Luar Puro escrita por Zena Faith


Capítulo 1
Fugitiva


Notas iniciais do capítulo

Eu já postei no Nyah antes, mas parei depois de um tempo, pois a plataforma não estava correspondendo as minhas expectativas, por isso dei um tempo.
No entanto, o tempo ajuda muito e faz você perceber que algumas coisas não são tão importantes, por isso decidi me refazer aqui novamente, com uma nova história, é claro.
Essa fanfic foi postada originalmente no Spirit, então se você gostar dela, vai descobrir que ela já está muito avançada no site, enquanto aqui estão apenas os primeiro capítulos revisados.
Nunca escrevi sobre a Saga Crepúsculo da nossa querida Stephanie Meyer, mas eu precisava, por que desde o primeiro momento em que li os livros e assisti aos filmes, um universo totalmente novo se abriu em minha imaginação fértil, então eu não podia ignorar por tanto tempo a estória que surgiu em minha mente, eu precisava escrever ela e deixar que mais alguém além soubesse o quanto os livros me encantaram.
Espero que desfrutem da leitura, e obrigada você que está lendo.



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Frio.

É tudo o que sinto enquanto corro, rápida e desesperada é como soa minha alma.

E é nesta escura e sombria floresta de pinheiros e árvores hibernais que encontrarei segurança e paz, onde está minha salvação, só preciso suportar um pouco mais.

Encontrar, encontrar, encontrar...

NÃO PARE!

Posso sentir o cansaço tomar conta dos meus músculos como uma dança lenta, maravilhosa e infernal, o suor desliza queimando pela minha pele, a dormência se insinuando a cada segundo, e meus olhos pesados e cheios de areia fazem a minha visão embaçar através da privação de sono, ainda assim, apesar dessa tormenta auto infligida, não posso parar.

NÃO PARE!

Correr é a única necessidade principal que obriga meu corpo a seguir em frente, a fome e a sede já não eram saciadas há tempos, e meu corpo definha aos poucos, em pequenas doses, doses cada vez mais perigosas... mas...

NÃO PARE!

Forço-me a usar o pouco dos meus sentidos que restam, o olfato e a audição.

E como uma melodia feroz, eles trabalham juntos, no vento e na terra ressoa, inundando meus sentidos de calor e vida, posso ouvir o forte ecoar dos cervos batendo seus cascos nas pedras e na terra, o sangue bruto retumbar nas veias, e como se ligados, dentro do meu corpo algo mais forte queima em euforia e desespero, e assim, dançando a musica da besta eu sou guiada e deixo o caçador tomar conta de mim. Meu corpo fica mais rápido e ágil, os sentidos se aguçaram para um ataque selvagem e desleixado, e no meu salto um animal desesperado e faminto ataca.

Eles são tão belos e vivos, mas eu não posso me deixar apreciar, estou faminta e não a tempo para escolher a dedo, para calcular o valor de suas vidas, eles estão em três, dois machos e uma fêmea jovem, mesmo que meu coração proteste pela matança não posso controlar meus instintos, muito menos minha necessidade, e é na fraqueza que eu sou covarde, escolhendo o mais desatento deles.

Tão fácil ele se rende ao meu abraço mortal, se entregando a escuridão da morte de forma rápida e pacífica, tão submisso, a onda de calor acompanhada pelo líquido quente enche meu corpo de brilho, como um raio atingindo uma árvore, ao invés de queimar e destruir, ele repara e viaja pelas minhas veias, reanimando cada célula fraca.

Não é saboroso, é maior que isso, essencial, a cura, doloroso e milagroso.

Tristeza estala no meu coração, a morte pode vir para todos, e isso ainda não significa que esta ação, a escolha, seja determinada por mim.

Eu odeio matar.

ODEIO! ODEIO! ODEIO!

Quando acaba, só sinto a inundação de ondas quentes, meu estômago faz um som aquoso quando me levanto, como se água demais preenchesse o espaço, calor sobe para o meu rosto e olho com constrangimento para o chão, esperando que o ciclo da vida tome parte do meu remorso, que a beleza sombria da morte na pureza da mãe natureza carregue o ato manchado de culpa, devolver o corpo do animal para a terra chega a confortar minha alma perturbada, não o suficiente, eu não era digna o suficiente de tal piedade, não sou uma criatura da natureza.

Sento o vento soprar sobre minha pele machucada e fria, e com ele vem um cheiro familiar, fresco e úmido, o cheiro da água, de gotas de chuva e vento, eu sei que estou mais perto, perto do riacho, perto da segurança prometida.

Minhas pernas voltam a se mover novamente de modo automático, minha alma ânsia pelo descanso almejado, e corro como se minha vida estivesse há um fio do fim, mesmo que não seja necessário, mesmo que nesse momento eu tenha deixado meus inimigos para trás, longe o suficiente para respirar de verdade.

Eu corro por que é a única coisa que preciso.

A luz rasga por entre as árvores e afasta a madrugada melancólica, tão bonita e tremulante, a floresta é banhada por uma paz cálida, e meu coração bate de forma menos dolorosa, pois o medo e a dor devem ser abandonados pelo caminho e a paz se deitar como um cobertor sobre o meu peito, eu sei que estou perto, estou sentindo.

Eu encontrei...

Crack

Meus pés derraparam sobre o solo úmido, lama preenchendo os vãos entre os meus dedos, entrando debaixo das unhas, minha cabeça virando de supetão em direção ao som que rasga o meu breve alívio. Prendo a respiração e tento raciocinar, é apenas um galho quebrado a dez quilômetros a minha esquerda, não deve ser nada mais que um animal qualquer seguindo seu caminho...

Cuidado...

Meu corpo paralisa em uma posição defensiva instintivamente, afundo meus pés na terra e fecho os olhos com um suspiro trêmulo, sinto os movimentos que ecoam pela terra, escuto toda a vida que toca o solo, os animais, insetos, minhocas, pássaros, mas mais profundo que isso, viajando pelas raízes, eu procuro algo mais distinto, algo humano, não, não totalmente humano, além dos animais comuns para uma floresta... e no fundo, há um pequeno grupo de lobos caçando aos arredores, nada perigoso, apenas mais vida.

Suspiro cansada, o peso de uma vida em alerta me puxando para baixo, a frustração me faz respirar fundo, deixando o cheiro dos lobos entrar em meus pulmões através da brisa, e congelo.

Não são apenas lobos, não há apenas neles.

Só pude sentir esse cheiro três vezes desde o meu nascimento, as vezes ficava tão sufocada por ele que sequer reconhecia a mim mesma.

Esse cheiro era perigoso, perigosamente familiar.

Lobisomem... alcateia.

Meu rosto se vira violentamente, como se levasse um tapa, e como uma maldição inevitável do destino o vento mudou de direção, soprando meus cabelos na direção deles, levando o meu cheiro como uma oferenda a um sacrifício. Meus ouvidos zumbem quando seus focinhos se erguem no ar e farejam, detectando o estranho, a ameaça, eu.

CORRA!

Começo a correr no segundo em que eles se viram em minha direção.

Galhos e folhas se partem facilmente sob meus pés humanos como se a floresta desse vantagem para que eles sigam no meu caminho, muito barulho, muitos rastros e minha corrida desleixada e rápida, talvez fosse o meu carma, eu tinha roubado da floresta e agora ela estava me entregando de bom grado para os seus filhos.

Eu precisava comprar tempo para decidir o que fazer, minha única chance era distrair eles... mas como?

Estou tão cansada...

Minha mente é uma confusão e por consequência isso reflete no meu corpo da pior maneira, falhando sob meu comando ao passar por um tronco caído, meu tornozelo resvala contra o tronco me fazendo perder o equilíbrio e cair e rolando pelo chão, tento levantar o mais rápido que posso para voltar a correr, e por um segundo olho para trás, meus olhos congelam na imagem o suficiente para me fazer correr mais forte ainda.

Cinco... cinco deles, não apenas lobos, não podiam ser.

Corro com um novo tipo de desespero, eu preciso chegar, não posso ser pega, eu tenho que correr... de outra forma.

Eles estão logo atrás, tão perto, quase tocando minha pele com seus rosnados e ganidos, eu só consigo pensar corra, corra, corra.

A água está logo a frente, tão perto que meus ouvidos chiam, tão perto, tão perto.

Não posso escutar mais nada, apenas o chiar em meus ouvidos, minhas pernas se impulsionando e queimando durante meus últimos passos de corrida, e quando estou prestes a pular sinto o tecido do meu vestido ser rasgado pelo forte golpe dado por um deles, mas é tarde demais para eles, eu já estou no ar, pulando de uma árvore para a outra e me impulsionando para a beira do riacho, enquanto atravessava o riacho eu posso voar, e com um soluço de medo deixo a dor dos meus ossos se espalhar, se alongando e estralando, uma neblina prateada circulando meu corpo numa nuvem cegante, minha visão clareia imediatamente e a audição se amplia diante da mudança, pedaços e retalhos de tecido branco se soltando do meu corpo em direção a água.

Minhas patas dianteiras tocam o outro lado do riacho e luto com esforço para manter todo o meu corpo na beirada.

O animal quer olhar para trás e verificar os inimigos, mas não há tempo, eu preciso chegar ao meu destino, sacudo meu corpo branco para me desvencilhar dos restos de tecido e recomeço a correr novamente, agora melhor, mais rápido e natural, mais libertador, e é como se a floresta reconhecesse minha selvageria e a aceitasse de braços abertos.

Nos meus pensamentos há uma corrida tão rápida quanto a do meu corpo, mas agora tudo é mais cru e selvagem, o objetivo guiando as minhas vontades, farejei o ar em busca dos lobos e não encontro nada, talvez, talvez eles apenas tenham me deixado... não, não tinham, não deixariam. Não podia me deixar distrair com essa possibilidade, algo os tinha impedido de continuar, e em pouco tempo isto seria resolvido, apenas para atravessar e vir até mim.

Os sons começam a ficar mais próximos, posso escutar música... um piano.

Diminuo a corrida para um trote lento e cauteloso e choraminguei com as lembranças melancólicas que o som tocado trazem... é familiar, tão familiar.

Vou em frente sem cautela, ansiosa demais por ter encontrado segurança, enfeitiçada pela familiaridade do som, carente por algo que perdi há tempo demais...

— Arrgghh!

Minhas orelhas captam tarde demais, meu corpo é jogado com tamanha força contra a árvore que os ossos da minha parte inferior estalam com um som horrível que faz meus sentidos zumbirem, quando caio no chão só sinto a dor, ecoando em cada célula, me sufocando com minha própria respiração, um ganido engasgado de desespero sendo arrancado do meu peito ao ver a sombra negra caminhar lentamente em minha direção.

Meu corpo protesta ao tentar voltar ao normal, é cortante, sufocante, dilacerante, como se eu fosse me partir ao meio, a dor me cega aos poucos levando a luz embora, eu não sei mais quem sou, não sei o que fui, a única certeza é a de que eu lutei, lutei apenas para este momento.

O momento da minha morte.

Por favor... por favor, não, por favor


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Notas finais do capítulo

Estou aberta a qualquer tipo de comentário, afinal eu escrevo para aprender e por que eu amo isso, então críticas e elogios são bem-vindos, a tendência é a de sempre melhorar com isso.
Beijos da L.



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