A coisa mais bizarra do universo tinha acontecido essa semana: Eu estava em uma banda com Cameron Woods, e tocaríamos no baile da escola, que, por um acaso, seria hoje.

Durante os ensaios, pude notar Cameron me olhando várias vezes, mas isso ficava mais enfatizado quando tocávamos Treat You Better. Sim, tocaríamos uma música do Shawn Mendes. Era parte do nosso acordo para que eu tocasse com eles.

Eu e Em havíamos combinado de nos arrumar juntas na minha casa, já que ela estava brava comigo por estar gastando todo o meu tempo com Cam e Nate, esquecendo dela. Até certo ponto ela tinha razão, mas nunca tinha sido a minha intenção. Eu não queria, em hipótese alguma, que a minha melhor amiga se sentisse mal.

Estava organizando as minhas maquiagens, quando Nate ligou:

—Você não tem ideia do que eu preparei para nós depois do baile. - Ele disse antes que eu respondesse.- Reservei até um quarto de hotel.

Semanas antes, eu havia prometido para Nate que perderia a virgindade com ele naquela noite. Meu corpo estava pronto, mas não tinha certeza sobre meu psicológico. Fiquei tensa, mas eu havia prometido e estava decidida a cumprir essa promessa.

—Que bom, Nate. Eu sei que você está se esforçando para que seja especial. - Ouvi campainha.- Preciso desligar, a Em chegou para nos arrumarmos.

Como eu ia tocar, optei por um vestido estilo debutante, mas que fosse curtinho. A cor que eu escolhi era azul claro, que combinava bem com meu cabelo castanho e pele clara. Para a maquiagem, tanto eu quanto Em caprichamos no preto e prata. Entretanto, a cada segundo que passava, eu ficava mais tensa. Em pareceu perceber:

—Amiga,- Olhei para ela.- Se você não achar que é a hora quando estiver lá, não faça. Ele vai ter que entender.- Meu olho encheu de lágrimas. Respirei fundo para não borrar a maquiagem.- E se ele não entender, o problema será apenas dele. Não se force a nada por causa de um cara. - Ela sorriu.- Tem um monte deles por aí. - Eu assenti, mais calma dessa vez.

—Como você sabia que era por isso e não pelo show? - Perguntei levemente surpresa.

—Você praticamente nasceu no palco, amiga. - Ela deu de ombros. - Nunca te vi nervosa por isso.

***

O ginásio decorado para o baile estava maravilhoso e o tema era fundo do mar. Os casais dançavam ao som do DJ na pista, enquanto outros estavam espalhados pelas mesas conversando. Nate estava bem elegante.

Dançamos um pouco, no breve tempo que eu teria para aproveitar a festa. Estava conversando enquanto dançava com Nate e a noite estava bem agradável. Num certo momento, ouvi alguém chamar meu nome atrás de mim e me arrepiei. Sabia exatamente quem era antes de me virar:

—Sammy. - Me soltei de Nate e me virei.- Está na hora.

Nate estava elegante, mas Cameron estava…Completamente sedutor. Seus cabelos, agora  levemente mais longos que o habitual, estavam penteados para trás. A camisa estava para fora da calça e com os dois primeiros botões da camisa abertos. Seu blaser estava jogado despojadamente por cima do restante da roupa e ele estava estampando um sorriso. Aquele sorriso levemente de lado, que me dava vontade de beija-lo.

Confesso que estava babando, mas não disse por onde. Para, Sam! O seu namorado, Nate, está do seu lado. Afastei o pensamento.

Ele me estendeu a mão e eu a segurei, acompanhando-o. Iria para qualquer lugar com ele.

***

Lá estávamos eu e Cam novamente na coxia, prestes a subirmos no palco. Ele olhou pra mim e soltou:

—Se decidisse me beijar hoje, eu faria questão de levar para o pessoal.- Disse ele, contradizendo a sua própria fala, do dia que demos nosso primeiro beijo na peça.- Você, sem dúvidas é a garota mais bonita que eu já vi.

Eu olhei para ele e dei um beijo rápido em sua bochecha:

—Obrigada. É muita gentileza sua me elogiar. - Disse logo antes de sermos anunciados.

—Só estou falando a verdade. - Disse e piscou para mim, logo antes de correr para o palco. Entrei logo atrás.

Nossa apresentação foi incrível e me fez sentir realizada. As pessoas dançaram, pularam, cantaram junto e se divertiram. Fazia muito tempo que não sentia uma emoção parecida. Diferente da peça, onde o máximo que as pessoas pronunciavam eram algumas risadas ou suspiros, todo mundo participou da apresentação, o que a fez ainda melhor.

***

Assim que saímos do palco, estávamos em êxtase. Eu abracei Cam e depois Ty. Cam cumprimentou Tyler antes de se virar para mim:

—Você foi incrível. Como sempre.

—Olha quem fala. - Respondi.

—Dança comigo mais tarde? - Perguntou ele coçando a cabeça.

—Guardo uma música pra você. - Respondi piscando e ele desceu as escadas de volta para multidão.

Olhei mais uma vez para o palco, antes de olhar para frente, e me deparar com Nickolas:

—Nick! - Levei a mão ao peito. - Que susto!

—Eu preciso te contar uma coisa antes que você saia daqui. - Ele parecia preocupado.- Eu descobri uma coisa há pouco e você tem o direito de saber, antes que faça uma burrada muito, muito grande. - Eu assenti preocupada. Ele me pegou pelo braço e me puxou para o camarim, fechando a porta logo atrás. - Eu não sei como começar. - Ele coçou a testa antes de continuar.

“No primeiro dia de aula, antes mesmo de entrarmos na sala, Nate foi falar com Jason. Ele queria entrar para o time de basquete e achou que falar com o capitão seria uma boa opção. Entretanto, Jason disse para ele que o time estava cheio, mas conseguiria uma vaga, com uma condição: Que Nate te mantivesse ocupada para que ele pudesse investir em Emma. Quando Nate cumpriu o acordo e vocês começaram a sair, ele entrou para o time. Entretanto, ele disse para o Jason que mesmo que vocês ficassem juntos até a formatura, ele ainda assim não ficaria com Emma. Foi então que eles definiram uma aposta, para quem cumprisse primeiro: Nate transar com você ou Jason transar com Emma. Parte do acordo envolve gravar tudo em vídeo como prova. Eu também fui usado. Nate me juntou com Emma para que Jason não tivesse chance de ganhar, mas eu realmente gosto dela.”

Ele cuspiu todas as palavras de uma vez, sem respirar. Sua timidez provocava isso algumas vezes. Nick me olhava tenso e eu não sabia como reagir. Tudo girava. Eu não conseguia pensar.

Sem responder Nickolas, eu saí do camarim, procurando Nathan. Eu já estava chorando antes mesmo de encontrá-lo. Como eu podia ter sido tão burra? A história fazia completo sentido.  Era por isso que Nate tinha avançado tão rápido quando nos conhecemos e por isso que estava me pressionando cada dia mais para transar com ele. Avistei Nate na multidão falando com Jason.

Ele me viu caminhando em sua direção e se virou para mim sorrindo. Eu fiz o que mais queria naquele momento: acertei um tapa em cheio na sua face direita. A sensação foi ótima e eu repeti. Ele cambaleou para trás, com a mão no rosto:

—Eu tenho nojo de você.- Eu disse para ele quase cuspindo.- Você é um cara imundo e vendido. Não quero nunca mais ter que olhar para sua cara. - Me virei.

Uma pequena roda se formava ao redor. Passei por entre as pessoas de cabeça erguida e segui em direção a saída. Assim que passei pela porta, desabei. Chorei um choro doído. Como eu poderia acreditar que alguém se preocuparia comigo e com meus sentimentos, quando nem meus próprios pais o faziam? Sentei na sarjeta e tentei chamar um uber. Ouvi passos atrás de mim:

—Princesa, - Aquela palavra doía, principalmente saindo da boca dele. - o que aconteceu? - Eu me levantei e olhei diretamente naqueles olhos verdes.

—Some da minha frente, Cameron. - Disse completamente irritada. Ele deu um passo para trás, assustado.- VOCÊ SABIA. - Gritei para ele.- Você sabia e não me contou. Foi por isso que brigou com Nate. Foi por isso que você não queria que eu e Em ficássemos perto deles. Foi por isso que você falava que ele não era pra mim. -Eu limpava as lágrimas sem parar. -Você não me contou. - Respirei fundo.- E isso te faz igualzinho a eles.

—Sam, me escuta.- Ele pediu suplicante.

—Não tem o que escutar, Cameron. Seu prazo para me contar qualquer coisa já expirou. - Foi nesse momento que meu uber chegou. Eu entrei no carro e voltei com destino a minha casa.

***

Eu estava acabada- tanto fisicamente quanto emocionalmente-, descabelada, minha maquiagem estava borrada, e eu não aguentava mais aqueles saltos. Agradeci o motorista e saí do carro. Tudo o que eu queria era tomar um banho, colocar um pijama e não sair da cama nunca mais. A luz da sala estava acesa, meu pai ainda estava acordado, apesar de eu ter dito que dormiria na casa de Emma. Coloquei a chave na tranca e virei, abrindo a porta em seguida:

Entretanto, descobri, naquele momento, que meu dia podia, sim, piorar, porque ali, sentada na sala, levemente diferente do que eu lembrava, estava ela. Ela sorriu ao me ver na porta. Eu olhei para o meu pai como um pedido de socorro, mas ele não me encarava. Ele só olhava para os próprios pés.

Já calejada com os acontecimentos anteriores daquele mesmo dia, fechei a porta com cuidado e passei a chave. Coloquei meus sapatos ao lado da porta e tranquilamente me sentei na poltrona ao lado da que meu pai estava, de frente para ela. O silêncio no cômodo era ensurdecedor. Respirei fundo e criei coragem para finalmente dizer algo:

—Vamos para a pergunta de um milhão de dólares. - Disse com sarcasmo.- O que você veio fazer aqui, mãe?