Between the Lines escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 2
1995 - II




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Acordou levando uma enorme bronca de sua mãe por ter adormecido no sofá, e com um doloroso torcicolo no pescoço. Era difícil de virar a cabeça sem gemer de dor e não era como se, no escritório caótico dos aurores, ela pudesse manter-se olhando para a frente o tempo todo.

Foi apenas mais um dia daqueles. O máximo de movimentação que teve foi quando Robards a mandou investigar uma denúncia de sequestro no Beco Diagonal, que acabou sendo apenas um mal entendido.

Observar os aurores tentando determinar o paradeiro do notório assassino Sirius Black apenas a lembrava das palavras de Moody naquela mesma madrugada.

"E deixou para trás só um dedo? Que conveniente"

— Os relatórios te prenderam aqui? — Kingsley puxou assunto, despertando-a de seus pensamentos.

— Alguém realmente decide se tornar auror por causa da papelada? — Tonks perguntou, fazendo uma careta ao girar o pescoço alguns graus para o lado.

— Você parece não ter dormido nada.

Ela abriu a boca para comentar sobre Moody, mas então se conteve. Se soubesse que Olho-Tonto a visitou, perguntaria qual tinha sido o motivo. Ou se deixasse claro que ainda estava em contato com o ex-auror, estaria na mira dos aurores do Ministério quando eles fossem procurar os contatos mais próximos de Dumbledore. Seria o primeiro passo mais lógico a se tomar, já que Fudge temia represálias.

— Proudfoot realmente lotou a minha mesa — disse por fim — Aquele idiota deve achar que é braço direito de Scrimgeour.

Não era exatamente uma mentira.

— Pegam no seu pé porque é uma das novatas — Kingsley disse, como se ela já não soubesse.

— E por ser mais jovem, mulher, e por acharem que só sirvo para evitar desperdício de poção polissuco — Tonks retrucou.

Sentia muita falta da época em que Moody era o chefe dos aurores. Nada contra Scrimgeour, mas as coisas eram diferentes. Pra começo de conversa, ele odiava que perdessem tempo preenchendo as papeladas, enquanto que Scrimgeour questionaria qualquer vírgula fora do lugar.

— Pelo menos hoje terminamos mais cedo — ele tentou encontrar o lado positivo da situação.

Não foram escalados para aquele final de semana, então teriam algum descanso. As coisas eram relativamente calmas no escritório, mas se algo acontecesse, seriam informados e teriam que voltar imediatamente, o que raramente acontecia.

— Vai fazer alguma coisa esse fim de semana? — Kingsley perguntou.

"Ah, nada demais, só vou entrar em uma organização super secreta" pensou.

— Talvez eu vá fazer uma visita ao meu pai na BBC — Tonks respondeu — Faz tempo que não vou lá.

Seu pai trabalhava na BBC Nine O'Clock News.

Antes de entrar em Hogwarts, vivia indo para a sede da emissora, e ficava plantada na frente da televisão esperando começar o jornal. Se lembrava-se bem, ele tinha trabalhado na mesma noite em que o mundo bruxo enlouqueceu e começou a comemorar a queda de Voldemort. Imaginava o quanto que os aurores tiveram que trabalhar naquela noite...

Depois que entrou pra Academia de Aurores, esteve tão ocupada que nunca mais fez uma visita. Como devia estar o velho Jim McGuffin? Ele costumava inventar umas previsões meteorológicas que deixava a todos loucos.

— E você? — ela devolveu a pergunta.

— Ficar o dia todo na cama soa uma ideia tentadora — ele lhe deu uma piscadela.

Moody não lhe perguntou o seu horário no dia anterior, mas, considerando que era o Moody, não ficou surpresa ao vê-lo parado no átrio do Ministério da Magia. As pessoas que saíam para o horário de almoço e as que chegavam para o turno da tarde não podiam evitar um olhar na estranha figura cheia de cicatrizes, de olho falso, perna de madeira e uma enorme bengala que estava mais para um cajado.

Ele torceria a boca para qualquer um que chamasse verbalmente de bengala e usava aquele pedaço de madeira para mais do que apenas caminhar. Já o tinha visto afastar inimigos apenas batendo aquela coisa no chão.

Ele tinha estilo, não podia negar.

— Vai ficar parada aí o dia inteiro? — Olho-Tonto a repreendeu — Nós temos hora!

— Eu tô morrendo de fome — Tonks reclamou.

Revirou os olhos prevendo segundos antes o momento em que ele começaria a bradar sobre aurores terem que enfrentar fome, frio e privação do sono em missões durante guerras. Antes o responderia que não estavam em uma guerra, mas considerando os últimos acontecimentos, estavam bem próximos de uma.

Assim que saíram do Ministério, o ex-auror a fez rodar por várias ruas aleatórias, sempre olhando para trás, como se estivessem sendo perseguidos. Isso não a surpreendia em absoluto, mas chegou um momento em que suas pernas começaram a reclamar e ela começou a ficar estressada.

— Chega, Olho-Tonto! — Tonks exclamou — Estamos andando há horas! Essa tal reunião não tem horário não?

Moody chiou para ela, o seu olho falso girando para todos os lados, à procura de algum perseguidor. Ela cruzou os braços e levantou uma das sobrancelhas, esperando por uma resposta.

— Leia isso aqui — ele tirou um pedaço de pergaminho rasgado do bolso de sua capa e ergueu a varinha, como se estivesse lhe dando cobertura.

Revirando os olhos, ela desdobrou o pergaminho e reconheceu a letra cursiva de Dumbledore. Já tinha visto o diretor escrever muitas cartas enquanto a fazia esperar para falar com ela sobre alguma detenção ou coisa do tipo. Lembrava-se da vez em que ele concluiu que as detenções não faziam a menor diferença para ela e a fez ajudar o professor Kettleburn em vez disso.

A sede da Ordem da Fênix encontra-se no Grimmauld Place, número doze, Londres.

— Decorou? — perguntou Moody apenas alguns segundos depois, impaciente.

— Sim, eu...

Antes que pudesse terminar de falar, ele tirou o pergaminho de sua mão e apontou a varinha, fazendo-o pegar fogo rapidamente.

— Feitiço Fidelius. Não queremos que isto caia em mãos erradas — ele disse, antes que pudesse perguntar.

— Não sabia que Fidelius funcionava com a escrita — murmurou.

Era mesmo uma boa ideia confiar a segurança deles a uma pessoa depois do que aconteceu na guerra anterior?

— Queria ver tentarem tirar a informação de Dumbledore — escutou Moody resmungar, como se fosse legilimente, e foi obrigada a concordar.

Entraram em um beco próximo e ele pôs a mão em seu ombro, fazendo-os aparatar. Ainda aparataram umas duas vezes mais para "despistar" quem quer que os estivesse seguindo. Por um momento, Tonks temeu que algum dos dois estrunchasse. Então Olho-Tonto pareceu dar-se por satisfeito e eles começaram a caminhar apressados por um parque cheio de trouxas.

Era uma boa ideia que a sede fosse próxima de trouxas. Comensais da Morte não pensariam nessa possibilidade. E, se pensassem, não havia nada que pudessem fazer. Se Fudge não queria acreditar no retorno de Voldemort, talvez fosse mais vantajoso para eles atuar pelas sombras.

Alastor caminhou em direção a um conjunto de casas iguais e com aparência de antigas. Uma placa de rua no cruzamento apontava para "Grimmauld Place". Não se atreveu a fazer perguntas. Assim que eles prostraram-se em frente aos números 11 e 13, ele bateu a bengala dele no chão. Tonks esperou por alguns segundos antes que o número 12 começasse a surgir no meio das duas casas, espremendo-se como o Nôitibus Andante entre dois ônibus.

— Eu amo magia — não pôde evitar suspirar.

Moody não deu-se o trabalho nem de revirar os olhos, arrastando a sua perna em direção aos dois degraus da frente. Ele não tocou a campainha, apenas saiu abrindo a porta.

— Olho-Tonto, não acho que essa seja... — ela começou a dizer.

Olhou ao redor, levando uma mão para a sua nuca, incomodada, mas ninguém prestava atenção neles. É claro que não, já deviam estar dentro da área de restrição do feitiço. Moody deixou a porta aberta atrás dele e não esperou por ela para adentrar a casa.

Tonks buscou a sua varinha dentro do bolso da capa e entrou atrás dele, fechando a porta com uma batida fraca. O corredor estava escuro e havia apenas uma fraca luz no final do corredor e perguntou-se se não tinha nenhuma vela ou lâmpada para acender ali.

— Lu... — tentou acender a ponta da varinha.

— Aqui não, Nymphadora — escutou a voz de Moody de algum canto.

Era algum tipo de teste?

Estava pensando em talvez deixar o seu cabelo em um tom fluorescente para que pudesse enxergar o chão sem chamar a atenção, que devia ser a razão para ele pedi-la para não acender a varinha — vai ver ele queria matar a todos do coração com uma entrada triunfal e dramática como vivia fazendo com ela, ou ele não confiava naquela casa, apesar de ter sido Dumbledore quem lhe falou de lá —, quando a sua perna deu de encontro com algo duro no meio do caminho. A próxima coisa que sabia era que suas costas bateram contra o chão de madeira e tinha algo pesado em cima de si.

— Lixo! Sangues ruins! Mestiços imundos! Ralés! — alguém do lado esquerdo gritava.

Considerando que já tinha jogado o cuidado pelos ares, Tonks acendeu a varinha, como devia ter feito desde o começo e então viu que era o que parecia a perna de um trasgo oca que estava em cima de si. Jogou-a para o lado, enojada, e então girou a varinha para descobrir que era um quadro que berrava como se ela tivesse matado a sua mãe.

— Kreaaaaaaaaacher! — ao estender a vogal, a sua voz ficou aguda e deixou-a quase surda.

Escutou passos vindos do andar de baixo, ao mesmo tempo em que um elfo doméstico aparatava no hall de entrada.

— Kreacher está aqui, minha senhora...

Uma porta abriu-se em algum lugar.

— Sai da frente! — uma voz exclamou ríspida, empurrando o elfo para o lado sem o menor cuidado.

— Kreaaaaacher, tire-os da...

Fosse o que fosse, a mulher do quadro não pôde terminar de gritar, pois os dois homens conseguiram correr a cortina à frente da moldura. Talvez aquelas cortinas tinham algum feitiço silencioso que abafava os gritos dela, ou algo sonífero para que...

— Temos que dar um jeito nesse quadro — o homem da voz amargurada disse.

O outro homem pareceu notar que ela ainda estava sentada no chão.

— E aí, beleza? — ela cumprimentou, tentando fingir naturalidade.

Ia matar Olho-Tonto quando o visse... Ele a deixou plantada ali!

— Uma mãozinha? — ele perguntou, esticando o próprio braço em sua direção.

— Isso seria adorável, obrigada — respondeu, pegando na sua mão.

— Como disse que se chamava mesmo? — o outro homem perguntou.

E então olhando diretamente para o rosto dele, iluminado pela luz que saía da sua varinha, foi que entendeu de quem se tratava.

— Sirius Black — disse Tonks.

O homem que a ajudou a levantar-se ficou tenso, a sua mão indo em direção ao bolso da sua calça, provavelmente à procura de sua varinha.

— Nymphadora!

Ela rosnou, virando o rosto para a sua direita.

Moody aproximou-se dos três, a bengala marcando os seus passos.

— Não me chame... — Tonks tentou protestar, mas foi interrompida pelo mentor.

— Vamos antes que os outros quadros resolvam participar da reunião — ele rosnou, antes de afastar-se — Estamos muito atrasados!

— E de quem é a culpa? — ela retrucou, mesmo sabendo que ele a ignoraria.

Dando um outro olhar a Sirius e o outro homem, ela decidiu seguir Moody e deixar aquela conversa para depois.

Atrás da porta aberta, escadas davam para o subsolo da casa. Gemeu antes de dar o primeiro passo, tomando cuidado para não tropeçar e rolar escadaria abaixo. Seria uma excelente primeira impressão.

Aquela casa enorme e aterrorizante não tinha sala de jantar?

Escutou o som de conversas paralelas antes mesmo de poder ver as pessoas que ocupavam o que parecia ser uma cozinha muito antiquada. Francamente, por que a cozinha ficava no porão? Distraiu-se olhando ao redor, até que escutou uma exclamação:

— Nymphadora!

Que crime ela tinha cometido enquanto estava na barriga da mãe para precisar passar por isso todos os dias?

Teria reclamado se não tivesse reconhecido os cabelos ruivos.

— Bill, o que está fazendo aqui? — ela perguntou.

Era verdade que tinha sido mais próxima de Charlie, já que estudavam no mesmo ano, mas não tinha como ser amiga de um Weasley e não conviver com os outros.

— Acho que é meio óbvio, não é? — ele respondeu de bom humor — Tinha tirado licença de Gringotes para poder ver a última tarefa, então meio que vi as coisas acontecerem.

— Entendo.

— Charlie não conseguiu tirar licença dessa vez, mas ele vai nos ajudar lá da Romênia. Mas e você?

— Moody.

Era uma simples palavra bem explicativa.

— Você é a protegida dele? — Bill disse em tom de troça.

— Eu não preciso de ajuda pra chutar a sua bunda.

As conversas foram interrompidas quando Dumbledore, que ela recém notou que estava sentado na cabeceira da mesa, levantou-se. Os bruxos que estavam de pé tomaram cadeiras para si, e a professora McGonagall precisou convocar uma ou duas cadeiras a mais para que todos coubessem na mesa.

Eram muitos bruxos, Tonks não pôde deixar de admirar-se. Conhecia Mundungus, Emmeline e Héstia de vista, além dos três Weasleys presentes. Foi enquanto dava uma observada ao redor que os seus olhos encontraram-se com os de Kingsley. Ele apenas exibiu um sorriso debochado em sua direção, antes de voltar a prestar atenção em Dumbledore.

Apesar de sentir-se levemente indignada por não ter desconfiado, sentiu-se também aliviada de saber que não seria a única auror infiltrada no Ministério.

— Acredito que as apresentações ocorrerão em seu devido tempo — disse Dumbledore, depois de pigarrear — Esta será a sede permanente da Ordem da Fênix, onde todas as reuniões acontecerão.

— Que lugar é este? — perguntou Héstia, mostrando-se interessada.

— A casa de meus pais — respondeu Sirius com um tom sombrio.

Ninguém ousou perguntar.

— O ministro não acredita que Voldemort — algumas pessoas estremeceram, mas Dumbledore não deu importância a isso — tenha retornado. Isso significa que o Ministério não tomará qualquer atitude e será apenas questão de tempo para que a situação piore, exatamente como da última vez. Por isso convoquei vocês aqui. Precisamos agir e proteger aqueles que precisam de nós. Todos vocês concordaram em lutar, é hora de agirmos.

Mundungus pareceu afundar na cadeira e Tonks perguntou-se o porquê do bruxo estar realmente ali. Um homem com o cabelo da cor de palha trocou um olhar sombrio com Emmeline. Eles já se conheciam, e se Tonks fosse chutar, diria que eles eram da Ordem da Fênix original, assim como Moody.

— Bem, temos três assuntos importantes a tratar — Dumbledore voltou a se sentar — Primeiro, precisamos vigiar aos Comensais da Morte para sabermos quando Voldemort entrar em contato.

— Os Comensais mais influentes são mais prováveis — disse Moody — Não vamos perder tempo com Crabbe e Goyle, não somos tantos. A não ser que tenha descoberto uma maneira de uma pessoa estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Pelo olhar que Sirius trocou com o homem que a ajudou mais cedo, eles pareciam ter algo a dizer sobre isso.

— Quem sugere? — perguntou Dumbledore.

Tonks percebeu que estranhava a ausência do professor Snape. Apesar da fidelidade da professora McGonagall, era sempre o professor de poções que respondia às perguntas do diretor.

— Malfoy, é claro — respondeu Moody sem hesitar — Yaxley também é muito influente. Não estou certo quanto a Nott, mas MacNair trabalha no Ministério e os irmãos Carrow eram particularmente sadistas.

— Não acho que MacNair vá ser útil — opinou Emmeline — Ele é só um carrasco.

— E quanto a Avery? — um homem com o cabelo de cor de palha sugeriu.

— Concordo — disse Héstia.

— Então temos Malfoy, Carrow, Yaxley, Nott e Avery? — perguntou Dumbledore apenas para confirmar e recebeu acenos de cabeça aprovadores.

— Eles não se atreveriam a comunicar-se em plena luz do dia — disse Moody, a quem todos pareciam levar muito em consideração a sua opinião — Podemos tentar pôr alguns feitiços, mas com os escudos deles...

Tonks sentiu o olhar do auror em cima de si e sentiu a crítica subentendida de que um Comensal da Morte tinha escudos melhores que os da casa dela.

— Então pessoalmente é a melhor chance de conseguirmos informação — concluiu o homem ao lado de Sirius.

— Se conseguirmos — Mundungus resmungou e então encolheu-se sob o olhar insatisfeito de Olho-Tonto.

— Eu sugiro duplas. É perigoso demais alguém ir sozinho, por mais capacitado que seja — disse Moody.

— Isso inclui você, Olho-Tonto — Tonks retrucou.

Ele resmungou. Se estivessem sozinhos, não duvidava que ele talvez argumentasse que tinha sido sozinho que preencheu metade das celas de Azkaban. Não é que duvidasse da capacidade dele, só não subestimaria a capacidade dos Comensais.

— Sim, sim. Contudo, os Comensais da Morte não são os únicos que precisamos vigiar — Dumbledore disse — Harry Potter está na casa dos tios dele e, apesar da casa contar com algumas proteções há anos, eu receio que elas não sejam mais suficientes.

— Albus, você me garantiu na época que se Harry morasse sob o teto dos tios dele... — o amigo de Sirius começou a falar.

— Voldemort fez um ritual para conseguir o seu corpo de volta. Nesse ritual, ele usou o sangue de Harry — o diretor explicou, fazendo algumas pessoas ofegarem horrorizadas. Molly empalideceu e o seu marido pegou na sua mão para tentar acalmá-la — Por essa razão, não temos como ter certeza de que as proteções o manterão longe, caso tente invadir Privet Drive.

— Disse que eram três pautas — Arthur tentou mudar de assunto.

— Severus me contou que, agora que retomou o seu corpo e entrou em contato com antigos Comensais da Morte, Voldemort está interessado em uma coisa — Dumbledore permitiu a mudança de assunto.

Ali estava a menção que estava esperando.

— Ele está atrás de uma profecia — ele continuou —, a verdadeira razão pela qual foi atrás dos Potters e tentou matar Harry. Um Comensal da Morte escutou parte da profecia, mas não tudo, e considerando os seus incontáveis fracassos, Voldemort quer a profecia completa.

— Está no Departamento de Mistérios? — perguntou Kingsley.

— Exatamente.

— Ele seria louco se tentasse invadir o Ministério — comentou um bruxo sentado ao lado de Héstia.

— Seria se Fudge acreditasse que ele voltou — murmurou Tonks, mas foi escutada mesmo assim.

— Ele não invadirá ele mesmo, mandará os outros fazerem por ele — disse Moody, impaciente — Então é isso? Temos que vigiar Malfoy, Yaxley, Carrow, Avery e Nott. Temos que montar uma guarda no corredor do Departamento de Mistérios. E temos que cuidar da segurança de Harry Potter até o final do verão.

Dumbledore concordou com a cabeça.

— Se alguém fora do Ministério estiver fazendo guarda no corredor do Departamento de Mistérios... — Emmeline tentou dizer, mas Arthur a interrompeu.

— Qualquer pessoa que fizer guarda no corredor, vai chamar a atenção — ele disse.

— Bem, existem feitiços desilusórios e capas da invisibilidade — Moody replicou — Isso não será um problema.

— Precisamos decidir quem irá vigiar o quê e quando.

Emmeline Vance pegou um pergaminho e começou a separar os grupos. Não era tão diferente das vezes em que Tonks teve que pegar um mandado para prender alguém ou revistar alguma casa, especialmente durante a época das batidas.

— Todos poderiam cuidar da segurança do garoto, da profecia e vigiar os Comensais — opinou um bruxo mais velho que não falou durante toda a reunião.

— Eu não acho que o garoto seja prioridade — disse o homem ao lado de Emmeline, recebendo alguns maus olhares — Não me entendam mal, mas se Dumbledore disse que tomou as suas precauções, seria errado de minha parte imaginar que...?

— Não — o diretor respondeu com tranquilidade — Arabella está cuidando dele.

Uns oito bruxos pareciam saber de quem ele estava falando, os que não sabiam não perguntaram.

— Precisamente — o bruxo tomou a resposta de Dumbledore como argumento — Se fosse feito um rodízio entre três de nós, enquanto os outros...

Se tinha algo que Tonks odiava mais do que papelada, era burocracia.

Geralmente seguia as ordens que eram dadas por Scrimgeour e outros aurores mais velhos, não participava das decisões de rondas. Moody, ao seu lado, parecia tão entediado quanto ela.

— Eu empresto a minha capa, Podmore — escutou-o dizer a certa altura ao bruxo de cabelo cor de palha.

— Então Weasley, Podmore, Shacklebolt, Vance, Jones e Tonks farão a vigília no corredor do Departamento.

Ela olhou para cima ao escutar o seu sobrenome ser dito por Emmeline.

— Fletcher, Diggle e Doge vão se alternar em Privet Drive. Vamos alternar na ronda aos Comensais da Morte ou cada dupla cuida de um? — ela levantou o olhar do seu pergaminho.

— Não vamos complicar as coisas — disse Bill —, a não ser que sejamos reconhecidos.

Por um momento, imaginou se Charlie estivesse ali. Ele estaria tão entediado quanto ela. Nem sabia quando foi a última vez que falou com o dragonologista, só sabia que ia enviar um berrador para ele por não ter avisado que tinha voltado para uma das tarefas do Torneio.

— Por que não traz as crianças para cá? — Sirius perguntou a Molly, respondendo a algo que ela devia ter dito que Tonks não prestou a atenção — A ideia é que Harry venha um pouco antes das férias de verão acabarem e a casa tem muito espaço.

Ela olhou para o marido, parecendo indecisa.

— Mas não seria incômodo? — perguntou.

— De forma alguma!

Ele parecia satisfeito demais da casa não estar vazia para alguém poder considerar que seria um incômodo.

— Preciso ir. Cornelius quer falar sobre a administração da escola — disse Dumbledore a certa altura, parecendo exausto — Enviarei uma coruja para avisar sobre a próxima reunião.

Tonks levantou-se junto com os outros bruxos. Alguns despediram-se rapidamente, indo atrás do diretor. Sentindo-se levemente culpada, aproximou-se de Bill.

— Ei, o que eu tenho que fazer? — ela murmurou para ele.

Ele pareceu engolir uma gargalhada.

— Céus, você e Charlie nunca tomaram jeito — comentou, bem humorado.

— Estou morrendo de fome! — ela tentou defender-se — Alastor me fez caminhar por horas para "despistar" perseguidores.

— Ficará quarta-feira à noite na vigília do Departamento — Kingsley surgiu atrás dela — e ficará de tocaia na casa dos irmãos Carrow com Lupin.

— Quem é Lupin? — perguntou Tonks.

Ele indicou o homem que conversava com Sirius e Arthur do outro lado da mesa.

— Não sei se as duplas vão ser fixas. Quem sabe um dia me põem com você — Bill deu um empurrão de leve com o ombro.

— Você bem que gostaria — ela sorriu — Estavam todos aqui?

— Não. Arabella Figg, o irmão de Dumbledore, Hagrid e Snape não vêm às reuniões — ele respondeu.

— Mundungus pode ser muito útil vigiando a Travessa do Tranco — opinou Kingsley — Arabella é um aborto, então não há muito que possa fazer. Aberforth é dono do Cabeça de Javali, os contrabandistas gostam de passar por lá. Hagrid está em uma missão para contatar os gigantes. E Snape está como infiltrado.

— É claro que está — disse Tonks, sem impressionar-se — Vai fazer os contatos do Egito, Bill?

— Na verdade, eu vou voltar. Vou trabalhar no Gringotes do Beco Diagonal.

Isso sim a impressionou.

— Algum motivo além de um bruxo das trevas ter ressurgido?

— Não sei do que está falando — Bill desconversou — Acho que Black quer falar contigo, ele não para de olhar para cá.

Podia imaginar o porquê.

 


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Notas finais do capítulo

• No primeiro capítulo de "Harry Potter e a Pedra Filosofal", há um jornalista do telejornal chamado Ted que anuncia sobre as corujas estarem por toda a parte durante o dia e dá um sorriso misterioso. Isso fez surgir uma teoria dentro do fandom de HP de que esse Ted seria Ted Tonks, o pai da Tonks. Nessa fanfic eu sigo esse headcanon.

• Eu pesquisei sobre telejornais que existiam em 1981, quando aconteceu a queda de Voldemort, mas só achei de canais grandes como a CNN e a BBC, em vez de um canal de menores proporções, que era o que queria. Então só restou usar a BBC Nine O'Clock News.

• Jim McGuffin é o meteorologista trouxa que aparece também no primeiro capítulo de Pedra Filosofal. Em português, o seu nome foi traduzido para Jorge Mendes.

• Na biografia do Remus no Pottermore, é mencionado que as vigílias que eles faziam na casa dos Comensais da Morte aconteciam durante a noite.

• Em "Harry Potter e o Enigma do Príncipe", Snape menciona que os irmãos Carrow não procuraram por Voldemort, o que significa que eles não foram presos após a Primeira Guerra Bruxa.

• A profissão de Emmeline Vance nunca foi mencionada, então eu a pus trabalhando no mesmo departamento de Amelia Bones.

• Moody tinha uma capa da invisibilidade (provavelmente feita de pelo de sêminviso), e isso é mencionado em "Harry Potter e a Ordem da Fênix". Ele a empresta para Sturgis Podmore e para Mundungus Fletcher também. É possível que outros integrantes da Ordem da Fênix tivessem capas da invisibilidade para poder espiar o Departamento de Mistérios. Arthur Weasley usava uma quando foi atacado por Nagini.



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