Plastic Love escrita por Elli


Capítulo 2
Reencontros


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Espero que vocês gostem tanto quanto estou gostando de escrever essa história. Tenho me divertido muito com os planos que tenho para ela.



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Com o costumeiro atraso de Castiel, não tivemos muito tempo para tomar café da manhã, mas eu estava precisando mesmo perder peso, então apenas engoli um café forte sem açúcar e desci as escadas rapidamente. Castiel ainda se demorou pegando as suas coisas.

A escola era extremamente perto de casa, mais do que do nosso antigo apartamento, então nós não demoramos a chegar. Eu não estava assustada nem nada do tipo, no entanto, me sentia um pouco ansiosa sim. Uma ansiedade que incomodava dentro do meu peito e no meu estômago, aquela sensação angustiante que não parecia ter fim. Eu sentia isso frequentemente perante quase qualquer situação. Suspirei tentando tirar a sensação ruim, mas ela não passava nem com o mais longo dos meus suspiros.

— Ei, garotinha… Se acalme, é apenas um primeiro dia de aula em uma escola em que você já esteve antes. - Castiel bagunçou meu cabelo. Ele estava mesmo acostumado com a ideia de que eu sentia esse tipo de coisa, e acho até que ele também sentia, no entanto nunca externava nada.

— Eu sei… Só sei lá. Acho que ainda não me acostumei muito com a ideia de voltar depois de tanto tempo longe, mas aqui vamos nós. 

Eu fui direto para o grêmio estundatil, já tendo noção de tudo que um novato tinha que fazer. Alguns anos atrás, antes de ir embora, eu ajudava nas coisas por aqui junto de Nathaniel e mais alguns colegas. Tenho saudade do Nathaniel, mas meu irmão não parece mais gostar dele por algum motivo que não quer me contar… Sei que rolou todo aquele lance com a víbora da Debrah, a ex-namorada do meu irmão, mas eles haviam se resolvido sobre isso. Será que o Nathaniel ainda está por aqui?

Minha pergunta mental foi respondida quando ele se materializou na minha frente. Quase surtei ao vê-lo. Ele simplesmente não parecia a mesma pessoa de anos atrás, tipo, de modo algum! Tinha um visual bem mais relaxado, estava maior e mais forte, com os cabelos bagunçados e sem aquela gravata feiosa que usava antigamente. Quase ri com o fato de que estava achando ele bonitinho.

— Ellie? - ele pareceu surpreso, depois abriu um grande sorriso ao me ver e se aproximou. — Você está de volta mesmo! Não achei que viria tão cedo, quando o seu irmão disse que você voltaria...

— É claro. Muito aclamada, todos devem ter sentido minha falta. - nós dois rimos e nos encaramos por um tempo antes que eu continuasse. Ele estava realmente mudado, em todos os aspectos parecia outra pessoa e podia até achar que estava com algumas semelhanças ao Castiel. — Acabou meu curso de ballet, já tenho licença para dar aulas e algumas outras coisas… Mas quando terminar esse ano letivo, quero ir atrás de mais. Quem sabe, trabalhar em Paris...

— Que máximo! Eu fico muito feliz que esteja seguindo suas ambições. Você cresceu bastante… - ele me encarou de cima a baixo, depois riu. — Bom… Nem tanto, mas algumas coisas nunca mudam!

— Já você, não posso dizer o mesmo. Mudou, e como mudou! - comentei, vendo ele se servir de uma xícara de café e me oferecer. Eu neguei com a cabeça. — Mas enfim, eu vim apenas ver se está tudo certo com a minha matrícula, essas coisas de gente novata.

— Claro, deixa eu ver aqui… - ele olhou algumas papeladas, bem como fazia antigamente. — Ah, sim. Tudo certo sim. O Castiel já deve ter adiantado tudo, e enfim… - ele pareceu ruborizar e ficou pensativo por um momento, depois balançou a cabeça como se quisesse se livrar de algum pensamento. — Aqui está o seu horário e a sua turma. Foi bom te reencontrar, agora se me der licença, eu tenho algumas coisas…

— Nath… - eu chamei, mas ele já havia desaparecido por entre as portas da secretaria logo depois de me entregar os papeis com os meus horários. 

Suspirei. Algo havia acontecido e eu teria que descobrir a todo custo. Mas agora, já era hora da primeira aula, história… Que ótimo, começamos uma segunda-feira da maneira mais entediante o possível.  

Verifiquei qual era o meu armário antes de entrar na sala de aula e acabei também por avistar uma figura já conhecida por mim antigamente. 

— Ellie? É você mesmo?! - a garota de cabelos claros pronunciou, os olhos bem abertos e a boca quase formando um perfeito “o”. Ela se aproximou e me encarou de cima a baixo, depois me agarrou em um abraço apertado que eu reconheceria mesmo em dez anos longe. — Não acredito… Você nem me deu notícias! - depois, ela se afastou do abraço com uma expressão zangada.

— Rosalya, eu perdi todos os números quando troquei de celular em Paris! Sinto muito. - justifiquei, sorrindo com a emoção de rever minha antiga melhor amiga de novo. 

Em Paris, eu não tive uma melhor amiga. Todas as meninas eram absolutamente competitivas, não queriam ter amigas, queriam apenas a melhor posição nos ranking e um papel principal nos espetáculos. Não vou mentir, muitas vezes eu também não me esforcei para ter proximidade com alguma garota justamente para poder me focar em mim, e também pela desconfiança e medo de sabotagens. Mesmo não tendo amigas próximas, recebi muitas sabotagens quando comecei a ter mais atenção e me tornar uma das melhores.

Enfim, a Rosalya me fez bastante falta. No começo, nos correspondíamos por mensagens, eu contava a ela como tinham sido meus primeiros dias, mas depois eu acabei por perder o meu celular em Paris, comprei um novo e não tive contato com quase ninguém dessa escola mais, apenas com o Castiel que era da família, e no entanto ele não era lá muito próximo dos meus amigos para me dar notícias.

— Escute, a gente tem que botar o papo em dia a qualquer custo! Vamos ao shopping depois da aula, e eu não aceito não como resposta, ok? - disse com firmeza e aquele olhar único que ela tinha de determinação. Ela estava muito, muito mais bonita desde que a vi pela última vez, quando tínhamos catorze anos. Quatro anos se passaram e agora nós somos duas mulheres crescidas.

— Acho perfeito! Você tem aula de que agora? - indaguei, percebendo que faltavam dois minutos para a aula começar. Guardei algumas coisas no meu armário rapidamente; teria tempo para decorá-lo no resto da semana.

— História.

— Ótimo, também tenho! Vamos indo? 

— Vamos! - ela enlaçou seu braço no meu e me senti de volta a sétima série. Nós sempre fomos muito próximas, desde crianças, eramos uma união só. Ela vivia na minha casa e eu na dela, e eu ficava feliz de saber que por ela isso também não havia mudado. Eu não queria que mudasse mesmo. 

Entramos na sala e percebi que acabei chamando mais atenção do que imaginava. Reconheci alguns rostos já antigos na minha mente, mas as pessoas haviam crescido e mudado de mais. Haviam muitos alunos novos também. 

Meu olhar, instintivamente, parou em cima de Lysandre sem que eu quisesse ou procurasse por isso. Ele estava sentado ao lado do meu irmão, e percebi quando nossos olhos se encontraram por uma fração de segundos… Mas logo ele já estava olhando para o outro lado. Suspirei de frustração comigo mesma. Por que eu tinha que ser assim justo agora, depois de anos sem me importar com garotos? E olha que eles me chamavam para sair, se declaravam para mim como nos animes shoujos e doramas que eu assistia… Apenas sempre estive muito mais focada nos meus estudos. E, de repente, por eu estar em um cenário diferente onde não preciso mais batalhar tanto para me destacar, isso parece ter mudado. Eu apenas não quero que mude.

— Ellie? Tá tudo bem? - Rosalya acenou na frente dos meus olhos, me fazendo voltar a superficie dos meus pensamentos. — Você parece distante.

— Tudo bem, sim. Vamos nos sentar? - indaguei, já me encaminhando para o fundo da sala perto de onde meu irmão estava. Nos sentamos em uma das últimas classes perto das janelas e como eu sabia que Rosalya insistiria no assunto, já fui justificando. — Não dormi direito essa noite. Ansiosa pelas aulas e tudo mais…

— Ah, eu te entendo bem! Bom, não sobre a aula, mas toda vez que eu começo um curso novo, é sempre a mesma tensão! - ela sorriu reconfortante e eu sorri de volta, sem dizer mais nada.

Assim se seguiu a aula. Nós não nos falamos nada além do necessário, por mais que eu já estivesse bem avançada e já tivesse aprendido aquela matéria também, quis deixar que a Rosalya prestasse atenção. Ela sempre foi muito estudiosa e cheia de ambições, assim como eu.

Quando a hora do almoço chegou, eu comprei meu almoço e comi sozinha na paz de um lugar solitário que encontrei. Era o antigo clube de jardinagem da escola, que agora parecia ser um espaço comum a todos os alunos, mas naquele momento estava vazio. Todos deveriam estar comendo na cantina, mas eu acabei por me perder da Rosalya na última aula e senti uma estranha vontade de ficar sozinha. Eu sentia essa vontade de solidão muitas vezes, talvez por estar muito bem acostumada com ela em Paris.

Hoje, comprei um pouco de salada de salmão e uma água. Comi calmamente e em silêncio, e quando acabei a hora do almoço ainda não havia terminado, então aproveitei para ouvir um pouquinho de música em meus fones. Videoclub, uma dupla de indie francês que eu gostava muito, invadia meus ouvidos enquanto eu fechava os olhos e sentia o sol entrando em minha pele. Gostava de momentos como aquele em que eu podia aproveitar da minha própria companhia, embora eu considerasse a pior e mais sombria companhia de todas. Eu amava estar sozinha, na mesma medida que isso me fazia pensar apenas nas piores coisas possíveis.

Quando a música chegou ao fim, senti uma sombra me cobrindo por inteira. Abri um olho e depois o outro e ruborizei na mesma hora em que percebi Lysandre ali. Ele me encarava de cima, depois juntou-se a mim sentado-se ao meu lado no gramado.

— Ei, você tá aqui sozinha no seu primeiro dia? - ele indagou sem me encarar.

— Hum… É. Eu prefiro comer sozinha. - o que não deixava de ser verdade. Sempre me sentia mal comendo na frente dos outros.

— Entendi. - ele retirou um bloco de notas do bolso e depois uma caneta. — Se importa se eu te fizer companhia? É que… Bem, eu costumo escrever aqui após o almoço. Já estava acostumado.

— Claro. Se for melhor… Eu posso te deixar sozinho. - não sei porque, mas quando percebi, aquelas palavras já haviam saído da minha boca. 

— Não, você já estava aí antes. Fique. De qualquer maneira, não me atrapalha em nada a sua companhia. - tenho certeza que o comentário dele fez as minhas bochechas ruborizarem, pois senti elas queimando.

Eu não respondi mais nada, voltei a colocar os fones e ele se virou para escrever em seu bloco de notas. De alguma maneira, fiquei um pouco ansiosa com a presença dele. Não estava acostumada a ficar tão próxima de garotos, mas talvez fosse porque eu não estava acostumada a sequer falar com eles na minha última escola. Quem queria ir longe, não tinha muito tempo para amizades ou namoricos. Foi assim que eu fui orientada e foi o que segui até o fim… Mas agora, era uma nova situação.

Quando o sinal bateu dando fim ao horário do almoço, eu guardei meus fones e meu celular na mochila e me levantei. Lysandre venho logo atrás e chegou ao meu lado, me acompanhando na caminhada.

— Ellie, você já se inscreveu para o clube de ballet da Sweet Amoris? 

— O que?! Bem, isso é novo para mim. Não sabia que existia um.

— Na verdade, iniciou faz pouco tempo. Não sei muito bem como funciona, nenhum dos nossos colegas faz parte como você deve imaginar… Mas ouvi falar algo no ano passado. O Castiel me contou que você gosta de ballet, deveria tentar. - ele olhava para os próprios pés enquanto camínhavamos. 

— Não gosto de ballet. Ballet é a minha vida! - corrigi com mais emoção do que queria. — Hum, desculpe, acho que me empolguei.

Ele riu um pouquinho e balançou a cabeça negativamente antes de falar algo.

— Não, você está certa em dizer isso. É bom que tenha algo que nos interesse tanto assim… Sou desse modo com a poesia, a escrita, as músicas. Amo escrever! - pude ver um sorrisinho de canto no rosto dele. Achei meigo a maneira como ele falava tranquilamente, baixinho.

— Eu também escrevo. Bem, não sempre, mas costumo anotar alguns pensamentos e ideias que tenho. Já fiz o roteiro de alguns musicais com ballet, mas… Não tive coragem de dar continuidade, nem nada do tipo.

— Jura? - ele ergueu uma sobrancelha e pela primeira vez, me olhou nos olhos. — Que bacana. Um dia desses, a gente pode compartilhar alguma coisa… Vou gostar de ver os seus talentos.

— C-claro… Vemos isso. 

Me dei conta que já estávamos na frente da sala de aula, a última aula do dia. Nós entramos e a Rosalya acenou para que eu sentasse ao lado dela, então fiz isso sem me despedir do Lysandre. Eu sentia uma ansiedade boa agora, aquela sensação de sorrir sem motivo algum. Me sentia meio boba, mas estava gostando de começar a conversar com o Lysandre.

Quando sentei-me ao lado da Rosalya, ela me dirigiu um olhar malicioso, mas não deu tempo de fazer nenhum comentário e o professor entrei em aula. Agradeci muito aquele professor por isso e mergulhei nas minhas anotações, sem dar chance de ela falar alguma coisa. Já teria que responder coisas de mais quando a aula chegasse ao fim...

 


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Notas finais do capítulo

Se encontrarem algum errinho, favor me dizer nos comentários, pois hoje eu estou bastante desatento!
xoxo
.elli



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