No More Secrets: Terceira Temporada escrita por CoelhoBoyShiper


Capítulo 5
You'll be back




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O veículo da Guarda Temporal não era nada parecido com nenhuma viatura na qual Dipper tivesse visto antes. Na verdade, não era parecido com nada que ele já tivesse visto anteriormente. O lugar tinha o cheiro esterilizado, como o de um hospital. Porém, as paredes eram adornadas de pilares futuristas que emitiam luzes neon esverdiadas; o chão feito de algum material desconhecido, mas que se parecia com marfim, polido o bastante para refletir o brilho das armas dos oficiais que zumbiam, eletrizadas de tanta munição. Acima da sua cabeça havia um teto abobadado transparente que parecia ter saído direto de um filme de ficção científica; através dele, as nuvens passavam a toda velocidade enquanto eles zarpavam pelo céu, planando. “Mentira”, corrigiu-se Dipper em silêncio, percebendo uma coisa. Ele já tinha visto algo parecido, sim. Era parecido com um OVNI. E não qualquer um.

A nave era parecida com o disco voador que estava enterrado e abandonado no coração da velha Gravity Falls. “Será que era uma dessas que foi parar lá?” Ele se forçava para se ocupar com esses tipos de pensamentos durante a viagem para o Exílio. Ele e Tom já estavam no trajeto há alguns minutos.

Haviam soldados por toda parte, vigiando Tom, que estava de joelhos e cabeça abaixada no centro de uma sala minúscula. Dipper se mantivera no canto, ainda escondido debaixo da pele de camaleão, bem debaixo dos narizes de todos os oficiais ludibriados presentes. Segurou o riso. “Mal sabem o que lhe aguardam...”

— Esperem só até o Time Baby ficar sabendo que o último membro vivo da Resistência foi capturado — o soldado soltou uma gargalhada nojenta que já estava fazendo a bile no estômago de Dipper subir. O homem deu um chute na costela de Lucitor, que rangeu os dentes e se contraiu de dor. Já era a quinta agressão só naquele minuto. A magia de Dipper flagelava o interior da sua pele ao observar a cena, pegava fogo e suplicava para sair e quebrar com a cara daqueles caras. Mas ele se conteve. Não resolveria nada, só complicaria. Ele já estava ciente disso.

“Aguenta só mais um pouquinho, Tom...”, implorou, esperando com todas as suas forças que o encorajamento chegasse ao amigo de alguma maneira nem que fosse por telepatia. Se impressionava de Thomas ainda também não ter deixado nenhuma fúria mágica escapar. Parecia que aquela algema esquisita que haviam colocado nele estava bloqueando os seus poderes temporariamente.

Uma série de sons eletrônicos apitaram atrás de uma grande porta de titânio que era marcada com a grande insígnia de ampulheta do tempo. Ela se abriu automaticamente, partindo-se horizontalmente ao meio e uma nova dupla de soldados adentrou.

— Estamos nos aproximando — ele avisou a um dos vigilantes próximos a porta. Atrás dele, havia uma janela panorâmica gigantes que dava uma ampla vista a todo o deserto do Mindscape, e, não muito longe, via uma excêntrica construção se erguer. Era uma cúpula em formato de concha que, propositalmente ou não, emergia da areia como um búzio afundado na beira da praia, espiralando acima, terminando num funil que fechava o enorme cone arredondado. Era feito de algum material não-físico, parecido com o plasma que os soldados usavam em suas armas, esverdeado e translúcido, emanando a sua aura de poder à distância. Dipper já sentia a sua magia ficando distante do seu alcance, uma fadiga o acertando de leve no peito. Fosse o que fosse aquela barreira, sugava o seu poder de canudinho. Teve de se apoiar mais contra a parede, recusando a submeter-se ao desmaio de uma tontura.

Seu estômago deu tantas voltas que nem o marinheiro mais experiente do mundo parecia capaz de desatar aquele nó que se formou.

Era o Exílio.

O guarda assentiu e virou-se para Tom. — Monstro, levante-se. Hora de colocar uma roupa apropriada pra rever seus amiguinhos — latiu.

Guiaram Tom mais uma vez até uma sala adjacente onde ele passou por uma porta que lembrava Dipper de um detector de metais. As molduras eram encrustadas de cristais cor de verde que apitaram e brilharam forte assim que Bill atravessou o portal.

— Ele está carregando armas brancas — ratificou monótona uma inspetora que estava ao lado do detector, analisando a ficha de Tom num holograma aberto no ar. Um novo soldado se aproximou e revistou Lucitor até encontrar o cinturão na sua cintura e confiscar as suas athames.

Sorrateiro, Dipper passou despercebido por trás da linha de soldados e do detector de armas e chegou primeiro na ala seguinte.

Sem autorização e nem mesmo um aviso prévio, o homem que escoltava Lucitor (o mesmo que já tinha lhe deixado diversos roxos na lombar com os chutes) deu um puxão na camiseta rosa que o demônio usava e o despiu e descartou das suas vestimentas com rudez.

Dipper viu o lábio inferior do amigo começar a tremer de leve, então se aproximou e passou a mão invisível de leve no ombro dele tentando dizer “Não se preocupe, eu ainda estou aqui”. Tom imediatamente se empertigou, recuperado. Eles novamente andaram até um novo portal. Assim que Tom atravessou, uma nova roupa se materializou em volta do seu corpo – um macacão verde escuro, marcado com a insígnia de ampulheta do governo e um numeral extenso no tecido acima do lado direito do peito. Dipper deu a volta no dispositivo e encontrou um último par de oficiais que guardavam uma última porta que vidro que os separavam do mundo exterior. A algema de Tom apitou e destravou, um agente a recolheu e a porta de vidro se abriu.

Do lado de fora, areia soprava invadia o terrapleno, cortante como navalhas. Tom deu um passo à frente, ficando na borda da varanda sem grade. A quilômetros abaixo dos seus pés residia a entrada do Exílio, a abertura um pontinho aberto bem no cume da conha. De lá, começou a flutuar devagar uma plataforma, subindo no ar até atingir a altura de Tom.

— Passe — ordenou um guarda, cutucando a ponta da arma contra as costas de Lucitor. Tom subiu no prato, Dipper o seguiu, encolhido num canto, e o tocou na perna para lembrá-lo da sua presença.

O prato começou a descer da plataforma e a nave foi se distanciando e Tom e Dipper se aproximando cada vez mais da cúpula brilhante que parecia uma estufa ominosa. O pontinho no fundo do deserto virou uma passagem gigante e o OVNI virou o pontinho. A medida em que chegavam mais perto do chão, o orifício no topo da doma se alargou para encaixar o prato em que os dois estavam de pé.

— Segura firme — disse Tom, segurando desengonçado o braço invisível do amigo.

A plataforma fez um clique alto e longo de pressurização assim que se encaixou no furo e, abruptamente, destravou, partiu-se ao meio e se abriu, virando um alçapão. A dupla despencou estufa adentro. Dipper perdeu a respiração e o equilíbrio, girou no vento, gravidade o tragando e fazendo o seu estômago tremer diante da ausência de peso. O mundo era um borrão em volta deles por um instante e, então, escuridão. Haviam chegado ao solo, mas não o atingido, e sim afundado nele. O mundo não parou, continuou rodopiando – Dipper saiu rodando ladeira abaixo, Tom também, só que na outra direção. As mãos deles se separaram, e os dois se afastaram em caminhos opostos.

— Tom!

— Dipper!

Dipper gesticulou seus membros, tentando nadar numa pilha de coisas que ele logo percebeu serem dejetos. Terra, areia, lama, restos de mobília de madeira, estofamento e papel. Tentava alcançar seu mentor novamente, mas não foi capaz, tamanho descontrole com a pontada que levara na costela por algum objeto metálico que lançou uma dor aguda na lombar esquerda. Finalmente, parou de cair assim que chegou ao sopé da colina de entulhos. Tossiu com dificuldade, abanando a mão para tentar sumir com o véu de poeira que havia se erguido com o seu impacto e complicava sua visão já turva, sua cabeça estonteada com o cérebro parecendo ser feito momentaneamente de amoeba. Um fedor doentio de putrefação corroeu suas narinas adentro e fez sua barriga se contrair e querer botar tudo pra fora.

Ainda cambaleando, mal de pé, guiou-se às cegas, agitando as mãos, buscando tato naquele muro de lixo. Havia tocado algo pegajoso, macio e duro. Estranhando, traçou os dedos ao redor daquele objeto estranho – era áspero, então mole, então grudento. Quando sua visão deixou de ficar embaçada e se acostumar com a pouca luz do lugar, formas se delinearam, fazendo Dipper ver no que ele encostava:

Um corpo em decomposição.

Jogou a mão para longe, espantando como se tivesse tocado em fogo. Afastou o olhar automaticamente, porém outro cadáver estava no seu campo de visão. Olhou para o outro lado, outro cadáver. Mais outro. E mais outro. Ele olhou para cima... aquilo não eram apenas destroços comuns.

Era uma montanha de criaturas mortas. Pés, pernas, patas assas e cabeças, todas elas dispostas ao redor sem uma ordem certa, nos mais diferentes estados de podridão. Lavras rastejavam de cada mísero orifício, tantas que às vezes pareciam fluir em cascata de dentro de carcaças de caixas torácicas, de órbitas oculares de crânios ainda cobertos com pele. O futum azedo e metálico de morte pairava constate em todo lugar que ele ia.

Lágrimas arderam em volta dos olhos de Dipper. Formigou-se da ponta dos pés até o último fio de cabelo. Uma coceira desconfortável aumentava nos seus antebraços. Teve a vontade de fazer tudo ao mesmo tempo. Rir. Chorar. Gritar. Vomitar. Desmaiar. Porém só ficara petrificado, o próprio organismo entrando em pane, sem fazer a menor ideia de qual comando ativar primeiro.

— T-Tom! — estridiu finalmente, suas palavras saíram esganiçadas e quase inaudíveis, como um arrulho de socorro de um animal.

— Olhem isso aqui! — uma voz desconhecida e grossa falou e, em seguida, deu uma risada perversa. — Venham aqui! — persistiu chamando.

Desorientado, Dipper foi tropicando em busca do som. Não importava quem fosse. Não queria ficar sozinho ali. De maneira alguma.

Encontrou a origem do outro lado do aterro, era um monstro que havia dito. Vivo, usando o macacão surrado do presídio, segurava uma vara de madeira com uma ponta quebrada e afiada. Parecia-se com um troll, escamoso, de cor alaranjada, a altura o triplo da de Dipper, a boca torta expondo a maior coleção de dentes que ele já havia visto na vida. Ele olhava para alguém próximo do garoto com malícia. Mesmo perdido, Dipper sabia que não podia ser ele – ainda estava bem protegido por baixo da sua pele de invisibilidade. Seguiu o rumo do olhar do monstro e encontrou Tom agachado num canto, ainda se recuperando do tombo.

Correu na ponta dos pés até o lado do amigo. — Tô aqui — assegurou baixinho. Lucitor tateou o solo até achar o volume do pé de Dipper e segurá-lo com força.

Mais dois monstros chegaram. Em seguida, mais três, quatro, cinco... Uma multidão de anomalias estava ao seu redor. Todos eles carregando algum tipo rudimentar de arma. Não precisaria ser um gênio para entender que aquilo não seria uma festinha de boas-vindas.

Pines escorou nos ombros de Tom, ajudando-o discretamente a ficar de pé.

— Carne fresca! — jubilou um híbrido de polvo, rastejando os seus tentáculos gosmentos na direção deles furtivamente. — Finalmente, carne fresca!

Espontâneo, Dipper chamou pelos seus poderes. A resposta que teve foi um eco longo e profundo de um vazio dentro da sua alma. Inspirou o ar de susto. Sem mais nenhum poder. A sensação era horrível, a mesma de ter alguém considerado virando as costas para você. O garoto mal havia percebido o quão dependente e afeiçoado pela sua magia já tinha ficado naquele meio tempo.

Sentiu Thomas retesando os músculos do ombro. Ao mesmo tempo, pronto para recuar de medo e pronto para se defender se preciso. Dipper pressionou as costas contra a parede da montanha, rezando para encontrar uma ideia.

— Se afastem! — Thomas rugiu, suas pupilas vermelhas parecendo reluzir com mais intensidade. — Estou aqui procurando apenas por Bill Cipher!

— Quem? — uma criatura debochou, todas as outras riram e continuaram chegar mais perto a passadas lentas de predador.

Enquanto Tom estava ocupado tentando se explicar pro bando, Dipper notou algo rastejando pelas costas do mentor. Uma cobra azul se aproximava furtiva, olhos faiscando malícia e língua tremendo nervosa de fome. Ela foi se levantando no ar sem que Tom visse. Um momento antes do bote, Dipper despertou do seu torpor e sacou uma athame fora do coldre. A faca zapeou o vento e dilacerou um arco firme perto do pescoço da serpente. O bicho sibilou esganado e se curvou para trás, chiando de dor, sangue preto respingando e se misturando com o que escorria podre entre o solo. O ruído atraiu a atenção de todos inclusive a de Thomas.

Com o golpe, a mão de Dipper ficou exposta para fora da capa de invisibilidade. A mão rente, flutuando separada do restante do corpo enquanto segurava a lâmina chamativa no meio do ar. As criaturas se assustaram e voltaram a se afastar, confusas.

— Fiquem. Longe. — Tom voltou a avisar. Sua voz era de longe um grito, porém a seriedade presente nas suas palavras era mais estrondosa do que qualquer urro que ele poderia ter dado.

— Que porra é essa?! Como entrou com isso aqui?! — exigiu o troll laranja, quem aparentava ser o líder daquela facção.

— Eu não sou pouca bosta — disse Thomas, estufando o peito para a frente. — Eu sou Thomas Draconius Lucitor, o último em pé da Rebelião e braço direito de Lord Stanford.

Os monstros pararam. Fez-se silêncio absoluto. Então todas as criaturas começaram a gargalhar como se Tom tivesse acabado de contar a piada mais engraçada do mundo.

— Conversa fiada! — crocitou o troll contrariado, ainda em algumas risadas sem fôlego. — Todo o Exército de Stanford foi aniquilado aqui mesmo. E o messias voltou para a sua terra para nunca mais dar as caras. Não sobrou ninguém pra contar história.

— Ele feriu Viper — acusou um híbrido de gaivota com polvo próximo ao chefe com sua voz arrulhada e irritante, apontando para a cobra que Dipper acabara de atacar. — Matem-no!

Em coro, todas as criaturas ergueram as suas cabeças para o céu. Urraram, rugiram e crocitaram. Uma sinfonia de ódio selvagem e tangível encheu o espaço e todo o grupo começou a marchar para cima dos novatos. Tom engoliu a seco, olhos despreparados e perdidos.

“Tenho que fazer alguma coisa!”

— Esperem! — suplicou Pines. Nada se ouviu em meio o alarde.

Sem pensar duas vezes, Dipper tacou o foda-se e arrancou a pele de camaleão do seu corpo, passando para a frente de Tom e ficando visível para toda a manada num piscar de olhos.

ESPERA!! — clamou, abrindo os braços, protegendo Tom e detendo o ataque.

Toda a multidão freou o passo ao ver o garoto.

De primeira, observaram-no com olhos semicerrados. Perdidos. Então a mesma criatura polvo de antes redirecionou o dedo indicador para a testa do menino, com o roxo da sua pele esponjosa diluindo para um rosa, os olhos ofídicos do monstro líder se abrindo de choque.

— Olhem! É um humano.

— Um humano?! — ralhou o chefe, como se estivesse ofendido. — É um Índigo ainda por cima!

A marca de nascença de Dipper da Ursa Maior estava exposta e brilhou em azul como se reconhecesse a presença do seu nome sendo dito em voz alta.

Um burburinho aconteceu. Um Índigo? O que estaria um Índigo fazendo aqui? Quem é ele? Como veio parar aqui? Sabe fazer magia? Iam e vinha as perguntas murmuradas, trazidas e levadas pela brisa fedorenta.

— Como se chama? — O troll se aproximou, mas não em modo de intimidação. Um lampejo de curiosidade havia roubado a energia de selvageria das suas irises, e ele mantinha os braços para trás como se tivesse medo que Dipper pensasse que ele poderia machucá-lo.

— Sou... sou Dipper Pines.

Nova rodada de exclamações de surpresa e admiração.

— Olha o cabelo dele, os olhos... — um anunciou no meio da plateia bizarra. — Essa criança é a cópia escarrada do Pines.

— É filho de Stanford?! — persistiu o troll, dando mais um passo à frente repleto de dúvidas e encantos.

— Não. Mas sou seu descendente. O que Tom fala é verdade. Por favor, só estamos à procura de Bill Cipher — pediu, apressado, não podia se dar ao luxo de desandar da razão que lhe trouxera ali. Bill já poderia estar no leito de morte, enterrado naquela chacina de corpos até.

Mais um silêncio se seguiu. Pétreo. Mortal como tudo que os cercavam.

De pouco a pouco, ira virou admiração. Os olhos das criaturas inundaram-se de brilho, pareciam crianças admirando o brinquedo que elas mais queriam numa vitrine.

Enquanto estivera despercebido, um monstro alisou a mão no braço de Pines. O garoto se assustou com o toque, mas logo relaxou ao perceber que o gesto não tentava feri-lo. A criatura – uma menina com assas de libélula arrebentadas e cheia de curativos improvisados – inspecionava a pele dele, maravilhada. — Olha só, olhem como ele é perfeito! — dizia de boca aberta.

— Olhem os dedos, a testa... Incrível, incrível! — admira-se outro, aproximando-se.

— Eles existem mesmo! — comemorou mais um.

— Deixa eu ver, deixa eu ver! — pedia outros, empurrando o acúmulo de seres interessados.

Dipper começava a se sentir sufocado e confuso de tanta atenção quando uma sirene começou a ecoar em volta do que parecia ser todo o Exílio. As anomalias travaram nos seus lugares, alguns olhares preocupados e sons de espanto soaram aos redores antes delas saírem correndo, afugentadas por algo que nem Pines nem Lucitor entendiam.

— Se escondam! Eles tão descendo! — ouviu-se o alarde perdido de um dos monstros. De um segundo para o outro, Tom e Dipper estavam sozinhos naquela parte do aterro.

Os dois se olharam, procurando uma resposta no rosto um do outro.

Lá, metros acima, ouviu-se o som pesado de pés marchando e, em seguida, comandos eletrônicos de uma plataforma que descia de um filamento de soldados e guardas isolados num forte circular que percorria toda a extensão do topo da doma.

— O Comandante esssstá desccceendo — gorgolejou a serpente, lânguida e ainda aos pés da dupla, antes de perfurar-se para dentro da terra. — Ssse eu fosssse vocês dois usaria o truquezinho de vocês e sumiria daqui.

— Tom, eu te dou cobertura — falou Dipper enquanto vestia a capa e ficava novamente invisível. Mas, de repente, uma voz grossa e autoritária regozijou:

— Thomas Lucitor...

“O quê?!” os dois interjeicionaram. Tom lançou a sua cabeça para o alto. Uma plataforma metálica flutuava e terminava de descer na sua altura. Dipper se retraiu dentro da pele de camaleão, sem saber o que fazer.

Quando a plataforma parou e quem estava por cima dela entrou no campo de visão deles, Thomas paralisou completamente. Além de dois guarda-costas genéricos da Guarda, estava sobre o palanque um monstro fardado: uma espécie de lagarto, de escamas verdes que cobriam o seu grande porte musculoso, o dobro da altura dos dois, com um topete branco, olhos ofídicos e um distintivo atado ao peito que brilhava com força em dourado o nome “Septarsis”.

O réptil sorriu maliciosamente para Tom.

— Seth... — Thomas gaguejou com uma voz assombrada na qual Dipper nunca tivera visto-o usar até então. O garoto-demônio recuou. Dipper conhecia aquela reação, a reação de ver algo terrível se desenrolar diante de si e não poder correr por ter as pernas muito bambas. A face roxa de Tom havia diluído para rosa, os seus joelhos tremiam visivelmente, e os seus olhos assistiam o monstro que se dirigia a ele arregalados, a musculatura do queixo frouxa. Era como se apenas a presença daquele oficial tivesse sugado fora a vida de Tom.

“Tom conhece esse cara?!” Dipper se perguntou.

— Tom, Tom, Tom, Tomzinho... — Seth atormentou, lambendo os lábios com a sua língua roxa bifurcada e longa. As suas pupilas reptilianas se estreitaram mais ainda, focando totalmente no demônio à sua frente. — Olha só quem resolveu aparecer...

Ele desceu da chapa de metal, pisando em cima de uma mão carcomida sem esboçar o mínimo de reação. O olhar dele sobre Thomas engradecia, e o quanto mais engradecia, mais Tom parecia encolher.

— Quando eu ouvi que você estava aqui eu imediatamente soube que teria que ver com os meus próprios olhos. Devo admitir que estou impressionado em saber que você prestou para ao menos conseguir ficar vivo todo este tempo.

Algo tentava sair da boca de Lucitor. Mas Dipper reconhecia a reação o bastante para dizer que para alguma palavra sair dali, teria de sair lágrimas também. E Tom não era do tipo que se permitiria isso.

— Eu esperava mais de você quando chegasse o momento em que estaríamos cara a cara novamente — prosseguiu Seth, venenosamente calmo, inspecionando as suas unhas pontiagudas por cima de suas luvas táticas militares. — E cá está você, travado e pianinho... — Num movimento tão rápido que Dipper teve a impressão de perdê-lo de visto ao piscar, Seth avançou a garra até o perfil de Tom, sacudindo o rosto do demônio, conseguindo apertar com forças as suas ambas bochechas com uma mão só enquanto a outra residia formal às suas costas. Tom gemeu de susto e medo. Dipper cobriu sua própria boca, a outra mão já indo sem autorização para a athame na sua cintura. Seth colou o seu rosto contra o de Tom e sibilou baixinho no ouvido dele: — Ainda igualzinho você costumava ser. Mesmo depois de fugir e se esconder, você ainda não consegue deixar de ser meu serviçal obediente, não é?

As pernas de Tom balançavam soltas no ar, desesperadas por não terem onde se apoiar enquanto Seth o erguia pelo pescoço, as unhas quase perfurando a carne. A mão de Dipper tremia sobre a faca, o coração colidia dentro dele, e seu cérebro se embolava. Devia agir? Isso estragaria o plano?

Mas Seth, por fim, soltou Tom, atirando-o no chão. O garoto-demônio derrapou no amontoado de lama e dejetos, soltando um grito latente de dor.

Seth esgueirou um olhar ácido sobre o ombro, já voltando para a plataforma. — Mais tarde eu voltarei para te buscar, tenho ótimos planos para você. Mas, por enquanto, não deve fazer nenhum mal passar um tempinho por aqui, não acha? Quem sabe isso não lhe corrija um pouco sobre sua disciplina.

Dipper esperou até que os soldados tivessem percorrido metade do caminho de volta para a base para que pudesse ir até Tom e ajudá-lo a se reerguer.

— O que foi isso? — perguntou no que o amigo ficava de joelhos.

— Seth. Droga — praguejou Tom, limpando uma lágrima no canto dos olhos que Dipper fingiu não ter visto.

— Ele é...?

— Meu antigo dono.

Arrependimento se aloja na garganta de Dipper e cava para dentro do seu peito.

— M-Mas ele não é... outro monstro?

Tom bufa de desdém e descrença. — Você fala como se isso fosse ditar o caráter de alguém... ou a falta dele. Time Baby também não é exatamente humano, não concorda?

Eles se levantam. Não falam mais. Dipper fica atrás assim que Tom começa a vagar mais afundo do Exílio, estranhamente agora parecendo não temer mais nada. Ele pôde não ter dito uma palavra a mais, mas a sua pressa é mais clara o possível: Não quero falar disto agora.

— Anda, vamos terminar com o que viemos fazer.

Na medida em que caminhavam através aterro fétido, uma névoa fina e extensa nasceu e precingiu tudo com um ar funesto. Dipper apressou o passo e tomou o braço do mentor para que ele soubesse de que estava ali ao seu lado mesmo que invisível. E sua mão só se apertou mais em volta do antebraço dele à medida em que novas coisas iam surgindo por volta.

Uma criatura – que mal retinha partes do corpo o bastante pra se dizer o que ela era – veio rastejando na direção deles só com a parte de cima do corpo, parte do esqueleto da dorsal ainda exposto deixando um rastro de sangue por onde passava, usando de todas as suas forças para implorar a Tom:

— Se..senhor... p... por favor... me mate.

Tom engoliu a seco sem mexer um músculo e apertou o passo. Dipper sentiu a onda de vertigem atingi-lo de novo. Fechou os olhos.

— Você tinha razão. Eu não queria estar sóbrio aqui.

Tom não respondeu, só continuou andando, olhando para os lados à procura de Cipher. Por mais que Dipper também quisesse encontrá-lo, tinha que admitir que ambos estavam adiando o inadiável:

— Tom.

— Que foi?

— Vamos falar do elefante na sala?

— Não vou falar sobre Seth.

— Não era sobre isso que eu queria falar.

Tom não diminuiu o passo.

— Quando encontrarmos Bill... como vamos sair daqui?

Tom não diminuiu o passo.

Psiu! — Soou alguém do nada. Dipper e Tom frearam e giraram a cabeça na direção do som. Quem havia chamado era o mesmo troll alaranjado de mais cedo, entremeado numa fenda entre dois tapumes feitos de algum tipo desconhecido de lona, debaixo de uma montanha de lixo. Ele fez um gesto com o dedo para que Tom o seguisse e sumiu para o interior do buraco.

Tom redirecionou o passo até o esconderijo, Dipper o segurou pelo braço. — Onde pensa que vai?

— Você tem uma ideia melhor? — soprou Tom de lábios comprimidos. — Talvez ele saiba alguma coisa sobre Bill. Esteja preparado para me dar cobertura se necessário.

Deixou Thomas ir, ficando sempre a um palmo de distância dele e com a mão já fechada firme em volta do cabo da faca. Dentro da fenda – que se revelou ser uma tenda feita com o que parecia ser sobras de couro, pele e escamas de diversos monstros, costuradas entre si e atanchadas em vigas precárias de madeira –, o troll seguiu observando Tom de olhos estreitados e braços cruzados.

— O que vocês disseram que queria mesmo? — perguntou na rapidez.

— Por que a boa vontade do nada? Você não queria fazer sopa de mim mais cedo? — desconfiou Tom.

O troll olhou para o espaço vazio às costas do demônio e disse, sem saber onde pousar o olhar: — Você pode sair. Não vamos te machucar.

Dipper notou que falavam com ele.

— Ele prefere ficar assim por enquanto, obrigado — adiantou Tom.

O monstro suspirou. — Como quiser.

— Queremos encontrar um prisioneiro que veio parar aqui recentemente. Bill Cipher. Ele está na forma da terceira dimensão, parece um garoto humano loiro.

Os olhos do troll se iluminaram diante às palavras “humano” e “loiro”. O coração de Dipper colidiu. — Conhece ele! — afirmou, nem ligando por ter denunciado onde estava quando invisível.

— Sabemos quem é. Podemos te levar até ele.

— Preferimos que ele seja trago até nós — retorquiu Tom, irredutível.

— O estado dele está muito sério para que ele possa sair de onde está. E vocês não estão em posição de escolha. Nós somos a maior facção daqui de dentro, podemos te dar proteção ou então podemos ter vocês de jantar hoje mesmo. O que preferem?

Silêncio.

— E por que querem ajudar? — continuou Tom de olhos semicerrados.

— Não é óbvio? Queremos o favor em troca. Temos algo que vocês querem, e vocês tem algo que nós queremos.

— E isso seria...?

— O Índigo.

Dipper arquejou. “Eu?!”

— Não vou dar meu aliado pra vocês!

— Não queremos ele. — O troll revirou os olhos. — Queremos que ele nos ajude a fazer uma coisa que só ele pode fazer.

“Hã?!”

— Novamente, o que isso seria?

O troll remexeu no seu lugar. Pela primeira vez, parecia ansioso. — Vai ser mais fácil mostrar. — Ele caminhou até o interior da oca, próximo a uma pedra. Ele empurrou a rocha com facilidade, revelando um poço cavado no chão que descia com uma escadaria improvisada feita de entulhos amarrados. — Precisam vir comigo.

Os dois não mexeram um músculo.

— O cara que vocês procuram está lá embaixo — insistiu. — E outra, não vamos fazer nenhuma gracinha. Vocês viram a gente lá fora, não temos motivo nenhum pra ficar atraindo as nossas vítimas em armadilhas e joguinhos. Se a gente quisesse matar vocês, acredite, já teríamos feito.

Os dois prosseguiram, Dipper mais rápido, apressado. E desceram na doca logo após o troll.

— Como você se chama aliás? — disse Thomas no final da descida.

— Bauer — disse breve. Ele tirou um archote improvisado da parede e acendeu. O túnel se estendia mais adiante, criando esquinas e corredores incalculáveis pra dentro da terra. — Narigudo! — Ele assobiou com os dedos na boca. Uma criatura esquelética de tão magra surgiu do topo, escavando para cima e tirando uma tromba para fora de uma toca que fizera no mesmo instante. Parecia uma mistura de tatu com tamanduá e tinha asas de morcego. — Leva a gente até os linha de fogo.

Narigudo escoltou sobre duas patas o trio por um caminho adjacente, de vez em quando abrindo um caminho ou outro para atalhar o trajeto.

— Se vocês têm um monstro que consegue cavar com tanta facilidade assim, como não conseguiram fugir daqui ainda? — indagou Lucitor.

— O aterro do Exílio só é de terra até certo ponto no solo. Narigudo não consegue perfurar concreto. Mas ele já nos ajuda bastante, nos garantiu esse esconderijo, não é, Narigudo? — Bauer escovou a mão entre o pelo escasso e lambido da cabeça ossuda da criatura. O bicho virou na direção deles e soltou um chilro contente parecido com um de beija-flor. — Aqui dentro você tem que provar o seu valor, senão... vocês já viram o estado lá fora.

Ao dizer isso, claustros começaram a surgir ao redor deles, iluminados precariamente por chamas de archotes menores. Docas com camas e beliches em formato de rede. Todos eles feitos de materiais fracos e quebradiços. Alguns monstros que Dipper havia visto lá em cima se abrigavam por lá, deitados nos seus leitos, observando o teto de raízes e terra, os olhares desprovidos de interesse ou disposição. Eles não mais pareciam tão intimidadores o quanto aparentaram durante a sua chegada. Só pareciam... extremamente desesperados. Dipper reconhecia aquelas fisionomias com facilidade. Era o mesmo rosto que ele passara usando durante anos e anos, obrigado a suportar uma vida de questões e sofrimentos em silêncio.

Sua marca de nascença começou a formigar e então a coçar. Pego desprevenido, Dipper estagnou o passo, deixando que o trio continuasse a caminhada sem ele. Fazia tempo que ele não sentia aquela intuição com tanta intensidade. Deixando-se guiar automático como a agulha de uma bússola para o Norte, Dipper girou o rosto para o corredor oposto. Uma criatura de estatura baixa caminhava corredor adentro, deixou cair no chão algumas cápsulas de balas. Ela se abaixou para recolhê-las, afobado, e as segurou com mais força dentro da bacia improvisada que fazia com seus braços.

Quase involuntário, Dipper passou a segui-la, entrando no corredor e divergindo do caminho. Ao final de uma esquina, uma bruxuleante luz verde emanava.

O que era aquilo? De algum jeito, lhe era familiar sem ele nunca tê-la visto.

Seguiu o brilho. Ele vinha por debaixo das frestas de uma porta improvisada com um tapume de madeira. O encapuzado bateu uma melodia na porta e alguém abriu a passagem do outro lado imediatamente. Dipper se esgueirou, conseguindo entrar a tempo junto do monstrinho antes do tapume ser fechado novamente.

Dentro do novo aposento, um grupo de monstros estava sentado em volta de uma mesa redonda. No centro dela, um orbe verde-neon brilhante flutuava acima do tampo, e Dipper soube imediatamente que, de algum jeito, ela era feita do mesmo material da cúpula do Exílio que bloqueava magia. A coceira na testa piorou. Um gnomo (que parecia alto demais para ser um gnomo) se levantou do seu assento, animado em ver o pequeno visitante, saudando-o: — Chegou a tempo. Como estava o movimento lá em cima?

— Não muito bom hoje, Robb — respondeu a criaturinha com uma voz fina e infantil. — Só consegui achar esses. — Soltou as cápsulas sobre a mesa, que rolaram ao redor do grupo. De dentro das cápsulas, Dipper conseguiu enxergar que brilhavam resquícios de alguma substância pegajosa da mesma tonalidade da bola de energia flutuante. O mesmo verde da concha do presídio. O mesmo verde da energia que vibrava dentro das armas que os soldados do presídio usavam.

Dipper abafou um arquejo. Eram resquícios de alguma energia sobrenatural usada pela Guarda.

O que aqueles monstros estavam tramando recolhendo aquilo? Pareciam ser sobras de magia. Pines teve a impressão de ter acabado de invadir o comitê de algum plano secreto.

Os monstros sorriram com amorosidade. — Vai ser o suficiente, Milo — disse Robb. — Parabéns, chegou o seu grande dia!

O monstrinho retirou o capuz. Era uma salamandra roxa, bípede, de grandes olhos de írises amarelas, nariz bulboso e lábios sorridentes. Pela fisionomia, estatura e voz, era inconfundível: uma criança de sua espécie.

O coração de Dipper apertou.

Tinha uma criança vivendo naquele lugar. Naquelas condições. E o pior: quantas outras mais?

Os olhinhos de salamandra de Milo se encheram de fascínio, e ele se aproximou do orbe crepitante de energia, admirando-o como o brinquedo mais querido de uma vitrine. — Legal — sussurrou ele, encantado.

“O que estão fazendo?” questionou-se, achando estranho a reação que sua marca de nascença tinha diante àquilo.

— Agora vem a parte mais importante, Milo — disse a menina com asas de libélula que Pines tinha visto no exterior mais cedo. — Você está pronto? — Havia um tom estranho na voz dela. Algo que Dipper ouvira dos seus pais quando ele também era criança e teve de ir ao dentista para extrair um dente. É como se a garota-libélula estivesse eufemizando algo terrível.

Prendeu a respiração.

Milo olhou para os próprios pés por um momento. Porém, levantou o rosto de novo e assentiu com bravura.

Robb recolheu as cápsulas das armas e, juntos, o grupo começou a extrair a energia neon de dentro dela usando pinças e alicates. As réstias verdes se soltavam dos alicates e pairavam no ar, flutuando até se fundirem com o restante da esfera cintilante. Quando terminaram, a esfera brilhou com mais intensidade e a energia rodopiou com força, ficando instável. O menino-salamandra deu um passo atrás.

— Não tenha medo — disse Robb, esticando a mão na direção do garotinho.

— Está com ela em mente? — perguntou a libélula, carinhosa.

O salamandra assentiu e retirou de dentro da sua manta um brinquedo feito de sucata: uma bonequinha que parecia uma garotinha de cabelos loiros e vestido rosa.

— Ótimo, mantenha ela nos seus pensamentos — congratulou, sempre em tom didático. — E qual parte vai dar?

— Ela vai ter a mão igual a minha — respondeu Milo, levantando o seu braço pra fora da manga e mostrando a sua patinha de anfíbio de três dedos colados num no outro.

— Então vamos lá — Robb gesticulou sua mão na direção da de Milo, sustentando um olhar encorajador.

Hesitante, Milo deu a mão para o mais velho. Robb segurou Milo pelo pulso com força e guiou a sua mão na direção do orbe. Assim que os dedinhos do anfíbio tocaram a energia, ele começou a gritar. Dipper tomou um susto. O orbe verde sugava a mão do garotinho; sua carne chiava, e um cheiro de queimado terrível subia. Por um momento, Dipper ficou petrificado, não conseguindo fazer nada além de sentir enjoo ao ver aquele filhote gritar e implorar para que Robb parasse e retirasse sua mão. Mas Robb não parou. A energia continuou queimando e carbonizando a pata de Milo, lágrimas escorriam dos seus olhos e ele eclodia um grito agudo e prolongado que arranhava os tímpanos de Dipper. Uma dor que ele nunca esqueceria.

A sua marca de nascença pegava fogo. Pines teve tontura.

— É o bastante — disse a libélula, que observava a reação afinco, com a complacência de um médico que observa o furo de bala na barriga de um paciente em estado grave. Robb soltou o pulso de Milo, que tirou o braço faltando a mão. A ponta do osso saía do cotoco do seu braço, misturada em carne queimada que sangrava negro. Milo estava tonto. A garota-libélula segurou o menino de prontidão, evitando um desmaio. Um monstro cobriu o ferimento aberto do menininho com um bolo de panos velhos, estancando o sangramento. Outra criatura manipulou o que restara do orbe com um pedaço de pau, e fez com que a energia se dissipasse, fugindo num raio esverdeado em direção aos céus.

Os joelhos de Dipper tremiam. O que tinha acabo de acontecer?

Levam Milo para um canto da sala, onde o ferimento foi coberto com um curativo precário feito de trapos. A Libébula sempre consolando o garotinho. — Muito bem, Milo, muito bem. Estamos todos muito orgulhosos de você.

Pálido, Milo esboçou um sorrisinho langoroso. — Eu fiz certo?

— Sim, fez sim. Pode ficar tranquilo. Vamos deitar agora?

Milo assentiu e, aos tropeços, saiu com Libélula do aposento.

Imediatamente, Robb suspirou com tristeza, deixando uma barreira enorme de dureza despencar assim que os dois saíram da sala. Caiu no lugar que usava para sentar, derrotado.

O monstro que havia manipulado e dissipado a energia para fora do local olhou para Robb com preocupação. — E agora?

— Agora nós fazemos o mesmo que fazemos com todos os outros: esperamos.

— É, mas por quanto mais tempo? — uma nova e desconhecida voz falou, pegando Dipper de surpresa. Ele virou o rosto na direção dela, descobrindo que havia vindo detrás de uma tolha velha suspensa

— Hippo, a criança já foi embora. Você pode sair.

— Posso mesmo? — a criatura, Hippo, continua escondida atrás do pano. — Afinal, venho tendo que me esconder do restante da comunidade já faz meses. Será mesmo uma criança quem você tem mais medo de assustar, Robb?

— Hippo — começou Robb, com a cabeça entre as mãos enquanto massageada as têmporas. — Não vamos começar com essa discussão agora. Sabemos que é a nossa única esperança de sair daqui.

“Espera, eles estão falando de...?”

— Eu estive no Mindscape por milhares de anos. Servindo a Guarda por ainda mais centenas. Há muito mais tempo que você, Robb — a criatura escondida interrompeu o raciocínio de Dipper. — Eu dei tudo de mim por esta “esperança”. Literalmente. E veja onde ela me levou...

Ao dizer isso, o monstro finalmente afastou a cortina e saiu de trás dela, ficando visível para todos e sanando as dúvidas de Dipper:

Hippo não era nada mais, nada menos do que uma forma bidimensional flutuando avulsa no ar. Um quadrado azul de energia oscilando no vazio, com pequenos bracinhos e perninhas frágeis pendurando das suas bordas geométricas. A criatura não tinha olhos, nem pele, nem outros membros, aparentemente nem ouvidos, mas apenas uma boca no centro da sua forma. Parecia-se com... (Dipper odiara descobrir)... Parecia-se com Bill quando ele ainda era um triângulo.

Pines correu para cobrir a boca com a mão antes que gritasse e se denunciasse ali.

Tudo ficou claro de repente:

Índigos.

Aquela reuniãozinha secreta, o intuito dela. Quando aquela pequena salamandra sacrificou uma das suas mãos, falando de uma garotinha de olhos azuis na forma de uma boneca no seu colo... Ele estava fazendo o Índigo da sua criança que viria a nascer no mundo humano!

— Quanto mais tempo vai levar pra você contar pra eles o que acontece quando se tenta fazer Índigos demais? Quanto tempo vai levar para você falar que eu ainda estou aqui e que não fui “salvo pelo meu Índigo”? — Hippo continuou flagelando. — Vai esperar até que você fique deste jeito? Vai esperar a Pixie ficar assim? O Milo?!

— Você tem alguma ideia melhor, Hippo?! Por favor, me esclareça — ralhou Robb.

Houve-se silêncio.

— Não, não tenho — admitiu, rude. — Mas eu começaria por não deixar a minha própria espécie se ater a falsas esperanças.

— Índigos existem e vários de nós já vimos monstros que conseguiram fugir desta dimensão para a terceira e encontrá-los na Terra — defendeu Robb. — Qualquer esperança é melhor do que nenhuma.

Dipper mal conseguia processar mais nada.

O único pensamento que ocorria na sua mente naquele instante era a terrível possibilidade:

Eu fiz isso com Bill Cipher?!”

 


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