OMNITRANIL (Ben 10 - Força Alienígena) escrita por TarryLoesinne


Capítulo 4
Felino-concreto-avô




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789396/chapter/4

 

― Pronto, Gwen? ― perguntou Kevin.

― Ainda não.

Gwen e Kevin voltaram para as proximidades da Estação de energia de Bellwood. Mais especificamente no local em que Albedo pousou em sua forma apopplexiana. No centro da cratera que havia se formado, estava Gwen utilizando de seu conhecimento mágico para procurar rastros do vilão. Já Kevin se mantinha encostado em seu carro, impaciente.

― E agora?

― Ainda não.

Qualé, Gwen, isso vai demorar quanto tempo ainda?

― Se você me deixar trabalhar talvez eu consiga terminar antes.

― Tá, tá, foi mal, continue...

Kevin olhava para a paisagem ao redor. Em um extremo da estrada se via a Estação de energia com suas torres de eletricidade agrupadas por detrás de um grande muro. No outro, se via a entrada da área comercial da cidade, com seus prédios e outdoors. No meio de todo esse caminho, a floresta de clima temperado que preenche boa parte do terreno desocupado de Bellwood. No céu, a mesma lua crescente de outrora.

― Consegui! ― disse Gwen.

― Finalmente! Já não aguentava mais esperar.

Por entre as mãos de Gwen, três esferas róseas, orbitavam entre si. Os orbes se afastaram um do outro e, rodeando Gwen, desceram até tocar o fundo da cratera. Gwen se afastou de dentro do buraco. Um conjunto de quatro pegadas semelhante à de um felino gigante se iluminou no centro do local.

― E agora? ― perguntou Kevin.

― A gente espera.

― A gente já sabe que ele caiu aí ― disse apontando.

― Kevin, por favor, só fica quieto e espera!

― Tá bom! Tá bom...

De dentro da cratera, uma trilha de pegadas apareceu e seguiu em direção à estrada.

― Para dentro do carro, vamos! ― disse Gwen.

― Agora você está falando minha língua.

As pegadas felinas alcançaram a estrada e continuaram em direção à área comercial da cidade. Kevin seguia dirigindo logo atrás da trilha que se iluminava, como se estivessem perseguindo uma criatura invisível com as patas sujas de tinta fosforescente.

Depois de cerca de cinco minutos de estrada, o silêncio dentro do carro começava a ficar incômodo. Gwen ora olhava para a paisagem além do vidro do passageiro, ora olhava para a trilha. Kevin mantinha-se atento a estrada, não desviava o olhar nem para verificar os retrovisores.

― Gostei do GPS ― O jovem osmosiano quebrou o silêncio. ― Além de literalmente desenhar o caminho pra gente, não tem nenhuma voz chata mandando vire pra cá e vire pra lá. O que foi que você fez?

― É um feitiço de rastreamento ― respondeu Gwen. ― Em qualquer lugar que Albedo tenha pisado ou tocado o feitiço vai denunciar.

― Devo dizer que é bastante útil.

― E fofo também ― ela sorria orgulhosa.

Não demorou muito e o silêncio voltava a novamente encontrar espaço dentro do veículo...

― O que vamos fazer se encontrarmos Albedo? ― O jovem osmosiano quebrou o silêncio.

― Eu não sei.

― Da última vez-

― Eu sei ― cortou Gwen.

― Da última vez ― Kevin insistiu, ― ele acabou com a gente.

― Eu sei, Kevin.

Mais silêncio...

― Você está com medo? ― Ela perguntou.

― Não sei...

― Como assim não sabe?

― Sabe que eu tô na dúvida sobre isso?

― Se está ou não com medo?

― Exato. Estou em dúvida se devo parecer forte perto de você para tentar te impressionar ou se devo confessar que estou absurdamente apavorado.

Gwen riu.

― O que foi? ― ele também sorria.

― Só mesmo você pra me fazer rir numa situação horrível dessas.

― Humor não é muito meu forte, mas eu tento.

― Mas você tem razão ― disse ela, ― o que vamos fazer quando acharmos ele?

― Abordagem agressiva talvez não funcione.

― Kevin Levin não escolhendo violência ― disse com um falso ar de impressionada ― essa é nova.

― Ainda estou dolorido da surra que levei ― disse girando o ombro direito. ― Além de que nós dois concordamos que o principal é descobrir o que o Albedo fez com o Tennyson.

A fala de Kevin forçou ela a retornar para a realidade. Gwen voltou o olhar, com tristeza, para a trilha de patas. A memória dos gritos do primo ressoou em seus ouvidos.

As pegadas felinas de repente mudaram de forma e adquiriram um aspecto de marcas de tênis no asfalto.

― Acho que foi aqui que Albedo voltou ao normal ― disse Gwen apontando para as marcas que começavam a se aproximar dos primeiros prédios da cidade.

― Que tal pararmos o carro por aqui por perto e seguirmos a pé?

― Acho uma boa ideia. Talvez assim conseguimos nos aproximar sem chamar atenção.

Kevin parou o carro na primeira rua à esquerda que encontrou. Os dois saíram do carro e seguiram as marcas rosa de tênis que se acendiam pelas calçadas da cidade.

Continuaram por dois quarteirões em linha reta, depois atravessaram uma rua e seguiram à direita, outra curva para a esquerda e já estavam na metade de um quarteirão quando ouviram o som de latas de lixo exercendo a função de obstáculos no beco mais próximo.

Gwen e Kevin correram em direção ao ruído. Ao se aproximarem, se esconderam junto à entrada do beco para olhar o que poderia ter causado o som.

Viram, flutuando por sobre as latas de lixo derrubadas, duas pequenas naves piramidais cinza e verde que lançavam feixes de escaneamento nos restos de comidas e lixo esparramados pelo chão.

― O que são eles? ― Gwen cochichou.

― Sei lá ― ele cochichava também. ― Não reconheço o estilo das naves de nenhum lugar.

― E o Albedo? Está vendo ele em algum lugar?

― Não. Tem certeza que veio para cá? ― perguntou Kevin.

― Tenho sim, olha para o chão, as pegadas estão entrando no beco.

Kevin e Gwen acompanharam com o olhar as marcas que se iluminavam beco adentro. Suas cabeças só pararam de acompanhar a trilha quando o olhar cruzou com os dos visores das naves que coincidentemente também estavam curiosos sobre as manchas que se acendiam pelo chão.

— Droga! — Kevin se afastou da entrada do beco puxando Gwen pelo braço.

— Parados! — uma voz metalizada ordenou de uma das naves.

Obviamente a ordem não foi seguida e os dois corriam pelas ruas comerciais vazias.

― E agora? ― perguntou Kevin.

― Vira ali! ― respondeu Gwen.

Ao virarem uma esquina, foram de encontro a uma das naves que flutuava em meio ao ar. Pelas costas, outras duas naves se aproximavam e, então, eles se viram encurralados num semicírculo, com apenas a parede de um prédio em suas costas.

― Identifiquem-se ― disse outra voz metalizada.

― Identifiquem-se vocês! ― reclamou Kevin ― Quem são vocês e o que estão fazendo na Terra?

― Kevin, o que você está fazendo? ― Gwen perguntou baixinho

― Não sei ― ele respondeu baixinho também. ― Ganhando tempo?

As naves flutuavam silenciosas. Os únicos sons que se ouviam eram os dos motores e propulsores que mantinham as naves numa leve oscilação no ar.

― E então!? ― questionou novamente, Kevin. ― Quem são vocês?

O mesmo feixe de escaneamento de outrora passeou pelo corpo de Gwen e Kevin analisando cada centímetro dos dois jovens.

— Identificados traços de energia Omni em ambos os seres derivados de carbono. — disse uma das naves. — Segundo o artigo 876-KFL900-000000�0111BN100-A0-0...

— Código meio grande, não? — disse Kevin.

— ...045JGFF: vocês estão presos.

― O quê!!! ― disseram ao mesmo tempo.

Uma argola metálica foi disparada em direção à Gwen, travando seus braços junto ao corpo e empurrando-a contra a parede do prédio.

― Gwen! ― Kevin gritou, segundos antes de também ser preso por uma argola.

Ele tocou a parede atrás de si e sua natureza osmosiana lhe permitiu absorver a composição do prédio. Em questão de instantes, sua pele adquiriu uma tonalidade acinzentada, de textura seca. Seu corpo tornou-se composto do mais puro concreto. Em seguida, Kevin forçou os braços contra a argola metálica fazendo-a ranger e abrir como um anel de latão.

Sem tirar os olhos das naves, ele perguntou à garota:

― Você está legal?

― Estou sim ― respondeu ela, já com os olhos emanando uma luminosidade rosa. ― Pode indo na frente.

― Você é que manda! ― Ele correu em direção a nave que prendeu Gwen e, com um soco, lançou o veículo alienígena no prédio do outro lado da rua.

Já a garota cobriu-se de uma tonalidade rosa ao formar um escudo por todo seu corpo, no espaço entre sua pele e o metal da argola. Essa silhueta rígida começou então a se expandir e abrir a prisão circular até romper de vez a argola. Assim que se viu livre, Gwen estilhaçou a sua silhueta mágica e começou a disparar discos de mana nos visores das naves, afastando-os a cada impacto dos discos.

Das laterais das naves surgiram, um de cada lado, cilindros com aberturas circulares em sua extremidade anterior que começaram a disparar lasers em direção aos jovens.

Gwen se defendia com uma barreira circular em uma das mãos e, com a outra, tentava acertar os sistemas de armas das naves, no entanto, era difícil mirar enquanto era obrigada também a se defender.

Já Kevin aproveitou que sua pele concretada lhe garantia uma certa resistência e optou pelo ataque bruto. Ele fez suas mãos crescerem como dois enormes blocos e, como um boxeador, dava ganchos e socos que soavam como um automóvel chocando-se contra um poste repetidas vezes. Uma fumaça de concreto sendo espatifado acompanhava cada golpe.

Uma nave foi presa dentro de uma bolha mágica de Gwen e arremessada em direção a um carro estacionado nas proximidades, amassando boa parte da lataria e fazendo disparar o alarme do veículo no meio da noite. O som era bastante incômodo, mas não o suficiente pra fazer alguém vir conferir o carro. Como sempre.

― Nenhuma forma de resistência será tolerada! ― disse uma das naves ― Entreguem-se!

― Tá bom que a gente vai― respondeu Kevin, arrancando um poste de semáforo do chão e rebatendo a nave como uma bola de beisebol.

A nave caiu rolando pela rua e só parou quando se chocou com uma banca de jornal na calçada. O barulho ressoou pelas ruas junto com o alarme do carro que continuava apitando insistentemente.

A única nave restante encarava Gwen Tennyson como num duelo de faroeste. As duas mantinham-se atentas para quem faria o primeiro movimento. Do armamento direito da nave, um feixe laser foi disparado contra a garota. A jovem girou seu corpo para trás e para direita desviando do laser, ao mesmo tempo em que sua mão esquerda projetou uma enorme palma de mana e estapeou a nave, arremessando-a contra uma loja de eletrônicos. O som de vidro, metal e produtos tecnológicos sendo estraçalhados era de fazer qualquer nerdtech se afogar em lágrimas. E o alarme do carro continuava a berrar.

― Boa! ― Kevin corria em direção a jovem.

― Mas o que são essas coisas?

― Eu sei lá... ― Ele olhava para os arredores e para o rastro de destruição que a luta gerou. ― Já faz um tempo que eu não saio do planeta então não sei dizer. Mas daqui com certeza não é, isso é tecnologia de nível quatro pra cima.

― A gente tem que contar isso para o Vovô.

— Boa ideia. No carro eu tenho um comunicador e espera um pouco...

— O que foi?

— Percebeu que o alarme chato parou?

Realmente não se ouvia mais barulho nenhum. Gwen e Kevin se viraram em direção ao carro do alarme e percebeu que um líquido negro e brilhoso, com pequenos feixes azuis como circuitos, escorria das laterais da nave e recobria as ferragens do veículo. Aos poucos, a lataria, volante, motor e eixos de pneus eram retorcidos e incorporado à nave. O que antes era uma espaçonave triangular pequena, agora se transformava numa máquina bípede de cerca de três metros e meio de altura. Uma nave-carro-robô, diria Ben, se ele tivesse presente.

―  Ele está incorporando a tecnologia... ― disse Kevin, seus olhos fixos na máquina

― Eu já vi isso antes ― disse Gwen. ― Parece com o que Ship faz.

― Mas mecamorfos galvânicos como o Ship apenas controlam a tecnologia e não a deforma e transforma em algo totalmente diferente do original!

― Tem razão...

— E Gwen... — Kevin olhava em direção à loja de eletrônicos com a vidraça estilhaçada — Acho que temos problemas ainda maiores.

De dentro da loja, ouvia-se um chiado elétrico, acompanhado de flashs de luz e sons de metal sendo retorcido. Ouviu-se um som de aspirador e, de novo, mais chiados.

― Para o carro! ― gritou Gwen.

Os dois correram pelas ruas, fazendo o caminho inverso à da trilha de pegadas. Atrás deles, a nave-robô-carro corria e disparava grossos feixes de lasers do que eram os faróis do automóvel. Os jovens tentavam se desviar dos tiros que levantavam fumaça e detritos quando atingiam o asfalto e as construções ao redor.

Gwen vê a poucos metros a sua frente um hidrante na calçada e grita para Kevin:

― Vá buscar o carro, vou tentar atrasá-lo!

― O que você vai fazer?

― Eu tenho um plano, agora vai!

Kevin acelerou ainda mais a corrida enquanto Gwen diminuía o ritmo e concentrava em suas mãos uma quantidade considerável de energia. Ela passou pelo hidrante e, depois de alguns passos, virou-se e disparou um forte feixe de mana na calçada aos pés do objeto avermelhado, fazendo sua estrutura enfraquecer o suficiente para não aguentar a pressão e disparar um forte jato de água para o céu.

O carro-nave-robô parou de correr assim que viu o hidrante se romper evitando assim que a água o atingisse.

― Ah, qual é! ― disse Gwen; sendo, em seguida, obrigada a se desviar de outro feixe laser que veio por detrás da água do hidrante.

Ela então se lembrou de um fenômeno comum entre água e talheres e decidiu adicionar um novo passo ao seu plano. Usando mais uma vez de magia, ela projetou uma forma côncava — algo que lembrava uma grande colher — por sobre o jato do hidrante, fazendo a água ser desviada contra o robô-carro-nave-carro-robô—, ah! Esquece. Vocês entenderam.

A nave alienígena começou a sofrer com a sua circuitaria em curto e se debatia chocando-se contra os prédios, lançando faíscas e fumaça de seu interior.

― Gwen! ― gritou Kevin de dentro do carro, que em um drift, já oferecia o lado do passageiro para ela.

― Por que demorou tanto?

brincando, né? ― disse já arrancando o carro em direção à estrada.

Gwen passava as mãos pela roupa que estava cheia de respingos.

― Conseguiu avisar o Vô Max?

― Tentei, mas parece que o comunicador dele está desligado.

― O Vovô nunca desliga o comunicador.

― Dessa vez ele desligou.

― Estranho. Vou tentar de novo.

― Tenta daqui a pouco ― Kevin olhava no retrovisor do meio ― agora a gente tem outros problemas pra se preocupar.

Gwen olhou para trás e viu um aglomerado bípede preto-metálico, feito de monitores, notebooks, geladeiras, aspiradores e umidificador de ar, intercalado por fios e cabeamentos, com uma nave piramidal servindo de cabeça, virando uma das esquinas e correndo atrás deles.

Parece que a madrugada vai demorar pra acabar...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "OMNITRANIL (Ben 10 - Força Alienígena)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.