença, e se contentou em ficar mais ao fundo.

— Monitores não devem chegar atrasados — ele quase deu um pulo no lugar ao ouvir a voz de Rose Weasley passando ao seu lado. Achou esquisito ela já não estar à beira do parapeito, tentando enxergar mais do que sua visão humana permitia, mas não era de sua conta, mesmo reparando que ela não andava tão normal nos últimos dias, principalmente devido aos recentes acontecimentos com o Scamander. Outro assunto que estava em ascensão nos trending topics de Hogwarts. 

Ao que tudo indicava, os astros não queriam que Rose Weasley agisse normalmente. Para começo de conversa, ela não havia recebido a tão desejada marca; depois, Lorcan voltou atrás com tudo o que disse e terminou com ela, o maldito relógio ficou zombando de sua cara por dias, até que sua prima tirou, de vez, o único resquício de sanidade que lhe restava àquela altura da semana. Quinta-feira, definitivamente, não era o dia preferido de Rose. 

Após a última aula do período da tarde, que para o seu desespero tinha sido com a Corvinal, ela pensou que seria uma boa ideia se trancar no dormitório por um tempo. Relaxar, esquecer dos olhos pidões de Lorcan que lhe encararam durante a aula inteira como se ele a tivesse apunhalado brutalmente pelas costas — era quase isso, ele estava perdendo apenas para o tal destino. O problema não era o término em si, Rose não era mais uma menininha que acreditava na eternidade de um sentimento adolescente, e nem queria ser, mas quando percebeu ser uma única, o consolo para a angústia crescente em seus pensamentos era o fato de que Lorcan não a deixaria, porque foi o que ele disse, o que ele prometeu. E sem ele… Ela era apenas uma única solitária, fadada a roubar almas gêmeas alheias — se conseguisse, claro — ou ficar com outras pessoas que sobraram na matemática astral. 

Ela levantou para tomar um banho, aprontar-se para o jantar, para a ronda e para a aula de astronomia que teria mais tarde. Era tudo o que precisava: estudar os astros que, por algum motivo oculto, lhe odiavam profundamente. Quando voltou para o quarto, enrolada numa toalha, deu de cara com Dominique lendo um livro. Lorcan estava certo, a marca tem um poder de mudar as pessoas. Quando Rose pensou que veria sua prima ler algo com mais de duas linhas? 

— Eu sei o que está pensando — Dominique disse sem desviar o olhar das páginas. — E te digo, não pense, ok? Você é o suficiente para si mesma, e mais do que aquele projeto de espiga de milho merece. 

— Tomara que se encontre em leituras, porque adivinhação não é a sua xícara de chá, Domi.

— No que está pensando, então? — fechou o livro, deixando-o ao seu lado na cama. Rose suspirou, olhou para o teto e revirou os olhos. 

— Estou pensando em te ignorar e contemplar o meu vazio existencial.

— Não me parece uma boa ideia. 

— O que você faria? — a ruiva foi até a sua troca de roupas e vestiu a calcinha por debaixo da toalha. 

— Se eu fosse você, escreveria uma carta falando sobre o que aconteceu — era uma boa ideia. Rose ponderou, deixando a toalha em cima da cama, virando-se para a parede para vestir o sutiã. — Ou eu faria um des… Pelos brincos dourados de Morgana, Rose Weasley! — o coração de Rose saltou alto com o gritinho esganiçado da prima, cujos olhos arregalados conferiam às suas feições um aspecto impactado. 

— O que foi? — ela não tirou a mão de cima da boca para responder, continuava fitando a prima como se tivesse visto uma assombração. — O que foi, Dominique? 

— Estou vendo-

— Um bicho? — foi um motivo de alarde. Levando a mão ao coração, Rose começou a vasculhar o cômodo. Ela tinha terror de lagartixas. De repente, sentiu Dominique segurar seus ombros por trás, forçando seu corpo a ficar imóvel. 

— Sua marca — disse baixinho. 

— O quê?

— Eu estou vendo a sua marca, Rose Weasley! Você não é uma única! — com a sensação de que o coração tinha sido posto num liquidificador, ela se virou para a prima, os olhos começando a arder numa vontade absurda de chorar. 

— Você está brincando. Só pode estar...

— Não estou, juro — Dominique a virou novamente, dando risada enquanto observava cada detalhe nas costas da prima. — Por Merlin! 

— Dominique, está me deixando aflita!

— Você nunca ia ver ela, a não ser que olhasse suas costas num espelho — a garota largou Rose, abriu o malão, pegou um espelho de mão e arrastou Rose até o banheiro, fazendo-a ficar de costas para o espelho da pia ao entregar o objeto pequeno que tinha em mãos. 

Mesmo trêmula, Rose conseguiu enxergar pelo reflexo uma linha comprida, que começava com uma pequena curva desde a sua lombar e se estendia até o meio de suas omoplatas, onde se dividia em duas e se esticava para os seus ombros. Sua continuidade era interrompida vez ou outra por pequenos pontos pretos, mas um daqueles pontos tinha destaque não apenas pelo seu diâmetro consideravelmente maior, mas também por uma palavra ilustrada logo ao lado. Não conseguiu ler, uma vez que as letras estavam de trás pra frente, mas sentiu o alvoroço em seu estômago dobrar de intensidade. 

— Domi, o que está escrito? — sua voz saiu num fio, e a demora da prima lhe angustiava cada vez mais. 

— Antares — franziu o cenho, negando com a cabeça. 

Antares? 

— Será que é o nome da sua alma gêmea? Seria um nome bem esquisito, diga-se de passagem — Dominique riu de nervoso, abraçando a ruiva, que mal piscava. — Mas combina com você. Rose e Antares. Antares e Rose. 

— Não sei se alguém teria esse nome. Além do mais não me é estranho... Parece o nome de uma galáxia. 

— Galáxia? — Rose abaixou o espelho, estendendo-o para a prima. — Bom, podemos perguntar para a Aurora Sinistra hoje à noite.

A noite, então, havia chegado, e seus pensamentos pareciam lhe matar aos poucos. Só não estava tendo um taquicardia porque havia um tempo pré-determinado para que isso acontecesse: zero dias, seis horas, cinquenta e sete minutos, seis segundos.

Rose não conseguiu jantar direito — até mesmo porque teve que contar para Roxanne a recente descoberta —, mal sabia distinguir o caminho que fazia durante a ronda, e ainda perdeu um tempo considerável vendo seu relógio astral diminuir a contagem. Ao sair do dormitório faltava uma hora e três minutos. Guardou o objeto no bolso durante o caminho, tentando esquentar as mãos, controlar a respiração e tirar o sorriso estúpido que quase rasgava seu rosto. Pensando bem, talvez devesse ter lavado o cabelo naquela noite, e dado mais importância para a quinquilharia de seu tio. Mas era algo de alma, certo? Não de aparência, ou promessas vazias. 

Chegou em cima da hora, mas por sorte Aurora Sinistra não havia começado. Até mesmo Scorpius, que não costumava ser tão justo com horários, parecia ter acabado de chegar. 

— Monitores não devem chegar atrasados — tentou soar séria, sorrindo ao perceber que o rapaz se assustou. Como de costume, foi ficar lá na frente junto à professora. Se via mais do que nunca interessada naquele céu estrelado. 

Tentou prestar atenção em cada palavra que Aurora Sinistra proferia em relação às luas de Saturno na vã esperança de ouvir Antares em algum momento. Porém, enquanto observava pelo telescópio o agrupamento lunar que a professora queria tanto que vissem, não conseguiu evitar de pensar na possibilidade de estar apena voltando a se iludir. Qual era a garantia que aquele relógio astral funcionava? Ou que as luas de Saturno haviam deixado de fazer parte do grupo de astros que lhe odiavam?

Passando o telescópio para o próximo, juntou-se à Dominique na beirada do parapeito. Ela tinha um olhar esperançoso na direção do céu; o fato de seu relógio astral estar realmente testando sua perseverança e paciência não parecia lhe incomodar. Quem sabe um dia não teria a mesma paz que a prima, pensou Rose, não muito otimista quanto a resposta daquela concessão. Olhando ao redor, pensou sobre a possibilidade de todos terem a voz do professor Baldrick em suas mentes, com seus jargões reflexivos habituais que atormentavam suas certezas. O destino ainda assim se escreve sozinho.

Um sorriso involuntário surgiu em seus lábios ao mesmo tempo que sua pele arrepiou ao constatar que o final da aula estava cada vez mais próximo.

Quando Aurora Sinistra finalmente dispensou a turma, queimou três minutos de seu limite, mas mesmo assim Adam Zabini decidiu que seria uma boa oportunidade para ocupar o precioso tempo que ainda restava à Weasley antes que seu destino irreversível batesse à porta. Sacando o relógio do bolso e dando uma boa olhadela na contagem regressiva de dois minutos, Rose engoliu a seco, principalmente quando viu Dominique interromper a falação descabida do sonserino. Dando alguns passos para acompanhar a prima, ela aproveitou a oportunidade para olhar em volta, e viu que Alvo e Scorpius continuavam na sala, esperando pelo amigo. 

— Vocês querem perguntar algo, meninas? — a professora perguntou, parecendo muito grata pela oportunidade de se esquivar de mais uma das questões de Adam. 

— Rose quer  — a ruiva desequilibrou-se quando Dominique a empurrou para o espaço entre ela e a professora; não conseguiu barrar o desespero quando percebeu que tudo poderia depender daquela resposta naquele momento, cessando o absoluto terror que a consumia desde aquele domingo e a enorme ânsia que a tomou havia algumas horas, desde a descoberta de sua marca

— Hm, professora... — seu queixo tremia como se estivesse num frio de inverno quando pigarreou e tropeçou nas próprias palavras, as mãos congeladas escondidas nos braços cruzados. — A senhora sabe me dizer o que é Antares?

— Antares? — pendendo a cabeça e franzindo a boca, a mulher pareceu pensativa.

— Vamos, Adam! — ela ouviu Alvo, impaciente como de costume, chamar. Scorpius, por outro lado, parecia muito atento no que acontecia, e o peso de seu olhar começava a sufocá-la. 

— Antares é a estrela mais brilhante da constelação de escorpião — foi o Malfoy quem respondeu, de longe. Parecia bastante pálido, e cruzava os braços sobre o peito com firmeza, como se tentasse impedir seu coração de rasgar-lhe o peito. 

Quando Rose virou o rosto em direção a ele, sentiu o coração quase parar numa mistura esquisita de sentimentos, principalmente por saber que a contagem do relógio beirava o fim. Ao mesmo tempo que certa decepção queria engolir todo o resto de credulidade que tinha, um fervor começava a fazer seu corpo inteiro queimar. Não sabia o que aquilo significava, e tampouco conseguia pensar direito, a ponto de seus olhos lacrimejarem com a ânsia crescente.

No entanto, ela percebeu Scorpius, agora a alguns passos de distância, e logo em seguida associou seu nome à constelação que ilustrava suas costas. Ele lhe encarava como se também estivesse sendo consumido por alguma coisa, algo cuja única explicação possível era dada pelo brilho excessivo que vazava das mangas de seu uniforme e iluminava os contornos ligeiramente fantasmagóricos de seu rosto. Uma luz inexplicável vindo do mesmo lugar onde aquela marca imensa estivera no Clube de Duelos. 

Dentro de suas vestes, o relógio deu um clique sonoro e um leve salto antes de voltar a ficar estático. Sua audição entorpecida levou uns bons segundos até que adereçasse de onde tinha vindo aquele ruído, mas tinha coisas mais importantes com que se importar, principalmente porque suas costas estavam quentes e ela não precisava ver o brilho da própria marca para perceber, com mãos trêmulas e geladas, olhos lacrimantes, uma severa falta de ar e uma cabeça que não parava de girar, que tinha tido a primeira conexão com a sua alma gêmea.

 


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Notas finais do capítulo

¹ L’estoile - A estrela. É uma carta de Tarô associada com o feminino e a relação de movimento e significa esperança, perspicácia e claridade de visão, inspiração, flexibilidade, e pode indicar um grande amor.

² Agni Kai é um duelo tradicional de dobradores de fogo em que a honra de alguém é conquistada apenas quando um oponente queima o outro. [Avatar: a lenda de Aang]

* Dá para ver a constelação de escorpião no banner.

[Tahii] E aí, pessoal? O que acharam? Duelo, Lorcan, relógio astral quase fazendo a Rose ter um piripaco, Rose > tendo < um piripaco, relógio apitando, Adam quase atrapalhando os astros... Muitas emoções.

Espero que tenham gostado. O próximo capítulo não vai demorar muito para chegar porque, afinal de contas, temos que aproveitar enquanto os astros parecem estar colaborando... :D

Um grande beijo para vocês ♥