OMNITRANIL (Ben 10 - Força Alienígena) escrita por TarryLoesinne


Capítulo 32
O significado do termo




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― Seu maldito! ― disse Ben. ― Por culpa sua eles-

― Minha culpa? ― interrompeu Albedo.

― Sim, sua culpa! ― o jovem apontava o dedo na cara de Albedo que permanecia sentado nos degraus.

― Mesmo? Então por gentileza me explique o que necessariamente foi minha culpa em toda aquela situação?

Ben silenciou. Albedo continuou.

― O fato de não ter me entregado a um bando de psicopatas? Desde quando eu sou suicida? Ou a mulher que foi eletrocutada? Pois que eu saiba, eu não estava dentro da nave apertando o botão de execução! ― Albedo levantou-se e encarou Ben. ― Talvez você esteja se referindo à todas as pessoas feridas pelo grito dos sonorosianos, ah, mas quase me esqueci, foi você o responsável!

Ben recuou e abaixou a cabeça.

― Sinceramente, Tennyson, esse negócio de ficarem me culpando por todas as besteiras que ocorrem nesse planeta medíocre já está me irritando. Tudo é “Albedo isso, Albedo aquilo”. Façam, me um favor, arquem com as consequências de seus atos!

― Olha só quem fala! ― disse Ben. ― Não ouse dar uma de inocente agora. Você pode até não estar envolvido diretamente com os acontecimentos de hoje, mas tudo que aconteceu ali está de alguma forma ligado a você!

― É mesmo? Então me explique ― Albedo cruzou os braços, ― sou todo ouvidos.

― Os alienígenas das naves vieram atrás de você e do superomnitrix que está em seu braço!

― Poxa, eles estragaram a surpresa.

― E graças ao que você fez ao meu relógio, eu não... Eu...

― Quase matou uma dezena de pessoas?

Ben encarou Albedo que esboçava um sorriso maldoso.

― Isso... ― disse Ben.

Albedo começou a caminhar ao redor do jovem. Então continuou:

― Engraçado você trazer esse ponto, Tennyson, mas é aí que você se engana. Eu não tenho culpa nenhuma nesse tal “problema” do Omnitrix.

― Como não!? Depois da nossa luta na estação de energia, quando você tentou arrancar o Omnitrix do meu peito-

― Verdade, tentei mesmo.

― Minhas transformações têm ficado cada vez mais... Instáveis.

― Belo eufemismo.

Ben respondeu com olhos preenchidos de raiva:

― Você furou o relógio com suas garras!

― E está furado agora?

Ben olhou o relógio em seu pulso esquerdo. Com exceção da luz que mantinha-se oscilando entre verde e vermelho, nada mais de diferente se observava no dispositivo.

― Não...

― Você subestima o Omnitrix, Tennyson. Acha mesmo que Azmuth não adicionaria um recurso de reparo no relógio caso fosse necessário? Os furos foram apenas perfurações na carcaça externa...

― Mas isso não explica-

― O quê? ― interrompeu Albedo.

― Não explica as dores nas transformações.

― É logico que não! Uma coisa não tem nada a ver com a outra...

― Então o que está havendo com o Omnitrix!?

― Ah, agora está interessado?

― Vamos, me fale!

― E se eu disser que perdi totalmente o interesse em conversar contigo? ― Albedo vira de costas para Ben e caminha afastando-se do jovem.

― Não me faça te obrigar! ― Ben levanta seu braço esquerdo e posiciona sua mão direita sobre o núcleo do relógio.

― Você é mesmo impressionante, Tennyson! ― Albedo vira-se e abre os braços ― Como se já não bastasse ferir todas aquelas pessoas no parque, ainda quer causar mais vítimas no meio da área residencial?

Ben olha para sua mão direita que tremia.

― E as pessoas ainda têm a audácia de me chamar de vilão. Com heróis como você para protegê-los, nem tem necessidade de eu tentar algo, basta que você resolva salvá-los e a cota de vítimas do dia já se completa...

O que eu tô fazendo? ― pensou Ben.

― Abaixe essa mão, garoto ― disse Albedo seriamente. ― Já em condições normais você não teria chances contra mim e o Superomnitrix.

O jovem abaixou os braços e encarou o chão.

― Eu vou te fazer uma pergunta, Tennyson. Por que você acha que eu quero tanto voltar à minha forma galvaniana?

― Eu não sei, por detestar ser um humano?

― Também. Mas a principal razão é que eu não sei por quanto tempo mais conseguirei me manter são o suficiente para querer voltar à minha forma original.

― Não entendi.

― Quando você se transforma, seu corpo é submetido a um processo complexo demais e que você provavelmente não será capaz de entender, mas que no fim resulta em uma estrutura que o próprio Azmuth chama de constructo.

― Sim, ele já me falou algo do tipo.

― E ele lhe falou as consequências disso?

― Consequências? ― perguntou Ben.

Albedo soltou uma leve bufada pelo nariz e esbanjou um meio sorriso:

― É claro que não lhe falou. Ele nunca fala...

― Do que você está falando?

― Efeito Omnitranil. Alguma vez ele já lhe falou sobre isso?

― Omnitra... nil?

― Exatamente.

― O que seria isso?

― Se você conhecesse um pouco mais da história do Grande Pensador Azmuth, o ser mais inteligente em três galáxias e blá, blá, blá, saberia que ele tem um longo histórico de criações incríveis, mas todas com um problema em comum.

― Que seria?

― Todas as suas criações cobram um preço.

Ben arregalou os olhos. Tentou pronunciar algo, mas não sabia bem o que falar. Albedo continuou:

― Basta acessar alguma enciclopédia intergaláctica ou fazer alguma busca pela própria Extranet. Toda criação dele traz consigo um preço a se pagar. Suas incríveis armaduras mecamorfo-galvânicas tornaram soldados em guerreiros sociopatas isentos de piedade. Houve uma tal espada de grande poder que não apenas acabou com guerras, mas com espécies completas. Até mesmo a lua de Galvan prime não escapou de seu ego e no processo de terraformação, uma criatura foi obrigada a existir e agora vive a mercê do ódio a sua própria existência.

― Está dizendo que-

― Estou dizendo que com o Omnitrix não foi diferente. Eu errei ao tentar recriar uma versão do Omnitrix para mim, mas agora vivo a minha vida a poder me livrar do fardo que a criação de Azmuth me impôs antes que o Efeito Omnitranil se abata de vez sobre mim.

― E-e o que esse tal Efeito O-omnitranil faz?

― Simples, você se torna cada vez mais dependente das transformações para poder agir como um indivíduo funcional em meio a sociedade.

― Eu não entendi...

― Desde a primeira transformação que você sofreu, seu corpo pede mais e mais para que você seja exposto à toda a complexa tecnologia envolvida nas transformações!

Ben encara o relógio. Albedo então diz:

― Azmuth não te transformou num herói, Tennyson. Azmuth te transformou num viciado...

O jovem encara Albedo, seu rosto empalidece e suas pernas tremem perdendo força.

― N-não... ― disse Ben ― Está mentindo! Você está mentindo!

Albedo silencia, permitindo o jovem lidar com as informações.

― Você está mentindo. Com certeza está ― Ben caminhava de um lado para o outro. ― E-eu sou um herói. E-eu me transformo para salvar pessoas!

Ben aproxima-se do rosto de Albedo e apontando para si diz:

― Eu salvo as pessoas!!! ― Uma lágrima escorre por sua bochecha ― E-eu me transformo para ser um he-herói...

― Você sabe que no fundo eu estou falando a verdade ― diz Albedo.

― Não...

― Vamos, Tennyson, pense.

Ben focou a atenção nas suas memórias. O quanto se sentia bem em se transformar. Virar alienígena pelo simples prazer de se transformar. Encarava vilões e aceitava missões pois sabia que precisaria mais cedo ou mais tarde se transformar no Quatro-braços ou no Enormossauro para surra alguém. Lembrou-se da vez que viajou ao futuro quando criança e conheceu uma versão sua, o Ben 10.000. Sua versão do futuro que nem ao menos retornava à sua forma humana mais...

Ben sentiu vontade de vomitar. Ajoelhou-se e nauseou, mas sem conseguir colocar nada para fora.

Albedo agachou-se próximo ao garoto e apoiou uma mão nas costas dele.

― Agora que pensou por alguns instantes, acredita em mim?

― Não! ― Ben afasta a mão de Albedo e começa a se levantar. ― Há buracos nessa tua teoria absurda!

― Mesmo?

― Você diz que o Omnitrix me faz desejar cada vez mais virar alien, mas não explica o porquê de eu estar sofrendo tanto com as transformações. Isso só me faz querer desistir de transformar!

― Você não compreende mesmo a fisiopatologia envolvida num processo de dependência, não é moleque!? É uma questão de tolerância!

― Chega de ficar falando difícil e desembucha logo, que droga é essa de tolerância!?

― Por que você acha que Azmuth nunca deixou você ficar com o controle-mestre do Omnitrix?

Ben se recordou de todas as vezes que Azmuth reiniciou o Omnitrix e o impediu de manter o controle mestre por um tempo prolongado. E no final, sempre dizia que ele ainda era novo demais ou que quando fosse o tempo certo ele iria descobrir e utilizar.

― Quanto mais você se transforma, mais seu corpo pede e quando você não se transforma o suficiente, a experiência se torna desagradável. Para que volte a se tornar a sensação habitual, você precisa se transformar cada vez mais!

Ben leva as suas mãos à testa e passa os dedos por entre os cabelos. O jovem não conseguia ficar parado.

― Se você tivesse o controle-mestre, você atingiria um nível de tolerância dos efeitos das transformações muito rapidamente e não demoraria nada para que o Efeito Omnitranil ficasse ainda mais evidente em seu organismo. Foi a desculpa que Azmuth usou para esconder o efeito colateral de você o máximo que pôde.

― Não, não, não...

― Não seja infantil, Tennyson, negar não vai te ajudar a sair dessa!

― E o que você quer que eu faça, hein!?

― Eu? Eu não tenho que querer nada! Você é que precisa decidir o que quer fazer!

Ben voltou a caminhar de um lado para o outro.

― Se você quer ficar livre das dores, então se transforme!

― Você enlouqueceu? Você sabe o que acontece com as pessoas ao meu redor-

― Então vá para um lugar isolado e se transforme até não poder mais! Vire todos os “heróis” que quiser até os efeitos da transformação supere a tolerância!

― Você sabe que eu não posso fazer isso, não depois de tudo que você me disse!

― Então desista de tudo!

― D-do que você está falando?

― Remova o Omnitrix e livre-se de vez da fonte de seu vício.

Ben apoia uma mão sobre o dorso da outra e encara o Omnitrix em seu pulso.

― Deixe essa história de “herói” para trás e vá viver sua vida de adolescente terráqueo comum!

― Eu sabia...

― Sabia o quê?

― Eu sabia que tudo isso não passava de um plano seu para que no final eu desistisse do Omnitrix!

― O quê!?

― Você quer pegar o relógio e inventou toda essa história para que eu-

― Cala a boca! ― interrompeu Albedo. ― Apenas cale a boca e pense por um só momento, Tennyson. Não percebe?

Ben mantém segurando seu braço com Omnitrix junto ao corpo.

― Olhe para você, Tennyson, a condição patética em que se encontra. Essas últimas falas não são suas, é seu cérebro tentando proteger a fonte de seu vício, não consegue ver?

O jovem arregalou os olhos, o tremor em seus braços fazia seu corpo todo sacudir.

― Você não se torna um “herói” porque as pessoas precisam de você. Você se torna um “herói” porque precisa satisfazer a si mesmo...

Ben recua um passo, depois dois, por fim se vira e corre em direção à porta de entrada de sua casa. Com violência ele fecha a porta atrás de si ao entrar.

― Até mais, Tennyson. Adorei a conversa ― Albedo se vira e segue caminhando pela calçada.

Dentro de casa, Ben corre pelos recintos até chegar ao seu quarto. O garoto entra e tranca a porta, assim como fecha janelas e cortinas. Por fim, joga-se na cama e cobre-se por completo com seu edredom. Em meio a escuridão sob o cobertor, apenas a luz oscilante verde e vermelha do Omnitrix.

E ali ele permaneceu.

Só.

Apenas ele e seus pensamentos.


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