Impossível escrita por kjuzera


Capítulo 18
"Você nunca ouviu essa história?"




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Depois da conversa que teve com Uraraka, Bakugou já não tinha mais certeza do que deveria fazer. Era difícil imaginar o que a Resistência faria se descobrisse que ela mentiu sobre as armas, também não saberia se a levariam para casa a troco de nada. 

Do mesmo jeito que ela precisava deles para voltar, eles precisavam dela para recuperar suas vidas no reino. Seria uma troca até justa, se a parte que Ochako ofertava não fosse uma grande mentira. 

Talvez pudesse pegá-la no meio da noite, matar Dabi e fugir. Eles não teriam como impedir Kirishima de sair, mas para onde iriam? Não conhecia outro feiticeiro capaz de levá-la pra casa. E mais, será que ela iria com ele dessa vez? Lembrou da cara de medo que ela estampava quando ele tentou levá-la do castelo. Se matasse Dabi na frente dela, certamente ela o olharia daquela forma de novo, como se ele fosse um monstro. Não queria que ela o visse daquele jeito, queria que ela seguisse sorrindo.  

Foi retirado de seus pensamentos por Deku, que apesar do óbvio desânimo de quando chegou com a cara redonda, hoje já estava um tanto mais animado. Ele, Kaminari e Jirou iam buscar lenha para o grupo e pediram que ele ajudasse também. 

Só foi depois de se certificar que Ochako ficaria bem ali na caverna com Kirishima. Era uma situação estranha essa que eles tinham criado. Eles começaram definitivamente com o pé esquerdo, e agora não era como se fossem amigos também, mas ela tinha confiado nele seu segredo mais importante. E ele? Bom, ele não tinha contado seu próprio segredo. 

Enquanto caminhava em direção à floresta, seguindo os outros três que lideravam o caminho conversando animadamente, ele estudava a mancha em seu pulso esquerdo que estava se espalhando numa velocidade assustadora. Apesar das tatuagens disfarçarem bem, ele podia ver o quanto a área escura tinha crescido. 

Abriu e fechou a mão, vendo se sentia algo diferente, mas não. Depois tocou a mancha com a outra mão e apertou com força.

— Porra do caralho! - ele exclamou de dor. Apertar a mancha não tinha sido sua melhor idéia.

— Tudo bem aí, Bakugou? - Jirou quis saber quando todos pararam para ver o que acontecia com o bárbaro que vinha logo atrás deles.

— Sim, tá tudo absolutamente ótimo. - ele disse claramente irritado.

— Você é assim sempre tão irritado ou só quando tá apaixonado? 

Kaminari perguntou como se falasse do tempo, fazendo Jirou levar a mão à boca para conter o riso e Deku congelar no lugar já temendo pela vida de todos. 

— Que merda que você falou agora, miolo frito?! - gritou com raiva já indo pra cima de Kaminari. 

— Para, Kacchan!! - Deku como sempre foi rápido o suficiente para se colocar na frente do bárbaro, o impedindo de chegar em Kaminari.

— É, "Kacchan", para com isso! - Denki continuou debochando de uma distância segura.

— Deixa ele em paz, Denki. - Jirou disse tentando apaziguar os ânimos. - Em pouco tempo ela vai embora mesmo, de que adianta?

Izuku sentiu que Bakugou parou de tentar avançar com aquelas palavras, desanimado. Era muito estranho o bárbaro simplesmente deixar o assunto morrer assim, sem continuar gritando. Viu ele resmungar qualquer coisa irritado e se afastar com o cesto de vime, recolhendo galhos do chão. 

O escudeiro olhou para Kaminari e Jirou que comentavam baixinho que ele tinha conseguido ofender o bárbaro, que era melhor não cutucá-lo mais. Se colocaram a recolher lenha para o outro lado, deixando Midoriya dividido. Depois de um suspiro alto, ele foi na direção que Katsuki tinha ido.

Izuku se colocou a recolher lenha perto do bárbaro, em silêncio. Sabia muito bem que se tentasse qualquer tipo de conversa com Bakugou agora, ele só iria mandá-lo calar a boca enquanto proferia os insultos mais criativos. Não, o melhor que ele podia fazer era ficar ali, à disposição, e deixar que Katsuki iniciasse o assunto.

— Oe, Deku… - ouviu o loiro dizer depois de uns bons minutos de trabalho silencioso.

Midoriya sorriu para ele mesmo, orgulhoso de como sabia lidar com Bakugou. 

— Hm? - ele respondeu fingindo desinteresse, colocando mais lenha no cesto. 

— O que você sabe sobre maldições? 

— Maldições? - Definitivamente não era sobre isso que Izuku esperava ser perguntado. - Maldição tipo quando uma bruxa amaldiçoa um área e as plantações não brotam naquele lugar?

Bakugou olhou para ele com uma expressão claramente confusa. 

— É… claro. Isso mesmo. Como que resolve uma maldição dessas? 

Izuku realmente não estava entendendo o assunto, mas pelo menos era um assunto. O bárbaro não estava gritando nem brigando com ninguém, então talvez o melhor fosse seguir. 

— Bom… Normalmente as pessoas caçam a bruxa que amaldiçoou o lugar. Que eu saiba não tem outro jeito. - Izuku disse sem parecer tão certo. - Você sabe de algum lugar que foi amaldiçoado? Bruxas são perigosas, Kacchan, não pense que vai resolver uma coisa dessa sozinho e-

— Cala a boca, Deku. - Bakugou interrompeu - Não tem nada disso, só perguntei por perguntar. 

Midoriya concordou e ficou em silêncio, tentando encontrar qualquer explicação para o súbito interesse do bárbaro por aquele tipo de magia, sem muito sucesso. Mais alguns minutos de silêncio se passaram, os cestos dos dois já estavam quase cheios.

—  E existe maldição em pessoas ou são todas em lugares? 

Izuku franziu a sobrancelha. Aquelas perguntas certamente não eram apenas fruto de uma curiosidade repentina do bárbaro.

— Como naquela história da princesa que é amaldiçoada? - Izuku perguntou confuso.

Bakugou parecia ainda mais confuso.

— A princesa que é amaldiçoada pela bruxa, quando ela faz dezesseis anos ela adormece e a única coisa que pode acordá-la é um beijo de amor verdadeiro. Você nunca ouviu essa história? 

Izuku estava um tanto confuso pois aquela era uma história muito popular pra contar pra crianças na hora de dormir, diria que qualquer criança no mundo já teria ouvido essa história. Bakugou ainda o olhava com cara de quem estava ouvindo ele falar em outro idioma.

— Eu nunca ouvi a porra da história, Deku, e já me arrependi de ter perguntado. - ele respondeu irritado, pegando a cesta já cheia de lenha e se afastando.

— Não, espera! Eu conto a história. - Izuku disse e prontamente Bakugou parou de andar - É uma história de criança, minha mãe me contava coisas assim ao me colocar pra dormir, nem sei se é verdade. 

Bakugou revirou os olhos impacientemente, mas considerando que não tinha qualquer outra fonte de informação, ouviria o que o escudeiro tinha pra contar. 

— A história é sobre uma bruxa que por vingança amaldiçoa a filha do rei enquanto ela ainda era um bebê. Basicamente a maldição faz ela cair em sono profundo após completar dezesseis anos e só acordar com um beijo de amor verdadeiro.

— E aí, o que acontece?

— Surge um príncipe de outro reino, ele derrota a bruxa e dá um beijo na princesa, e ela acorda.

— Tá, mas a maldição é quebrada porque ele derrotou a bruxa ou porque ele deu o beijo na princesa? 

Izuku piscou os olhos algumas vezes, refletindo. Era uma boa pergunta, nunca tinha parado pra pensar naquele detalhe.

— E se ninguém fizesse nada, o que ia acontecer com a princesa? - Bakugou perguntou de novo, insistindo em alguma resposta.

— Eu... eu realmente não sei, Kacchan… Acho que quando a gente é criança nem pensa nesses detalhes. Minha mãe só contava as partes bonitas também.  

— Você é um inútil mesmo, Deku. 

Apesar de sempre dizer que o escudeiro era inútil, na maioria das vezes ele lhe servia pra alguma coisa. Com a informação da maldição na terra e mais aquela história de princesa e beijo que com certeza era uma piada, ele tinha um forte indício de que se quisesse se livrar de uma maldição, acabar com quem a colocou era o mais confiável. 

Magia podia ser algo super bizarro, mas não havia explicação para algo continuar ativo depois da morte de quem o fez. Era impossível. 

— Estamos voltando! - Jirou gritou ao longe. 

— Estamos indo! - Izuku respondeu. 

Quando se aproximaram os quatro novamente, Bakugou apenas olhou para Kaminari, fuzilando-o com os olhos. O loirinho ficou calado e apenas se escondeu atrás de Jirou. 

 

*~*~*~*~*~*~*



De volta à caverna, Uraraka não estava em lugar nenhum. Ao perguntar para Kirishima onde ela estava, o dragão imediatamente o olhou com malícia.

— Puta que me pariu, até tu - o bárbaro esbravejou chamando a atenção. 

Kirishima grunhiu e se revirou no pouco espaço que tinha, de maneira que conseguia esticar as patas preguiçosamente. Informou ao loiro que ela estava junto com a feiticeira e que era pra ele relaxar. 

Bakugou queria responder que mais relaxado que ele nesses últimos dias fazendo altos nadas era impossível, mas preferiu ficar quieto pois era certamente uma mentira. Sentou-se encostado no dragão observando as pessoas usarem a lenha que trouxeram para alimentar a fogueira e em seguida se colocarem a empilhar o resto num local reservado para elas.

Kaminari e Jirou foram para o canto da caverna reservado para as coisas deles. Ninguém tinha muita coisa naquele lugar, mas o pouco que tinham era separado e organizado. A garota parecia ter algum interesse especial por música pois tinha um tambor, flauta e até mesmo um alaúde que Kaminari parecia sofridamente tentar aprender a tocar. As outras pessoas cuidavam das próprias vidas, sem dar nenhuma relevância para o bárbaro e seu dragão. 

Mais no centro, onde a fogueira queimava, Deku e Dabi estavam conversando. Era um tanto distante para Bakugou entender exatamente o que falavam, mas pareciam amigáveis o suficiente.

Conhecera Izuku quando eles ainda eram crianças, num dia fatídico que ele certamente queria já ter esquecido. Ainda era um toco de gente e Kirishima não passava do tamanho de um cavalo. Sorriu ao lembrar de como ele montava nas costas dele naquela época. 

Naquele dia específico, Bakugou estava caçando um filhote de javali quando caiu em um buraco no meio da floresta. Era um buraco fundo e bem camuflado, certamente cavado por algum caçador da área. 

Tentou de todo jeito escalar, mas as paredes de terra iam ruindo em volta dele. Kirishima tentou ajudar enfiando o rabo dentro do buraco para ele alcançar mas era curto demais. Pediu para ele pegar um galho, mas a coordenação motora de um filhote de dragão com certeza não é algo para se ter inveja. 

Antes que Kirishima começasse a cavar um buraco e fizesse tudo soterrar e enterrar Bakugou vivo de uma vez, o bárbaro se deu por vencido e disse pro amigo buscar ajuda. 

Lembrando desse episódio, Bakugou se deu conta do quão estúpido tinha sido. Qualquer filho da puta poderia ter encontrado Kirishima e ter se aproveitado que ele ainda não era adulto para matá-lo. Dragões não eram exatamente criaturas que os humanos queriam ter por perto.

Mas na ocasião, quando Kirishima voltou ao buraco algumas horas depois acompanhado de Izuku e Inko Midoriya, Katsuki se sentiu finalmente a salvo. A senhora bondosa tinha uma corda e o ajudou a sair da armadilha. 

Mesmo naquela época, Bakugou era muito orgulhoso para agradecer com palavras, mas perdeu as contas de quanta gente estranha ele e Kirishima tinham espantado das terras da família Midoriya. Não que eles precisassem saber.

Ele eventualmente encontrava Deku na floresta, ou era encontrado pelo mesmo. O sardento achava incrível tudo que ele fazia, deslumbrado com o fato dele viver sozinho desde tão cedo. 

— Eu já disse que não estou sozinho, Deku, Kirishima está sempre comigo. 

— Mas… mas e sua mamãe? E a sua casa? - o pequeno Izuku não conseguia conceber uma vida longe da família ou sem um teto. 

— Eu não preciso da minha mãe, eu sou um bárbaro! - ele gritava forte e Kirishima batia as asas e rugia atrás, dando ainda mais imponência à declaração. 

Deku olhava para ele com os olhos estrelados de admiração. 

— Eu posso ser um bárbaro também?!

— Claro que não, você é só um Deku. - ele disse grosseiramente. - Precisa nascer de novo! 

Uma vez Izuku foi encontrá-lo todo feliz porque tinha ganhado espadas de madeira. Mesmo que os dois tivessem praticamente a mesma idade, Bakugou já tinha a própria espada, e ela era de verdade e não de madeira, obviamente. Era uma arma de adulto, a mesma que ele usava até hoje. Era muito grande pra ele na época, mas ele já a usava como conseguia. 

Deku insistiu tanto que o bárbaro o "ensinou" a usar o brinquedo. Refletindo agora depois de tanto tempo, Bakugou percebia que ele mais tinha espancado o pobre aldeão do que ensinado qualquer coisa. Se Izuku tivesse aprendido alguma coisa nessa época, era como tomar uma surra e se levantar em seguida.   

Conforme os anos se passavam, Kirishima foi crescendo cada vez mais, de modo que era inviável ficar muito tempo parado numa mesma região. Viajaram juntos por todos vários cantos do continente, por onde desse vontade. Só voltou a reencontrar Izuku anos mais tarde quando ficou sabendo que poderia filar uma bóia grátis no castelo da capital. 

Midoriya continuava sendo baixinho, mas já não era assim tão franzino. O inútil jurava que tinha conseguido se tornar escudeiro e servente real graças aos ensinamentos do bárbaro, mas Bakugou nunca concordaria com essa baboseira inventada pelo sardento. Se ele estava lá sendo serviçal a culpa era toda dele, Katsuki jamais se responsabilizaria por tamanha tragédia na vida de alguém. 

Era muito estranho como, num mundo tão grande, lá estavam eles dois de novo, dessa vez numa situação completamente diferente. Aparentemente o escudeiro daria o próprio braço pra voltar para o castelo enquanto Bakugou daria um para explodi-lo por inteiro. 

Mesmo com vontades tão opostas, acabaram no mesmo lado da provável guerra que se armava. Izuku, Kaminari, Jirou, e todas aquelas outras pessoas estavam ali contra suas vontades. Queriam mesmo era ser livres, como Katsuki. Não era justo o que o rei fazia e isso já estava sedimentado no âmago mais profundo do bárbaro. 

Independente de qualquer coisa, aquele era o lado certo da guerra. Se um lado fosse vencer, tinha que ser aquele. 

Olhou para Dabi que sorria repuxando a pele derretida de seu rosto, criando expressões que muitas vezes pareciam mais assustadoras que qualquer coisa. Aquele homem remendado era a esperança daquela gente toda, e mais de outras tantas que deveriam estar espalhadas pelas cidades. 

Era esse mesmo homem quem ele teria que matar até a próxima lua cheia, acabando assim com toda a esperança e deixando o rei ainda mais seguro na sua posição tirana. Ele não podia fazer aquilo, matar Dabi estava fora de questão. A resistência precisava vencer, e precisaria vencer sem as armas prometidas por Uraraka. Se eles vencessem, não teriam porque segurar Ochako nesse mundo, pois não haveria mais interesse nela.

Se não poderia matar o sujeito, então o único jeito de acabar com aquela maldição era acabar com quem o tinha amaldiçoado, exatamente como Izuku disse que faziam para salvar plantações amaldiçoadas. Ele não gostava de pensar que no caso ele era uma planta, mas era melhor isso do que ser uma maldita princesa dorminhoca. 

A melhor parte era que se ele fosse bem sucedido, sem o feiticeiro na briga, a resistência agora fortalecida por um dragão adulto e um bárbaro que valia por ao menos uns vinte soldados estaria mais perto do que nunca da coroação de Dabi. Era um bom plano, daqueles praticamente infalíveis.  

— Isso é fome, Bakugou? 

Katsuki se assustou ao ver Uraraka de pé ao lado dele, casualmente passando a mão na cabeça de Kirishima.

— Não, eu estou pensando! - ele respondeu ofendido. 

Uraraka tentou não comentar a ironia da situação, mas Kirishima começou a grunhir claramente rindo, fazendo a garota rir também. 

— Tente não se cansar muito, tá? - Ochako disse sorrindo largamente para ele.

Ele apenas a encarou irritado por alguns instantes antes dela ser chamada por Izuku e se afastar. Atrás dele, Kirishima fungou duas vezes, cheirando o ambiente, e balançou a cabeça convencido. 

— Pela última vez, Kirishima, é impossível você cheirar e saber. Isso funciona pra dragões, não é assim que gente funciona. - o bárbaro reprimiu sem muita vontade - Quem me dera se fosse tudo assim tão simples. 

Kirishima apenas concordou e bocejou, se preparando para tirar um cochilo e tentar sonhar com ovelhas.

— Mas você viu, né? - Bakugou disse depois de alguns instantes em silêncio - Que ela sorriu pra mim pra mim. Dessa vez você viu, não viu?


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