Revolution of the Daleks escrita por EsterNW


Capítulo 17
Vive la révolution




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Seus passos caminhavam ritmados, passando pelas portas das celas solitárias, dos chamados “prisioneiros especiais”. Era sua troca de turno? Não, não era isso. Havia algo na sua mente sussurrando que não. Ao menos aquele pedacinho que ainda pensava, que não fora desligado para se tornar parte de um cérebro maior, uma arma.

Desceu para o segundo corredor, passando por mais celas que não acabavam mais, os prisioneiros que ainda seriam avaliados. Um dia a hora deles chegaria, não importava quanto tempo demorasse. O que fazia todos os dias nesse mesmo horário? Seus comandos estavam confusos, nublados e continuou caminhando, apenas vendo os demais guardas pela visão periférica, fazendo o mesmo de sempre. Apenas ele parecia a peça fora de funcionamento ali.

Desceu mais um andar. Havia apenas mais dois sentinelas por ali. Os daleks pouco precisariam se preocupar com problemas naquela área, por que colocarem muitos ali? O máximo que poderiam ter era algum problema de ordem mecânica com as câmaras... Não, não, iriam gastar pessoas onde os prisioneiros poderiam dar problemas, mesmo que estivessem praticamente dopados. Sempre havia aqueles que a mente era forte demais e resistia. Agora ali? Era apenas um bando de Senhores do Tempo desacordados. Mesmo que fossem centenas e centenas. Talvez até milhares.

As portas se abriram, assim que seu pé ficou a dois centímetros de distância. Silêncio apenas. Não era anormal haver uma ronda por dia ali. Se é que poderia chamar algo de dia. A passagem de tempo parecia algo inexistente, apenas se repetindo e repetindo como num loop. Talvez fosse isso, um loop. O porém? Aquele lugar estava infestado de Senhores do Tempo, do último ao primeiro andar. E se havia alguém que saberia como quebrar muito bem um loop, esses seriam eles.

Sua mão apertou um botão escondido, que apenas quem soubesse onde estava seria capaz de acessar. A voz sussurrando no seu ouvido aquele tempo todo, quase como uma sombra o acompanhando. Mas, ao em vez dessa sombra segui-lo, ela tomava o caminho contrário, guiando-o. 

Um alarme soou e a primeira porta se abriu, liberando um vapor junto. Logo outra e mais outra e mais outra em uma sequência     que não parava mais. O guarda ficou estático, como que observando o que fez, afinal, era a única coisa que poderia fazer. A voz fora embora, o livrando daquela sombra pesada e incômoda. Tudo que lhe restou foi ficar parado, um corpo sem consciência, apenas esperando a próxima ordem.

— Romana? — Drax encontrou a amiga saindo da câmara ao seu lado. Assim como ele há instantes atrás, ela parecia lutar para retomar o equilíbrio e não deixar a tontura tomar conta.

— Drax? — a Senhora do Tempo de cabelos escuros foi capaz de reconhecer o amigo de Gallifrey. — Onde estamos? Isso não é... — Levou as mãos à lateral do rosto, ainda sofrendo para retomar o próprio equilíbrio, preferindo ficar parada para isso.

Ao redor, mais e mais Senhores do Tempo se acumulavam, criando um burburinho confuso que ia aumentando cada vez mais. O número de atordoados também, já que as câmaras continuavam abrindo uma por uma, jogando um pouco da fumaça fria do lado de dentro para fora, abaixando a temperatura da sala e a enevoando.

— E-eu não sei — ele gaguejou incerto. — Eu estava em minha oficina, quando...

— Drax, Romana! — Um conhecido gritou, cambaleando pelo meio dos demais corpos confusos e confabulando. — O que estamos fazendo em Shada?! — Narvin exclamou, parecendo ter retomado a consciência mais rápido do que os dois amigos.

— Shada? Não, não podem... — Drax foi interrompido por uma mão em seu ombro.

Romana observava todos os arredores, sua mente finalmente voltando a funcionar com a rapidez de sempre, mesmo que aos poucos.

— Narvin está certo — ela interrompeu o outro, que pouco se incomodou. — Por algum motivo... Nós estamos em Shada — declarou o absurdo, a última coisa que todos ali se recusavam a acreditar.

— Shada? Não, não pode ser... — Drax riu para si mesmo, incrédulo. — E fomos presos pelo que? Crimes de guerra? Rassilon enlouqueceu ainda mais?

— Ele teria que prender praticamente toda Gallifrey e a si mesmo se esse fosse o caso — Narvin interveio, os demais ainda passando ao redor do trio. — Todos tivemos parte nisso.

— Há algo de errado aqui — Romana quase sussurrou, ainda tentando compreender o que se passava. — Não era para ser assim...

Talvez tarde demais, os guardas daquele andar finalmente apareceram, ainda sendo capazes de detectar quando algo não corria como sempre. Aquele que foi o responsável por aquilo tudo se concretizar continuava parado no mesmo lugar, quase babando enquanto esperava por novas ordens. Praticamente um corpo vazio de sua consciência. Ou ao menos a parte de sua essência.

Levou apenas segundos para a dupla de guardas dispararem a primeira rajada de tiros e os primeiros Senhores do Tempo atingidos irem ao chão, agonizando enquanto o processo regenerativo demorava a tomar início.

— O que está acontecendo aqui? — Qual dos três exclamou praticamente se perdeu no meio da multidão que avançava para os dois guardas, disparando quase a esmo, tendo alvos demais para acertar.

Os Senhores do Tempo avançaram contra eles como zumbis famintos, jogando-os ao chão e sendo atingidos pelos tiros das armas em suas testas, que disparavam sem sentido para todos os lados. Mesmo quando um ia ao chão, outro Senhor do Tempo ocupava seu lugar. Eram milhares naquela sala contra apenas dois guardas. Logo, os tiros cessaram e os olhos se apagaram.

— Eles são... Daleks?! — Narvin soltou descrente, o trio boquiaberto, talvez pela violência de seus conterrâneos ou por processar que aqueles guardas não eram mais de seu povo, mas apenas fantoches nas mãos dos seus maiores inimigos de guerra.

— Os daleks tomaram Shada, é a única... — Romana balbuciou a conclusão que eles não queriam chegar.

— Ei, o que você vai fazer com isso? — Drax gritou, assim que viu um homem aparecer no meio do povo com a arma que outrora fora do guarda em suas mãos.

Aquilo, aquilo... Era difícil de acreditar que alguém de seu povo seria capaz de tamanha violência. Aquela arma estava grudada no guarda-dalek! Mas aquele era seu povo após a guerra. A Grande Guerra. Qualquer coisa seria fichinha perto do que a maioria ali viu ou mesmo teve que fazer.

— Nós vamos tomar o controle da prisão — o homem com a arma gritou.

— São eles ou nós! — Outro se juntou. — Estamos em maior número, podemos vencê-los!

— Esse é um de nós — Romana interveio, tomando a frente e exalando sua autoridade. Mesmo que a contragosto, os rebeldes se calaram para ouvi-la. Ao menos os mais próximos e conscientes, já que aqueles das fileiras finais das câmaras haviam acabado de despertar. — Nós somos Senhores do Tempo, n...

— E quem é você para nos dizer o que fazer, senhora presidente? — o homem com a arma em mãos debochou, o sarcasmo carregado nas últimas duas palavras. — Sequer foi capaz de lidar com a guerra e acha que vai nos guiar para fora daqui? 

Inúmeras risadas se juntaram a dele e Romana murchou um pouco, percebendo que não teria chance de se impor contra tantos. Eles eram a maioria e pareciam insanos. Talvez alguns pertencessem realmente à Shada ou talvez fosse o desespero falando mais alto. Os instintos mais primitivos tomando conta.

— Você não fale... — Narvin veio na tentativa de intervir a favor da amiga, porém, seu protesto foi interrompido antes que se concretizasse.

As coisas pareceram mudar de lado quando mais guardas apareceram na sala, atirando para todos os lados e derrubando mais Senhores do Tempo, que tentavam atirar de volta com as duas novas armas que conseguiram. Os três amigos tentaram se proteger atrás da porta aberta de uma das câmaras.

— Isso vai ser um massacre — Narvin soltou aflito, observando mais de seu povo ir ao chão.

— Para nós ou para eles? — Drax retrucou, vendo que, conforme um Senhor do Tempo caía, outros seis se reuniam para atacar um dos guardas-daleks. Eles estavam em maioria ali.

— Eu tenho uma ideia — Romana se manifestou, calada durante todo aquele tempo. — É arriscado, mas talvez uma das únicas formas de retomarmos o controle. Não sabemos o quanto de Shada os daleks controlam, mas ainda precisamos de uma visão melhor da prisão.

— O que? — Narvin exasperou-se e segurou o pulso da amiga, impedindo que ela saísse de trás da proteção da porta. — Nós vamos levar um tiro se sairmos por aí!

— E também vamos levar um se continuarmos aqui — Drax tentou ser a voz da razão e em seguida se voltou para a ex-presidente de Gallifrey. — Para onde vamos?

— A sala de controle — Romana respondeu, saindo de trás da porta e os guiando para fora da sala.

O caos estava instaurado na prisão, não havia definição melhor. Mais Senhores do Tempo arrancaram armas dos guardas caídos e mais chegavam, atirando contra os prisioneiros ou sendo subjugados por eles. O povo de Gallifrey era mais forte ali, eles estavam em maior número. Ao menos por enquanto.

O trio se misturou com o fluxo de pessoas que lutava para sair da sala das câmaras, seguindo o único caminho possível: para cima.

— Estamos no último andar, a sala de controle fica no andar de cima.

— E a saída? — Narvin questionou.

Os dois seguiam a Senhora do Tempo, que parecia saber muito bem como se movimentar por ali. Será que, como antiga lorde presidente, ela tomou conhecimento da planta da prisão? Nenhum dos dois saberia dizer se tal informação era algo que os demais presidentes teriam conhecimento, mas se tratando de Romana...

— A saída? — Ela riu ao pensar na possibilidade que o amigo provavelmente levantaria. — Usar a saída principal é suicídio, é a mais vigiada de todas. — Observou alguns fugitivos tomando a direção que sabia para onde levaria. — Eles estão agindo no desespero.

Já no andar de cima, viraram um dos corredores à direita, que parecia praticamente vazio. Claro, a maioria dos guardas estaria concentrada em deter o problema direto de sua fonte, depois iam se voltar para os fujões espalhados por aí. O trio saiu chutando portas, procurando por aquela que seria certa. Mesmo que a Senhora do Tempo fosse a única entre eles que soubesse qual sala era a correta.

— É essa! — ela exclamou, quando Narvin chutou uma das últimas portas do corredor que parecia que não ter mais fim.

Os três correram para o painel, de onde as câmeras acima alternavam entre os demais blocos da prisão. Os dois primeiros andares estavam um caos completo, tomado por Senhores do Tempo em cada pontinho que as câmeras filmavam e guardas tentando defender seu posto. Alguns caíam e outros de seu povo também. Na sala das câmaras, as luzes laranja brilhavam, indicando processos de regeneração quase finalizados. Logo teriam ainda mais Senhores do Tempo se juntando novamente ao caos. Poderiam cair, mas era questão de tempo para se levantarem.

— Que coisa mais ultrapassada — Drax reclamou dos controles. — Olhem só pra isso! É quase analógico. Por que usaríamos isso ainda, se temos equipamentos mais modernos?

Os outros dois o ignoraram, com os dedos de Romana correndo por alguns comandos e os olhos atentos passando pelas imagens que mudavam rapidamente.

— Eles cortaram as câmaras do último andar. — Ela praticamente sussurrou, mais para si mesma do que para eles.

— E o que há no último andar? — Narvin questionou, parado ao lado da Senhora do Tempo. O outro continuava analisando os painéis.

— Costumava ser a direção da prisão — ela respondeu, desistindo de seu objetivo com um suspiro. — É claro que não seria tão fácil. — Se afastou das câmeras e balançou a cabeça contrariada.

— Fácil com certeza não vai ser, mas podemos complicar as coisas ainda mais para o lado daqueles saleiros malditos — Drax soltou com um sorriso ladino. Os dois o encararam, sem compreender suas intenções. Sabendo que aquela era a sua área, o Senhor do Tempo estralou os dedos, pronto para começar. — Um pouco mais de caos deve nos dar mais tempo para pensar em um plano.

Seus dedos começaram a trabalhar para lá e para cá nos controles, ultrapassados, como ele dissera. A parte mecânica era a especialidade de Drax, era óbvio que ele sabia o que estava fazendo.

— Que a revolução... — Deu um último clique. — Comece.

Através das câmeras, foram capazes de ver quando as luzes da prisão apagaram, deixando todos na penumbra. O sistema de energia havia sido desativado em todos os andares. Isso significava...

— As portas das outras celas estão abrindo! 


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Notas finais do capítulo

Ester:
Pra quem não conhece os três protagonistas do capítulo de hoje, vai lá um resumo: Romana foi companion do 4° Doutor e, mais tarde, presidente de Gallifrey e sim, a Guerra estourou durante o governo dela, por isso o sarcasmo de um dos Senhores do Tempo ali. A regeneração dela que aparece aqui é a terceira, presente na séries de audiodramas Gallifrey e interpretada pela Juliet Landau.
O Narvin é um personagem exclusivo dessa mesma série sobre Gallifrey. Integrante da CIA (Celestial Intervetion Agency), sendo mais tarde indicado a Coordinator pela Romana. Os dois são figuras muito importantes nessa série de áudio drama.
Já o Drax foi companheiro de Academia do Doutor, Mestre, Rani e Monge, mas, diferente do nosso trio de vilões, ele foi um dos únicos dos Deca que continuou sendo gente do bem. Apareceu na série em um arco do 4° Doutor e manja de mecânica e engenharia.

Ufa, que notas enormes xD Mas creio que todos estão mais situados com isso :B E o que estão achando agora que o grande evento começou? Sei nem o que dizer, só sentir -q
Até mais, povo o/

CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS

[...]

— Sim. E vocês são parte dele, assim como todos que não são Daleks em Shada, mesmo os guardas.

[...]

— Por aqui — disse a Doutora, iluminando o próprio rosto. A chave de fenda tornava-se muito útil agora.

[...]

— Para baixo — disse Ahmar, tomado pelo pânico do barulho do motor dos Daleks.

[...]

— Grotesco, mesmo para você — disse o Monge. — Adorei!

[...]

Ele deu um passo, porém apenas para se deparar com uma espada apontando para seu rosto.

[...]