Luar Puro escrita por Zena Faith


Capítulo 2
Encontrada


Notas iniciais do capítulo

Eu demorei mais do que pensava, para escrever o segundo capitulo, foi difícil me concentrar o suficiente para realmente sentir o que eu queria passar.
Enfim, estou os fazendo todos pequenos, para que a estória renda, e que vocês entendam as coisas devagar.
Boa leitura.



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Eu estou caindo.

Estou caindo e caindo sem parar.

 O vazio do ar que me abandona enegrece a paisagem cobrindo toda a minha visão periférica, deixando meus olhos perdidos na escuridão e minha boca aberta em um grito sufocado, assim tudo se vai.

Talvez por estar caindo, por estar perdida nesse vazio sem fim, que começo finalmente a me deixar escutar. Escuto cada nota da melodia tocada ao fundo, escuto o som de cada tecla tocada com delicadeza e intimidade, como se a musicista possuísse uma relação profunda com seu instrumento.

A canção é como um feitiço, uma cantiga de ninar, sim, fantasiosa, calma e familiar... a risada flutua na onda da música, uma risada confiante e zombeteira, uma risada de contentamento puro, a risada de alguém que é plena e completamente feliz, alguém que está cheio de alegria e não consegue se expressar tamanho é o seu sentimento.

quem é você... onde...

E então.... eu finalmente caio.

Estou presa no passado.

Meus olhos se abrem lentamente, a letargia deixando meu corpo numa despedida dolorida e súbita.

O ambiente é de uma claridade cegante a princípio, mas toca minhas retinas de forma passiva até tudo se assentar, o ar fresco circula ao redor com pequenas partículas de poeira que brilham como estrelas sob os raios de sol trazidos para dentro da casa.

Onde estou...

Eu estava em casa.

Sim, eu estava segura novamente, eu era mais uma vez apenas um bebê adormecendo aos poucos ao som da melodia amorosa que minha mãe tocava ao piano, sinto-me resistindo ao sono com apenas um fio de força sustentado pela risada animada de meu pai.

É tão bom e real, inocente e genuinamente feliz.

Não agora... não quero que acabe...

A risada de meu pai vacila e minha mãe se interrompe abruptamente no piano, a música morreu sem aviso e meus grandes olhos curiosos se abrem com curiosidade, vencendo a névoa do sono com força inabalável, o som de uma cadeira caindo no chão produz um som ruidoso que faz meu coração se acelerar, sussurros apressados e tensos são trocados entre meus pais e então... o caos...

— NÃO!

Me levanto rápido demais para sentir qualquer coisa de imediato, mas então meu corpo convulsiona em respirações entrecortadas e espasmos deslizam meu corpo da cama para o chão agressivamente, a gravidade me deixa e o tempo desacelera, não posso fazer nada, apenas assistir enquanto meu corpo me trai.

Quando bato no chão, uso as minhas mãos para proteger minha cabeça, e mesmo assim prendo a respiração com a vertigem poderosa que atinge meu corpo antes da dor queimar em meus membros.

Solto o ar de forma sufocada e ignoro a pontada aguda de dor, minha cabeça correndo para registrar os danos no meu corpo machucado.

Sinto minhas pernas e braços, mas está tudo desgastado, funcionando de forma mais lenta e cautelosa, roubo algumas respirações antes de tentar me colocar de pé com esforço, estou tão concentrada que só percebo o toque um segundo mais tarde. Mãos me amparam cuidadosamente, levantando meu corpo para ficar de pé, como se eu fosse uma pena, eu não penso em qualquer agradecimento, pois logo em seguida estou girando e me desvencilhando para longe com um rosnado defensivo.

O cheiro é maçante de tão familiar, todo o meu corpo entra em ação instintivamente.

Vampiro

— Bella, não...

Meus olhos se abrem tanto que parece que meus globos oculares vão saltar.

Não, não, não, não.

Uma onda de terror paralisa os meus músculos.

Me traindo, mais uma vez, meu corpo fica petrificado em terror, a sensação dos braços que antes me ajudaram agora pareciam como tentáculos de larva me aprisionando com força sobre-humana. Engasgando com ar e saliva minha boca se abre em um grito silencioso, mas nada sai, o som parece ter morrido em minhas cordas vocais, eu sou nada além de um receptáculo vazio, e estava em perigo, vulnerável.

— Eu acho que ela está entrando em choque, me ajude Edward...e-eu não sei o que fazer.

A cacofonia de vozes se alternam ao meu redor, é como se eu estivesse enxergando toda a cena através de uma lupa ampliada, mal podendo enxergar, então, foi assim que eu realmente os vi, mesmo através do pânico.

A mulher, ou garota... era tão difícil saber, sua aparência estava entre o fim de uma jovem adulta e uma adulta completa, mas isso não importava, ela era simplesmente familiar, e incrivelmente linda, tão bela e radiante. Sua pele brilhava como um diamante sob a luz do sol, como qualquer vampiro que eu já tenha visto, mas ela era viva... era quase como se ela fosse moldada para ser aquilo, uma vampira natural. Seus longos e fartos cabelos castanhos tocavam meu rosto enquanto ela segurava meu corpo trêmulo em seus braços como se segurasse um bebê, a boca suave entreaberta em preocupação, os olhos dourados pedindo por ajuda a alguém acima de nós, ela parecia tão grande e tão pequena ao mesmo tempo.

E havia mais... algo que eu já tinha sentido antes... uma força familiar que fazia dela mais, como uma força maior da natureza.

Ela é uma mãe...

Simples assim, aquela força voraz e selvagemente protetora me lembrou a minha mãe, sim, ela era uma mãe, isso faz meu coração arder e meu corpo tremer ainda mais.

Um soluço quebrado finalmente destrói a barreira do som, um soluço doloroso e solitário que faz todo meu corpo suspirar, a sensação de deslizar para dentro me faz perceber que estava prestes a desmaiar novamente, tudo que eu vi quando meus olhos se fecharam foram os olhos preocupados da mulher me encarando.

Eu quero ir para casa...

Na segunda vez que acordo estou sozinha, em outro lugar, deitada em uma cama estranha, em um quarto totalmente nu, com luz entrando por todos os lados.

Contorço os meus dedos dos pés começando uma verificação dos meus sentidos, minhas pernas parecem bem, apenas um pouco tensas, o que já é esperado depois de tanto correr, meus ombros se ergueram cuidadosamente, minhas costas parecem doloridas, abdômen também, mas tudo estava curado, as dores eram apenas um sinal de que tudo estava bem, se concertando gradualmente. Me sentei alerta a tudo ao redor, minha visão não estava acostumada a toda aquela luz, foi como quando fugi, a luz queimou minhas retinas pela primeira vez, foi quase como se fosse ficar cega. Agora estava melhor, mas ainda estranho, o mundo parecia tão alienígena, tão diferente do que eu imaginava ou lembrava.

Os meus novos captores tinham me lavado e vestido com roupas limpas, toco o tecido leve e fluído da camisola com cuidado, parece ser caro, muito parecido com meu antigo vestido branco em farrapos.

É confortável e simples, tão branco e puro, é como me ver sendo vestida... para agradar, novamente.

Isso provoca um calafrio de agonia.

Não quero lembrar...

Meus pés tocam o chão frio, o som suave e macio que eles fazem provoca uma onda de atenção simultânea, vinha de todos os lados, de cômodos diferentes ao redor do quarto, meus captores se mantém tão atentos quanto eu, mesmo disfarçando bem depois de um minuto com afazeres comuns, eles não me enganam, eu me lembrava de como era ser vigiada, a vida toda.

As janelas grandes representavam a fuga perfeita, eu caminhei até elas inspecionando tudo, os passos deles ecoaram os meus na mesma direção, parei abruptamente e olhei para todos os lados.

Se eu queria fugir agora não teria planejamento ou sutileza, e sim rapidez e luta...

O brilho que refletia toda a luz do cômodo me hipnotizou.

Espelhos...

Passei a vida em um buraco de escuridão, perdida no mar infinito dos meus pensamentos, mas isso não significava que não lia, que não sabia sobre o mundo... a leitura foi uma das minhas únicas fontes de conhecimento confiável por anos,  principalmente os contos de fadas. Minhas fantasias mais eloquentes vinham de mentiras contadas para encantar... mas em toda mentira, há uma verdade.

Uma rainha representando a inveja, uma criança subestimada por sua aparência, os sete pecados ostentados por humanos deformados...

O mundo se tornou uma cápsula ao redor de mim.

Eu nunca tinha me visto, eu nunca vi meu rosto de verdade...

Eu me movi inconscientemente em direção a ele, meus passos apressados e olhos curiosos escrutinaram a toda a silhueta da estranha refletida no vidro, a criatura era tão pálida quando a neve, sua silhueta magra e amedrontada, os ossos da clavícula salientes fazendo com que as alças do vestido ficassem penduradas frouxamente.

Mas, seu rosto não, seu rosto era levemente arredondado, com maçãs do rosto saltadas, estas que continham sardas escuras espalhadas, salpicando a brancura impecável, seu nariz longo e empinado em orgulho, lábios vermelhos e fartos demais para um rosto tão infantil. Seus cabelos eram da cor de asas de corvos, tão longos e fluidos que escorriam lisos pelos ombros, cobrindo os olhos da criatura.

Uma mão afastou os grossos fios para detrás de suas orelhas... e lá estava, olhos tão grandes, um azul, tão claro quanto o céu, mas frio como gelo e o outro, tão escuro quanto a terra, mas quente como o fogo, olhos espertos e afiados, olhos selvagens... olhos de lobo.

Eu estava tocando a criatura, meus dedos brincando timidamente com a maciez de sua pele, contando as sardas, tocando sua boca carnuda e entreaberta em surpresa pela descoberta.

A criatura sorriu para sua presa, um sorriso travesso e faminto.

Eu senti meus lábios seguirem a ação em reflexo, meus olhos assim como os dela ganhando um brilho animalesco, algo como uma brincadeira de gato e rato.

—Você não pode me caçar, eu sou você...

Então toquei o espelho, e foi como ver pela primeira vez.

Eu sou isso...

— Você me lembra Branca de Neve.

A voz me fez virar alerta, a observo de forma alerta, me preparando para o ataque, era apenas eu e ela, e ela não poderia me impedir, a criatura estava caçando.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem.
Beijos L.



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