Era sexta-feira pela manhã e eu estava pronta para ir à Universidade dar minha aula de psicologia social. O tempo estava nublado, como se a qualquer momento fosse chover, quando estava descendo as escadas do meu prédio velho no Brooklyn, sinto o celular vibrar dentro da bolsa. Não era comum eu receber ligações tão cedo, afinal ainda não tinha passado das 7:00 da manhã. Preocupada procurei o telefone naquela bagunça de papéis e quando o encontrei, acabei derrubando todos os livros que estavam na mão. O visor do celular piscava o nome do meu pai e fiquei ainda mais preocupada, minhas mãos gelaram e minha garganta secou: que diabos havia acontecido?

— Papai? - perguntei com a voz falhando.

— Oi, Bella. Desculpe por ligar tão cedo, mas não ligaria se não fosse tão importante. - o tom da voz de Charlie estava péssimo e eu cada vez mais nervosa.

— Diga, papai, o que está acontecendo? Estou ficando nervosa. É algo com o senhor, com a mamãe? - disse.

— Querida, eu não sei como falar isso para você, mas a sua tia Sarah sofreu um infarto e acabou falecendo.

Eu fiquei em silêncio, pela primeira vez desde que Jacob faleceu, minha mente ficou em silêncio absoluto. A dor da perda que eu tão bem conhecida estava de volta, apertando meu peito da forma mais dolorosa possível. Minha tia havia me criado junto com minha mãe, pois meu pai, por ser chefe de polícia, passava tempo demais na delegacia e não podia ajudar minha mãe comigo. Era minha avó do coração, minha "Nana". Ouvi ao longe a voz de meu pai perguntando se eu ainda estava ali, mas não poderia responder, pois as lágrimas estavam inundando meu rosto. 

— Bella? Você está aí querida? Me responda, Isabella. - papai estava começando a ficar preocupado.

— Estou aqui, papai. Eu não sei o que dizer. Sinto tanto por não ter passado o seu aniversário junto dela. Sinto tanto, papai, tanto. - desabafei aos prantos.

— Bells, se acalme, sua tia amava você mais que tudo. Sarah viveu uma boa vida, aproveitou mais do que podia, nós sabíamos que seu coração estava fraco, mais hora ou menos hora isso iria acabar acontecendo. Ela viveu uma boa vida, filha! Ela teve você.

— Oh, papai. Eu a amo tanto. E amo vocês, também. Agora eu preciso ir para a universidade ou vou acabar chegando atrasada e tenho aula no primeiro período. Vou  tentar ir para Boston amanhã para dar meu último adeus a tia Sarah. - ainda com a voz embargada acabei me despedindo.

— Filha, não será necessário. Sua tia pediu para ser cremada e para que não houvesse velório, porque odiava despedidas, você sabe melhor que ninguém. Eu também preciso te dizer que todas as economias de Sarah vão ficar para você. 

— Oh meu Deus, isso é sério? - falei assustada.

— Sim, meu anjo. Ela sabia que sua hora estava chegando e pediu a nós que guardássemos o dinheiro para dar a você quando ela partisse. A tia Sarah sabia que você queria se mudar para Manhattan para ficar mais perto do seu consultório e da universidade. E também não queria que sua partida fosse um momento triste para você, queria vê-la realizar seus sonhos e agora você vai conseguir. Bem, vou deixar você ir trabalhar, amo você, Bells.- meu pai explicou. 

—  Também te amo, papai. Mande beijos para mamãe. - me despedi.

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Como só tinha o primeiro período de aula hoje, teria a manhã toda para organizar a venda do meu apartamento no Brooklyn para a compra de um novo em Manhattan. Por fora eu estava a mesma Isabella de sempre: discreta, tímida e reservada, mas por dentro um misto de emoções acontecia. Estava extremamente triste pelo falecimento da minha querida tia Sarah, todavia também estava muitíssimo feliz por conseguir realizar meu sonho de anos. Talvez agora deixando o apartamento que vivi com Jacob minha vida inteira, eu consiga abandonar meu passado e começar a viver novamente. A manhã passou extremamente rápido e com isso consegui falar com o corretor de imóveis da minha confiança e agendamos uma visita para ver um apartamento modesto no centro de Manhattan logo após o almoço. Alice, minha amiga de trabalho, me acompanhou até o prédio. 

Para quem estava acostumada aos pequenos e antigos prédios do Brooklyn, esse era grande e por óbvio tinha um elevador, o que seria de extrema utilidade para subir as compras. Avistamos o corretor de imóveis chegando e nos arrumamos para descer do carro de Alice. 

— O lugar é ótimo, Bella. - comentou ela.

— Sim, é perfeito. Se o apartamento for tão lindo quanto o prédio e as redondezas, eu tirei a sorte grande. - afirmei.

Entramos no condomínio e o local era realmente adorável, possuia piscina, quadra de esportes e  academia compartilhadas. Eu estava sonhando, muito, muito obrigada tia Sarah. Era um prédio pequeno perto dos outros, apenas vinte andares e o meu se localizava no décimo terceiro. Ao abrirmos a porta do apartamento, ele era lindo. Semi mobiliado e tão claro que olhos não acostumados poderiam estranhar. Perfeito. Dois quartos, sendo um deles suíte, um banheiro social, cozinha americana, sala de estar ampla e iluminada, mas o melhor de tudo era a varanda. Quando adentrei o espaço pude ver que o pequeno lugar tinha algumas plantas, tornando ainda mais acolhedor o ambiente. Olhei para os lados e para a fachada do outro prédio que coincidentemente tinha uma sacada na mesma altura da minha e pude ver meu vizinho de frente malhando, sem camisa e suado. Era um homem aparentemente bastante bonito, malhado na medida certa e com uma estranha coloração de cobre em seus cabelos despenteados. Mas o que me fez fechar a cara foi ele sorrir presunçoso achando que eu o estava secando e ainda me deu uma piscadinha. Absurdo, merda de homem abusado, não mereço uma coisa dessas não. Senti minhas bochechas corarem e fechei ainda mais a cara, o olhei com desdém e dei as costas ao meu futuro vizinho exibicionista.