Noturno escrita por EsterNW
Notas iniciais do capítulo
Voltei mais cedo do que das últimas vezes e trago novidades: finalizei os três últimos caps da short, então devo postá-los nos próximos dias dessa semana :D
A música que aparece nesse capítulo é Shallow da Lady Gaga com o Bradley Cooper. Se alguém quiser ouvir, o link está nas notas finais.
Boa leitura ;)
— Você conhece alguma coisa por aqui? — Mirela questionou, ela e Castiel caminhando por entre ruas que pareciam embaralhar-se, já que a baixista não conhecia praticamente nada da capital mineira.
— Se perder a gente não vai. — O ruivo deu de ombros, ajeitando a alça da capa do violão nas costas. — Ou já tá querendo ir pro hotel?
Poder-se-ia dizer que explorar as capitais, por onde faziam show, tornou-se um hábito para aqueles dois. Ou pelo menos a parte em que Mirela ajudava o ruivo a escapar às escondidas da casa de shows. Como ela conhecia aquelas entradas, ele nunca iria saber.
— Você quem disse que ia pro hotel, levar esse violão de volta — ela pontuou, apontando para o instrumento nas costas do guitarrista. — Sei que você quer passar despercebido, mas é meio difícil com isso… Não dava pra deixar levar com as outras coisas?
Castiel torceu o nariz.
— Roubaram meu violão quando viemos de São Paulo. — A baixista ergueu as sobrancelhas com a revelação, enquanto o ruivo permanecia sério.
— Não fiquei sabendo que furtaram nada…
Os dois pararam em um semáforo e uma multidão de carros acelerou. Mais alguns outros fizeram o mesmo que eles. Apesar do horário, as ruas do centro de Belo Horizonte estavam bem cheias. Efeito sexta-feira.
— Porque recuperaram logo — disse sucinto e atravessaram a rua.
— Então, esse violão é especial pra você? — ela questionou e logo avistaram uma praça, que parecia levar ao centro de tudo. Comércios, bares, restaurantes, todos acesos e carregados de vida. Exceto pelo meio daquilo, a Praça Sete de Setembro.
— Foi um presente de uma pessoa querida — ele disse e Mirela percebeu a forma com que os dedos finos do guitarrista percorreram a alça preta em seu ombro.
A baixista constatou para si que era melhor não insistir. Os dois pararam numa praça, ao lado de uma estrutura com um obelisco ao centro e poucas árvores não muito distantes. Havia apenas um grupo de jovens um tanto ao longe, rindo alto.
— E pra onde você vai hoje? Disse que não conhece aqui. — Mudou de assunto, vendo Castiel sentar-se à beira de concreto do monumento.
— Sei lá — ele respondeu, estendendo as pernas de forma relaxada. — Só queria um pouco de ar. — Deu de ombros, retirando o instrumento das costas e colocando-o ao seu lado.
Mirela sentou-se próxima, deixando que o violão ficasse entre eles.
— Isso deve ser sufocante, né? — Ela olhou para o céu, vendo a noite estrelada sobre suas cabeças. Era a mesma em toda cidade que passavam.
— Isso o que?
— Você sabe do que eu tô falando — ela devolveu, voltando os olhos castanhos para Castiel, percebendo que as íris tempestade já estavam nela há certo tempo. O guitarrista desviou o rosto, concentrando-se em colocar o instrumento no colo.
— As pessoas dão mais valor a você do que à sua música — respondeu seco, retirando o violão de dentro da capa.
— Por isso que eu não quero ficar famosa — Mirela confessou com um suspiro.
Ainda com os olhos fixos no guitarrista, a moça percebeu que ele volveu o rosto para ela no mesmo instante de sua fala. Em um segundo, voltou a olhar para o instrumento.
— Nem eu queria… — A resposta foi quase um sussurro, que Mirela não ouviria se não estivesse tão perto. Ou talvez ela tivesse ouvido errado, com o barulho da cidade embaralhando sua audição.
De forma distraída, Castiel começou a dedilhar as cordas do violão. Os sentidos da baixista se apuraram.
— Eu conheço essa música! — ela exclamou, no que apenas viu Castiel sorrir de canto. Ele devia sorrir mais, pontuou para si.
— Tell me somethin' girl, are you happy in this modern world? Or do you need more? — O guitarrista começou a cantar os primeiros versos da canção com sua voz rouca, no que a baixista apenas riu. — Is there somethin' else you're searchin' for?
Ele ergueu o olhar para ela, vendo o sorriso da moça tomar forma. Era diferente do que vira nos lábios dela nas noites anteriores. Não era irônico, nem ácido, nem…
— Da onde você conhece essa música? — ela questionou entre risos. Castiel sorriu de canto, naquele seu típico hábito. Mirela estava começando a memorizá-lo.
— Meio difícil não ouvir, com o tanto de vezes que toca por aí — respondeu com sarcasmo, no que a baixista apenas ergueu as sobrancelhas. Ele soltou o ar pela boca, disfarçando uma risada. — Já vi o filme, tá feliz?
— Tá brincando?! — ela disse entre risos. Vendo Castiel sério, parecendo não gostar muito, já que desviou o rosto enquanto ainda tocava o mesmo riff. De repente, parou. — Não te imagino vendo esse tipo de coisa.
— Nas noites de insônia, a gente vê qualquer coisa que tá passando na TV — disse no que parecia um desabafo escondido em sarcasmo. A expressão de Mirela se contraiu e, antes que qualquer frase saísse, Castiel resolveu voltar a cantar, prevendo o que viria a seguir. — I'm falling, in all the good times I find myself. — Umedeceu os lábios antes de continuar. — Longin' for change, and in the bad times I fear myself. — Deixou a nota no ar por poucos segundos, esvanecendo conforme seus dedos se afastavam das cordas do instrumento.
— Tell me something boy, aren't you tired tryin' to fill that void? — Mirela continuou a parte feminina, mesmo que Castel tivesse parado de tocar. — Or do you need more? Ain't it hard keeping it so hardcore?
— E depois fala de mim — Castiel retrucou surpreso. A baixista apenas riu.
— Lady Gaga é minha diva. — O guitarrista ergueu as sobrancelhas, no que ela voltou a cantar, ignorando a surpresa visível no rosto dele. — I'm falling, in all the good times I find myself. — Castiel passou a tocar o mesmo riff, fazendo com que ela parasse de cantar acapella. — Longing for change, and in the bad times I fear myself.
O guitarrista continuou, porém, Mirela parou, apenas encarando-o.
— Vai, Lady Gaga — ele provocou rindo, no que Mirela fez aquela expressão que o intrigava. Ela não revirava os olhos.
— Vai você, que é cantor! — Ela cruzou os braços, fingindo-se de ofendida. — Eu sou só backing vocal.
— Pelo menos é afinada. — Castiel deu de ombros, e Mirela franziu as sobrancelhas, levemente indignada por ser chamada apenas de "afinada". Novamente aquela expressão, Castiel percebeu e sorriu. — In the shallow, shallow. — Ele pulou para o refrão, para a surpresa da moça.
— In the shallow, shallow — ela continuou, fazendo-o sorrir de canto.
— In the shallow, shallow. — Os dois cantaram o verso juntos, encarando-se. Mirela poderia dizer que os olhos dele pareciam mais escuros naquela meia luz. Talvez mais como o céu de tempestade. — We’re far from the shallow now. — Eles finalizaram ao mesmo tempo, em uníssono.
Mesmo quando a nota havia se esvanecido por completo, eles permaneciam se encarando. O silêncio reinaria, se não fosse os sons da cidade. E ambos aproveitavam para observar-se sem pudor. Castiel ainda tinha aquela vontade louca de contar todas as sardas do rosto dela.
— Juntos e shallow now — Mirela brincou, tentando dissipar aquele clima que pairava no ar, e viu que Castiel encarou-a com as sobrancelhas franzidas. A baixista gargalhou. — Vai dizer que essa você não conhece?
— Deveria? — ele retrucou.
— Deixa pra lá, vai. — Ela abanou a mão, sentando mais para trás no concreto aos pés do obelisco e esticando as pernas. Paravam a um palmo de distância dos pés de Castiel. — Qual mais você sabe tocar?
No meio do coração pulsante da vida noturna da capital mineira, os dois músicos se envolveram na paixão que tinham em comum. E não era a única.
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Shallow: https://youtu.be/bo_efYhYU2A
Não sei nem mais o que dizer sobre esses dois, então deixo isso com vocês xD
Até mais, povo o/