Bernardo entrou da capela, mas voltou atrás. Deu alguns passos na direção da porta de volta aos apartamentos, mas repensou, tornando a entrar no local sagrado.

Suas pernas imploravam para que ele corresse para longe, mas foi forte e se sentou ao lado de Marco, que rezava. Já era comum encontra-lo naquele local.

— Marco – Pigarreou – Eu preciso te contar uma coisa.

O homem triste levantou os olhos, encarando o outro.

— Pode falar – Pediu.

— Eu sei quem matou Rebeca – Murmurou com o celular da falecida entre os dedos.

***

Susana abriu a porta branca do apartamento devagar, seus dedos tremendo de raiva e de ciúmes. Não podia acreditar na mensagem que lia e relia. Alguém tinha enviado a ela, alguns dias antes, fotos de Bernardo saindo com Rebeca e um texto explicando exatamente o que estava acontecendo. Foi necessário apenas uma olhada no celular dele enquanto ele estava distraído para perceber que era verdade.

Ele estava traindo ela. Cega de ódio, fingiu que ia tomar banho naquela noite e se esgueirou pela porta aberta, saindo pela janela do quarto e pisando no parapeito estreito com a ponta dos tênis que usava. Foi até a escada de incêndio que ficava do lado de fora do prédio, escalando-a até o andar de cima, entrando no apartamento da outra com uma faca escondida no casaco, que tinha deixado no banheiro mais cedo.

Entrando no apartamento, notou que não tinha ninguém na sala e que vinham sons do quarto, sabia que era um filme de romance meloso e insuportável, pois já tinha visto alguma vez com Bernardo, seu marido, e não daquela mulher. Ainda na sala, viu os fios de internet, firmes e grossos e achou que seria uma ideia melhor usá-los a usar sua faca.

Cortou um pedaço grande do fio, deixando sua arma ao lado da porta, para lembrar de pegar depois e foi até o quarto. Chegando lá, Rebeca arregalou os olhos ao vê-la, não estava esperando por ela, com certeza e estranhou sua presença não requisitada.

Mesmo bagunçada na cama como estava, Rebeca ainda era muito bonita e se odiou por pensar aqui, mas odiou ainda mais Bernardo por fazer com que ela estivesse ali aquele momento com aquela intenção. Se não fosse um filho da puta traidor nada daquilo estaria acontecendo.

Avançou sobre a cama e a mulher tentou fugir, mas em vão por sua lerdeza devido a surpresa. Susana enlaçou seu pescoço com o fio, mas ela lutou, jogando a captora no chão e caindo sobre ela, que apertou ainda mais forte o plástico, torcendo tanto que machucou a pele ao redor.

Sentiu as mãos de Rebeca sobre as suas, mas ignorou e, quando ela começou a arranhar seus braços tentando fugir, não sentiu nada.

Quando finalmente ela parou de lutar, Susana a deixou ali. Foi até a cabeceira procurando o celular, e finalmente o encontrou embaixo do travesseiro. Voltou para a sala, buscando sua faca e refez o caminho até sua casa pela escada de incêndio.

De volta ao banheiro, tomou banho e, quando desligou o chuveiro, ouviu o telefone do marido tocar e saiu do banho enrolada em toalhas.

— Cara, tu tá vendo o jogo? Eu nem acredito... Como assim? Que coisa? Eu to subindo agora.

— Ta subindo aonde agora? A essa hora...

— Era o Marco – Sussurrou. E ela percebeu que o homem já tinha encontrado o cadáver.

***

Gritando e esperneando, Susana foi arrancada de dentro do próprio apartamento por policiais sob os olhares dos vizinhos, de Marco, com seus olhos tristes, de Bernardo, com o desgosto cortando seu coração, e de Márcia, que parecia estranhamente contente com a situação toda.

Com a denúncia e as provas encontradas pelo marido, Susana König foi sentenciada.