Wicked Game escrita por Senhorita Mizuki


Capítulo 11
Capítulo 11




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Capítulo 11

 

 

Harry passara a semana ficando distraído, irritado com o fato de Malfoy não tê-lo contatado por dias. Não que ele estivesse sentindo falta da doninha, mas como a missão andaria com aquela espera? Era muita ingenuidade de Kingsley achar que os dois trabalhariam tranquilamente. Esquecera que era de senso comum que grifinórios não trabalhavam bem com sonserinos, e vice-versa.

Hermione percebia que seu amigo não andava fazendo os relatórios de forma correta, que sua cabeça estava fora daquele escritório. No fim da tarde do quinto dia, a garota sugeriu que encerrassem o serviço, o que foi alegremente acatado pelos outros dois colegas. Harry os acompanhou até o elevador do Ministério, taciturno.

- Ah, que ótimo. – Dean sussurrou sarcástico.

O comentário fez Harry erguer a cabeça e ver um par de pessoas entrarem no elevador, conversando animadas. Estreitou os olhos por trás dos óculos, reconhecendo Malfoy, vestindo o que parecia ser um traje muito parecido com o que seu pai costumava usar. O loiro discutia alguma banalidade com um juiz que Harry conhecia apenas de vista.

O homem que aparentava mais de cinqüenta anos cumprimentou-o e os seus amigos polidamente. Foi nesse momento em que seu olhar e o de Malfoy se encontraram, ficando presos por segundos, até o loiro dar seu sorriso de escárnio e acariciar distraidamente a bengala de cabeça de serpente que segurava, insinuando um movimento que fez o moreno corar de imediato.

Parou quando o juiz voltou a se virar para ele, continuando a conversa que mantinham. Harry sentiu uma fisgada desconfortável a ver Malfoy falar com o homem com voz tão aveludada, enquanto este parecia um tanto quanto inclinado demais para o lado do loiro. Mal percebeu que Hermione já havia saído com Justin e Dean do elevador e o chamava. Lançou ainda um último olhar aos dois quando saiu, vendo Malfoy lançar um de esguelha em resposta.

Harry franziu o cenho, mas então a porta do elevador fechou para continuar subindo. Hermione voltou a chamá-lo e ele finalmente se virou. Rapidamente inventou uma desculpa qualquer sobre ter esquecido algo no escritório e pediu para que fossem embora sem ele. A garota olhou desconfiada, mas nada disse, acenando com a cabeça.

Apertou o botão do elevador com certa insistência, levando um choque do mesmo, que parecia ter se irritado com o abuso. Harry olhava feio para ele enquanto finalmente a porta abria. Adentrou rapidamente e ficou olhando os botões com números, sem lembrar que andar o juiz havia apertado naquela hora.

Então um pigarro o fez se sobressaltar e virar, para encontrar Malfoy em um canto, observando-o com uma expressão divertida. Passando e parando muito perto de Harry, o loiro apertou um andar e lhe disse próximo a seu ouvido:

- Me pague um café, Potter.

Um arrepio percorreu a espinha de Harry e ele afastou-se um passo instintivamente, irritado com o olhar debochado do outro.

- Está maluco, Malfoy? Se nos virem juntos?

- Se aparecer alguém conhecido, apenas finja que somos amantes! – disse e piscou de forma inocente.

- O que? Malfoy! – guinchou.

- Estou brincando, - ergueu as mãos – ou não, nesse caso. – sorriu – Então me leve a algum lugar trouxa, não creio que teremos problemas lá.

E saiu do elevador assim que abriu as portas, sem dar direito de resposta a Harry, esperando obviamente que o seguisse. E foi o que ele fez, mantendo uma distância segura até ambos estarem fora do Ministério. Enfeitiçaram suas vestes bruxas em roupas cotidianas trouxas.

- Tem certeza que quer entrar em uma loja trouxa, Malfoy? – olhou desconfiado para o outro – Achei que tivesse aversão a eles.

- Eu gosto do café deles. Aqueles feitos naquelas tranqueiras ligadas na parede... – começou a explicar fazendo gestos atrapalhados, tentando descrever.

- São cafeteiras, máquinas. Deveriam ter colocado você em Estudo dos Trouxas no sétimo ano como punição. – disse a última frase num murmúrio.

Harry desaparatou ambos até onde achou estarem fora de olhares bruxos. Malfoy fez cara feia para a lojinha simples, mas nada disse. Apenas falaram quando ambos estavam acomodados com seus respectivos pedidos – Malfoy com uma outra xícara grande de café, como Harry notou, na qual ele não cessava de depositar açúcar.

- Alguém aqui não vai dormir essa noite. – comentou, tomando seu chá.

- Eu tenho coisas melhores para fazer de noite, mesmo. – respondeu, despejando o último saquinho de açúcar – Espero que esteja ansioso pelas novidades que trago.

- Espere um pouco, Malfoy. Primeiro me diga como se meteu nisso, e com a Ordem.

- E porque eu preciso fazer isso?

- Porque não é um segredo que não confio e nunca confiei em você, Malfoy. Então desembucha. – disse sério.

- É um bom argumento. – ergueu um dedo, tomando um gole calmamente de seu café – E a resposta é bem simples: percebi que não teria vida muito longa ao lado dos Comensais e fiz um acordo com a Ordem. E ajudei bastante Snape como um espião.

- Claro que tinha segundas intenções. – deduziu sarcástico.

- Não nego, me conhece para saber. Mas elas não são da sua conta, Potter.

- Porque se envolver de novo, se já está com sua vida arrumada e salva?

- Estou em débito com a Ordem da Fênix, um grande débito. Não se pode simplesmente trair uma facção como os Comensais e deixar a Ordem como se nada houvesse acontecido, Potty. Não enquanto houver motivos para ela existir.

- Então essa missão...

- Creio que quer saber tudo sobre Richard Honeyman, e como parei nisso. – o interrompeu, girando a xícara em sua mão e parecendo não se abalar muito.

- Se vamos trabalhar nisso juntos, sim.

- Encontrei Richard quando me juntei aos Comensais, mas ele nunca recebeu a marca negra. – começou – Ele possuía muitos contatos por conta do pai influente, era útil para os Comensais e ele havia se interessado com a política do Lorde das Trevas desde Hogwarts. De fato, ele já havia dado em cima de mim na escola, mostrando muito interesse. – nisso ergueu os olhos cinza, para ver Harry se remexer e cruzar os braços, incomodado.

- Achei que estava namorando Pansy na época. – resmungou.

- Se não se lembra, no sexto ano eu estava ocupado demais me preocupando em não ter minha família morta para me ocupar com namoricos. – replicou sombrio – Naquele tempo eu o rejeitei, mas então minha situação depois da guerra ficou ligeiramente complicada, como você e muita gente sabem. – encarou seu reflexo na bebida escura – Então me pareceu uma boa idéia... – deixou no ar.

Harry, que naquele momento tomava seu chá, engasgou, cuspindo parte da bebida. Malfoy ergueu sua xícara da mesa e se afastou, olhando com certo nojo.

- Está dizendo que se envolveu com Honeyman para devolver sua família ao status que ela tinha? – perguntou chocado, limpando o queixo e olhando embaraçado para os lados.

- Não é como se fosse algo muito repulsivo, ele é até bom de cama. – deu de ombros.

- Sabe, Malfoy, eu acho que posso ficar sem os detalhes. – disse com voz ligeiramente esganiçada, cobrindo os olhos com uma mão.

Malfoy soltou uma risada e pareceu impelido a falar mais, mas desistiu, mordiscando o lábio inferior.

- Soube que Richard voltou a ter contatos com alguns ex-Comensais e desde então venho tentando me envolver nos seus planos. Mas ele abre sua guarda muito pouco, preciso usar de artifícios que não gosto nem um pouco para conseguir pequenas coisas. Então não use sua tendência a se precipitar e estragar tudo, sim? – alertou-o.

- Imagino que artifícios, – murmurou, tirando a mão dos olhos – e eu não sou um precipitado. – franziu as sobrancelhas, aborrecido.

- O que quiser acreditar, Potter. – disse em voz arrastada – Mas voltemos ao trabalho. Creio que consegui convencer Lestrange de que poderia armar algo para o Garoto de Ouro. Ou ao menos consegui uma chance, até que confiem em mim.

- Lestrange? – aquele nome atingiu-o como um soco.

- O que foi Potter, está com medo?

- Em seus sonhos, Malfoy. – rosnou.

As lembranças de sua batalha com Bellatrix continuavam frescas na sua memória. Os gritos da mulher, o modo como os olhos insanos viraram para trás, a satisfação que sentira em matá-la e vingar Sirius. Aquela satisfação sinistra que o incomodava até naquele momento.

Rodolphos Lestrange deveria ser dos Comensais o que mais sentiria prazer em tê-lo nas mãos, Harry tinha certeza. Tentou desanuviar a imagem aterrorizante da mulher caindo sem vida ao chão. Sacudiu levemente a cabeça e voltou a encarar Malfoy.

- E como pretende fazê-los acreditar que me tem em seu poder?

- Richard irá convidá-lo a freqüentar sua casa, seus clubes, como se você fosse mais uma das presas nas quais ele estenderá sua influência de poder. Você se mostrará interessado em uma classe a qual nunca participou.

- E isso será o suficiente para eles? – ergueu uma sobrancelha, descrente – Com todo o dinheiro que me foi deixado, eu poderia ter me interessado antes.

- Eu poderia seduzi-lo. – o loiro respondeu, como se fosse uma coisa usual.

- Certo! – disse ainda descrente, mas sentindo seu coração saltar – Fala como se fosse uma coisa muito fácil.

- Não me subestime. Eu já fiz mais vezes do que você pode contar, posso até dizer que sou muito bom nisso.

O ex-grifinório se remexeu de novo e desviou o olhar, sentindo inexplicavelmente uma sensação muito familiar em seu peito, que estivera adormecida por anos.

- Droga Malfoy, você... – abriu a boca duas vezes procurando o que falar – Tem uma noiva, por Merlin! Não se sente nem um pouco culpado?

Malfoy revirou os olhos para cima, nem um pouco interessado de voltar a discutir o assunto.

- Sim, Potter. Mas alguém tem de continuar a descendência dos Malfoy, e essa tarefa sobrou para mim, se não se recorda desse fato. – respondeu com escárnio – E devo lembrar minha vida não lhe interessa, Potter?

- Eu não sou gay, Malfoy. – sussurrou, com medo de que as pessoas ao redor ouvissem – Além do mais, eu tinha uma noiva até semanas atrás.

- Está certo, tinha! E por favor, não é como se a relação de vocês fosse firme. – se divertiu com a cara de espanto de Harry – Você passou a maior parte do tempo lutando com o Lorde das Trevas, teve apenas uma namorada... Como não saber se o salvador do mundo bruxo não possui outros gostos, afinal? Indiferente a eles ambos sabemos que ele não é. – lambeu os lábios, provocante.

Harry sentou reto em seu assento, engolindo em seco, o baque daquele incidente que o afetara por semanas voltando com força. Malfoy era um bastardo de marca maior.

- Então, qual sua resposta? Pode voltar a sua tão preciosa virilidade hétero depois, se quiser. – disse de forma debochada.

- Eu não vou lhe responder isso, Malfoy. – rosnou Harry, vermelho e remexendo nos bolsos em busca de dinheiro para pagar a conta – Primeiro vamos ao seu plano de aceitar os convites de Honeyman. – jogou as moedas na mesa e se levantou.

- Oh, Potty. Você não é nem um pouco divertido. – ronronou Malfoy, imitando-o e seguindo para fora da loja.

Andaram até um beco próximo. Harry lançou-lhe um olhar irritado e Malfoy deu um sorriso de canto e piscou um olho, antes de desaparatarem.


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