Trono de Sal escrita por psalexxs


Capítulo 2
Cap 1


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo contém violência física e ingestão alcoólica.



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Each day a choice gets made, you think it's yours to make, but you’re wrong.

As saias dela giraram e giraram enquanto seus braços se moviam em sincronia. Era a primeira vez que Rosalie trajava um vestido em pelo menos um mês; vestidos não eram práticos, não se podia montar rapidamente em um cavalo ou atirar uma sequência de flechas sem acabar rasgando o tecido ou ficando presa em alguma coisa. Agora, no entanto, não havia motivos para lutar ou fugir, pelo menos naquela noite. 

Amun tinha ido embora enquanto eles discutiam, corrido para o seu refúgio para se esconder de tudo e de todos como já era esperado dele. A não ser que lhe atacassem diretamente, Rei Amun fingiria que nada acontecia ao seu redor.  Por outro lado, Vladimir havia ficado, assim como seus soldados que comiam o banquete como se seu Rei o merecesse. 

Rosalie balançou a cabeça tentando escapar desses pensamentos e aproveitar o som de flautas que a pequena banda disponível no castelo menor tocava, era agradável e limpo e a fazia pensar na voz de sua mãe, mesmo que ela nunca a tivesse ouvido, gostava de pensar que a voz de uma mãe soaria mais ou menos assim. 

Jasper tomou sua mão e a girou muitas vezes pelo salão, deixando-a tonta e risonha. Bom, os giros e o vinho, mas ela não mencionaria isso. O rosto de seu irmão não estava exatamente feliz, mas a carranca que ele ostentara durante todo o dia tinha sumido e dado lugar a uma expressão tranquila. Jas raramente sorria em público, fechando suas emoções bem fundo dentro de si como sempre fez, mas agora sua seriedade lhe conferia um ar de confiável e ponderado.

“Você tem que dançar com a filha do homem em algum momento.” Sussurrou Rose para irritá-lo.

A filha de Lorde Liam, Maggie, parecia positivamente adorável em seu vestido verde claro e seus cachos ruivos, mas nunca fora a aparência dela que afastara as pessoas. Por alguma razão, Maggie sempre fora brutalmente honesta, falando exatamente o que lhe vinha na cabeça no momento em que lhe vinha na cabeça, razão pela qual Edward saía discretamente com Jasper pela lateral sempre que ela se aproximava, mas agora não havia mais essa opção, pelo menos para Jasper depois de lorde Liam ter cedido seu castelo tão benevolentemente.

A careta de Jasper forneceu toda a resposta que Rose precisava e a loira escondeu o rosto no ombro dele para poder rir e implicar um pouco mais. 

Na dança seguinte, Edward a roubou de Jasper, gesticulando com a cabeça para a jovem Maggie enquanto prendia o riso, enviando um rei aparentemente resignado com seu destino para longe. 

Os sons do local estavam altos o suficiente para doer os ouvidos. Pratos e talheres se chocando, música, bebedeira, gritos e risadas. Os Mactus, que tomaram duas mesas inteiras para si, há muito tinham esquecido a questão com suas armas ao se deliciarem com a culinária local. Se alguém perguntasse a ela, Rosalie diria que os compreendia. Deixar suas armas longe de si, mesmo durante um banquete, era algo desconfortável, porém muito necessário. Um terço dos homens ali já tinha desmaiado de bêbado, o outro terço estava próximo a isso e os que sobravam sóbrios – ou quase isso – estavam nas rondas.

O cheiro de cerveja que vinha da boca de Edward era leve, ele era um dos que não se agradavam tanto assim da bebida a não ser em situações muito específicas. Além do mais, Lorde Liam era vassalo de seu pai, ele lhe devia o mínimo de respeito de não desmaiar na escadaria ou vomitar em tudo. 

Quando tanto Edward quanto Rosalie se cansaram de dançar, a noite já tinha avançado e metade da festa já tinha se recolhido ou desmaiado sobre as mesas. A loira se deixou cair sobre o cadeirão que tinha sido cedido ao seu irmão, petiscando pedaços soltos de cordeiro na manteiga e evitando os olhos de Emmett. 

Ela podia sentir o olhar abrasador dele seguindo-a ao longo do banquete, mas ele não fez movimento algum para se aproximar. Na verdade, os Mactus pareciam ter ritos próprios em comemorações, bradando palavras que eles não conheciam e dando de beber em seus próprios cornos feitos de chifres para Eleazer e Jasper, além de aproveitarem e muito da cerveja que estava sendo servida – e das serventes. 

Do lugar elevado onde estava, Rosalie podia ver claramente uma das serventes sentada no colo do que parecia ser um dos comandantes dos Mactus enquanto ele agarrava seus seios por sobre o vestido. A loira assistiu um segundo Mactu agarrar uma mulher de pele escura pelos ombros e olhá-la profundamente, levantando-se pra segui-la ao mínimo aceno de cabeça. Eles eram selvagens, mas ainda estavam sob o teto de Lorde Liam e teriam minimamente que se comportar.

Outro pedaço de carneiro depois, um olhar pelo salão revelou que muitos soldados do Rei Vladimir pareciam despertos, mas os de Edward também estavam. Ela levantou para procurar seu irmão quando notou algo estranho nos movimentos de um dos soldados de Vladimir, que aparentemente dormia jogado na mesa, mas o próprio Vladimir veio ao seu encontro, dando passos largos até deixá-la entre o cadeirão alto e ele. 

“Sim?” Ela questionou franzindo as sobrancelhas.  

“Daria-me a honra de uma dança?” Seu sorriso era flácido quando a mão ossuda foi estendida pra ela. A pergunta dele era um truque, ela não poderia responder que não, de qualquer forma. 

“Seria um prazer.” As palavras estavam azedas em sua boca, mas ela as disse mesmo assim, obrigando-se a acompanhá-lo até próximo à banda e a mesa que seus soldados ocupavam. 

A música tocada era lenta, o que a deixou mais próxima a ele do que seria confortável. Os olhos dela passeavam pelo salão, focando-se em qualquer coisa que não fosse a aparência francamente assustadora do seu parceiro de dança, que estranhamente não cheirava nem a vinho, nem a cerveja, essa foi a primeira pista. 

Seus olhos encontraram o soldado mais próximo a ela na mesa, a luz das velas destacando as linhas de suor que desciam em seu rosto. Estava abafado dentro do salão, mas não o suficiente para fazer alguém pingar suor em suas roupas de baile. Essa foi a segunda pista.

A mente de Rosalie rodou em uma espiral de inebriação e suspeita e ela desejou não ter bebido tantos cálices de vinho, pois seria mais fácil unir todos os fatos e chegar a uma conclusão. Rei Vladimir a girou uma, duas, três vezes, a deixando tonta e fazendo o salão se confundir em sua mente. No momento seguinte, ela sentiu algo gelado roçar sua orelha. 

Uma confusão de sons explodiu, metal contra metal, contra madeira e aço, seu rosto atingiu o chão e ela perdeu os sentidos por o que supôs serem alguns segundos. Tudo estava preto, um chiado metálico tomou seus ouvidos enquanto gotas viscosas manchavam a ponta dos seus dedos. Ela sabia que era sangue em algum lugar da sua mente, mas não conseguia encontrar em seu corpo qualquer ponto de dor além da pancada na cabeça. 

Ela piscou o que pareceu ser uma centena de vezes até seus olhos entrarem em foco, mas durou apenas um mísero segundo. Suas mãos e antebraços cobriram seu rosto e pescoço impulsivamente quando um soldado caiu sobre ela, uma espada na mão que nunca chegou a acertá-la quando alguém o agarrou por trás, içando-o de seu corpo com a força de um touro.  Rose agarrou a mesa mais próxima, tentando ficar de pé em pernas bambas, apanhando a primeira faca que encontrou disponível na mesa. 

Emmett estava agarrando-a pela cintura no momento seguinte, gritando ordens em forma de grunhidos como um animal. Ela gemeu de dor ao tentar apoiar um dos pés no chão, algo se torcera durante a queda. 

“O quê?” Sua voz mal saiu e Emmett a ignorou, jogando-a por cima do ombro e arrastando-a para o canto mais distante do salão, para longe da batalha.

Quando os pontinhos pretos finalmente pararam de dançar na frente de seus olhos, a carnificina já havia acabado e os soldados do Rei Vladimir estavam, em sua grande maioria, mortos. A mente de Rosalie estava começando a funcionar lentamente, mas baseado no choro efusivo de um pequeno grupo de serventes, dava para ter uma ideia do que tinha acontecido e do repentino sumiço de Jasper e Edward. Vladimir tinha as tinha usado para tirar os líderes do local, sabendo que Garrett e Eleazer já tinham ido. 

Devagar, Rosalie conseguiu se colocar de pé, tentando ao máximo não forçar seu tornozelo esquerdo, mancando na direção onde todas as pessoas relevantes pareciam estar reunidas. O esforço fez sua cabeça rodar de novo e ela teve que se apoiar nas mesas pelo o caminho, seus dedos entrando em contato com o fresco da cerveja e o quente do sangue. 

Como ele ousava? Uma completa violação a tudo o qual eles acreditavam, trazer armas a um banquete, atacar aquele que lhe ofereceu abrigo. Os deuses o puniriam nos sete infernos por isso, ele era um homem amaldiçoado por toda a eternidade. 

Os homens se viraram no momento que ela se aproximou, Edward estendendo o braço para ajudá-la a mancar até o lado de Jasper. Ele envolveu as mãos com cuidado ao redor do rosto dela, o polegar gentilmente circundando as feridas na lateral esquerda do rosto dela. Sua têmpora estava inchada, um galo se formaria em breve, havia cortes sangrando, fruto da pedra áspera no chão, além do lábio ter sido mordido na hora da queda e sangrar profusamente. 

“Eu vou matá-lo.” A expressão de Jasper era tão sombria que destoava do amanhecer que se infiltrava pelas janelas.

“Não, eu vou.” Rosalie rebateu, cuspindo sangue ao falar.

“Entra na fila.” Edward grunhiu, batendo seus pés, suas íris verdes contraídas de puro ódio. 

“Nós teremos tempo pra isso depois, de qualquer forma, Vladimir fugiu quando percebeu que não seria bem sucedido.” Jas passou a mão em torno da cintura da irmã, sustentando seu peso e direcionando os olhares para o homem ensanguentado dois degraus abaixo.

Emmett e seus homens formavam um grupo intimidador, todos mais altos e mais largos do que qualquer soldado de Riverlands, e todos estavam cobertos com um sangue que não era deles. A barba de Emmett pingava vermelho pelo seu peito e suas cicatrizes. Ele parecia absolutamente assustador e seguro de si. 

“Em meu nome e no de minha irmã, gostaria de agradecer a sua intervenção e dos seus homens. Vocês foram cruciais para nós. Obrigada.” A formalidade de Jasper os deixou visivelmente confusos, mas Emmett assentiu depois de um minuto pensando. “Gostaria de poder retribuí-los como desejarem.” Adicionou sério.

Naquele momento, a mente de Rosalie tinha finalmente parado de rodar e ela pôde colocar os acontecimentos em perspectiva. Emmett havia percebido algo de errado enquanto ela dançava com o Rei Vladimir, ele impedira tanto o Rei, quanto seus soldados de cair sobre ela. Ele lhe devolvera a vida. 

Contra todas as probabilidades, o líder dos Mactus retirou o largo bracelete de bronze e ouro que usava e se aproximou, abaixando a cabeça até poder olhar a princesa nos olhos. Ele tinha olhos castanhos profundos, envoltos por uma camada espessa de cílios negros e marcas de expressão que formavam pequenos sulcos em sua pele queimada de sol. Era a primeira vez que ela ficava tão perto dele, perto o suficiente para ver as sardas nas bochechas acima da barba negra. 

Os músculos da mandíbula dela travaram quando ele estendeu o bracelete, as sobrancelhas dele se movendo e acentuando os dois cortes transversais em uma delas. Rosalie engoliu, sentindo seu crânio pulsar, não pela pancada no chão, mas pela inevitabilidade do que estava prestes a acontecer. Assim como a dança com o Rei Vladimir, ela também não podia dizer-lhe não. Emmett era um aliado que acabara de salvar sua vida, um líder com o mais brutal e efetivo exército do continente. 

Com as mãos trêmulas, ela aceitou o bracelete e o colocou em seu braço, mesmo que ficasse largo demais e caísse até a dobra com o cotovelo. Ela podia ouvir o palpitar de seu coração tão alto quanto ela podia ouvir o de Jasper. Subitamente, casá-la se tornou a única escolha. 


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Notas finais do capítulo

Agora as coisas vão começar a se movimentar...



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