Impossível escrita por kjuzera


Capítulo 9
"O banquete que ele merece."




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Bakugou acordou com uma forte dor na cabeça. Abriu os olhos tentando absorver onde estava, em qual estado estava. Aos poucos foi recuperando a consciência de várias dores espalhadas pelo corpo, que só pioravam quando se mexia levemente, ou respirava mais fundo.

Estava num local pequeno, escuro e úmido. O cheiro de esgoto e carniça era forte, e não havia nenhuma fonte de luz que não um pequeno buraco na porta mais a frente. Se mexeu um pouco e percebeu que tinha correntes o prendendo. Os grilhões prendiam seus tornozelos, pulso e pescoço, e a corrente ainda era presa na parede. 

Não que ele tivesse muito por onde se movimentar na cela pequena, mas daquele jeito ele mal conseguiria se afastar da parede. Olhar pelo buraco da porta estava fora de cogitação. Pensou em ficar de pé, mas o próprio peso dos grilhões dificultava seus movimentos e fazia o esforço lhe doer ainda mais.

Estava sem suas roupas, vestido apenas com sua própria roupa de baixo. Até seus colares tinham sumido. Não tinha nada. Estava todo sujo de sangue que provavelmente não era dele, com exceção do braço esquerdo que tinha um corte grande ainda aberto, mas que já não sangrava mais. 

Aquela merda ardia pra caralho toda vez que ele se mexia. Iria levar algumas semanas pra fechar e uns bons meses pra cicatrizar bem. Se encolheu um pouco de um jeito que doía menos, apoiando a cabeça ainda zonza nos braços.

Repassou as lembranças de como tinha parado ali, e a imagem que mais lhe marcou era de Ochako se negando a ir com ele, o olhando com pavor. 

Estava acostumado com seus planos dando errado, mas era o tipo da coisa que ele resolvia na hora quebrando tudo. O real problema era que não adiantava mais, ela tinha se aliado ao Rei, e não iria mais querer ir com ele, não queria ser resgatada. 

Se ele fosse resolver aquilo quebrando tudo, teria que derrubar ela junto. Tentando pensá-la como inimiga só conseguiu se lembrar do sorriso que tinha certeza que tinha visto no rosto dela quando mergulharam no mar. 

Aquela perspectiva fez novas dores surgirem no seu corpo e eram bem diferentes das de antes. 

 

*~*~*~*~* 

Uraraka respirou fundo juntando forças e espantando o nervosismo. Com ajuda de Shiozaki, a criada de cabelos verdes que vinha todo este tempo lhe ajudando sempre, conseguiu um avental e uma bandana para prender os cabelos, iguais aos que os serventes da cozinha usavam. 

Ela pegou um saco com restos de comida que iam para o lixo e se pôs a caminhar decidida. Ninguém do castelo a olhou duas vezes, nem quando desceu as escadas em direção ao calabouço. Passou uma porta pesada e desceu uma escadaria mal iluminada, chegando num longo corredor. Ao fundo, um soldado guardava a porta da prisão. Ela foi caminhando até ele como se estivesse acostumada.

— Separei o melhor do lixo pra esse merda. - ela disse erguendo o saco que tinha já um cheiro bem duvidoso. - O banquete que ele merece. 

O soldado deu uma risada.

— Tsc, porque estamos mantendo ele vivo mesmo? 

— Vai saber! Eu não discuto. - ela disse dando os ombros. 

O soldado abriu a porta dando passagem pra ela.

— Você pode só jogar pelo buraco, não tem perigo. - ele completou, tranquilizando. 

— Me mandaram ficar até ter certeza de que ele está comendo. - ela disse num tom de desgosto. - Parece que querem ele vivo pra alguma coisa. 

— Ugh… - o soldado comentou enojado - Boa sorte. 

— Vou precisar… Fique atento sim? Qualquer coisa eu grito. - ela disse passando a porta.

— Nem se preocupa, moça. Com a surra que ele levou ontem não deve nem estar se mexendo. 

Uraraka assentiu com um sorriso forçado e seguiu pelo caminho estreito.

Era um corredor com várias celas pequenas, as portas quase sempre abertas revelando interiores escuros e vazios. Mais ao fundo, onde o cheiro podre de esgoto era ainda mais forte, viu uma porta fechada. Subiu na ponta dos pés para olhar pelo buraco e conseguiu ver o contorno de uma pessoa ali dentro. 

A porta era fechada por fora por dois ferrolhos que ela abriu sem muita dificuldade. Empurrou revelando o interior escuro e o cheiro de esgoto quase insuportável. Era uma cela toda de pedra, sem nenhuma abertura. O teto não era muito alto e não tinha nada dentro dela além do corpo acorrentado. 

Ela precisou respirar fundo de novo, juntando todas as forças que tinha. Encostou a porta atrás de si e largou o saco de lixo num canto. Se aproximou do loiro sem nem saber exatamente o que fazer. 

O estado que ele estava era lastimável. 

Tinham tirado suas roupas e ele estava muito sujo e certamente ferido. Tinha muito sangue, mas ela nem sabia dizer se era dele. Ele estava encolhido cobrindo o rosto, mas podia ver o quanto estava inchado, os olhos roxos e com vários cortes. Todos os ferimentos pareciam muito recentes. 

— Bakugou….? - ela se ajoelhou em frente dele, tocando de leve em seu ombro. 

Ele lentamente moveu o braço da frente do rosto, levantando um pouco a cabeça, tentando focar os olhos machucados.  

Uraraka sentiu o peito doer. E a dor não diminuiu nenhum pouco quando ele tentou se sentar gemendo de dor, parando para cuspir um tanto de sangue no chão. 

Qualquer pessoa do universo dela poderia facilmente perceber que Bakugou precisava urgentemente de cuidados médicos. A ferida aberta no braço, em meio a toda aquela sujeira com certeza infeccionaria. Isso sem contar as pancadas na cabeça que Ochako não saberia nem avaliar. Queria ajudar, mas se sentia impotente, e pior, sentia-se culpada. 

Evitando de começar a chorar ela mexeu nas vestes pegando um cantil de água. Sem dizer nada ela abriu a tampa do cantil e ajudou ele a beber. Apesar dele ter permitido, seus olhos semi cerrados não saíam dos dela, a tensão entre eles extremamente pesada. 

Ainda meio trêmula Uraraka pegou um pano limpo, colocou um pouco de água e com delicadeza começou a limpar o corte no braço dele. 

— Por que você está fazendo isso? - ele disse finalmente, quebrando o silêncio mas não diminuindo o clima tenso. 

— É o mínimo que eu posso fazer. - ela respondeu simplesmente, sem tirar os olhos do ferimento. 

— Eles vão me matar de qualquer jeito, que diferença faz? - ele completou indiferente. 

— Eles não vão. - ela disse segura. 

Bakugou fez apenas um 'tsc', desacreditando dela.

— Eles não vão porque eu pedi que não fizessem. Devia me agradecer. 

Ochako se assustou quando a mão grande e pesada segurou firme seu pulso, a fazendo parar o que fazia e olhar para ele. A expressão dele era de raiva. Mesmo acorrentado e ferido, àquela distância ele poderia simplesmente pegar seu pescoço e a matar esgoelada ali mesmo como fez com aquele anão nojento. 

— Então você realmente se juntou a eles? O que mais eles vão te dar em troca da sua ciência? - ele disse com desdém -  Roupas novas? Comida boa? Um exército?! 

O tom dele era baixo e rasgado, o aperto quase esmagador em seu pulso deixava óbvia a ameaça. Uraraka se viu diminuída e acuada diante dele. Medo, raiva, culpa e até pena se misturando em sua garganta como um bolo sufocante. 

— Você ao menos sabe o que esse merda de rei vai fazer com as armas que você vai dar pra ele? Ou você já vai estar longe demais pra se importar? Ahn?!

Não, não era nada disso! Estava tudo errado! Se ela ao menos conseguisse transpor o bolo que fechava sua garganta e explicar. Seus olhos por outro lado começaram a transbordar as lágrimas enquanto o bárbaro crescia intimidadoramente sobre ela, exigindo uma resposta.

O barulho metálico da corrente o restringiu depois de um momento mais incisivo, fazendo ele parar. Ele largou o braço dela abruptamente, voltando a se sentar contra a parede. 

O choro dela agora era a única coisa que preenchia o silêncio pesado da cela, e ela tratou de respirar fundo e engoli-lo, enquanto o loiro se recusava a olhá-la.

— Você acha que sabe de tudo, mas não sabe de absolutamente nada. - ela disse firme, tentando não levantar a voz por medo de ser ouvida pelo guarda - Eu sei muito bem que esse rei não merece nada do eu poderia trazer do meu mundo. Mas ele é a única chance que eu tenho pra voltar pra casa, já que uma certa pessoa nem tentou me ajudar quando eu precisei. Então sim, eu me aliei a ele e estou prometendo um milhão de coisas incríveis, mas quando eu finalmente conseguir descobrir como voltar pra casa, não vou deixar nada pra trás. Eu vou sumir e vai ser como se eu nunca tivesse estado aqui. Ele não vai ter nada. - ela completou decisiva. 

Bakugou não ousou nem olhá-la nos olhos. 

— Eu vim até aqui arriscando minha vida pra te dizer que vou dar um jeito de te soltarem mas agora já me pergunto porque diabos eu deveria me preocupar. Você não se importou com o que o rei ia fazer comigo quando me vendeu, voltou pra quê? O que mudou? Ficou entediado, foi?!

O bárbaro sentiu aquelas palavras doerem quase mais que os ferimentos. Ele não tinha nenhuma resposta suficientemente boa para dar. Então, em um raro momento de sabedoria, optou por não responder nada. 

Viu Ochako se levantar, acompanhando agora seus movimentos com os olhos. Ela tirou da roupa um outro saco pequeno de tecido que parecia ter alguma comida e largou perto dele, junto com o cantil de água, e se virou de costas indo até a porta. 

Ele queria pará-la, dizer alguma coisa, pedir desculpas, qualquer coisa, mas não conseguiu.

Antes de abrir a porta ela ainda parou e olhou pra trás. 

— Kirishima está fora da cidade, eu vou dar um jeito de avisar ele que você está bem. Espera que eu vou dar um jeito em tudo. 

E ela saiu, fechando a porta, os ferrolhos, e qualquer possibilidade de ele ver ela sorrindo de novo.


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Notas finais do capítulo

Próximo Capítulo: "E desde quando você se importa?"
Dia 30/05, sábado!



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