OMNITRANIL (Ben 10 - Força Alienígena) escrita por TarryLoesinne


Capítulo 23
Verdades Cristalinas




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É ele... ― pensou Kevin.

Seu sangue começava a ferver.

Finalmente eu o encontrei...

Seus pensamentos perdiam a racionalidade.

Por culpa dele...

Olhar para o seu rosto lhe obrigava a encarar sua própria impotência.

Por culpa dele o Ben quase morreu!!!

Ele encarou os olhos vermelhos de Albedo. Seu cabelo branco. Seu sorriso irônico.

Foi mal, Gwen...

Kevin avançou e segurou a blusa de Albedo com uma mão. Com a outra ele socou o rosto do vilão.

― Você! ― gritou Sir William ― Pare agora mesmo!

Ele não ouvia, nem mesmo à própria razão. Preparou para dar o segundo soco.

― Mas que pessoa mais mal agradecida –Albedo contia sua raiva num sorriso irônico. De uma fissura em seu lábio escorria um filete de sangue

Kevin parou o braço no ar e disse:

― O que você falou!?

― Te chamei de mal agradecido! Eu esperava um “obrigado” mas sou recebido com socos.

― E por que eu deveria te agradecer, hein, desgraçado!? Por não ter acabado contigo antes? Não seja por isso! ― E socou novamente.

― Se não fosse por mim, você ainda estaria preso naquele maldito labirinto!

― Por você!? ― Kevin riu ironicamente ― Eu não acreditando nisso! ― Mais um soco.

Albedo virou o rosto, fez dois movimentos circulares com a mandíbula e cuspiu sangue no chão de pedra da cripta. Seus olhar encava a mancha vermelha de sangue no chão, então disse:

― Eu já sabia que você não era o mais inteligente dos patetas, mas parece que sua falta de intelecto deve se destacar entre todos da espécie, não é possível...

― O que você disse!? ― Kevin preparou o braço para um novo soco quando Albedo lhe interrompeu.

― “Enfrentou”, seu inapto! A resposta tava na maldita história! Se você não ativasse as armadilhas das salas você não conseguiria avançar! ― Albedo apontou para os cavaleiros ― Esse rebanho de palermas valoriza mais a tal “coragem” de se atirar numa situação suicida do que lidar de maneira racional com algo!

Kevin abaixou um pouco o braço e encarou o chão, procurando se lembrar do poema. Não se lembrava de nenhum “enfrentou”. Só conseguia se lembrar de George dizendo que as armadilhas eram perigosas e que poderiam matá-los.

― Mas o que estou dizendo... ― disse Albedo, um sorriso misto de ironia e frustração desenhou em seu rosto ― É lógico que você não seria capaz de perceber isso.

― Você ativou as salas... ― disse Kevin baixinho.

― Foi o que eu disse.

O jovem lembrou de todo o sufoco que passou. Tempestade, chuva de lasers, uma serpente metálica cuspidora de fogo... As feridas em seu corpo ainda latejavam.

― E então? ― disse Albedo ― Cadê o obrigado?

Kevin o atinge novamente. Dessa vez, amassou a cartilagem do nariz e fez brotar um filete de sangue pela narina do vilão. Levantou o braço para próximo soco e-

Uma flecha passa entre o espaço dos rostos dos dois, sumindo em meio a escuridão da câmara anterior e ecoando um som de explosão. Os dois viram o olhar em direção aos cavaleiros e encontram Sir William abaixando um arco tecnológico e o entregando para um dos Cavaleiros ao seu lado. Ele então diz com sua voz grossa e impassível:

― Espero que vocês não tenham se esquecido de onde se encontram nesse momento...

Na verdade, eu esqueci... ― pensou Kevin.

― Solte-o ― disse o Sir.

Albedo empurra Kevin e se solta da mão do jovem. Em seguida, ele leva o dorso da mão ao nariz e limpa o sangue que escorria.

Os soldados-cavaleiros mantinham-se preparados, com a mira das armas focada nos invasores. Junto ao Sir William, três outros cavaleiros se destacavam pela sua grandiosidade, imponência e postura arrogante. 97% de chance de serem Sirs.

― Nome? ― disse Sir William a Kevin.

― Kevin Levin.

― Já ouvi sobre você. Um mestiço, se não me engano.

Kevin não respondeu.

― E você deve ser Albedo.

― Correto.

― Pois bem, ambos estiveram nas últimas horas presentes em nossas instalações, conhecendo nossos preceitos e regras, logo, já sabem o que acontece com escórias como vocês.

― Na verdade... ― Albedo levantou um dedo pedindo atenção ― Antes de seguimos com as atividades planejadas, que acredito eu, serão bastante divertidas, não duvido disso; eu tenho uma dúvida: Como descobriram meu disfarce?

― Sua gentileza ― respondeu o Cavaleiro.

Kevin se intrometeu na conversa:

― Como é? ― disse indignado.

― Já desconfiávamos que o alienígena Albedo tentaria invadir as nossas instalações com base em seus movimentos nos últimos dias. Apenas nos focamos em identificar o membro de nossa Ordem que estivesse com comportamento fora do habitual, caso houvesse a tentativa de disfarce.

― Sim, eu imaginava isso ― disse Albedo, ― agora o “gentileza” é que eu não entendi.

― Já havia passado mais de doze horas e nenhum dos novos recrutas havia pedido para abandonar o treinamento.

― Ok, agora eu fiquei impressionado ― disse Albedo olhando para Kevin. ― Eu realmente me dediquei para transformar a vida dos recrutas num inferno...

Kevin se continha para não partir pra cima do vilão.

― O nosso escudeiro é famoso pelos seus métodos de seleção dos mais fortes.

Métodos de seleção? ― As memórias de Kevin sobre todo o bullying que sofreu ou testemunhou nas mãos do Escudeiro-Albedo voltavam como num claro caso de estresse pós-traumático.

― O recorde dele, se não me engano... ― O Líder dos Cavaleiros olhou para o colega Sir do lado e balançou a mão como se necessitasse de ajuda para lembrar de uma informação.

― Três minutos e quarenta e sete segundos ― respondeu o colega.

― Isso! Três minutos e quarenta e sete segundos! Depois disso o garoto saiu correndo aos prantos sem nem ao menos ter colocado um pé muralha adentro ― Sir William sorria com a lembrança.

Kevin até quis querer entender a razão que faria um grupo de pessoas elogiar a atitude asquerosa de um subordinado. Mas não bastou muito para compreender que estava lidando com um grupo famoso pelas ações mais desprezíveis possíveis e preceitos tão repugnantes quanto.

― Bom, se não há mais dúvidas, passemos para a execução.

Um ruído agudo se ouviu de todas as armas apontadas. Os tiros começariam ao primeiro sinal.

― Devo manter as mãos levantadas? ― disse Albedo já colocando os braços para cima.

Kevin olhou para Albedo com desconfiança. O que ele está planejando?

― Fique à vontade para o que você achar melhor ― disse o Sir.

― Bem, se for assim... ― Albedo cruzou os braços por sobre a cabeça e pressionou o núcleo de seu Omnitrix.

Merda!

Kevin correu em direção a uma pilastra para se proteger da saraivada de tiros que se seguiu. Ele se espremia atrás da coluna de pedra o máximo que conseguia, mas cada tiro de laser arrancava pedaços e mais pedaços de sua proteção.

Com dificuldade, o jovem olhou com o canto dos olhos para onde antes Albedo se encontrava. Viu apenas uma silhueta humanoide sendo totalmente perfurada como um queijo suíço. Manchas vermelhas surgiam nas paredes, chão e teto a cada novo disparo. Kevin até pensou em sentir pena, mas o sentimento de vingança falou mais alto.

Bem feito...

Sir William levantou a mão e os disparos cessaram. O cheiro de queimado preenchia o ar. Aos poucos, a fumaça dos destroços arrancado de paredes e pilastras começava a se assentar. Apenas uma violenta mácula vermelha sobre o chão da masmorra restou do que uma vez fora o galvaniano.

― Não seja covarde, mestiço ― disse Sir William. ― Venha enfrentar seu destino de peito aberto como seu amigo.

Ele com toda e absoluta certeza não era meu amigo...

Kevin respirava ofegante. Buscava encontrar uma saída dali, mas as opções possíveis eram escassas. Até mesmo as opções impossíveis se encontravam com uma chance de probabilidade improvável...

Ele ouviu novamente o som agudo das armas sendo ativadas. Com cuidado olhou pelo canto da pilastra a sua esquerda e viu os soldados com as armas em mira, mas... Eles não estão mirando em mim?

― Isso mesmo, osmosiano, agora é a sua vez ― uma voz aguda ecoava de dentro da antessala escura. ― Talvez contra você eles tenham um pouco mais de sorte...

Kevin se virou em direção à mancha-túmulo de Albedo. Percebeu que aos poucos o tal “sangue” espalhado pelo solo e pelas paredes começava a regredir para um ponto único. O líquido disforme se reunia como num lago vermelho vivo. Literalmente.

O maldito sobreviveu!

Da escuridão da antessala, um pequeno drone flutuante adentrou a sala do cofre e pairou por cima do líquido. O gerador antigravitacional começou então a subir e trazer consigo a matéria liquefeita, até formar uma silhueta humanoide sem rosto, de aspecto gelatinoso.

Tendo a atenção de todos voltado para si, o polymorpho continuou então a falar:

― Devo esperar a minha vez de novo assim que vocês acabarem com o moleque osmosiano, ou não tem esse negócio de fila?

Eu, narrador, se fosse Kevin ou Albedo, venderia ingressos para as pessoas poderem apreciar a expressão de Sir William ao perceber que não apenas foi enganado, mas também estava sendo subestimado. Tudo isso na frente da grande maioria de seus subordinados e de seus companheiros Sirs. Era humilhação demais por metro quadrado. Com certeza renderia uma boa grana. Por fim, o cavaleiro-chefe ordenou:

― Acabem com esses desgraçados!!!

A bateria de tiros voltou a ser disparada contra Albedo e Kevin. O jovem apoiou a mão no solo sob si e começou a se revestir de rocha. Já o vilão avançou em direção aos soldados, desviando dos disparos com seu corpo desarticulado e sem forma definida.

Ele não pode pegar a Caótica! ― pensou Kevin.

O rapaz correu pela porção à esquerda da sala do cofre, os braços cruzados em frente ao rosto para proteger os olhos dos disparos. Assim que se aproximava o suficiente de um soldado, investia um golpe com o ombro, arremessando-o para os lados.

Kevin viu no centro da sala o receptáculo quadrado lacrado. Ao seu redor uma fileira de soldados cercava o objeto. À sua frente, um Sir com arco tecnológico disparava flechas em direção à Albedo. O maldito catarro ambulante estava com dificuldade para avançar, mas isso não o impedia de conseguir desviar de todos os golpes e projéteis que vinham em sua direção.

De repente, Kevin sentiu chocar-se contra suas costelas uma pesada bola de ferro ―  O som de ossos se partindo atingiu seus ouvidos ― sendo então arremessado até o extremo da outra sala e colidindo contra uma pilastra. O ar de seus pulmões escapou com o impacto. Parcialmente consciente, o rapaz percebeu que sua camiseta e parte de sua pele se encontravam chamuscadas. Um hematoma já começava a se formar na região de suas costelas mais inferiores.

O brutamontes de armadura se aproximou de Kevin acompanhado de dois outros soldados. Em sua mão, uma arma que era uma mistura de Camelot com Star Wars: Uma maça medieval estilizada, sendo que ao invés de espinhos, feixes elétricos emanavam da superfície lisa da bola de ferro.

― Olá, lixo! Lembra-se de mim?

A visão embaçada de Kevin aos poucos foi se normalizando, permitindo-o que identificasse o dono da voz e da maldita bola de ferro.

― E aí, velhote... Conheci teu filho. Gente boa. Totalmente diferente do pai. Ficamos até amigos!

Sir Gustav olhou com nojo para Kevin. A simples ideia de que seu filho pudesse firmar amizade com um ser repulsivo como este fez o Cavaleiro nausear de ódio. Segurou a maça com ambas as mãos e a levantou por sobre a cabeça para dar o golpe final.

Um grito de dor ecoou pelo salão, fazendo Sir Gustav parar o golpe no meio do ar.

Kevin não conseguia ver a origem do grito, mas foi capaz de ver a expressão de preocupação que tomou o rosto do cavaleiro à sua frente.

― Prendam-no ― disse Sir Gustav. ― Quero ter o prazer de acabar com ele eu mesmo. ― E seguiu a passos rápidos em direção à fonte do grito.

O jovem sentia dor da cabeça aos pés. Não tinha forças nem para reagir aos soldados que lhe levantava como um boneco e colocava algemas em suas mãos. Foi jogado de costas contra a parede da sala e mantido sobre vigia de três soldados em semicírculo.

Até que enfim algum descanso... ― pensou Kevin.

Nesse momento vamos mudar um pouco nosso ponto de vista. Iremos fazer um “Enquanto isso” pra contextualizar melhor as razões que levaram ao grito de outrora.

Vamos voltar para o instante em que Kevin saiu de trás da pilastra e avançou contra os soldados.

* * *

Enquanto isso, Albedo tentava alcançar o receptáculo da Caótica, mas o cerco ao seu redor se intensificava cada vez mais. Embora fosse no momento um organismo unicelular praticamente indestrutível, precisava ter o mínimo de matéria orgânica pra conseguir segurar o dispositivo desejado em mãos para fugir. Logo, ficar perdendo pedaços pelo caminho não era uma boa estratégia, sobrando apenas ficar se desviando o máximo que conseguia.

Mas isso estava fazendo-o perder tempo demais e tempo não era algo que ele tinha pra ficar desperdiçando dessa maneira...

Parou de desviar.

Um corte de espada atravessou sua cabeça de “uma orelha a outra” fazendo um pedaço de gosma voar e atingir o braço de armadura de um soldado. Disparos de lasers arremessaram pedaços de seu “abdome” contra os soldados atrás de si. Uma flecha atingiu o centro de seu tórax e ali permaneceu. Um leve ruído sonoro precedeu a onda de impacto que espalhou o corpo do polymorpho contra uma multidão presente.

Vitória! Pensaram os soldados.

De repente, pequenos feixes gelatinosos começam a se formar entre os vários pedaços de polymorpho espalhados no ambiente. Os soldados tentavam se soltar, mas quanto mais interagiam contra a gosma, mais ela os prendia. Subitamente, todos os feixes se tracionaram entre si, forçando os pedaços a se aglomerarem e trazendo consigo todas as vítimas da armadilha pegajosa para um ponto único.

Cerca de vinte corpos se chocaram um contra o outro com tamanha violência que poucos foram os que conseguiram manter o mínimo de consciência com o impacto. Isso se não desmaiavam logo em seguida.

De cima do aglomerado de corpos, o gerador antigravitacional sobrevoa e reúne os restos de polymorpho num organismo único. Em seguida, flutuando a poucos centímetros do chão, o corpo disforme de Albedo investiu contra os demais soldados em seu caminho até a Caótica.

Socos eram dados em mil direções. Um capanga foi agarrado e girado em pleno ar três vezes antes de ser arremessado contra os companheiros. Duas flechas elétricas vieram em direção ao polymorpho, mas acabaram acertando um soldado que foi usado como escudo. Num segundo momento, com as pernas girando como uma hélice no ar, Albedo avançou chutando cinco soldados e o Cavaleiro arqueiro.

Faltando poucos metros para atingir o receptáculo da Caótica, a massa gelatinosa do polymorpho se chocou contra a superfície de um escudo medieval que surgiu no último instante. O cavaleiro portador do escudo emitiu um grito gutural de raiva e em seguida ativou os mecanismos internos de sua defesa.

Da superfície do escudo, uma poderosa onda de choque arremessou toda a matéria gelatinosa e seu gerador antigravitacional para o início da sala do cofre, reiniciando todo o percurso de Albedo.

Sir William salta e agarra o drone flutuante no ar. Em seguida diz:

― Quer dizer que é esse dispositivo que lhe permite avançar por aí... Quero ver o que será capaz de fazer sem seu brinquedinho.

A máquina chacoalha tentando inutilmente se livrar das mãos do cavaleiro. Sir William caminha vitorioso por entre seus homens até ir de encontro ao Cavaleiro do Escudo que vinha em sua direção.

― Sir Eduardo, devo parabenizá-lo! Sua estratégia funcionou perfeitamente bem!

― Muito obrigado, Milorde ― disse o Cavaleiro do Escudo com uma voz grossa que lembrava um rugido. ― E agora, o que fazemos com isso?

― Não estão mesmo achando que venceram só com isso, né? ― disse a voz aguda do polymorpho de dentro do drone.

Os cavaleiros então percebem que no chão sob seus pés, a gosma vermelha reunia seus fragmentos. Sir William retira de suas costas um punhal e prepara-se para perfurar o drone quando seu queixo é atingido por uma mão gelatinosa proveniente do chão. Ele é arremessado, caindo de costas no chão.

Sir Eduardo posiciona-se com o seu escudo frente ao corpo. Albedo, por sua vez, circunda ao redor do corpo do cavaleiro e se agarra a várias partes de sua armadura.

― Nem pense nisso, brutamontes ― disse Albedo, sua cabeça projetando-se a frente do rosto do cavaleiro. ― Percebi que você está bastante protegido dentro dessa carcaça de metal. Eu acho que é capaz de aguentar até o tiro de um tanque se fosse preciso...

Uma gota de suor descia pelo rosto do cavaleiro. Havia raiva em seu olhar, mas seu corpo tremia de medo do que poderia vir a seguir.

― Mas ainda bem que não está enfrentando um tanque nesse momento, não é? ― Albedo arremessa o escudo do cavaleiro para um dos lados do salão. ― E se não está enfrentando nada que demande toda essa proteção... ― Ele começa a separar os componentes da armadura e arremessar pedaços da mesma para todos os lados ― ... isso tudo se torna desnecessário. Não concorda?

O cavaleiro tenta levar a mão até a cabeça do polymorpho quando sente uma dor lancinante atravessar seu braço. A matéria gelatinosa que envolvia partes do seu corpo mudou de aspecto e tornou-se corrosiva, abrindo uma longa ferida em sua pele.

Sir Eduardo emite um sofrido urro de dor que ecoa por toda a sala do cofre.

E com isso, concluímos o “Enquanto isso...”

Voltemos a Kevin.

* * *

O rapaz acordou com o segundo grito de dor.

O que foi isso!? ― pensou Kevin ― O que está acontecendo!? Quanto tempo fiquei apagado!?

Cinco minutos e trinta e sete segundos, só pra esclarecer.

Kevin tentou se mexer, mas só então percebeu que se encontrava algemado. Os três soldados ao seu redor não pareciam interessados nele, mas na confusão que se estabelecia no meio do salão. Ouviu um dos soldados dizer para o colega:

― Vamos lá ajudar!

― Você tá louco? Como é que a gente vai conseguir vencer uma coisa dessas?

― Beleza então, fica de guarda do moleque aí. Henry, você vem?

Bora.

Dois dos soldados seguem em direção à confusão. O remanescente realmente não estava preocupado com Kevin, de tal maneira que em nenhum momento se virou para ver se o rapaz ainda estava vivo ou não.

Kevin tocou o solo e absorveu rocha suficiente para cobrir seu corpo. Forçou as algemas buscando parti-las. Não conseguiu de primeira, provavelmente por estar enfraquecido. Após duas outras tentativas, conseguiu se desfazer dos grilhões. Se posicionou de pé ao lado do soldado que fazia sua guarda e perguntou:

― O que está rolando ali?

― Parece que o lixo alienígena fez um dos Sir de refém. Não sei como ele conseguiu...

O soldado olha para o rosto de Kevin e demora alguns segundos para reconhecê-lo:

― Espera aí! Você deveria estar-

Um soco de pedra na boca do estômago foi mais do que suficiente para silenciar o soldado que caiu curvado no chão. Kevin manteve por alguns segundos sua atenção focada na confusão.

Albedo revestia parte do tronco e braços de um Cavaleiro como um parasita. Buscando chegar até a Caótica, ele forçava seu refém a se dirigir até o receptáculo. Uma queimadura de ácido por vez. Caso alguém tentasse atacá-lo de alguma forma, bastava deslizar pelo corpo do cavaleiro e usar seu corpo como escudo.

― Vamos, Eduardo! ― gritava Albedo ― Eu não tenho o dia todo!

Uma nova queimadura por ácido se formava nas costas do cavaleiro, fazendo-o emitir gemidos guturais e, com muita resistência, dar um passo em direção ao receptáculo.

Ao redor do refém, os demais Sirs e soldados se posicionavam em busca de alguma brecha para atacar, mas “atacar” significava poder ferir seu colega ou superior de morte.

Kevin olhou ao seu redor. Com todas as atenções focadas em Albedo, seu caminho estava parcialmente livre até seu objetivo. Com cautela avançou escondendo-se por detrás das pilastras. Se encontrava a uma pilastra de distância do cerco de proteção do receptáculo quando ouviu mais uma vez o grito de dor do Cavaleiro.

Uma ferida borbulhava por todo o braço direito da vítima. Provavelmente ele não seria mais capaz de utilizar aquele membro. Kevin se sentiu dentro do labirinto novamente. Procurou por pistas ao seu redor do que poderia fazer. Encontrou a resposta fincada numa parede.

Albedo se deliciava com toda a confusão. Toda a luta de alguns instantes só lhe fez gastar energia e não adiantou de nada. Esses vermes não iriam desistir tão facilmente e, se eles podem trapacear usando de tecnologias, ele também pode. Mas, sinceramente, os gritos do brutamontes já estavam lhe irritando...

Observou as expressões dos soldados ao seu redor. Adorava ser odiado. Olhou para os Cavaleiros a sua frente e seus olhares de fúria faziam seu coração acelerar de excitação. Bem, talvez fosse o coração, ele não sabia dizer bem se tinha um nessa forma.

Albedo mantinha-se atento a qualquer movimento. Qualquer tentativa de golpe contra ele era seguida de um deslize covarde e um “Tem certeza que quer fazer isso? E se machucar o seu amigo aqui, hein? Olha que ele é seu superior, hein”

De repente um novo grito se ouve no salão. Mas não era de dor. Era um urro de quem avança num ataque. Albedo sorriu e virou-se na direção do som. Observou os soldados confusamente se afastarem, formando um corredor para um indivíduo que corria com um conhecido escudo medieval. “Ele não vai ter coragem de atacar seu superior”, pensou Albedo.

Então Albedo vê um olhar determinado por detrás do objeto, seguido de um sorriso irônico de um osmosiano.

Droga! ― pensou Albedo.

O polymorpho até tentou se desvincular de sua marionete refém, mas assim que a superfície do escudo tocou o corpo do cavaleiro, uma onda de choque se espalhou no local. Como da primeira vez, pedaços de matéria gelatinosa se espalhou pelo local, manchando principalmente a superfície do cofre da Caótica. O Cavaleiro foi arremessado e caiu inconsciente (mas vivo) nos braços dos companheiros.

Kevin se impressionou com o resultado. Não sabia que o escudo era capaz de tudo isso. Achou que só iria dar um empurrão e pronto. Bem, funcionou pelo menos...

O gerador antigravitacional de Albedo acertou a superfície do cofre, ricocheteou e caiu próximo aos pés de Kevin. O rapaz não pestanejou e pulou para agarrar o objeto ainda no chão. Ele sabia bem como o polymorpho funcionava.

Os soldados se reuniram ao redor de Kevin com a mira apontada para sua cabeça. Foi graças a ele que seu superior foi salvo, então, o mínimo que se espera de gratidão é que haja pelo menos um comando superior para realizar a execução. Terceirização da culpa, alguns diriam.

Kevin sentia o drone balançar em seus braços. Segurando firme o objeto, seu olhar ignorou todos os soldados e cavaleiros ao seu redor e focou no receptáculo ao fundo. Observou a gosma vermelha de Albedo lentamente invadir as frestas do cofre.

Sem o gerador você é apenas uma meleca ambulante, não vai ter como segurar a Caótica... ― pensou Kevin.

Então o drone parou de se mexer. Por alguns instantes um silêncio caiu sobre a sala do cofre. Os cavaleiros faziam os primeiros socorros no companheiro torturado. Os soldados aguardavam comandos. Kevin conseguia ouvir os sons acelerados do próprio coração.

De repente, o gerador antigravitacional em suas mãos começou a se liquefazer. O líquido transparente começou a deslizar em direção ao cofre da Caótica e penetrar por entre as frestas.

Alguma coisa está errada...

Uma explosão se espalha pela sala, arremessando fragmentos do receptáculo em várias direções. Os poucos presentes que conseguiram reagir ao evento buscaram cobrir os olhos dos destroços de aço maciço.

Sobre a superfície que antes se encontrava a caixa, uma criatura humanoide, semitransparente, que lembrava um boneco de vidro, mantinha-se de pé. Não se observava nenhum dispositivo flutuando sobre sua cabeça, mas três pequenas esferas que giravam entre si no interior do tórax da criatura.

Uma voz grossa soou da criatura, dizendo:

― Onde está!?

Os soldados entreolharam entre si sem entender. Kevin também não sabia o que responder a criatura.

Onde está o que? ― pensou Kevin ― Quem é esse cara? E cadê a Caótica!?

A figura humanoide apontou para Sir William e novamente perguntou:

― O Regulador de entropia, onde está!?

A resposta de Sir William foi um sorriso irônico, daqueles que oferecemos quando sabemos que ganhamos uma disputa ou quando nossos planos chegaram ao objetivo final, embora tenham sofrido alguns imprevistos no caminho.

Então tudo fez sentido para Kevin: Não havia nada no cofre.

Era tudo um blefe!


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