Revolution of the Daleks escrita por EsterNW


Capítulo 15
O limiar entre a loucura




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Khayin sentiu-se como se fosse puxado abruptamente e, em um abrir fechar de olhos, a Doutora, o Mestre e todo o cenário que criou não estavam mais à sua frente. Estava sendo tão bom colocar aquele arrogante no lugar que merecia... O Senhor do Tempo piscou várias vezes, finalmente percebendo os olhares de Monge e Rani sobre si mesmo. Ao menos do primeiro, já que a Senhora do Tempo mais parecia não querer estar ali.

— O que é isso?! — Khayin exclamou sem compreender ao certo.

Olhou ao redor, percebendo estar no que parecia o átrio de um castelo, os três ao redor de uma mesa enorme, com o outro Senhor do Tempo na cabeceira. Parecia uma mistura de catedral com algo medieval, as paredes de pedra e o teto com um painel de alguma pintura, que tomaria muito tempo de observação se quisesse compreender do que se tratava.

— Humanos são incrivelmente lentos, mas alguns ainda servem pra compensar os outros — o Monge pontuou, apontando para cima. — Michelangelo era um deles. Pena que não pude dar meus toques à pintura da Capela Sistina, já que o Dou...

— Vamos partir direto ao ponto — Rani interrompeu. — Minha mente precisa de descanso, não de passar mais tempo aturando vocês dois.

— Porque a solidão...

— Chega! — Khayin interrompeu a discussão dos dois. — Se me chamaram aqui, então temos algum motivo, correto?

— Pra falar a verdade, só queria conversar com alguém. Nem eu mesmo me suporto às vezes — Monge respondeu engraçadinho, um sorriso brincando nos lábios.

— Patético — Rani sussurrou entre dentes, balançando a cabeça em contrariedade.

— Eu não sou seu amigo, para que me chame quando quiser alguém para ouvir suas baboseiras, Monge — Khayin disse ríspido, finalmente colocando as cartas na mesa e mostrando quem era de fato. Agora, não precisava mais da simpatia fingida para atrair os outros para seu plano. — Consegui estabelecer contato com nossa querida ex-companheira de fuga e o cerco está começando a se fechar para nós, meus caros — disse sério, unindo as mãos em frente ao rosto e os cotovelos sobre a mesa.

— E ela está em acomodações melhores que as nossas, suponho? Pra ser a única que não conseguimos manter contato até aqui, deve estar muito bem, obrigado, para esquecer seus amigos... — O Monge continuou em sua ironia irritante, fazendo com que a Senhora do Tempo na cadeira ao lado sentisse cada vez mais a vontade de dar um croque na cabeça dele.

— Não tenho tempo para perder com essas besteiras. — Ele sorriu, mostrando todos os dentes brancos e alinhados. Apesar da cara de garoto amável, não era isso que aquela expressão mostrava. — Mas o que eu descobri... Isso é melhor do que um quarto com suíte.

Esfregando as mãos, Khayin passou a narrar os acontecimentos de quando estabeleceu contato com aquela que costumava chamar de Basil e o Mestre. Ele quem tinha iniciado aquilo, suas regras, portanto. Não podia negar que sentia falta de estar no controle do cenário, mas pouco se importou quando a luz foi abrandando, conforme os dois companheiros se exaltavam.

— Aquele... Aquela... — Monge torceu os dedos, tentando encontrar um xingamento inteligente, mas falhando e contentando-se apenas com um bufar, que poderia ter apagado as velas, que agora eram a única fonte de iluminação ali.

— Ela não tem vantagem para contar desta vez — Rani soltou soturna, os dedos tamborilando sobre o tampo da mesa. — É mais uma prisioneira como qualquer um de nós. 

— Pelo menos essa encarnação está mais arrumadinha do que as outras que encontrei, mas irritante como sempre — Monge comentou com um torcer de nariz. — E daleks. — Riu sem graça de forma anasalada. — A criatividade de uma batata, como sempre.

— Talvez seja finalmente a hora de agirmos. — Rani estava pensativa, pouco se importando com o que os daleks queriam com aqueles experimentos. Entretanto, de fato ela tinha que concordar com o outro Senhor do Tempo. Iniciantes...

— Não vamos ser precipitados novamente... — Khayin tentou argumentar.

— Isso não importa! — Rani exclamou, batendo com força o punho na mesa, sobressaltando os outros dois. — É o único plano que temos e, não sei sobre vocês, mas eu não vou servir de rato de laboratório para daleks.

— Parece que o jogo virou, não é mesmo? — Monge tentou rir, porém, a verdade era que ele próprio estava desesperado, agora que sabiam toda — ou quase toda — a verdade. — Nós não somos mais do que meros ratos de laboratório desde que chegamos aqui. Os componentes na comida, no ar, testar nossa inteligência. Apesar de não compreender os motivos, tiro meu chapéu para os daleks no quesito estratégia. 

— E seus experimentos? — Khayin questionou, cético. — Me espanta você conseguir fazer algo sem nada na cela, Rani. — Ele cruzou os braços, sua pose de detetive noir aflorando.

— Stewart tem se mostrado incrivelmente reativo aos componentes da comida — ela informou. — Não tanto como nós, é claro.

— Talvez pelo nosso sistema cardio...

— Esse é seu grande experimento? — Khayin interrompeu a fala do outro, gargalhando de forma teatral. — O ratinho que você trouxe no bolso até Shada? Ao menos alguma coisa você conseguiu, já que ele está vivo esse tempo todo. 

— Stewart é o chamariz para o que precisamos — Rani continuou, tentando ignorar a descrença do outro. Mesmo que estivesse morrendo de vontade de estapear aqueles dois ali mesmo. — Um guarda, apenas um, já é o suficiente para acessar os sistemas. 

— E agora que descobrimos que temos centenas e centenas de demais prisioneiros nas câmaras de suspensão: rebelião! — O Monge riu alto, batendo palminhas de empolgação.

— Esse não era bem o plano, mas tenho que concordar que um pouco de caos virá a calhar — a Senhora do Tempo pontuou, analisando a situação.

— Vocês não podem estar falando sério! — Khayin ainda continuava na mesma. Percebendo que os dois não cederiam, bateu as palmas sobre a mesa e se levantou da cadeira. — Se querem ser loucos, então que seja.

Com isso, sua forma foi esvanecendo aos poucos, como a imagem de uma televisão com interferência.  Os outros Senhores do Tempo ficaram sozinhos no átrio do castelo, que agora estava vivamente iluminado, como se o sol estivesse entrando pelos poros. Mesmo que não houvesse janelas em lugar algum.

— Quer apostar quanto que ele vai querer participar do plano como se fosse dele, quando tudo estiver dando certo? — Riu para si mesmo. — À nossa loucura. — Monge brindou com uma taça que apareceu de repente em sua mão.

— Cale a boca. — Com seu comentário de praxe, Rani também esvaneceu como Khayin, deixando o seu lugar de outrora vazio.

Monge bebeu do vinho de sua taça, sua mente imitando o gosto da bebida real. 

Se preciso fosse, morreria tentando. Render-se como cobaia aos daleks? Nunca! Se aquela loucura fosse a única possibilidade que tinham, entraria de cabeça. Até mesmo porque, nunca negaria um pouco de caos.

 

 


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Notas finais do capítulo

Ester:
Que será que é o plano desses dois? Só garanto que já estamos rumando pro final...
Até semana que vem, povo o/