Demons escrita por shewasevans


Capítulo 2
I. A queda de George Weasley


Notas iniciais do capítulo

Capítulo inteiramente dedicado à mckinnon (minha gêmea de alma) que, para mim, é o que o Fred foi para o George.



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George Weasley estava familiarizado com a dor.

Quase sempre, a desafiava.

A exemplo da vez em que – como de praxe, sem a autorização da mãe – ele e Fred, aos sete anos de idade, insistiram em escorregar de trenó na manhã de Natal. Uma espessa camada fofa de neve branca se acumulara por toda a parte e o objetivo deles era único: atingir uma modesta pilha de gnomos desacordados ao lado de um dos maiores pinheiros da propriedade dos Tonks.

A ideia, como tantas outras que teriam ao longo dos anos seguintes, lhes parecera brilhante.

O cálculo de seu “fantástico voo”, no entanto, não poderia ter sido feito mais errado e, durante os segundos que – em sua mente infantil – pareceram durar horas, George apenas se agarrou ao enorme blusão de tricô cor-de-abóbora do irmão, aguardando pela inevitável queda. E, de fato, ela fora certeira. Mas nada comparada à lancinante dor de ter o seu corpo esmagado ao tronco da imponente árvore. Ou, ainda, aos sermões estridentes de Molly Weasley às suas – na época – duas orelhas até que todos os ossos dos gêmeos se remendassem, à base da poção de Esquelesce, durante as semanas seguintes.

Agora, contudo, sabia que a angústia ocasionada por aquele episódio fora ínfima.

Afinal, nada o havia preparado para a queda que estava prestes a sofrer.

Ou mesmo para aquela dor.

Nada nos mundos bruxo ou trouxa o preparara para a perda de seu irmão gêmeo.

E George quis gritar. Machucar gravemente alguém. Caçar e infligir sofrimento àqueles que arrancaram – o que considerava – a sua melhor metade de si. Porque, ainda que fosse cair, ele levaria cada um dos malditos Comensais da Morte consigo.

No entanto, Angelina estava lá. Ela sempre esteve lá. E, abraçando-o pela cintura em um aperto implacável, impediu-o de desabar.

Mas ele sabia que, mesmo mais tarde, a queda viria e, junto dela, a dor. Afinal, a verdade era uma e era incontestável: Fred Weasley se fora.

E levara com ele uma grande parte de si.

Então, no firme enlace da namorada, George, enfim, permitiu-se chorar.

Diante dos escombros e ruínas do que outrora solidificara a grande Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, ele transbordou. As lágrimas escorregando de suas bochechas pontilhas de sardas a fim de se embrenharem no emaranhado de cachos cor-de-noite que era o cabelo de Angelina, à medida que as próprias lembranças pareciam saltar para fora de sua cabeça e dançar diante dos seus olhos azul-celeste.

Memórias de dias há muito transcorridos.

Da seleção de ambos os gêmeos para a Grifinória à carta de orgulho de Arthur Weasley, da primeira pegadinha que aprontaram com os cabelos sebosos de Severo Snape ao berrador furioso de Molly Weasley, da vez em que adotaram Lynx em seu pequeno bando ao momento no qual decidiram que Angelina era legal o suficiente para andar com eles, de quando puseram a escola abaixo com fogos de artifício para enlouquecer a sapa velha da Umbridge até a generosa oferta de Harry que os proporcionara a abertura de sua própria loja.

Os momentos que vivenciaram, os laços que forjaram, as escolhas que fizeram... Ambos, até o momento, não haviam se arrependido de nada. Afinal, tudo os levara àquele dia: quando lutariam lado a lado para defender aos seus e aos ideais que os pais haviam tão bem lhes transmitido. À causa na qual firmemente acreditavam.

E, tendo um ao outro, nenhum deles estivera com medo.

Contudo, nem todas as peças do tabuleiro de xadrez haviam sido bem posicionadas e, por fim, um xeque-mate tão cruel quanto imprevisto foi executado.

Então, ao final daquele dia, Fred Weasley se fora.

E George não acreditava ser, um dia, capaz de viver em um mundo em que ele não existisse.

Uma constatação crua que logo lhe revelou a verdade: a queda, enfim, chegara. E, por completo, ele se permitiu desabar de uma só vez.

A pontada de dor incessante que se instalara em seu coração, no instante em que o fantasma do último sorriso deixou o rosto do gêmeo, parecia agora querer consumi-lo por inteiro. Entorpecer seus sentidos, apossar-se de sua mente e anular suas vontades. Tomando tudo de si até que não houvesse mais nada. Apenas dor. A mais pura e excruciante dor que já sentira.

A mais pura e excruciante dor que jamais imaginara sentir.

E, de cabeça, George mergulhou nela, desejando – ainda que se sentisse egoísta – que suas sombrias entranhas o devorassem por inteiro. Sua mera existência. E a dor, principalmente a dor.

Uma dor que não parecia se esvair nem mesmo sob o toque quente do corpo de Angelina, entrelaçado ao seu na cama. Algo que não cessava, nem mesmo diante da preocupação que parecia se derramar do olhar cor-de-avelã dela – que ele tanto amava – até torna-lo âmbar. Quando, pelas noites seguintes, o ruivo passou a acordar demasiadamente agitado, gritando sôfrego o nome do gêmeo às estrelas.

De pouco adiantava, é claro.

Ainda assim, noite após noite, os fios cor-de-cobre se grudavam à testa pálida, empapada pelo suor, quando, com os membros em progressiva combustão, ele acordava de pesadelo após pesadelo nos quais revivia aquela maldita explosão.

Preso àquele derradeiro dia.

Os rostos de seus familiares, recobertos pela fuligem e demarcados por uma trilha amarga de lágrimas, insistiam em invadir suas pálpebras, ainda que procurasse mantê-las firmemente pressionadas: o desespero caótico de sua mãe, a resignação aflita de seu pai, o desconsolo frenético de Ginny, a amargura desolada de Percy, o ódio desamparado de Ron, a quietude fria de Bill e a confusão comiserada de Charlie. Uma confusão de faces salpicadas de sardas e cabelos cor-de-chamas, rodopiando à sua frente até deixa-lo tonto. Ora, vendo Fred. Ora, vendo George. Ora, vendo ambos.

Porém, o rosto que mais o assombrava pertencia à melhor amiga de olhar acinzentado: Lynx Black. Ela perdera o seu melhor amigo. Perdera o seu grande amor. E, ao que indicavam os inconscientes gestos que fazia em direção ao próprio estômago, mais do que isso. Assim, desde o confronto, o gêmeo restante conseguira trocar pouco mais de um punhado de frases com ela, pois a rigidez que se instalara naqueles olhos cor-de-tempestade parecia querer perfurar o que lhe restara de sua própria alma.

Todavia, quando o Weasley achou que não mais poderia aguentar tamanha pressão em seu peito e em si mesmo, algo novo o atingiu: o vazio.

E, de súbito, nem a dor conseguiria ser capaz de alcança-lo.

George Weasley não sentia mais nada.


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Notas finais do capítulo

Olá! Desde já, eu quero me desculpar por toda a tristeza que envolve esse começo, mas... Acreditem, foi ainda pior escrever o sofrimento de um dos meus personagens preferidos. Ainda assim, espero que não me abandonem. Beijinhos! E, para eventuais choros e reclamações, podem me chamar no @shewasevans.



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