Raccoon: A Quarentena escrita por Goldfield


Capítulo 5
Brad




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Brad

Encontrou uma firmeza nas pernas que desconhecia possuir para manter-se de pé ao correr para dentro do beco, as batidas na porta atrás de si a ponto de fazerem as dobradiças cederem e a viela atrás do bar ser invadida pelos mortos-vivos.

A febre tomara seu corpo em minutos, o suor lhe ensopando o rosto na sensação de que um dos incêndios consumindo a cidade queimava dentro de si. A dor no braço mordido não passava, e a ferida simplesmente não parava de sangrar, embora houvesse tentado estancá-la com a manga da camisa num dos raros – e, talvez, um dos últimos – momentos que conseguira parar para respirar.

Adiante, uma porção de rua brilhava nos tons alaranjados de um ônibus em chamas. Conforme a visão tentava conservar a nitidez, Brad notou-a tomada por uma espécie de vertigem, incerto se era causada pela infecção do vírus ou o frenesi nervoso decorrente de sua fuga.

A grande dúvida consistia em entender para onde exatamente ele fugia...

Não há para onde ir... Agora é uma mera questão de tempo!

Queria ele continuar fugindo?

Cada célula ainda sadia dentro de Brad gritava para que ele parasse, resignando-se em paz ao seu destino para evitar mais dor e sofrimento – nelas persistindo o impulso de autopreservação que o dominara durante boa parte da vida. Era irônico que, apenas no final desta, desse conta de seu próprio poder em ignorá-las. Talvez ele tivesse vivido uma existência melhor. Aquela que realmente queria.

Nos últimos dias, as coisas haviam girado mais rápido que hélices em torno do mais potente rotor – e, pelo máximo de tempo que pudera, fizera o possível para evitar ser cortado pelas lâminas. Umbrella enchendo o chefe Irons de dinheiro para desmantelar os S.T.A.R.S. e colocar vigilância em torno de sua casa – OK, era só não sair. Os hospitais ficando cheios de gente doente com os mesmos sintomas dos contaminados pelo agente viral vazado nas montanhas Arklay – tudo bem, o lar de um homem é seu castelo; e o serviço de entrega de pizzas continuava funcionando mesmo em meio à quarentena desencontrada estabelecida de última hora pelo prefeito, para infortúnio dos entregadores.

Entre os dias 27 e 28, as coisas pioraram de verdade. Saques, relatos grotescos de ataques, gente sendo devorada no meio da rua. A televisão cobria tudo aos mínimos detalhes, para a transmissão logo perder qualidade e subitamente cair. Verificando se cada um dos cinco cadeados junto à porta da frente reforçada estavam em ordem, assim como as janelas vedadas por lona e bloqueadas por pilhas de móveis e objetos, Brad percebeu que a espera do fim não seria tão confortável. Sentando-se no assoalho da sala, cabeça entre os joelhos, nunca quis tanto se tornar uma planta para, sem ser regada o suficiente, simplesmente murchar e morrer.

Banhando em lágrimas sua camiseta regata e shorts contendo as iniciais dos S.T.A.R.S. – vestimenta de treinamento que usava em casa pela prazerosa sensação de ter um lugar em que pudesse ostentá-la sem ser caçoado por ninguém devido aos fracassos nos exercícios físicos –, Brad teve a definitiva sensação de abandono quando a secretária eletrônica apitou, a familiar voz de sua psicóloga ganhando o interior do cômodo:

— Brad, como está? Torço para que esteja se cuidando no meio dessa loucura... Escute: por motivos óbvios, terei de desmarcar nossa sessão de hoje e todas as outras, até essa epidemia passar. Continue tomando os remédios e refletindo sobre aquilo que discutimos da última vez. Fique bem. E lembre-se: o medo é algo a ser domado.

A última fala fez com que Vickers erguesse o rosto dos joelhos, esfregando os olhos irritados. Ninguém em Raccoon – nem mesmo seus parceiros do Alpha Team dos S.T.A.R.S. – devia suspeitar de suas origens rurais em Delucia, Arizona. Raccoon City estava em pleno meio-oeste do país, mas ainda assim era uma metrópole em expansão, o suficiente para que tal descoberta o rotulasse como "caipira" e rápido virasse novo motivo de chacota. Mesmo assim, como se pudessem sentir o fedor de adubo ou visualizar um fio de palha pendendo de sua boca, todos ao seu redor apreciavam associar a ele metáforas remetendo ao meio; desde o apelido que ganhara devido à sua notável covardia – "Chickenheart", "Coração de Galinha" – até aquela analogia sobre tal defeito ser algo a domar, feito um cavalo ou boi bravo.

Sua psicóloga era um doce; mas se Brad houvesse frequentado sessões o bastante naqueles dois meses após o incidente na mansão para que ela descobrisse o que havia de mais profundo enterrado em seu ser, com certeza teria escolhido outro jogo de palavras...

Ainda podia sentir a textura da grama do curral sob seus pés descalços. Era, sem dúvida, a lembrança mais marcante do campo. O pai, chapéu de cowboy à cabeça, encorajando-o a passar pela porteira. "Não há perigo!", recordava bem a fala. "Se esse menino não aprender logo a encarar os bichos e manejar um laço, não aprende nunca mais!" – era outra fala nítida, ainda que não tivesse certeza se também proferida aquela manhã ou num dia anterior, a um vizinho.

Em seus oito anos de idade, Brad era um pigmeu entre titãs. Os bois trotavam para lá e para cá, de início alheios à sua insignificância. Nas mãos, a corda de laço atado pelo pai. Na ingenuidade infantil, esperava que um dos animais apenas inclinasse a cabeça diante de si, oferecendo-a a ser cingida. Ao menos assim era em suas brincadeiras, com um rebanho de plástico colorido e o chapéu com estrela de xerife fazendo-o imaginar ser o Buffalo Bill.

O adereço voou de sua cabeça em dado momento, impelido por um vento repentino contra a fazenda. Muito apegado à peça, o pequeno Brad correu pelo curral na ânsia de reavê-lo, mesmo caindo no meio da área onde os bois estavam aglomerados...

BRAD, NÃO!

O clamor do pai ecoou numa tomada tardia de responsabilidade. A próxima coisa de que Vickers se lembrava era ser erguido do chão, o impacto dos chifres do touro comprimindo sua barriga. O céu rodopiou, alternando-se com lances de grama, até seu corpo colidir violentamente contra esta, o solo por baixo partindo-lhe o braço direito na aterrissagem.

Caído de lado, Brad teve uma visão deslocada do ambiente; a cabeça latejando a ponto de fazê-lo questionar se não fora, também, quebrada. Seu choro acabou totalmente embargado pelos cascos raspando contra o chão, a poeira levantada indicando que seu infortúnio não terminara, tal qual a enorme sombra projetada sobre si...

A não ser que as mãos do pai não o houvessem envolvido pelo abdômen ferido, pernas e braços acomodados em seu colo conforme ele voava, suspenso, para longe dali.

Depois disso, acordara no hospital. A barriga enfaixada, o braço engessado e a imagem de bois circulando por um cercado determinada a assombrá-lo para sempre.

Honrando a hierarquia de uma fazenda e a própria cadeia alimentar – algo a se considerar naqueles dias em que humanos se alimentavam uns dos outros e viravam também comida de monstros mutantes – o "Coração de Galinha" empalidecera perante um touro. E a fobia não se restringira a esse animal: conforme crescera, mais e mais coisas tomaram tal forma na vida de Brad, chegando a tornar cada oportunidade uma porteira de curral, cada risco um casco raspando o solo em sua direção...

Não seguira a carreira de fazendeiro almejada pelo pai. A licença de piloto de helicóptero tornou-se caminho natural ao rapaz: ainda que experimentasse a vida no chão – ou as poucas coisas as quais se permitia experimentar –, poderia erguer voo e observar tudo de uma distância prudente caso a situação o exigisse, sem precisar se envolver. O cockpit assumiu o lugar das mãos do pai salvando-o dos bois, a aeronave convertida em santuário; único lugar no mundo em que poderia dizer sentir-se completamente seguro.

Decerto pelo escudo ao corpo e à mente proporcionado por seu instrumento de trabalho, Brad destacara-se em seu manejo, a habilidade de manobra e a rapidez com que conseguia decolar de espaços difíceis logo direcionando sua precoce trajetória à força policial. Era irônico imaginar que a mesma ansiedade em livrar-se do perigo, e não enfrentá-lo, levara-o aos S.T.A.R.S. depois de mais algum tempo.

A vida de Vickers em Raccoon City seguira a mesma regra de acautelar-se e fugir ao mínimo indício de problemas; temendo que, ao invés do helicóptero, os chifres dos touros fossem novamente aquilo a erguê-lo ao ar. Olhando para trás, só agora, entre as ruínas da cidade, conseguia discernir as oportunidades perdidas: o convite a pilotar aeronaves regulares do R.P.D., o que geraria bom adicional de salário, mas que Brad recusara temendo os maiores riscos por envolver-se em mais operações; o curso para aprender a pilotar helicópteros de ataque, o que poderia lhe valer uma vaga nas forças armadas – ideia rejeitada por temer ser enviado a alguma guerra... até mesmo os olhares frustrados e lamúrias silenciosas em relação a Rebecca Chambers, a novata do Bravo Team: alguém que Brad sempre tivera vontade de convidar para sair, ainda mais depois de ficarem mais próximos devido aos acontecimentos na mansão. Ela desaparecera de Raccoon antes que conseguisse criar coragem, agarrado ao conforto de não ter de lidar com um "não"...

Em meio a essa estupenda carreira houvera, claro, seu desempenho durante o incidente nas montanhas Arklay... Quando ele simplesmente ferrara tudo.

Mais um helicóptero sobrevoou o beco, o holofote distante de Brad e a trajetória nem um pouco propícia a retornar em busca de sobreviventes, deixando clara a situação invertida do piloto em terra e como estava fadado ao purgatório de sentir-se como os colegas abandonados durante o momento mais aflitivo de suas vidas. Aquelas aeronaves não faziam resgate: ele não ficaria surpreso se a Umbrella as usasse meramente para monitorar a catástrofe, colhendo dados para uso futuro... ou então algo pior.

Sim, nada lhe tirava da cabeça que aquela cápsula sinistra fora solta, em frente ao cinema, por um helicóptero da Umbrella. O mesmo invólucro, parecendo algum tipo insano de caixão industrial, de onde saíra a criatura. Toda encapada em tecido preto de contenção, avisos e faixas alertando quanto ao perigo biológico representado por sua simples presença.

Na noite daquele dia 28, Brad deixara sua fortaleza improvisada apenas buscando sair da cidade. As possibilidades de evacuação em massa estavam esgotadas, já que até o tal esquadrão de mercenários da Umbrella fora em grande parte abatido e acuado pelos mortos-vivos. O impulso em arriscar-se nas ruas fora fruto de sua gana em sobreviver a qualquer custo. Uma esquiva para escapar dos cascos do boi.

A ideia inicial de Vickers, como era de se esperar, fora recuperar seu helicóptero e ir embora de Raccoon voando. Entretanto, com os S.T.A.R.S. suspensos e a situação de emergência, todas as aeronaves da polícia, incluindo a sua, estariam no ar – mais empenhadas em salvar outras vidas do que apenas o cowboy de Delucia, que não queria correr perigo ainda maior permanecendo mais tempo sobre a cidade com tal intuito. Chegar às próprias cercanias da delegacia já seria, em si, um problema...

Até rastrear Andrews, um dos pilotos do R.P.D., subir e descer desesperadamente do alto de um prédio de estacionamento ao sul do centro com todos os sobreviventes que conseguia carregar. Gente salva e deixada nos limites da cidade. E a área em torno do estacionamento se tornava tamanho caos que, dentro de duas ou até uma viagem adicional, o policial logo ficaria impossibilitado de pousar.

Foi com o intuito de tomar parte na última leva de resgatados que Brad rumou à região do cinema...

E viu o monstro da cápsula no exato momento em que saía de dentro dela.

Como muita coisa até ali, Vickers poderia apenas tê-lo ignorado. Assim como os cachorros em carne viva estraçalhando Joseph em Arklay, ameaça suficiente para fazê-lo decolar e deixar todo o Alpha para trás. Era só chegar ao topo do estacionamento, e Andrews o levaria. Fim da ameaça, o recanto seguro de uma suíte com hélices novamente. Poderia ser ou fazer o que quisesse depois daquilo, até mesmo voltar ao Arizona e retomar as pretensões de fazendeiro – já que a própria carreira de piloto se revelara uma armadilha. Primeiro tinha de sobreviver, para depois... depois, depois!

Ele, no final das contas, voltara para salvar os colegas no heliporto da mansão, certo?

SSSTTTAAAARRRSSS!

Demorou todo um minuto para rastrear a origem do som, imaginando ser um brado perdido em seus pensamentos; quem sabe até o ruído bizarro de seu estômago embrulhado pelo medo, soando como uma palavra que fazia sentido aos seus pensamentos perturbados. Os pesados passos da criatura embrulhada, todavia, expuseram a verdade...

Aquela coisa tinha a mesma estatura do mutante de coração exposto que os S.T.A.R.S. haviam detonado em Arklay com o lança-foguetes arremessado por Brad, certo? E a direção que tomava... A curva efetuada para dentro do beco após simplesmente ignorar todas as outras pessoas correndo em pânico à sua volta, como se nada valessem a ele...

Pra lá é o prédio da Jill!

Assimilando que aquela era uma máquina de matar enviada pela Umbrella para aniquilá-los, eliminando todos os diretamente envolvidos no ocorrido à mansão que ainda permaneciam em Raccoon, algo mudou em Brad Vickers. Sim, a fagulha já existia; sua decisão de voltar à floresta e buscar os companheiros na noite em que os abandonara fora prova disso, porém agora vinha mais forte, decisiva. Encarando a silhueta do monstro de costas para si, como se o piloto também fosse alguém simplesmente a ser ignorado por sua covardia, um interruptor foi movido no coração de Brad, assim como no painel de um helicóptero.

Deu meia volta, mas não para correr. Os olhos vistoriaram os arredores, tentando delinear o que procurava em meio à confusão se alastrando. Logo encontrou duas cabines telefônicas. Correu a uma delas.

Qual é mesmo o número da Jill? – procurou lembrar, conforme um indicador já subia trêmulo aos botões do aparelho.

O que viera depois permanecia na mente de Vickers como borrões, acontecimentos misturando-se e mudando de ordem, embora nem uma hora inteira houvesse passado. A saída de Jill do prédio após topar com o monstro pelos corredores – as ligações de Brad não atendidas por tudo ter ocorrido no momento em que Valentine também decidia fugir... Eles avançando pelas ruas desoladoras... Uma barreira da polícia cedendo para os zumbis... Uma explosão no alto do estacionamento que só podia ser o helicóptero de Andrews... Espere, aquilo havia sido antes ou depois?

De todo modo, a recordação que permanecia mais viva, e proporcionava a Brad combustível o bastante para prosseguir mesmo com a dor e a infecção, era a do Bar Jack. O mesmo local onde em diversas ocasiões fora tomar uma cerveja sozinho, nenhum colega de esquadrão disposto a acompanhá-lo... a mesinha dos fundos, mal iluminada, onde por tantas vezes chorara sem ser visto. Onde queria ter levado Rebecca, se a inércia deixasse de prendê-lo...

Zumbis invadiam o lugar, ele e Jill mal contendo a porta. Foi o momento da mordida. A mandíbula do morto-vivo insistindo no ataque, sua força comparável à de um leão. Relembrá-lo aparentava intensificar as pontadas vindas do braço, tornando a cena um alívio que só podia ser trazido de volta com seus custos. A Brad, não mais algo que o intimidava. A porta cederia de qualquer jeito, a real opção sendo alguém se sacrificar para o outro correr.

Mandou Jill ir.

Ela hesitou, como seria de se esperar. Mas Vickers nunca estivera tão certo em sua vida. Não desde a infância, quando sua determinação fora podada por um acidente infeliz envolvendo bois e um cercado. Além do mais, era a forma de se redimir. Compensar sua fuga em Arklay meses atrás, quando Jill estivera naquela situação e ele decolou com o helicóptero.

Brad não pretendia ferrar mais nada.

Valentine obedeceu, e ele conseguiu aguentar a porta por quase cinco minutos. Quem era o fracote do treinamento, agora? Uma pena não poder fazer o mesmo por Chris, Barry e até Rebecca, com quem se sentia em imensa dívida. Não voltaria a vê-los para pedir desculpas. Desculpe-me, aliás, era a expressão que reverberava em seu cérebro cada vez mais primitivo, uma espécie de mantra contendo sua fome por carne conforme a contaminação avançava. Desculpe-me. Desculpem-me. Desculpem-me todos...

Seu fim não viera quando a porta do Bar Jack cedeu. O purgatório deixava claro durar mais, havendo algum tipo de pendência que ele ainda seria capaz de sanar ali, em Raccoon. Um dos mortos-vivos esparramados para o interior do estabelecimento, aliás, carregava consigo um revólver carregado. Cinco balas. Brad não tivera medo de estender a mão a um bolso da criatura para se apoderar da arma e sair cambaleando, como podia, ao beco dos fundos. Seu antigo "eu" a teria usado para encerrar a própria miséria. O novo fez questão de conservar o tambor carregado. Ele gostava da mudança.

Não precisou andar muito pela rua – seu traçado, entrecortado por barricadas, levando direto ao R.P.D. – para entender o porquê de a vida humana lhe ter sido garantida por mais algum tempo...

Dois quarteirões adiante, de uma esquina onde o portão da delegacia já era visível, ele vislumbrou todos os seus medos materializados num demônio flamejante.

A criatura beirando os três metros era, sim, o monstro de antes, trazido ao mundo dos homens por seu esquife macabro. O fogo que a envolvia era inexplicável; a Brad, verdadeiro sinal de não ser apenas uma criação da Umbrella, e sim uma provação final enviada para testá-lo. Certificar se morreria como o "Coração de Galinha" ou realmente evoluíra a algo mais. Alguém melhor.

A cobertura preta fora desintegrada pelo fogo, revelando em seu lugar o tórax do mutante: vestia collant escuro, junto ao qual estava instalada uma espécie de dispositivo com tubos ou coisa similar, provável auxílio à respiração da criatura. A cabeça de calosa pele cinzenta era atravessada por uma linha de sutura em diagonal. A boca sem lábios, deixando uma mandíbula de compridos e desordenados dentes exposta, somava-se ao conjunto para tornar evidente o quanto aquele ser fora remendado até se tornar um caçador implacável e perfeito.

Teria feito algum mal a Jill? A companheira estaria bem? Mistérios impossíveis de desvendar. Àquele momento, não importavam. Eram apenas os dois. Do menininho do Arizona, exigia-se que domasse o touro pelos chifres.

SSSTTTAAAARRRSSS!

Ele veio na direção de Brad, finalmente reconhecido como oponente digno.

— Quer os S.T.A.R.S., seu monte de bosta? – enfrentando a dor no braço, o piloto apontou o revólver. – Alpha Team, agora e sempre! Vem pra cima, desgraçado!

Cada passo do monstro ressoava como um prédio caminhando; ou pior, um boi raspando o casco contra o chão. Que pudesse arrancá-lo para transformar o tendão em geleia! – foi o que Vickers respondeu em pensamento.

Disparou a primeira vez.

O colosso imediatamente parou a poucos metros de Brad, cobrindo o rosto num urro. Caso estivesse testando a pontaria em garrafas ou latas como fazia com os amigos em Delucia, posicionando os alvos sobre as estacas de alguma cerca de arame farpado, um deles certamente teria soltado um "Bullseye!".

Quando a mão do mutante recuou, o centro da desordem que poderia se associar à sua face tinha um buraco sangrando roxo. Até ali, a besta possuíra algo similar a um nariz, ainda que torto, acompanhando a marca de sutura. O órgão se fora, explodido pela bala.

Com ímpeto redobrado, ele voltou a caminhar.

Rindo, Brad atirou mais duas vezes, alojando projéteis no traje da aberração, embora sem mais conseguir pará-la. Com ela a menos de um metro de si, acabou agarrado pelo colete amarelo e erguido do chão, seus coturnos suspensos acima do asfalto.

O sorriso de Vickers se alargou.

Enquanto distraía o monstro, Jill ganhava tempo para escapar. Quem sabe quais outras pessoas poderiam também estar na lista dele? O quanto Brad pudesse se esforçar para atrasá-lo, garantir que saíssem ilesas...

Quanta ação, quanto préstimo... quanta vida ele perdera por não sair de seu helicóptero!

— Ô coisa feia! – o piloto provocou, fitando o único olho discernível na cabeça da arma biológica e imaginando se ela podia pensar além de sua programação assassina.

O mutante soltou um gorgolejo em resposta.

— Você sabe por que "o galinha" atravessou a rua para a delegacia?

Com o pulso direito livre mesmo na pose em que era levantado, Brad gastou as duas últimas balas contra o respirador ao peito da criatura, que imediatamente soltou faíscas.

Essa é pra você, Jill... Seja a amazona de sempre e termine com ele!

A reação instintiva do inimigo, no que pareceu um legítimo susto, foi projetar um tentáculo da mão oposta àquela segurando Brad, cuja ponta imediatamente perfurou seus lábios, descendo-lhe pela garganta.

Estremecendo em convulsões, Vickers engasgou por instantes, até ter o corpo sem vida atirado ao asfalto...

O distintivo do S.T.A.R.S. pendendo para fora de seu colete, brilhando à luz do fogo ainda queimando na calçada.

 

 


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Notas finais do capítulo

Comentário do autor: Este foi muito legal de escrever! De quebra entregando uma cena que os fãs queriam ter visto no Resident Evil 3 Remake e não foi entregue, hehe!

Quase no fim! E aí, o que estão achando? Comentem, divulguem, tragam mais fãs para esta fic.



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