Drania escrita por Capitain


Capítulo 41
Escapada


Notas iniciais do capítulo

Um dia atrasado, mas prometo que dessa vez não foi minha culpa.
boa leitura!



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Manobrar quando você é feita de pura energia é extremamente complicado. Cada pensamento que você tem causa uma reação em cadeia de pequenos traços de energia correndo através de você, o suficiente para transformar levemente o ar à sua volta, mandando você rodopiando loucamente em todas as direções. Eu não tinha mais olhos, então eu não pude enxergar meu retorno ao mundo real.

Eu não via Aurora, nem o sol, nem nada. Mas isso não significava que eu não sabia onde tudo estava. Ativei minha habilidade de sentir, e pontos de energia representando cada um dos seres vivos ao meu redor apareceram na minha mente, como uma imensa constelação de vida. Os pontos mais fortes e brilhantes estavam à minha esquerda, Aurora e o inimigo que ela enfrentava.

Com apenas mais alguns segundos restantes da energia que eu tinha conseguido queimando meu corpo, eu projetei minha mente até os dois sóis que representavam Aurora e o inimigo. Concentrando-me, eu consegui perceber que Aurora era o ponto mais fraco à direita, e o ponto pulsando mais forte na esquerda era um orc. Com pouco mais de um segundo sobrando, eu forcei minha mente na direção do orc, abrindo minha consciência para sentir e absorver. O fluxo de energia vindo do orc me invadiu, enchendo minha forma incorpórea e saciando minha fraqueza como um rio de água fresca para um corpo sedento.

 Aquela forma não conseguia segurar muita energia, então usando o depósito abundante do orc, eu recriei parte do meu corpo para armazená-la refiz meu cérebro, minha cabeça, meu rosto. A energia do orc se diminuía mais a cada segundo, quando eu abri meus olhos. O orc estava de joelhos em frente aa uma confusa Aurora, e faixas de energia branca flutuavam dele para mim, sendo convertidas em luz roxa quando entravam em contato comigo.

Eu não quero matá-lo, minha consciência me lembrou. Eu cortei o fluxo de energia antes que o orc morresse, deixando-o manter energia suficiente para sobreviver, mas derrubando-o no chão, inconsciente.

Com um sorriso vitorioso, eu virei-me para Aurora.

— Eu consegui! - eu disse, simplesmente.

— O que... Aurora começou.

— Depois - eu ouvia mais orcs correndo em nossa direção - aqui, pegue um pouco de energia.

Embora eu ainda não tivesse mãos, eu estendi minha mente até Aurora, oferecendo um pouco da energia que eu roubara do orc.

— Como você...

— Depois - eu disse, mais enfaticamente - Fique aqui, e se cure. Eu cuido dos orcs.

Ainda com visível confusão em seu rosto, Aurora aceitou a energia que eu lhe oferecia, e imediatamente começou a trabalhar nos seus ferimentos. Eu sorri de maneira encorajadora para ela, e manobrei minha cabeça flutuante através da tenda de Rasth, na direção do som de passos apressados e tilintar de cota de malha.

Assim que minha cabeça flutuante atravessou o limiar da tenda de Rasth, eu mergulhei em direção ao chão e ativei minha habilidade de sentir, procurando pelos sinais vitais dos orcs inimigos. Haviam quatro deles. flutuando sob seus pés, eu estendi minha mente até eles. Pensando rápido, eu comecei a absorver a energia vital do que estava mais próximo da tenda. O orc caiu de joelhos, e dessa vez eu consegui sentir parte de seus pensamentos.

Uma enxurrada de confusão atravessou a ponte de energia que me ligava ao orc e invadiu minha cabeça, me deixando sem ação por um momento. O que eu estava?... a confusão aumentou, até que eu cortei a conexão, e voltei ao normal. Então os sentimentos deles me afetam, eu percebi. Um estranho calafrio percorreu o meu pescoço, desaparecendo no fim da minha espinha. Eu me sentia... febril? O que está acontecendo?

Sacudi minha cabeça e me concentrei novamente nos orcs acima. Dois deles haviam parado para socorrer o companheiro caído, e um dava passos lentos na direção da cabana de Rasth. Foquei nele, e comecei a absorver sua alma. Assim que fiz contato, outro arrepio gelado atravessou minha cabeça e pescoço, e senti minha febre aumentar. Mas... como...? eu não devia sentir febre. Eu estava morta.

 O elo entre mim e o orc se quebrou, e os arrepios pararam. O que quer que fosse aquilo, estava relacionado com a minha habilidade de absorver energia. Sem pensar, eu flutuei para fora da terra, para enxergar melhor os arredores e tentar entender o que estava acontecendo. Assim que eu atravessei a superfície, eu percebi que havia algo muito errado.

Eu estava brilhando. Não o brilho suave que eu estava acostumada, mas um brilho ofuscante violeta com traços de azul. Mais forte que o fogo, e mesmo com a luz do dia, o chão e as tendas ao meu redor tingiram-se de violeta, sendo iluminados pelo meu brilho. Porém não era só o brilho. Olhando par abaixo, eu percebi que haviam pequenos raios roxos percorrendo meu corpo, como raízes de uma árvore feita de luz.

Só havia uma explicação possível: aquilo deveria ser a tal da energia escura. Mas como eu a controlo? Os orcs se recuperaram da surpresa e me cercaram, apontando as suas lanças e espadas para mim. Pelo menos, eu estou distraindo eles, pensei. aproveitei esse momento de indecisão para procurar a mente de aurora e contatá-la.

— Hã, Aurora, você está vendo isso?— eu perguntei.

— Sim. - A bruxa parecia estar distraída com alguma coisa.

— Você tem alguma ideia do que seja?

— não.

ok.

Estávamos entrando em terreno inexplorado aqui. Um dos orcs tentou me empalar com sua lança, eu nem pisquei, pois sabia que ela iria apenas atravessar meu corpo fantasma sem causar nenhum dano. Porém assim que ela entrou em contato com a luz que emanava do meu corpo, um arco de energia se formou entre mim e o orc, viajando através da lança dele, esmigalhando-a em milhares de lascas de madeira.

Assim que o raio deixou meu corpo, eu senti minha febre diminuir um pouco. então eu entendi. Havia um limite para a quantidade de energia que eu podia absorver. Se eu absorvesse energia demais, a matéria escura que formava meu corpo iria começar a esquentar e derreter, levando àquelas descargas de energia. Ou seja, eu só precisava gastar parte da energia que eu havia absorvido.

Era estranho, entretanto, que com três orcs, eu tivesse absorvido mais energia do que com aqueles vinte e poucos assassinos na clareira da cabana de Aurora. Talvez a energia deles tivesse se dissipado quando eles morreram? Devia ser isso. pensei um pouco mais. Como gastar essa energia? Deixar que ela fluísse livremente em forma de raios era perigoso, porque eu podia acabar liberando energia demais, e acabar à beira da morte novamente. Talvez se eu...

Com um sorriso, eu me concentrei, mandando ondas de energia pelo meu pescoço e ombros, criando uma imagem mental do que eu queria que eles fizessem. Em alguns segundos, estava feito. Eu tinha um corpo novamente. Braços, pernas, um corpo completo. Agora que a área do meu corpo havia aumentado, a luz enfraqueceu um pouco, de uma luz cegante para um pouco mais brilhante que uma tocha.

Mais importante, os pequenos raios de energia que antes circulavam pelo meu corpo, agora tinham sumido. Ótimo. Então eu posso controlar quanta energia eu tenho simplesmente ativando meus poderes de transmorfa e modificando meu corpo. interessante. Isso significava que eu podia absorver quanta energia eu quisesse? Eu precisaria testar isso mais tarde... eu encarei o único orc que ainda estava em pé.

— Eu não quero sugar a sua alma. - Eu disse. - Nem te explodir. Então porque você só não... dá meia volta e esquece o que você viu aqui?

— hãã - Ele olhou para os companheiros caídos, depois para mim, e para a tenda de Rasth, e para mim novamente. Eu ergui o braço e apontei para ele. Sem mais nenhuma palavra, ele virou-se e fugiu. Satisfeita com os meus novos poderes, e sentindo que eu finalmente estava começando a ser útil, eu flutuei sobre os três orcs inconscientes e voltei até o interior da cabana de Rasth.

Aurora parecia bem melhor do que antes, havendo recuperado um pouco de sua característica altivez, remexendo nos rolos de pergaminho sobre a mesa do líder dos orcs. Assim que me viu, ela sinalizou alegremente. Qualquer sombra de preocupação completamente desaparecera de sua expressão.

— Olhe isso aqui - ela disse, esticando um dos rolos de pergaminho sobre a mesa - todas as letras estão embaralhadas com alguma cifra de substituição, mas os mapas mostram vários pontos de interesse na floresta negra. Eu acho que esses são os acampamentos orc.

Eu me aproximei da mesa, prostando mais atenção aos papéis e pergaminhos que eu havia visto antes. A maior parte deles eram mapas com os contornos da floresta negra e os arredores da montanha de fogo. como Aurora havia dito, as palavras nos mapas não eram reconhecíveis, mas haviam vários pontos, divisas e marcações de trilhas. Duas dessas marcações me chamaram a atenção.

— Olhe aqui - eu apontei para um dos mapas maiores, que englobava a maior parte da floresta e também as cidades vizinhas. Haviam várias linhas convergindo na direção de Terizt, e outras dando a volta na cidade em direção á ponte que ligava Terizt à Vralgongard. - Quando eu estava te procurando, eu ouvi dois orcs conversando sobre um ataque. Será que...

— O objetivo deles é Vralgongard. - Aurora completou - ou pelo menos, Terizt. Sem retirar a influência de Vralgongard sobre a floresta negra, uma hora os orcs acabariam sendo afastados novamente. Rasth sempre quis dominar a floresta negra, e após a morte de Ogün...

— Isso explica os orcs, - eu disse - mas e o Arauto? Ele parece estar no comando, até acima de Rasth, mas até agora, tudo o que sabemos sobre ele vem do que os membros do culto deixam escapar.

Aurora assentiu.

— Vamos precisar examinar esses mapas depois, com mais tempo - ela disse, estendendo a mão sobre a pilha de pergaminhos. Com um instante de concentração e uma sílaba entoada, uma luz azulada brilhou rapidamente entre sua mão e a mesa. Ela então encontrou um pergaminho vazio, e estendendo-o sobre a mesa, entoou outro feitiço. Com o mesmo brilho azulado, o pergaminho foi preenchido com cópias perfeitas dos mapas de Rasth.

 - Esse é um feitiço muito útil. - Ela explicou - antes da invenção dele, os livros eram copiados à mão e extremamente caros, até em Risandal. Agora, copiá-los é bastante fácil, embora ainda haja pouco interesse por eles fora da cidade. Eu já te falei que Risandal é a melhor cidade de todas as quatro províncias?

— Foco, Aurora.

— Sim, sim. - Ela sussurrou outra palavra, e a mesa de Rasth organizou-se sozinha.

— Isso sim é um feitiço útil - eu falei. - Como é que ele funciona?

— Foco, Drania. - Aurora respondeu, com um sorriso no rosto.

Eu ri. Ultimamente, estava ficando cada vez mais fácil rir de coisas bestas como essa. talvez fosse a influência de Alice. Eu sempre achei que eu seria uma má influência para ela, mas nunca tinha pensado que o contrário também pudesse ser verdade. Aurora fez menção de dizer mais alguma coisa, mas desistiu, e saiu da tenda, fazendo um gesto com a cabeça para que eu a seguisse.

Em um acordo tácito, nós começamos a nos esgueirar para fora da tenda, tentando chamar o mínimo de atenção possível. Embora eu possa dizer que sou melhor que ela em matéria de desaparecer e me mover sem ser vista, Aurora não era nenhuma principiante. Ela se esgueirava com a fluidez e silêncio de alguém que tinha experiência fugindo de pessoas, enquanto eu ia em total silêncio por baixo da terra.

Sempre que precisávamos nos comunicar, usávamos a mente (Aurora disse que esse tipo de comunicação é chamado de telepatia), e eu também mantinha meus sentidos abertos para ajudá-la a detectar inimigos ao redor, reservando a sua energia para emergências. Já havíamos atravessado o pavilhão central, em direção à mata mais próxima, quando ouvimos o estrondo.

Quase um quilometro rio abaixo, na entrada da clareira, um urro de desafio foi ouvido, seguido de sons de batalha e coisas quebrando. Em alguns segundos, havia fogo se espalhando pelo mato ao redor da entrada, e uma confusão de orcs correndo em direção ao tumulto.

— Drania, quando você disse que Goroth estava escondido na floresta... - Aurora falou - eu achei que tivesse dito para ele ficar por lá.

— Mas eu... - então eu lembrei. Eu estava conversando com Goroth quando encontrei Aurora. Com toda a confusão que se seguiu, eu havia esquecido.

Goroth não sabia que Aurora estava viva.

E ele tinha acabado de declarar guerra à uma cidade inteira.

 

 


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Notas finais do capítulo

vejo vcs nos próximos capítulos, a história está esquentando de novo...



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