Hugo estava na fila para a roda gigante exatamente uma hora depois de falar com a garota no telefone. Usava um casaco de moletom cinza que ficava folgado em seu corpo, as calças eram pretas justas em suas panturrilhas finas mas torneadas que quase se fundiam com um all star totalmente preto. Aos olhos de todos era uma figura genérica é quase imperceptível, projetava em seu rosto um expressão tão planejada quanto seu visual para que ninguém o reconhecesse ou se destaca-se em meio a tantas pessoas. Quase esquecera-se qual era a sensação de tentar desaparecer em meio às diversas pessoas, do nervosismo que sentia com o risco de alguém reconhecê-lo.
             Estar naquele parque em um sábado não era nada anormal, mas as circunstâncias que o levaram a ir até aquele lugar faziam seu coração martelar com força em seu peito, mas tentava parecer calmo, descontraído e intencionalmente alheio ao seu redor. Mesmo que fosse mais um na multidão, sua mente estava a mil, gritando que ele mudasse de ideia e voltasse para casa ou que ligasse para sua namorada e a chamasse para um encontro comum. Entretanto mesmo que tudo lhe dissesse que ele não deveria estar ali não podia evitar. 
            O que esperimentará a pouco mais de uma hora ainda estrava fresco em sua mente, não podia permitir-se sentir aquilo de novo, talvez não aguentasse passar por aquilo. Então estava fazendo a única coisa que prometeu a si mesmo nunca fazer e com a única pessoa que prometera a si mesmo não encontrar novamente. Ela estava atrás dele como se também estivesse alheia a presença dele, mas um sorriso estampado em sua face demonstrava que ela estava muito ciente de toda a situação e que ela possuía todo o controle ali. 
                O maquinista do brinquedo olhou em sua direção e com um leve aceno de cabeça disse que como ele estava sozinho deveria fazer uma dupla com a pessoa que estava atrás dele. Acentindo, foi em direção ao quadrilátero de vidro e discretamente cumprimentou o homem que abria a porta passando lhe um pequeno pagamento e adentrou na cabine selando seu destino. A garota entrou logo atrás dele e deu uma discreta piscadela para o homem que fechou a cabine mais escura do brinquedo se abstendo de qualquer interferência que o mundo belo e brilhante fizesse no mar trevas que ali desempenhavam.
                Ele se virou para q garota e antes que pudesse falar qualquer coisa ela lhe puxou para um beijo voraz. Segurou sua cabeça forte contra a sua e seus lábios se conectaram com uma eletricidade que se espalhou por ambos os corpos de uma maneira quase intermolecular. A língua dela começou a procurar pela dele, enquanto as mão de Hugo se encaixavam no quadril da garota e por um segundo ele se esqueceu e perdeu tudo que estava fazendo ali.
             O beijo foi rápido e voraz, como se ambos desejassem aquilo a muito tempo e finalmente tiveram a chance de consumá-lo. Porém, com força o garoto se desprendeu daquela energia intoxicante que o prendia aquele lábios e se desvencilhou daquele abraço tentador e mortal. Ele tomou consciência novamente do que estava fazendo e uma súbita repulsa por si mesmo surgiu, sentindo-se o pior dos homens ele finalmente encarou Talita.
                Ela media 1,60, seus cabelos eram tingidos de ruivo que realçavam ainda mais os lindo olhos azuis que ela possuía. Seu rosto possuía maçãs cheia que se encaixavam em sua face com traços fortes que lhe davam uma beleza singular e seus lábios carnudos atraíam olhares de qualquer um. Possuía um sorriso sedutor em seus lábios, que sempre enganavam a qualquer pessoa ingênua para acreditar que aquela bela criatura poderia corresponder os sentimentos de alguém sem ser por ilusões ou promessas vãs. 
            Usava uma saia xadrez vermelha e branca que era destacada por uma meia calça preta rasgada em diversas partes que mostravam pedaços de sua alva pele. A blusa que usava era justa ao seu tronco mostrando belas curvas e uma pequena jaqueta de plastificada dava coesão a bota preta de camurça. Em sua orelha haviam diversos piercings e brincos em todos os locais possíveis. Para completar, o batom vermelho mate lhe dava um ar mais sedutor e chamativo juntamente com o rimel que mostravam aqueles olhos.
Que foi gato, parece até que não estava com tanta saudade quanto eu . - Ela falou com um tom de voz travesso.
Não, não estava e você sabe muito bem o que pode acontecer se alguém vezes isso - Hugo falou com um olhar preocupado em seu rosto, sentindo suas mão suando. Não gostava daquela situação era muito arriscado.
Relaxa bebe, estamos no quarto escuro ninguém vê o que acontece aqui. Logo, logo ficaremos sozinhos lá no alto - disse enquanto finalmente se sentava no banco oposto a Hugo cruzando suas pernas que estavam cobertas por uma meia calça preta rasgada - E então ? Pensei que tivesse dito que nunca mais deveríamos nos encontrar.
Eu disse, não queria estar aqui falando com você, mas eu preciso da sua ajuda. - Falou Hugo seriamente, pensando na melhor forma de levar aquela conversa sem que colocasse se colocasse um laço de forca em seu pescoço sem muito força
         Talita soltou uma risada de prazer com aquela situação. 
Você não sabe o quanto eu desejava por esse momento! Você, o Hugo, precisando da minha ajuda tendo que descer do seu pedestal - Ela falou com um sorriso estampado em seu rosto - Então o que você quer ?
            Sentindo humilhado por ser exposto daquela forma l, sua língua estalava em sua boca desejando retrucar, mas tinha a consciência de que ela era a única pessoa com algum controle da situação . Dessa forma engoliu seu orgulho e visou o único objetivo que ainda tinha em mente . Nunca sentir-se daquela forma de novo 
              Com um pequeno rangido o brinquedo parou quando a cabine deles havia chegado em sua altura máxima. De um pequeno alto-falante a voz do maquinista que ele havia pagado disse “ Por problemas técnicos a roda-gigante ficará parada durante alguns minutos para a manutenção, desculpe o incômodo”. O sistema de reuniões ainda funciona mesmo sem que ele, o criador, o utilizasse, teriam provavelmente 8 minutos de conversa pelo preço que havia pago antes que voltasse a girar. 
Eu preciso de um carga - Disse rapidamente, enquanto o nervosismo em seu peito apenas aumentava.
Você o que ? - A reação de Talita havia sido muito diferente do que ele esperava. Ficou surpresa pelo - Está me pedindo para que eu te venda ? Mas você disse que havia parado e nunca voltaria a ceder de novo . Seu tom de voz mostrava neutralidade, mas uma nota de curiosidade e preocupação deixavam claro que ela forçava aquela expressão. 
            É  claro que Talita estaria surpresa, Hugo estava pedindo-lhe a coisa que ele mais frisará da última vez que se encontraram e que havia chegado muito perto de arruinar sua vida. Estava pedindo para que lhe vendesse drogas. 
Eu sei o que disse tá, mas você não tem ideia do que tá acontecendo, eu preciso de algo pra relaxar e outro pra esquecer de tudo. Por favor Talita. - Disse ele sabendo que estava entregando sua alma para o diaboa, mas pelo menos ele tinha consciência do que estava fazendo. Arrependeu-se apenas de ter mostrado alguma vunerabilidade na frente daquela garota. 
Você sabe que é contra as regra né ? E que eu estou me pondo em risco em vender pra você, mas eu não negaria esse favor para um amigo. Disse ela enquanto tirava um pequeno pacote verde de sua mochila enrolado em plástico filme e outro pacote menor com pílulas e um pó branco enrolados de forma compacta em plástico filme.
           Hugo pegou os dois e enfiou rapidamente na mochila que levava consigo. Mesmo que seus movimentos fossem rápidos, soube no instante em que pegou aquilo que era um erro, mas não poderia voltar atrás. Assim ele retornou para um mundo que havia escapado com muita dificuldade e com duras perdas.
Estou te devendo uma agora - disse finalmente ao terminar de entregar o dinheiro.
Está sim. - Ela disse com um sorriso no rosto enquanto o puxava para mais um beijo. 
            Ele não o recusou, sabia muito bem que naquele momento ela possuía toda a vida dele e seu futuro em suas mãos e ele entregará a ela de bandeja. Deveria pensar em alguma forma de sair daquele laço mortal, até aquele momento estavam quites, mas agora ele perderia muito mais caso não correspondesse da forma que aquele lobo em forma de uma linda ovelha ordenasse. 
              Separaram os lábios após um longo beijo eletrizante. O vácuo que faltava daquele doce contato e o sabor doce que era sua boca, fizeram Hugo odiar a si mesmo por em algum lugar no fundo de sua mente gostar de beijar aquela garota. Ela se levantou e esperou que abrisse a porta do brinquedo, antes que saísse ela virou para ele e falou “Vejo você na escola gato “. Com isso Hugo também deixou o brinquedo e saiu discretamente do lado oposto ao que a garota saíra.
          Enquanto caminhava para a saída do parque viu Talita indo se encontrar com um garoto que se chamava Henrique. Quando o casal se encontrou deram um selinho e foram em direção q um grupo de garota. Hugo teve a sensação familiar de quando tinha a visão do anjo que pairava em seus sonhos e devaneios. Desviou o olhar com força com medo de que fosse acometido por tudo que sentirá, já estava nebuloso demais em sua mente para que tivesse espaço para retornar a agonia. 
            Ele era o pior de todos os seres humanos e quanto mais percebia a extensão de tudo que tinha feito e a menção do que teria de fazer apena o fazia parecer que sufocaria ainda mais na agonia e escuridão. Ele estava simplesmente ferrado em todos os sentidos e de alguma uma súbita ausência de sentimentos surgiu em seu peito, as cores do parque se tornaram acinzentadas e tudo parecia cada vez mais lento e melancólico, os sons ficaram mais baixos e as risadas perderam-se em meio ao frio crescente que sentia.
              Empacotou-se com mais força em seu casaco enquanto ia em direção ao metrô para retornar q sua casa. Já sentado de plástico ele olhou pela janela enquanto o monstro de ferro se movia rapidamente e mesmo que não sentisse mais nada, não conseguiu conter que lágrimas começaram a escorrer pelos seu rosto