Drania escrita por Capitain


Capítulo 42
Distração


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Aurora não levou mais de um segundo para entrar em ação.

— Mudança de planos - Aurora disse - temos que resgatar Goroth.

Sem desperdiçar nem mais um segundo, ela virou-se e correu na direção dos sons de combate. Enquanto corria, ela arrancou um manto orc de um varal próximo e enrolou-se nele.

— Quer que eu tente alcança-lo com telepatia? - eu perguntei - se conseguirmos conversar, ele pode...

— Não podemos correr o risco de distraí-lo - ela me cortou - não quando ele está lutando com tantos inimigos. Temos que dar um jeito de tirá-lo de lá antes que as coisas piorem muito, de preferência antes que Rasth...

— RASTH!!! - a voz de Goroth estava agora pelo menos quinhentos metros mais perto, entre as cabanas à nossa direita.

Aurora mudou o curso imediatamente, correndo na direção da voz do amigo.

— Se Rasth aparecer - ela gritou - não poderemos mais interromper.

— Mas... - eu comece a formular uma objeção.

— Eu já o salvei de uma luta com Rasth uma vez, e ele foi banido por isso. - A bruxa parou em uma esquina por um segundo, e então tomou o caminho da direita. - Se nós interrompermos um duelo justo para salvá-lo de novo, ele nunca mais poderá desafiar Rasth, ou retornar ao seu clã. Orcs exilados tem apenas três chances de provar seu valor em uma luta, e ele já gastou uma. Se ele for salvo por um terceiro, os juízes vão declarar trapaça, e negar o direito à uma revanche.

— Revanche? - eu perguntei - mas a luta não era até a morte?

— Até a morte? - Aurora negou com a cabeça - Não! de onde você tirou isso?

— Foi o que Goroth me disse!

— Foi ele... - Aurora murmurou para si mesma. - Será que...

Pense, Drania. Como podemos sair dessa situação? Eu podia atacar e incapacitar Rasth, antes que Goroth o desafie. Desse jeito, ninguém sai perdendo. Eu só tenho que achá-lo. Contatar Goroth poderia estar fora de questão, mas e se... ativei minha habilidade de sentir, minha telepatia. Abrindo meus sentidos, eu expandi a área de procura, e os pontos brilhantes apareceram, um depois do outro. Dezenas deles. Milhares. Eu precisava encontrar Rasth naquele aglomerado.

— Aurora! - eu gritei - se eu conseguir parar Rasth, você consegue fugir com Goroth?

Eu podia ver Aurora começando a formar um plano.

— Vamos nos dividir - ela disse - você procura Rasth. Eu paro Goroth. pensamos em fugir depois.

Eu senti um súbito calafrio percorrer minha espinha.

— Aurora, atrá... - eu tentei avisá-la.

Uma única sílaba foi ouvida entre as casas à nossa direita, seguida de uma brilhante luz vermelha. Antes que eu pudesse compreender o que estava acontecendo, cordas de luz vermelha surgiram em pleno ar, prendendo-se ao redor de Aurora, e jogando-a contra a parede de outra casa. Ao meu lado havia uma figura em robes negros, com os braços esticados. Um mago do culto de Kraaz. Porém havia algo de errado. Eu não conseguia encontrar a sua consciência. Era como se ele não tivesse alma.

— Meu mestre está... bastante decepcionado. - O mago disse - Você quer mesmo salvar a sua amiga? Então porque está demorando tanto?

Eu imediatamente flutuei e me coloquei entre ele e Aurora.

—Você está bem? - perguntei a Aurora, por telepatia.

— Estou - ela foi rápida em responder. — Estou tentando quebrar essas cordas, você consegue distrair ele?

— Eu não consigo achar a alma dele!— eu disse — você sabe porquê?

Ele está escondendo sua presença - ela respondeu — é algo que os magos treinam. Você também não conseguiu sentir a minha quando eu estava em transe, lembra?

— Bem, se o Arauto quisesse que eu o encontrasse, quem sabe ele devesse ter me dito onde ele está - eu retruquei para o mago, esperando conseguir distraí-lo de Aurora um pouco. - Ao invés de só ficar falando babosei...

Goroth urrou em desafio à algumas ruelas de distância, e uma roda de carroça atravessou um telhado próximo.

— Estamos perdendo tempo aqui— Aurora disse - deixe o mago comigo, e vá segurar Goroth!

Droga. Eu virei-me e saí voando na direção dos sons de batalha. Mal tinha flutuado alguns metros, porém, quando o mago sussurrou uma sílaba e me paralisou no ar.

— Parece que você se distraiu de seu verdadeiro objetivo... - ele disse, com a voz cheia a de escárnio - então vou lhe fazer um favor, e me livrar das distrações para você.

Ele ergueu o braço e as cordas que prendiam Aurora ficaram visivelmente mais apertadas. A magia que me prendia puxou-me para perto dele, e eu me concentrei na habilidade de sentir. Se eu conseguisse sentir a alma dele, quem sabe eu pudesse incapacitá-lo. Não havia nada. Beleza, plano b.

— Tudo bem - Concentrei-me nas células da minha mão esquerda, a que estava mais perto do mago, e ordenei que elas se aquecessem. - Deixe Aurora ir, que eu vou com você.

— Se você acha que eu vou negociar com você, está muito eng... - Ele começou a frase, mas não teve tempo de terminar.

A minha mão esquerda pegou fogo, e o fogo se espalhou pelo meu braço, desintegrando minhas células, e liberando a energia que eu tinha guardado nelas. Dessa vez senti minha pele queimar, e não pude segurar um grunhido de dor. Em menos de um segundo, haviam raios de energia atravessando meu corpo novamente, mas nenhum estava indo em direção ao mago. Meu braço estava muito longe.

— O que... - ele ergueu os braços e deu um passo para trás.

Se eu só conseguisse alcança-lo... sem pensar, eu foquei em meu dedo indicador, e mandei-o se alongar. Parte da energia que eu tinha liberado começou a ser contida novamente, quando minhas células se regeneraram e meu dedo se transformou em uma comprida garra. Só preciso chegar... um arco de energia roxa formou-se entre a ponta do meu dedo e o braço do mago, explodindo sua manga negra e queimando um buraco escuro em sua carne.

Seu capuz escorregou de sua cabeça, e ele me encarou com os olhos cheios de confusão. Com um movimento lento, ele então encarou o próprio braço, onde o raio havia queimado um imenso talho, deixando exposto o seu osso. Ele nem chegou a expressar dor. Uma única sílaba foi ouvida atrás de mim, e ele foi atingido pela mesma roda de carroça que caíra nas proximidades pouco antes, desaparecendo numa nuvem de poeira e lascas de madeira.

De repente, eu podia me mover de novo. Flutuei para perto de Aurora, e comecei a regenerar o meu braço para me livrar da sensação de febre que começava a surgir novamente. De certa forma, era praticamente o exato oposto de quando eu estava viva. Quanto mais eu usava meus poderes de transmorfa, menos febre eu tinha. Aurora sorriu para mim em aprovação.

— Ótimo trabalho - ela disse - você aprendeu tudo isso sozinha?

— Eu...

As duas casas à minha direita explodiram, e um furioso mago sem capuz e com os robes rasgados levantou-se em meio á explosão, erguendo o braço direito e paralisando os escombros em pleno ar. Com uma espécie de assovio, e um gesto com a mão, uma enxurrada de pedra e madeira em chamas foi arremessada e nossa direção. Eu pude enxergar Aurora erguendo um escudo ao redor dela, antes da montanha de entulho atravessar minha cabeça, bloqueando completamente minha visão. Talvez isso seja uma vantagem, pensei, flutuando através dos escombros, me escondendo no meio da confusão e me aproximando do mago sem ser vista.

N segunda vez, foi mais fácil inflamar minhas mãos, e eu estava preparada para a dor. Sem demora, eu estiquei meus dois braços em chamas na direção do mago, alongando meus dedos como garras apontando para o seu rosto. Mas ao invés de seguir em direção aos meus dedos, os arcos de energia se espalharam pelo meu corpo e pela nuvem de entulho ao meu redor, explodindo pedras e tábuas em pedacinhos.

Assim que o mago me viu flutuando em sua direção, ele ergueu o braço machucado e fez um movimento em arco, como se tivesse espantando uma mosca. Eu fui jogada para longe, atravessando três casas e indo parar no meio de um fogão a lenha. As panelas haviam sido abandonadas ainda no fogo, e estavam derramando espuma fervente ao redor da minha cabeça. assim que a magia perdeu o efeito, eu voltei a flutuar à toda a velocidade para a luta. Minha energia extra estava acabando, e se eu ficasse sem eu não poderia me mover de novo.

Quando eu voltei, Aurora havia dado um jeito de sair de baixo das pedras, e agora estava em pé no alto da pilha fumegante de pedaços de parede e telhado. Tanto ela quanto o mago tinham escudos de luz branco-azulada ao redor de seus corpos e murmuravam palavras inteligíveis em uma velocidade impressionante. Perto dos pés de Aurora, a terra se movia e rodopiava como se fosse feita de fumaça, e uma poeira cintilante fluía para fora da terra e se juntava em uma esfera no ar.

Temos que acabar com isso rápido. - Ouvi Aurora em minha mente. - Eu não tenho mais muita energia sobrando. Meu próximo feitiço vai ser o último.

— Mas e o escudo?— eu indaguei.

— Deixa comigo. - Ela falou — Só chegue o mais perto dele que puder.

Flutuando a toda velocidade, eu mandei minhas mãos começarem a esquentar de novo, voando bem na frente do mago. O que quer que Aurora planejava para derrubar o escudo dele, provavelmente não me afetaria. Assim que eu apareci, o mago ergueu o braço, pronto para me lançar para longe novamente. Então ouviu-se um estalo alto, como o de um chicote, e uma barra de metal extremamente fina e pontiaguda chocou-se contra a barreira do mago, atravessando meu tronco e cravando-se na parede de luz, completamente imobilizada.

Aurora falhara? A ponta da lança improvisada de Aurora havia penetrado talvez um ou dois centímetros, longe de ser um perigo real para o mago inimigo. Lembrei-me do mago que nos atacara na cabanda de Aurora, usando lanças de luz para perfurar o escudo da bruxa. Porque Aurora havia feito uma lança de metal? Talvez ela não soubesse como criar uma lança de luz igual àquela? A não ser que...

— Agora! - Aurora gritou. Então eu entendi.

Minhas mãos explodiram em chamas novamente, e raios de energia escura estalaram ao percorrer meu corpo, em direção à lança de metal.

— Eu não entendo - o mago disse - você não quer salvar a sua amiga?

— Aurora é minha amiga também. - Eu respondi.

Antes que o mago pudesse reagir, a energia percorreu a lança e atravessou o escudo dele com ela, fluindo através de seu corpo e explodindo buracos em todo o seu corpo. quando o mago caiu ao chão, seu escudo finalmente desapareceu, e a lança improvisada de Aurora despencou com um tinido, o metal incandescente brilhando em vermelho vivo.

— Magia elementar - Aurora falou, ofegante, e então desabou no chão.

— Aurora! - eu exclamei.

— Eu estou bem -ela disse -vá... Goroth...

Ela tinha razão. Droga, eu pensei, imediatamente dando meia volta e flutuando a toda velocidade na direção dos sons de batalha. Minha energia estava acabando também, e eu não tinha aurora ao meu lado para provar que ela estava bem. O que eu iria fazer para acalmar o orc? Mesmo naquela situação, se eu não o impedisse, Goroth ainda iria desafiar seu irmão.

Cansado, depois de correr por dias para encontrar Aurora. Depois de ter perdido a sua última luta com Rasth. E mesmo que tivesse que passar por cima de dezenas de orcs para fazer isso. Por todo esse tempo, ele havia sempre agido da melhor forma possível para garantir a segurança de Aurora, deixando de lado seu cansaço, e as injustiças que havia sofrido. Naquele momento, não havia mais nada que o segurasse nesse mundo. Mesmo assim, se ele e Rasth lutassem, nesse estado...

 Por favor, eu pensei. Que nós o encontremos antes de...

— ENTÃO VOCÊ VEIO, IRMÃO!!!

No fim da ruela em que estávamos, Rasth e Goroth encaravam um ao outro, cercados por orcs e fogo, com a morte em seus olhos.

 


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Notas finais do capítulo

também em uma animaçãozinha:
https://youtu.be/ZPb-mp4kMYk
vejo vocês nos próximos capítulos...



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