Michigan escrita por ashirogi


Capítulo 1
A recompensa


Notas iniciais do capítulo

Para iniciar a história, gostaria de desejar a todos uma boa leitura. São vocês, leitores, que fazem de Michigan uma boa história.

Primeiro livro...



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“Porque das guerras? Não seria mais sábio resolver tudo apenas se comunicando? O homem é corrompido por sua própria mente. Uma mente que só atende aos desejos e sonhos para o futuro.

Mas que futuro? O homem é uma máquina incontrolável de destruição. Enquanto tenta realizar seu sonho, também prejudica ao seu próximo.

Que próximo? Aquele seu amigo, irmão ou vizinho, qualquer pessoa no mundo que se sente ameaçado para que alguém possa realizar um sonho. Esse sonho é apenas ilusão, que no final toma o controle de um indivíduo que se torna escravo do medo.

Que medo!? O medo que move e obriga as pessoas a ir à lugares diferentes com o objetivo de se refugiar de seus inimigos e ilusões.

É esse sonho que você quer viver? É esse o sonho que todos querem? Então que morram junto com sua mente estreita.”

Aldeia dos Fogos – Abril de 1015

“Meu nome é Missouri, tenho 16 anos, e sou um... ‘faxineiro’, vamos dizer assim. Minhas pernas estão doendo, meu corpo está pesado, meus pés doem e o dinheiro ta acabando. Isso tudo é conseqüência da indisposição, pra não dizer preguiça. Sim! Eu só quero comer e dormir! Dormir é fácil, é só deitar em qualquer buraco que se acha no chão e começar a roncar. Mas comer... é outra história. Os últimos dois restaurantes em que visitei mostravam uma espécie de cardápio com uma comidinha ruim básica. Arroz com feijão por apenas 8 moedas de ouro. Eu até comeria, se essa comida de pobre não fosse tão ruim assim. É por isso que a qualquer hora terei que voltar ao trabalho. Talvez... nada! É melhor esquecer o passado...”

Missouri andava lentamente pelas ruas da Aldeia dos Fogos (geralmente cada aldeia era denominada pelo principal festival comemorado no lugar). Pensava em ir a alguma loja ou estabelecimento que lhe vendia algumas listas dos principais procurados da região, entretanto, estavam todos fechados. Sem opção, resolveu ir pegar uma lista na casa do Líder da aldeia (os Líderes possuem poder monárquico e fazem as leis de cada aldeia, cada aldeia possui um respectivo líder e cada uma segue suas ordens).

Ao chegar à frente da porta, Missouri se deparou com um dos guardas que vigiavam o local. Sem nenhuma experiência em falar com oficiais, foi falando, aparentemente, de um modo que o denunciava como um folgado:

- E aí cara! Eu vou falar com o Líder!

- Sinto muito, ele está descansando agora e, por isso, não poderá te atender. – o guarda lhe reprimiu.

- Qual é! Eu só quero pegar a parada lá.

- Parada!? Não entendi.

- É aquela parada que tem umas paradinhas!

- Que? Do que está falando?

- Da lista! ...dos procurados!

- Ah! É claro! Preciso que me entregue a sua licença.

Missouri entregou a licença de ‘faxineiro’ para o guarda e logo lhe veio uma resposta:

- VOCÊ É MISSOURI?? – o guarda perguntou.

- É... porque? Algum problema? – Missouri respondeu, com medo.

- Todos! Eu sou seu fã! Ouvi falar muito sobre você!

- E o que disseram sobre mim?

- Que você é um faxineiro muito famoso, que já resolveu milhares de casos, - Missouri se animou por um momento - e em todos você ficou todo nervosinho e matou os procurados a quem lhe dariam uma recompensa! – o guarda terminou e o sorriso de Missouri desapareceu.

- Não precisava lembrar isso! Mas em? Eu sou famoso por aqui?

- NÃO! Só eu te conheço! – o guarda disse, tentando esconder o tom sarcástico.

“Guarda idiota! Se eu achar esse merda fazendo gracinha com a minha cara, não vai sobrar ninguém pra contar a história dele.” – Missouri pensava, tentando não levantar algum soco contra aquele oficial.

Tendo que agüentar tal ‘pressão’ (qualquer besteira era motivo de briga para Missouri), Missouri pegou a lista com o guarda e se ausentou dali. Já um pouco longe dali, Missouri se assentou no pé de uma escada e começou a ler a lista de procurados. Virava e... virava páginas, mas não conseguia encontrar alguém que valesse muita recompensa. Até achar uma homem de nome estranho e começou a ler sua ficha:

Ronny Kato, mais conhecido como Kato Trapaceiro. Idade desconhecida, provável entre 30 e 50. Condenado a prisão de 7 anos por roubo e assassinato em série. Foi visto pela última vez perto da entrada da Aldeia dos Pássaros. Recompensa pela captura: O$ 50.” – terminou de ler e pensou consigo – “Não é muito dinheiro, mas dá pra fazer um rango!”

Aldeia dos Pássaros – Junho de 1015

“Relatório do dia 22 de Junho: Eu ainda não achei o Kato! Mas eu estou prestes a conseguir a maior pista de onde está esse idiota. Finalmente, eu já tava ficando cansado.” – Missouri pensava enquanto escrevia em seus ‘arquivos’, que quase nunca serviam para nada.

Missouri chegou até um bar velho e acabado, onde as paredes estavam rachadas e o teto parecia que ia cair, chamado ‘Marmadillo’.

“Isso é nome pra bar??” – Missouri pensava, inutilmente, enquanto entrava para interrogar o dono do bar.

Foi-se chegando e pedindo uma bebida:

- E aí, cara! Me vê uma dessa ‘Pinga del Erva del Cachaça Preta’!

- ...cai fora! – respondeu o dono do bar, que estava no balcão.

- É assim que você trata seus clientes? ‘Cai fora’?

- Você não é um deles! É apenas um garoto idiota que acha que sabe tudo. Você é muito novo pra andar por aí bebendo. É a lei meu jovem.

Missouri se irritava cada vez mais, mesmo assim continuou com o ‘jogo’:

- Lei? Você fala de lei? Eu vou dizer pra você o que é lei. Esse bar aqui fede a sangue, eu consigo sentir o quanto o cheiro revela que muita gente aqui não segue a lei e acaba matando as pessoas. Qual é!? Eu sei que muita gente já morreu aqui. Então se não quiser ter uma cabeça separada do corpo me dá essa bebida.

- ... – o dono do bar ficou por um tempo em silêncio, até observar que o jovem carregava uma espada nas costas, ele tinha que ser algum caçador de recompensas - ...você é um daqueles caras que brincam de lei, né? O que você quer?

- Eu estou procurando um tal de Kato... Kato Trapaceiro, acho que é esse o nome. Pode me levar até ele?

- Eu não sei onde ele está.

- Ele freqüenta esse bar?

- ... – demorou um pouco e finalmente respondeu - ...não!

Missouri deu um sorriso estranho, como se estivesse dizendo “te peguei, mentiroso”, e disse ao dono do bar:

- Eu vejo o medo em seus olhos, não adianta tentar me enganar. Agora me diz onde ele tá!

- Eu não sei!

Missouri ficou por um tempo encarando o dono do bar sem se mexer. De repente, num abrir e piscar de olhos, Missouri deu um pulo por cima do balcão, entrando na parte interior dele, segurou na blusa do balconista, puxou a espada e o jogou contra a parede. Todos que estavam no bar se viraram e ficaram olhando aquela cena. A lâmina da espada encostava levemente no pescoço do balconista (o mesmo dono do bar). A face de Missouri tinha mudado de uma hora para outra, e agora ele parecia muito irritado.

- Vai me dizer ou não? – perguntou Missouri – Eu juro que, se não me disser, eu vou cortar a sua cabeça fora e não vai sobrar ninguém aqui pra contar a sua história.

- Tá bom... argh... eu conto... não me mata... eu... – o balconista gaguejava sem parar.

- Responde!!

- ...ele costuma ir pra ponte do Lago Verde com os comparsas dele...

- Pra que??

- ...pra roubar dinheiro de todo mundo que passa por lá... é tudo o que eu sei... por favor, eu tenho família...

“Ê desculpa furada!” – pensou Missouri.

- Se você estiver mentindo, eu vou voltar aqui e você vai ter que sofrer muito antes de morrer. Entendeu?

- Sim...

Missouri o largou e guardou a espada na bainha. Deu dois leves tapas no rosto do balconista e disse, dando um sorrido irônico:

- Bom garoto!

Um cara enorme e gordo chegou pelas costas Missouri, pôs a mão em seu ombro e disse:

- Ei baixinho! Cai fora!

Missouri arregalou os olhos, que se encheram de puro ódio, e disse num tom baixo e roco:

- Tira a mão de mim.

- E se eu não tirar? Cê vai fazer o que?

- Tenta a sorte.

E de longe se ouvia os gritos de cada criminoso que estava no bar. E de longe também se via Missouri abrindo a porta e saindo do bar. Então, partiu ele para a ponte do Lago Verde (verde era só o nome, o lago era normal como todos os outros).

Chegando lá, Missouri observou cinco pessoas agredindo outra pessoa indefesa, caída no chão. Os arruaceiros atacavam com chutes enquanto a vítima se contorcia no chão, gemendo por socorro. Aquilo deixou Missouri com sede de vingança... espera! O que estaria pensando? Ele precisava daquele dinheiro, não? Antes que pensasse em alguma besteira, Missouri se segurou e continuou com o objetivo de capturar Kato. E então Missouri gritou:

- KATOOOO! KATOOOO!

 Alguns metros dali, os arruaceiros pararam de agredir a vítima e olharam para a entrada da ponte, afinal havia alguém chamando. Missouri foi andando em direção àqueles criminosos enquanto eles também andavam em direção de Missouri. Ao chegar um perto dos outros, estes o cercaram, eram cinco contra um. Porém somente um levantou a palavra em direção a Missouri, provavelmente era o Kato.

- Uou! Quem é você?

- ... – Missouri permanecia calado, com os lábios trêmulos, prendendo o sorriso.

Enquanto isso os outros discutiam:

- Ii! Esse cara é mudo?

- Como pode ser mudo? Ele tava gritando...

- Esse otário não fala nada?

- Kato! Vamos bater nesse cara!

- Saiko, porque quer bater nesse idiota?

- Nada... o olhar dele... me irrita!

Missouri então levantou a cabeça, abriu os olhos e disse musicalmente:

- Te achei! – Missouri puxou a espada fez um movimento estranho, que Kato não conseguiu acompanhar, e abaixou a espada.

Kato ficou observando seus comparsas caírem no chão cada um com a cabeça decepada. Enquanto Missouri se distraía, Kato puxou uma faca do bolso com a mão direita e saiu correndo em direção a Missouri, que estava de costas.

- Mooooooooorraaaa!! – Kato gritava enquanto direcionava a faca antes que este se virasse.

Tarde demais, Missouri virou um pouco a cabeça e conseguiu observar Kato correndo em sua direção. Já estava bem perto, mesmo assim Missouri virou-se rapidamente, levantou a espada e a empurrou fortemente em direção ao chão. Kato parou de correr, direcionou o olhar para trás e pode observar o seu braço direito sendo lançado para longe. Olhou novamente para Missouri e começou a gritar amedrontadamente:

- AAAAAAAAAAAAAHHHH! Meu braço... seu... desgraçado!! Arf, arf, arf... o que você é??

- O que eu sou? Eu sou... o seu pior pesadelo.

No mesmo momento Kato caiu no chão, se arrastou por um tempo e se levantou novamente. Correndo de Missouri, Kato tropeçava em seus próprios pés, até o momento em que se desequilibrou e caiu da ponte. Missouri ficou olhando para Kato se afogar, mas não fez nada para ajudá-lo. Até que... ele afundou. Missouri pôs a mão no rosto e pensou consigo.

“Perdi dinheiro... e ganhei infelicidade...”

Mais tarde, Missouri voltou a ler a lista, quando achou um nome estranho, mas que já tinha ouvido antes. Ele leu em voz alta:

- Michigan Yujiro...

Missouri ficou olhando por um tempo com os olhos quase fechados, até que se lembrou. Sim! Era aquele nome que carregava seu passado. Missouri abriu os olhos, mostrou uma expressão de decepção e amassou o papel com a lista. Pôs as mãos nos olhos e abaixou a cabeça, dando gemidos de raiva. Ele se levantou e olhou diretamente ao pôr do Sol, lembrando-se de tudo. Aquilo que ele sempre quisera esquecer ainda estava em suas lembranças, e nada poderia deixar que ele voltasse atrás para corrigir seus erros, fazendo dele o que ele era. Agora ele sabia que deveria proteger aquela pessoa. Seu antigo passado acabara de voltar para lhe assombrar, esse era um triste fim para aquela vida, mas um começo e tanto para um grande desafio.


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Notas finais do capítulo

Continua...

Salve este autor da infelicidade e envie um review de verdade!
Com estrelinha e tudo



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