Impossível escrita por kjuzera


Capítulo 17
"Ele roubou um dos meus bebês!"




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Na manhã do dia seguinte à sua chegada no esconderijo da resistência, Uraraka foi apresentada a Hatsume Mei, a feiticeira do grupo. A mulher não parecia ter passado muito da casa dos trinta anos, mas sua clara privação de sono deixava seu rosto com olheiras profundas. Ela também não parecia sair muito da caverna, sua palidez era preocupante. 

Ochako a conheceu quando Mei surgiu de sua reentrância no fundo da caverna, se serviu de um tanto de sopa fria e engoliu um pedaço de carne. Ela nem percebeu as novas pessoas presentes na caverna, apenas murmurava coisas para si mesma quando Dabi a abordou. 

— Mei, essa é a garota que eu te falei. - ele disse apontando para Ochako.

Hatsume olhou para ela curiosa. Ainda mastigando o pedaço de carne, segurando a tigela de sopa numa mão, com a outra segurou o queixo da garota e, como uma boa cientista, se pôs a estudá-la, virando seu rosto de um lado para o outro.

— Me parece bem normal. - ela concluiu vendo que a garota não tinha nada de diferente - Veio faltando alguma coisa? Uma mão, uma perna? - a feiticeira disse depois de engolir a comida e começar a olhar a garota por outros ângulos. 

— Ah! Não, não, eu cheguei neste mundo inteira. - Ochako respondeu sem entender muito bem o que estava acontecendo. 

— Interessante. As coisas nunca vêm inteiras. 

Mei virou a tigela de sopa engolindo tudo, para depois limpar a boca nas costas das luvas grossas que usava. Depois de um grande suspiro satisfeito pela comida, ela simplesmente se levantou e caminhou  de volta para seu espaço exclusivo na caverna.

Uraraka trocou olhares confusos com Dabi, que apenas indicou que ela seguisse a feiticeira.

Um tanto receosa, Ochako seguiu Mei até seu espaço de trabalho.  Apesar da entrada estreita e irregular, o interior era bem grande. A primeira coisa que ela notou foi que Mei tinha vários lampiões espalhados pelo lugar para mantê-lo bem iluminado. Chegando perto de um deles, ela percebeu rapidamente que não se tratava de fogo, e sim de um filamento metálico. O filamento se conectava à base do lampião por outros fios. 

Era uma lâmpada! Uma bem rudimentar, verdade, mas Uraraka reconheceu rapidamente e ficou vislumbrada. A base de cada lampião era conectada a algum tipo de bateria.

— Como… como funciona isto? - ela perguntou intrigada para a feiticeira.

— Ah! Você gostou do meu bebê?! - ela disse se aproximando e pegando o lampião prontamente - Eu estava experimentando com uns filamentos metálicos e vi que eles se iluminavam fácil. Depois foi só conectar eles numa pedra energizada e pronto! São perfeitos aqui pra minha sala, velas e tochas faziam fumaça e deixavam tudo quente. Sem contar que volta e meia eu botava fogo em tudo, nada prático. 

Mei depositou o lampião aparentemente elétrico de volta no lugar enquanto Ochako começava a olhar curiosa as outras coisas dispostas nas várias estantes e mesas do lugar. O lugar parecia uma oficina gigante e bagunçada. Tinha coisas esquisitas espalhadas por todos os lados, e não parecia ter qualquer tipo de organização lógica.

A sala de Hawks também não era das mais organizadas, mas todos os livros ficavam juntos, todos os elementos tinham potinhos e etiquetas. Coisas "soltas" ficavam em gavetas ou em caixas. A oficina de Mei parecia um depósito sem qualquer organização. Também chamou sua atenção que ela não tinha livro algum. Muitos papéis soltos sim, mas nenhum livro.

— Você não usa livros nas suas pesquisas…? - Uraraka perguntou curiosa enquanto analisava um tipo de aparato esquisito que misturava vidro com hastes de madeira e pedras. 

— De acordo com a Lei de Paz, só os nobres podem ter livros. - ela disse indiferente. - Teria que ir na biblioteca real para ler. Não que eu os quisesse se eu fosse uma deles, só tem coisa velha em livros. A magia vive nas coisas!! Na prática, nos experimentos! Veja isso.

Uraraka viu Mei mostrar empolgadíssima como o emaranhado de pedras, madeira e vidro ganhou vida nas mãos dela, se contorcendo como borracha e se separando. Em alguns instantes assumiu uma forma mais regular separada em camadas distintas, madeira, pedra e vidro. 

— E… pra que serve isso? - Uraraka olhava um tanto assustada.

— Por enquanto pra nada! - ela disse apertando as três coisas e as misturando novamente - Mas é incrível, né?! Talvez eu ache uma utilidade quem sabe.

Ochako não sabia se ficava mais tranquila com a resposta ou mais preocupada. A feiticeira parecia fazer coisas incríveis, mas… um tanto malucas? Que ela experimentava muita coisa diferente era óbvio. Talvez um tanto sem cuidado ou objetivo específico, tudo meio misturado. Mas com certeza era impressionante.  

Ela continuou olhando os objetos até que uma coisa lhe chamou a atenção. Era uma vasilha pequena com algumas coisinhas dentro. Ela olhou de perto e viu objetos plásticos meio cúbicos… pegou um na mão e tinha uma letra impressa, um G. Dentro do potinho havia outras letras e mais embaixo parecia que as demais tinham perdido a forma, virando uma massa de plástico derretido. Ela olhou bem de perto o quadradinho com o G e não teve dúvidas de que era a peça solta de um teclado de computador.

— Mei… Como você conseguiu isto?! 

— Oh! Isso! - ela disse se aproximando e pegando o potinho, o chacoalhando. - Uma história muito engraçada isso. Eu estava tentando um feitiço diferente de enviar coisas pra outro lugar. Esses feitiços são bem difíceis e na maioria das vezes as coisas todas explodem, não recomendo você tentar com coisas importantes. - ela disse perdendo a linha da história. - Mas então eu consegui despachar um monte de pedras pra algum lugar que eu não faço idéia pois nunca as encontrei de novo. Ou talvez só não tenha reconhecido as pedras, porque né, pedras são todas meio iguais. O que importa é que no lugar delas vieram essas coisas. 

Uraraka piscou os olhos tentando absorver o relato caótico da feiticeira.

— Eu achei que poderia ser algum tipo de mensagem com as letras, mas não faziam sentido, então resolvi fazer alguns experimentos com esse material estranho, mas não gostei porque ele derrete muito fácil. - Mei falava rápido embolando as idéias, era como se ela pensasse mais rápido que sua fala conseguia reproduzir - Eu ia inventar alguma coisa com elas, testar quantas vezes eu poderia derreter, colocar em moldes, quem sabe transformar numa presilha pro meu cabelo, mas acabou ficando aí e no fim eu acabei focando em outras coisas. 

— Mei… Isto… Isto é plástico. É algo que existe no meu mundo. - Uraraka disse pegando as teclas de computador de volta como se fossem algo extremamente valioso.

— Oh… Então você pode me dizer como fizeram isso! - ela disse empolgada pegando um papel para anotar - Você sabe que feitiço usaram? Qual a proporção dos elementos? É algum tipo de óleo resfriado não é? Me diga. 

— Esse não é o ponto, Mei, o plástico não é importante! - Uraraka tentou manter a calma, mas seu coração estava acelerado - Se você trouxe isso pra cá com seu feitiço, você pode me mandar de volta pra casa com ele! Não pode?! - Ela perguntou já completamente iludida com a possibilidade.

— Oh garota… Óbvio que consigo. - Mei disse confiante. - Nada é impossível. É só uma questão de tentar até dar certo. Pode ser que demore, é claro, mas eu sei que eu consigo.

Uraraka se encheu de emoção com aquelas palavras confiantes.

— Quando mesmo que você disse que apareceu aqui? - a feiticeira perguntou curiosa.

— Mais de um mês… uns 45 dias. - ela disse triste por já ter até perdido a conta dos dias.

A feiticeira passou a tentar puxar na memória no que diabos ela trabalhava há longínquos 45 dias. Mas não, não era o feitiço de enviar coisas.

— É, não, nessa época eu não estava experimentando esse feitiço. Tenho quase certeza que eu estava experimentando uns portais de matéria escura, mas eles nunca funcionaram. 

— … matéria escura? 

— É, matéria escura. Mas meus pequenos portais se recusam a abrir diante de mim. São bem rebeldes, os danados… - ela falou decepcionada. 

— Não poderia ter sido um desses portais que me trouxe pra esse mundo? - Uraraka sugeriu, intrigada com a possibilidade. 

Mei ficou olhando para ela um tanto pensativa, até que sorriu. 

— Acho que é bem possível. - ela disse dando de ombros. - Só tem um jeito de saber: vamos tentar de novo! - Mei disse já se virando para sua bancada buscando alguma coisa.

— Não, Mei, espera! - Uraraka disse desesperada - E se você sem querer trazer outra pessoa?! Vamos pensar primeiro! Eu estudei um monte lá no castelo e a única coisa que estava prevenindo o portal mágico que eu estava tentando abrir de se manter estável era o combustível. Talvez, se tentarmos o que Hawks estava fazendo com a sua matéria escura, o feitiço funcione. 

— Argh… Eu odeio aquele gavião, nem fala esse nome. Ele roubou um dos meus bebês!! Disseram que era ilegal e tentaram me prender por isso. Mas ele usa sempre! 

— Bebê...? - Uraraka quis saber.

— Sim! Os óculos detectores de magia que ele usa sempre, eu os criei! Usei uma resina de vidro de dragão, moldei com magia de detecção de altíssima intensidade. Meu bebê pode detectar magia e objetos mágicos escondidos ou camuflados, é incrível! - ela contou orgulhosa.

Uraraka se lembrou dela entrando na sala do mago com a granada e o anel mágico escondidos na roupa, e como ele prontamente a olhou através das lentes e soube na hora. Quando ela foi tentar fazer o feitiço em seu quarto e o feiticeiro soube mesmo com a porta fechada. Seus olhos não eram especiais, e sim os óculos. Fazia bastante sentido. 

— Bom… Eu não sei se eu vou saber te explicar como… - ela se policiou antes de falar o nome de novo - ...como ele estava fazendo, mas vou fazer o meu melhor! - ela disse um tanto insegura, os conhecimentos dela ainda eram amadores mesmo depois de todo o estudo na biblioteca real. 

— Sim! - Mei disse animada - Estou empolgadíssima! Depois você tem que me falar mais sobre esse plástico, hein…

— Claro, eu- 

Uraraka ia se dispor a explicar mais sobre o plástico mas foi interrompida pela presença de Dabi na oficina.

— Mei, preciso falar com você um momento. - ele disse casual, mas dando a entender que Uraraka precisava sair. 

— Ah, sim, claro… Eu volto depois para começarmos, Mei! 

Uraraka saiu prontamente da oficina pela entrada estreita. Estava animada com o conhecimento da feiticeira que parecia que seria ideal para mandá-la de volta pra casa. Estava cada vez mais perto de seu objetivo. Mas também não deixava de ficar preocupada. O que será que Dabi queria conversar em particular com Mei? Desde que ela chegara ali, ninguém tinha conversado muito com a feiticeira, sempre a deixando trabalhar em paz. 

Já começou a imaginar que ele falaria para ela sobre a condição de que ela só a liberasse mediante a entrega das armas e como poderia talvez combinar com ela algo diferente, prometer quem sabe muito plástico pra ela. Com certeza mais fácil de conseguir que armas. Poderia dar os potes da sua mãe, pegar mais alguns emprestados com as mães de suas amigas, quem sabe até comprar alguns em uma loja de 100 ienes e....

— Isso é fome, cara redonda? - Bakugou quis saber. 

— Não, estou pensando! - ela explicou ofendida. 

— Vou com os extras na floresta buscar mais lenha. - ele disso se referindo a Izuku, Kaminari e Jirou. - Kirishima vai ficar aqui, então… Acho que você pode ficar também, se quiser. 

Uraraka percebeu que o bárbaro estava preocupado em deixá-la sozinha com aquelas pessoas depois da conversa que tinham tido na noite anterior. Ele tinha no fim das contas se comprometido a ajudá-la, a ficar do lado dela, mesmo com aquele jeito truculento dele. 

— Obrigada… - ela disse sorrindo pra ele - Eu vou ficar então. Com o Kirishima. - ela completou. 

— Certo… Ahn… Não vou demorar. 

Ochako viu ele se afastar, para já se encontrar com o trio que o esperava próximo à entrada da caverna com alguns cestos. Logo já estava mandando Kaminari calar a boca por alguma besteira. 

Só quando ele sumiu de vista pelo penhasco que a garota percebeu que estava perdida em pensamentos. Olhou para o lado e deu de cara com os olhos reptilianos do dragão. 

Ele inspirou duas vezes rapidamente como se cheirasse o ambiente e balançou a cabeça. Uraraka ficou extremamente vermelha.

 - Para com isso, Kirishima, vai dormir.

Kirishima apenas riu consigo mesmo, vendo a garota sair envergonhada em direção às outras pessoas. Bakugou dizia que era impossível cheirar e saber, mas ele sabia. 


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Notas finais do capítulo

Próximo Capítulo: "Você nunca ouviu essa história?" ou, como eu gosto de chamar, capítulo do flashback de como BakuDeku se conheceram ;)
Sábado, dia 25/07.



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