Mi piccola stella 

  A escuridão da noite a seguia. A pequena sombra segurou o seu pequeno ursinho de palha perto do seu rosto com medo da solidão que a ronda. “É para o seu bem” eles disseram. A sombra andou até o canto e sentou desejando a luz, mas também a temia. Aos poucos fechou os olhos e ouvindo uma voz cantar, distante mas ainda sim conseguiu identificar a cantiga. Ela não cantava palavras, ela cantava belas notas e de fraquinho sussurrava a melodia. Bem baixinho acompanhou a melodia e consegui formar palavras.

                                                      Scintilla, scintilla piccola stella...

  Ela apertou o ursinho mais forte e tentou terminar a canção. Suas pernas encolheram para perto de seu peito. No meio da escuridão um par de olhos verdes apareceu e com um tiro ela a levou. Silencioso e sem aviso seu corpo foi cedendo. Exceto suas cordas vocais. A dor em seu peito queimava implorando por ela, por um abraço, um beijo ou até um olhar caloroso. O som dos passos pesavam em seu ouvidos. A pequena sombra foi diminuindo com a chegada deles. A dor ainda estava presente mas não seria a melhor opção demonstrar na frente deles. O medo da pequena sombra paralisou assim como seu corpo e respiração.

Che cosa io mi domando tu sia...

“Prisioneira 291”

Ainda no canto do quarto na esperança deles não me verem. A sombra calou sem poder mexer, mesmo assim eles se aproximavam dela. As veias do seus corpos pulsava, seus corações batiam rápido, o sangue percorria indo e voltando ao resto do corpo. A sua garganta queimava e aos poucos a produção de saliva da boca aumentava. A sombra aos poucos tomava forma de uma menina. O corpo endureceu de tanta tentação e ela lembrou da última vez que deixou ceder por desejo e fome.

“Por favor não” Sussurrou tanto para si quanto para eles.

Um pedaço de ferro descia forçado na sua garganta. A dor pior que qualquer tortura desse lugar. A palha usada para fazer o ursinho machucava seu rosto de tão perto que estava, arranhando suas bochechas a deixando consciente de suas ações.  

Lassù, così in alto sul mondo…

A proximidade era perigosa. A música continuava a cantar quando sentia uma agulha em seu braço.   

Scintilla, scintilla piccola stella,

A raiva em si aumentou. As presas saíam devagar e formigar com o cheiro. Mesmo assim a cantiga tocava.

  Che cosa io mi domando tu sia!

Urrou de dor e alguns médicos se afastaram com medo da reação. Após a retirada da agulha, o pequeno furo já não existia. A menina pegou a agulha antes de cair no chão e jogou longe mas foi um erro, a seringa tinha pousado no pescoço de um dos médicos. O medo no olhar do médico a fez dar um passo para trás e ver o estrago que fez. Eles tentavam tirar o homem rapidamente longe dela e de suas perigosas presas.

   “Não foi de propósito,” sussurrou novamente. A menina tentou virar sombra se esconder daquelas pessoas sem faces e esquecer do monstro.

Lassù, così in alto sul mondo

Simile a un diamante nella volta.

“Minha pequena stella,” ela ouviu sua voz. Seu olhos encheram de lágrimas esperando ser alguma ajuda. “Não se assuste, eu estou aqui agora.”

Scintilla, scintilla piccola stella.

Seus longos braços a envolveu com ternura em volta do seu pequeno corpo.

  “Eu sinto sua falta.”

“Eu também minha piccola, eu também” 

O sinal de emergência tocou devolvendo a pequena sombra para a realidade. A sua mão magra e seus dedos compridos logo colocando sobre a mão da pequena. A porta se abriu sem ninguém ter tocado, todos que tentava aproximar tinha seu encontro com a parede. De repente o som parou e o tempo ficou lento. Ela virou lentamente com horror. Sua boca só falou uma palavra. 

“Não”

Cosa, io mi domando, tu sia!