OMNITRANIL (Ben 10 - Força Alienígena) escrita por TarryLoesinne


Capítulo 27
De um lado para o outro




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Acostumado a sempre ver a jovem lhe seguindo como uma obediente assistente, Azmuth estranhou a imagem de Eunice à sua frente. De costas para ele, a jovem se preparava para avançar contra os guardas da prisão.

A Unitrix sempre foi tão alta? ― pensou

Azmuth encarou o cubo mecarmofo em suas mãos. Queria ter tempo para encontrar uma melhor solução para a situação, mas infelizmente não tinha. E mais do que isso, parecia que a jovem Unitrix já tinha um plano preparado para caso algo desse errado. Um plano que consistia em se sacrificar pelo bem dele. Nada muito diferente do que ele havia feito...

― Vão agora! ― disse Eunice antes de partir numa corrida corredor adentro em direção aos guardas.

― Eunice, espere!

Mas era tarde demais. Para Azmuth restou apenas ver a garota avançar em alta velocidade, saltando pelas paredes e incapacitando os galvanianos pelo caminho.

O cientista aproximou-se de Max Tennyson que jazia imóvel no chão. Segundo os sensores da armadura, o humano se encontrava vivo e isso teria que bastar por hora. Contudo, não se sabia quando uma nova crise poderia surgir novamente...

Azmuth apertou um botão no cubo e um líquido negro, com circuitarias verdes começou a revestir seu corpo. Em questão de instantes o cientista de cerca de trinta centímetros adquiriu a estatura de um mecamorfo galvânico de dois metros de altura. Com cuidado, Azmuth levantou Max (também revestido do líquido metálico) e o apoiou em suas costas. Por razões distintas, nenhum dos dois eram capazes de ativar suas armaduras para a forma bélica, lhes restando apenas uma fuga sorrateira, pelo menos até chegarem na nave.

O cientista ouviu um estrondo vindo do corredor, em seguida um silêncio. Os sons dos disparos ou das mochilas a jatos dos guardas pareciam abafados. Alguém ― e Azmuth sabia quem ― havia selado o corredor de alguma forma.

Azmuth firmou seus braços ao redor do Magistrado em suas costas e seguiu em direção à saída.

***

Eunice saltava de um lado para o outro, escapando dos disparos que vinham em sua direção. Utilizando do DNA de Musca domestica, reagia ao ambiente com um reflexo que beirava o irritante. Pulou em direção a uma parede e em pleno ar substituiu o DNA, permitindo-se ficar grudada e correr lateralmente à gravidade como uma boa Hemidactylus mabouia.

― Você não tem como fugir, humana! ― gritou um guarda. ― Vamos, desista dessa ideia idiota!

Eunice não respondeu, continuou a correr pela parede, em direção ao teto da prisão. Como um enxame de abelhas, os guardas de mochilas-à-jato a perseguiam, atirando incessantemente.

― Tragam logo outro blindado! ― ordenou o guarda ― Ela está longe dos outros prisioneiros, é a oportunidade que precisamos para abatê-la e acabar logo com isso!

Eunice percebeu que a situação começava a mudar no solo, mesmo assim, continuou sem parar de se mover por um só segundo. Seu plano consistia em manter os guardas ocupados o máximo possível para permitir Azmuth e Max escapar. Um plano que beirava o suicídio, pois sabia que a qualquer instante os guardas desistiriam de tentar capturá-la viva.

Um novo veículo encouraçado adentrou o largo corredor das celas e iniciou a carga de um de seus projéteis.

Parece que o tal instante havia chegado.

A jovem saltou, buscando atravessar de um lado a outro do corredor, desenhando um arco sobre o ar. O blindado acompanhou o movimento da garota e então disparou. O projétil luminoso atravessou por entre os guardas voantes nos arredores e acertou Eunice ainda em pleno voo.

O corpo da garota foi arremessado em direção ao ponto mais extremo do corredor. Com o impacto, ouviu-se sons de estilhaços e chiados ecoando pelo ar. Uma luz vermelha passou a piscar insistentemente, avisando os presentes que a segurança de uma das celas havia sido violada.

***

Graças à confusão de Eunice, Azmuth e Max conseguiram percorrer o caminho restante sem ser incomodados por funcionários da prisão. Vez ou outra um som súbito se aproximava, obrigando o cientista se esconder em alguma sala de administração que se encontrava destrancada. Com o soar dos alarmes, todos os funcionários civis haviam sidos evacuados para não ficarem no meio de um possível fogo cruzado.

Mas agora não fazia mais sentido se esconder. Assim que virassem na próxima esquina estariam de frente à entrada da prisão. A mesma dos detectores de metal de outrora. Dessa vez, um conjunto de dez guardas mantinham-se fortemente armados e dispostos a disparar contra qualquer organismo que atravessassem seu campo de visão.

Preciso de uma distração... ― pensou Azmuth.

O cientista regrediu alguns metros enquanto pensava num plano. Retornou a uma das salas da administração e apoiou o Magistrado no chão, com as costas numa parede. Azmuth se aproximou de um dos computadores. Um documento parcialmente digitado era exibido na tela, com todos os termos jurídicos e difíceis que apenas amantes da burocracia do dia-a-dia eram capazes de suportar sem desejar chocar o próprio crânio contra uma parede. O cientista começou a navegar por entre pastas e por fim percebeu que o acesso dessa sala se restringia a documentos e arquivos. Mas se esse computador se encontrava conectado aos servidores da prisão, era só uma questão de atravessas as barreiras de conexão.

Utilizando de cerca de 0,00000056% de sua inteligência, Azmuth atravessou barreiras de firewall, desvendou senhas ridículas de elaboradas e derrubou décadas de trabalhos da equipe de T.I. Por fim, se viu com as plantas da prisão à sua frente, com gráficos que representavam o sistema elétrico e os encanamentos ligados aos extintores do local. Era o que ele precisava.

Já os guardas da saída se mantinham com suas armas em riste. Haviam recebido as informações de que um dos invasores e o prisioneiro Azmuth conseguiram escapar e era só questão de tempo de chegarem naquela posição. A ordem era absurdamente clara: abater sem dar chance de reagir.

De repente, as luzes da prisão piscaram cerca de duas vezes antes de se apagarem por completo. Luz verdes de emergência se acendem no local, apenas permitindo que não se envolvessem numa profunda escuridão. Mas o pouco que os galvanianos conseguia enxergar ficou totalmente prejudicado com o acontecido a seguir: os sistemas de contenção de incêndio dispararam por toda a prisão, espalhando uma nuvem de pó branco por todo estabelecimento.

Os guardas até tentavam manter suas posições, mas com a visão totalmente prejudicada e a névoa dificultando para respirar, ficava difícil manter qualquer foco. Subitamente um dos guardas grita para os demais:

― Tem alguma coisa em meio a fumaça, atirem!!!

Mesmo com os disparos, o vulto negro avançou contra os guardas. O impacto arremessou os funcionários da prisão para os lados e Azmuth se impulsionou contra as portas da prisão que se romperam como uma bomba numa latinha de refrigerante.

O cientista parou por uma questão de segundos apenas para conferir as condições de Max apoiado nas suas costas. Pela imagem reproduzida no canto inferior de seu visor, o Magistrado ainda permanecia desacordado.

Subitamente um sinal de alerta dispara em seu visor. O cientista salta para trás desviando por uma questão de centímetros de um laser que corta o solo à sua frente de um lado para outro.

Já não estão tentando me capturar vivo... ― pensou Azmuth.

***

Eunice abre os olhos e vê o ambiente girar ao seu redor. Sua cabeça dói. Ela leva a mão até sua região occipital em busca de algum machucado, contudo, tirando a dor, não há sinal de lesões.

Caída entre destroços da parede de uma cela, ela move seu corpo aos poucos, avaliando possíveis danos. Parece que escolher o DNA do Priodontes maximus segundos antes de ser acertada foi uma excelente escolha, pois tirando o desconforto das contusões, não chegou a quebrar nada.

Eunice olhou ao seu redor, mas não encontrou nenhum sinal de outro organismo dentro da enorme cela. Aliás, o que uma cela grande como essa mantinha contido? A jovem levantou de onde estava e olhou através do buraco que seu corpo fez na parede. Os guardas se encontravam focados em um novo problema. Um problema de três metros de altura, com cicatrizes que lembravam uma colcha de retalhos e parafusos em locais anatomicamente sem sentido. Um transyliano segurava um dos guardas com uma mão e com a outra absorvia a eletricidade dos dispositivos elétricos ao seu redor.

― Essa não! ― disse Eunice.

Uma situação que não estava em seus planos. Todos dentro daquela prisão tinham seus motivos para estar ali e muitos deles foram parar naquele lugar antes das loucuras de Fahtzi. Se um desses doidos escapassem poderia colocar em risco vários civis de Galvan Prime.

Eunice retorna para a parte posterior da cela para pegar distância.

Macropus rufus! ― disse Eunice para seu headphone de lado único.

A pelagem do canguru vermelho revestiu a parte interna de suas luvas e Eunice não hesitou em absorver as capacidades físicas do animal. Posicionou-se e então lançou-se buraco afora.

O transyliano utilizava do guarda refém como forma de impedir a aproximação dos demais. Precisava de algum tempo para recarregar as baterias, se pode assim dizer. No entanto, sua força exagerada e sua raiva mal contida fazia com que apertasse o galvaniano em sua mão mais do que deveria, de tal forma que o guarda estava prestes a perder a consciência.

Pelos cálculos do prisioneiro, o guarda iria apagar de vez no momento exato que ele conseguisse recuperar toda sua energia, então era só uma questão de tempo para poder exterminar todos esses ratos cinzas metidos a inteligentes.

De repente, o transyliano sentiu como se dois pés apoiassem em suas costas e abruptamente um impulso arremessou seu corpo pelo corredor até fazê-lo chocar-se contra o veículo blindado.

Com o movimento, o prisioneiro soltou o guarda desmaiado. Eunice aparou o galvaniano ainda no ar e com cuidado posicionou o funcionário no chão.

Será que eu demorei demais?

De repente ele começa a tossir, como se seus pulmões finalmente voltassem a ter a liberdade para se expandir adequadamente. Eunice respirou aliviada.

― Humana, se afaste dele ― disse um guarda.

Eunice levantou a cabeça e viu que se encontrava novamente cercada. Dessa vez tomaram o cuidado de não deixar nenhum espaço possível para que ela conseguisse escapar.

― Nossas ordens foram claras de não permitir que você saia daqui viva, mas nós vimos o que você fez pelo nosso companheiro. Por isso, não nos obrigue a atirar e se entregue pacificamente.

Eunice respirou profundamente. Não sabia bem o que lhe esperava a partir de agora, mas estando viva, poderia um dia voltar a ver Azmuth e o pessoal do laboratório. Começou a levantar os braços lentamente.

Subitamente as luzes do corredor se apagam e os extintores passam a espalhar uma nuvem branca e densa por todo o local. O porquê de isso acontecer não importava agora.

Eunice solicita o DNA da Condylura cristata e, em meio a confusão que se instalou, foge para se esconder.

***

Azmuth observou as naves policiais que flutuavam à frente da prisão. Todas armadas com canhões de artilharia, com capacidade de atravessar o corpo de um talpaedano sem dificuldade. Não era do feitio da polícia galvaniana utilizar de tanta força para conter um fugitivo. A não ser que a ordem não fosse capturar...

Fahtzi deve ter ordenado minha morte... ― pensou Azmuth. ― Garoto ignorante...

O cientista não se via em condições de continuar avançando. O revestimento mecamorfo não resistiria a um só disparo das naves. Já com a forma bélica da armadura a história é outra. Quanto tempo ele seria capaz de aguentar o impulso neuronal da tecnologia? Minutos? Alguns segundos? Onde raios a Unitrix pousou a nave?

Um novo disparo veio em sua direção. Mesmo desviando, o raio laser pulverizou parte do material metalo-orgânico que correspondia a suas pernas. Eles não estavam para brincadeira.

Azmuth não se viu em outra situação que não fosse arriscar:

― Ativar armadura.

A composição liquiforme adquiriu texturas, segmentos e diferenciações internas e, em questão de instantes, uma armadura mecamorfo galvânica revestia o corpo do cientista. Em suas costas, Max permanecia desacordado.

Com a ativação do dispositivo, Azmuth sentiu um choque atravessar seu sistema nervoso. Um intenso impulso primitivo atingiu seu sistema límbico e ele sentiu a ira tomar conta de seu ser.

Não! Se acalme! ― pensava ele. ― Não perca o controle!

Uma das naves disparou em sua direção. Azmuth, sem hesitar nem por um segundo, levantou seu braço esquerdo e lançou uma bola de energia que consumiu o laser e seguiu em direção à nave que se desviou por pouco.

Se controle, Azmuth!!!

Com o contra-ataque agressivo do fugitivo, as naves policiais adotaram uma nova abordagem: deixaram a posição estática em meio ao céu e uma a uma passaram a se mover desenhando curvas e círculos no ar. Em simultâneo, três feixes lasers foram lançados em direção à Azmuth.

Incapaz de pensar com a racionalidade necessária para ter o mínimo de compaixão, Azmuth ergue um de seus braços canhões em direção às naves e dispara. No entanto, um movimento abrupto move sua mão para o chão, obrigando a bola de energia a atingir o solo e levantar uma grossa nuvem de poeira.

― Azmuth, desative a armadura imediatamente! ― disse Max Tennyson, segurando o braço do cientista em direção ao chão.

― Max?

O cientista demora alguns instantes para entender a situação que se estabelecia. Em suas costas já não mais se encontrava o colega caído e pela sua expressão exibida no visor, havia seriedade e um certo desapontamento em seu olhar.

― Vamos, Azmuth, desative a armadura! ― repetiu Max.

― Claro, claro...

Azmuth voltou a sua forma de revestimento e antes mesmo de dizer algo, um disparo laser cortou o solo ao seu lado.

― Malditos! ― berrou Azmuth ― Max, onde raios você e a Unitrix pousaram a nave!?

― No “estacionamento”?

― E onde fica isso? Aqui não é bem um lugar que eu costume visitar!

― Me siga! ― disse Max. Após dar dois passos ele coloca a mão à frente da passagem de Azmuth e diz ― Eunice! Onde ela está?

― Na prisão.

― O quê? ― Max desviou de outro laser ― Você deixou ela para trás!?

― Mas é claro que não! Ela se deixou.

Max ativa sua armadura e projeta um escudo a partir de seu braço direito, desviando outro disparo contra eles.

― E você simplesmente aceitou isso!?

― É lógico que não!

― E por que não voltou para buscá-la?

― E quem disse que eu não vou voltar!?

Max observou Azmuth pela imagem em seu visor e, de todos os anos que conhecia o cientista, nunca viu uma expressão de determinação tão firme como a que ele se encontrava nesse instante.

***

Eunice se encontrava escondida atrás do balcão do refeitório. Os extintores já haviam cessado, mas a nuvem branca ainda teimava em assentar. A respiração da garota era rápida e cansada. Sentia sua musculatura vibrar com o esforço e uma dor em sua nuca sinalizava que continuar alterando seu DNA dessa forma poderia pôr em risco a estrutura de seu constructo.

Por que eu simplesmente não me entreguei naquela hora? ― pensou Eunice.

Talvez porque a ideia de ficar contida no interior de um espaço minúsculo simplesmente lhe apavorava? Talvez por não ter garantia nenhuma de que ficaria presa? Fahtzi com certeza mandaria ela ser destruída na primeira oportunidade que a encontrasse. Não... Precisava arrumar um jeito de sair dali... No entanto, o grito que veio a seguir levou consigo suas esperanças:

― Humana! ― gritou um guarda.

Eunice mudou de posição e lentamente elevou sua cabeça acima do nível do balcão para olhar em direção à entrada do refeitório. Munidos de óculos de visão de calor, um grupo de guardas adentrava voando o local em busca.

A jovem se agachou novamente e assim permaneceu. Fechou os olhos e pensou consigo:

Agora é só uma questão de tempo...

De repente um sinal sonoro como um leve apito soou três vezes em seu headphone. Eunice levou a mão ao dispositivo, contudo só obteve silêncio. Outra vez o apito tocou triplamente em seu ouvido, fazendo a ansiedade tomar conta da garota.

Eunice olhou para uma de suas luvas e uma pelagem cinza-amarronzada envolvia a palma da vestimenta. Seria algum defeito? A garota tocou a pelagem e absorveu o DNA do Corynorhinus townsendii. No mesmo instante ouviu uma conhecida e rabugenta voz ressoar em seus ouvidos:

― Quem é a criatura inteligente que desenvolve um dispositivo de comunicação que serve apenas para captar comandos, mas não recebe nenhum tipo de retorno?!

Azmuth!

Uma lágrima tremeu no canto do olho da garota.

― Olá, Eunice! ― disse Azmuth ― Espero realmente que você esteja bem. Eu e Max já estamos de volta à nave e estamos utilizando uma frequência de sons que provavelmente apenas você está ouvindo nesse exato instante. Claro, isso se você entendeu a minha dica e absorveu o DNA que lhe selecionei.

Eunice ouvia Azmuth como se estivesse conversando com ele a pouco metros dele. No entanto, os sons próximos dos motores dos guardas e as ordens que eles davam entre si ecoavam dentro do cérebro da jovem, dando-lhe uma dor de cabeça imediata.

― Eunice, me diga, onde você está? ― disse Azmuth.

A garota pensou por alguns instantes. Como conseguiria se comunicar sem revelar seu esconderijo? Levou a mão ao headphone e torceu para que assim como o sinal sonoro soou em seu ouvido, que também chegasse à nave. Usando um conhecido sistema de código usado pelos marinheiros humanos, Eunice informou sua exata posição.

― Max, essa garota enlouqueceu ― disse Azmuth. ― O que raios significa esse monte de apitos!?

Eunice segurou o riso. Aprendera o código em um dos livros que leu na biblioteca sobre cultura humana. Sorte a dela que o Magistrado era da Terra.

― Deixe me ver ― disse Max. ― Isso é código Morse. Só um segundo... Ponto, longo, ponto, espaço, ponto, espaço, ponto, ponto...

Eunice repetia o código em seu headphone procurando garantir que o Magistrado não perdesse nenhuma letra. Por fim:

― Refeitório. Ela está no refeitório!

― O que estamos esperando? Vamos! ― disse Azmuth. ― Eunice, estamos nos aproximando. Preste atenção, ao meu sinal, desative o DNA e salte em direção à saída!

Como é? Que saída?

― Agora!

Sem pensar muito, Eunice desativou o DNA de morcego-de-orelha-longa e aguardou. Um estouro se ouviu e um buraco se abriu na parede leste do local.

Essa saída!

A garota saiu de trás do balcão e avançou pelo refeitório em direção ao novo foco de luz. Gritos dos guardas ordenavam que ela ficasse parada, mas se ela não obedeceu a nenhuma das ordens anteriores, não era agora que ela ia. Disparos passaram rente ao seu corpo, errando por coisa de milímetros, até que finalmente ela alcançou a saída.

Eunice saltou para fora e caiu numa cambalhota sobre o teto da nave encanadora. Uma pequena abertura se abriu no teto permitindo que a jovem entrasse. A garota desceu direto na cabine principal, sendo recebida por Max com um forte abraço!

― Eunice, minha jovem!

― Magistrado, que bom te ver novamente! Mas não se preocupe comigo. O senhor, como está?

― Isso não importa agora! ― disse Max ― O que importa é que você está bem!

― Na verdade nada disso vai importar se não sairmos daqui ― disse Azmuth secamente.

― Tem razão ― disse o magistrado, voltando para a cadeira do piloto ― Computador!

Sim, magistrado.

― Ativar piloto manual. Deixa que eu cuido a partir de agora!

Sim, magistrado.

Eunice aproximou-se lentamente do painel de computadores, local onde seu criador se encontrava. Abaixou a cabeça e encarando o chão aos seus pés, disse:

― Senhor Azmuth, e-eu...

― Levante a cabeça, Eunice, e olhe em meus olhos! ― disse Azmuth.

Eunice encarou Azmuth. Sabia que havia desrespeitado dezenas de ordens do cientista e acabou por fim ainda se colocando em perigo, precisando ser resgatada.

― Muito obrigado, Eunice.

― O-o quê? ― disse a garota.

― Você é uma jovem incrível e, mais uma vez, provou que criar você foi um dos maiores acertos em minha vida! ― Azmuth abaixou a cabeça em reverência. ― Muito obrigado por me resgatar.

Eunice não conseguiu conter suas lágrimas de felicidade. A jovem que esbanjou coragem e inteligência por todo esse período, finalmente se permitiu ter um momento de verdadeira felicidade.

Até mesmo em Max uma lágrima tremeu no canto de seu olho.

Senhor Magistrado ― disse o computador da nave. ― Nossos sensores mostram que todo o planeta se encontra novamente lacrado, impossibilitando que avancemos além da atmosfera de Galvan Prime.

― Eunice e Azmuth, algum dos dois tem uma ideia? ― perguntou Max.

O galvaniano e a jovem se entreolharam, mas nada disseram. Cada um seguiu para um dos painéis do computador e iniciaram suas pesquisas.

― Ok, isso parece ser um não.

Senhor Magistrado, aproximação de naves ao leste e sul.

― É claro que eles voltariam...

― Eu disse pra você destruir as naves! ― disse Azmuth.

― Sim, você disse... ― respondeu Max.

― O que houve, senhor? ― disse Eunice.

― Em nossa fuga, várias naves de polícia galvânica nos cercaram e ao invés do Max simplesmente destruir as naves ele optou por lançar um impulso eletromagnético contra os veículos deixando-os desligados, mas inteiros...

― E por que, Magistrado?

― Achei que eram naves tripuladas...

― Ele achou que eram naves tripuladas! ― berrou Azmuth ― Faz décadas que utilizamos drones para perseguição aérea exatamente para evitar acidentes com pilotos!

― Tá, tá. Agora vamos, ao invés de ficar berrando comigo, já encontrou uma forma de sairmos daqui!?

― Sim, já achei! Para seu azar sou capaz de gritar com você e encontrar uma solução para o nosso problema ao mesmo tempo!

― Que seria?

― Siga em direção à torre tripla do Conselho de Galvan e jogue a nave entre a torre B e C.

― Como é!? Enlouqueceu de vez, Azmuth?

― Faça o que estou dizendo.

― Sem chance! Deve haver outra forma de-

― Magistrado ― Eunice pousou uma mão no ombro de Max ― Ignore seu jeito rabugento, mas por favor, confie nele.

Max pensou por alguns segundos, então disse:

― Computador, traçar rota para o espaço entre as torres B e C do Conselho de Galvan.

― Muito obrigada, Magistrado. Eu irei para a artilharia tentar derrubar os drones.

― Tome cuidado. ― disse Azmuth com um tom de voz paternal.

― Tomarei.

Os drones policiais finalmente alcançaram a nave encanadora. Max movia a espaçonave pelo ar, desviando dos disparos enquanto Eunice lançava feixes lasers contra seus perseguidores. A imagem beirava um festival de fogos improvisados no céu de Galvan, envolta em luzes e explosões.

Senhor, estamos nos aproximando do destino ― disse o computador.

― E agora, Azmuth? ― disse Max.

― Ative o hiperespaço.

― Se eu simplesmente deixar os drones nos atingir morremos do mesmo jeito, quer bancar o kamikaze e levar o Conselho com a gente? ― disse Max ironicamente.

― Não sei o que são kamikazes, mas mantenho a indicação de que deve ativar o hiperespaço nesse exato instante.

Max encarou Azmuth e, novamente, a expressão determinada se encontrava desenhada em seu rosto.

― Peço aos céus que não esteja errado. Computador, ativar hiperespaço.

Sim, Magistrado.

A nave encanadora aproximava-se das torres do Conselho Galvânico quando sua imagem se tornou esguia e, num lampejo, desapareceu num ponto entre os dois prédios.

Os drones policiais pararam sua trajetória e ficaram rodeando no ar, procurando sinais da nave dos fugitivos.

***

Órbita expandida do planeta Keplorr, lar dos Galileanos.

Thurkn e Rhutel preparavam-se para começar o ritual. O casal de galileanos por anos planejaram a sequência e a trajetória necessária para a criação desse núcleo primordial. Aproximaram-se e deram as mãos. Lentamente começaram a girar numa romântica dança de roda.

Em seguida, soltaram as mãos e deformaram-se em suas formas esféricas sem parar o movimento. Os dois galileanos funcionavam como dois planetas que orbitavam entre si, emitindo ondas gravitacionais por todo o universo. No centro de sua dança da criação, um pequeno ponto enegrecido começava a surgir, distorcendo a luz que se aproximava.

Uma felicidade tomou conta dos alienígenas que passaram a se mover em órbita com ainda mais entusiasmo. O pequeno buraco negro passou a atrair pra si poeira estelar e fragmentos de meteoros que tiveram o azar de passar por ali. Um belíssimo anel, como o de saturno, começava a circundar o ponto negro.

De repente o casal galileano foi tomado de uma súbita preocupação, pois num lampejo, uma imagem esguia saiu de dentro do núcleo e lançou-se em direção ao espaço aberto. A imagem finalmente tomou forma e os alienígenas viram uma nave encanadora surgir e continuar seu caminho como se nada tivesse acontecido.

Thurkn foi tomado de uma profunda irritação, mas no momento que se moveu para atrair a nave, sua companheira chamou sua atenção: o ponto enegrecido já se encontrava revestido de matéria sólida e começava a avermelhar-se. Era um momento crucial do processo, por isso, Thurkn decidiu deixar os vândalos para mais tarde e se focar no momento mais importante de sua vida: o nascimento de seu primogênito.

Northyl. O casal já havia até decidido o nome. Se chamará Northyl.


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