Guilty ones escrita por Aislyn


Capítulo 7
Calmaria


Notas iniciais do capítulo

Presente de aniversário pro Hayato! (e pra amora atrasado!) Ou não... Porque com um capítulo desses, alguém vai querer minha cabeça.

Então, boa leitura~



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Nos poucos ensaios ocorridos após aquela simples conversa, foi possível notar o clima leve entre o casal e isso afetava todo o grupo. Os erros diminuíram, as composições saíram mais rápido, as brincadeiras deixavam o ambiente mais agradável. Se um, e somente um, estivesse com problemas, todos os outros eram afetados, assim como as músicas, que podiam variar de melodias harmoniosas até o mais pesado e inconstante do rock.

 

Várias semanas trabalhando duro e sem resultados era frustrante, mas aqueles poucos dias de paz foram uma compensação, pois conseguiram a música principal do novo álbum.

 

Os cinco saíram tão satisfeitos do estúdio naquela tarde que decidiram jantar juntos, algo que raramente faziam, com a desculpa de já se verem demais durante o dia. O bom humor estava claramente presente.

 

A noite foi divertida, com muita comida e boa bebida, várias risadas e conversas animadas. Se distraíram tanto que só notaram o horário tardio quando Shibuya olhou o relógio, exclamando que ia perder o último trem. Como o baixista não tinha habilitação, suas únicas formas de se locomover pela cidade eram metrô, ônibus e táxis, mas a última opção estava fora de cogitação devido ao orçamento.

 

Deixando sua parte da conta sobre a mesa, Shibuya jogou a mochila nas costas e se despediu, saindo apressado do restaurante. Jack fez o mesmo, dizendo que ia fumar enquanto esperava lá fora e a seguir foi imitado por Arata, que deixou o dinheiro na mesa, avisando que precisaria passar no banheiro antes de ir embora. Takeo e Teruo trocaram olhares desafiadores e, após uma séria disputa de jo-ken-pô, decidiram quem ia até o balcão pagar a conta.

 

Quando Hayato voltou para o salão, os amigos haviam ido embora e apenas o namorado o aguardava. Caminharam de mãos dadas até a moto no estacionamento, com aquela sensação de começo de namoro, um toque tímido e contido, além dos sorrisos envergonhados. Não era a melhor fase do namoro, mas se respeitavam e estavam se redescobrindo, se tratando bem, como cada um merecia, sem pressionar e sem cobrar no processo.

 

Mikaru não havia sumido da vida dos dois, ainda mandando mensagens sugestivas e algumas informações sobre os negócios na cidade, mas Takeo mantinha Hayato informado, lendo as mensagens quando ele estava do lado e também respondendo com ele por perto. Não queria criar mais brechas para desconfianças e nem perder a chance que havia conseguido.

 

Takeo estava feliz pelo amigo, que havia conseguido um prédio e em pouco tempo começaria as atividades da empresa, voltada para o ramo de arquitetura e construção. Não aprovava as indiretas que recebia, mas faria o mesmo se não estivesse comprometido. Alguns traços da personalidade não podiam ser tão facilmente modificados. Contudo, tinha consciência do erro que cometeu e queria corrigir para continuar ao lado de Hayato. Ainda não havia conversado sobre o problema, mas sabia que o namorado o escutaria quando chegasse a hora.

 

* * *

 

O celular tocava insistentemente, mas quando Takeo pegou o aparelho para atender, acabou deixando tocar mais um pouco, até cair automaticamente na caixa de mensagem. Era Mikaru, mais uma vez. A terceira ligação que ignorava naquele dia. Não sabia o que o amigo queria, mas da sua parte, preferia evitar confusão. Ele e Hayato ainda não haviam esclarecido tudo, mas não queria magoar o namorado de novo. Deixou o celular na mesinha de centro, voltando para a varanda, onde supervisionava a instalação da tela de proteção para o gato.

 

Quando foram na feira de adoção, um dos requisitos era que as janelas tivessem tela, para evitar que o gato caísse durante algum pulo. Takeo não ficou feliz por perder a ampla vista que tinha da cidade, mas era por uma boa causa.

 

Hayato chegou horas depois, quando o serviço estava terminado, com vários pacotes em mãos e um sorriso enorme no rosto. Havia saído para comprar os potes de comida para o filhote, mas acabou retornando com uma cama, uma coleira e vários brinquedos. Era bom vê-lo animado de novo, mesmo que não fosse por sua causa.

 

— Você nem está pensando em mimá-lo, não é? – Takeo abriu um dos pacotes, acabando por se divertir com os brinquedos também. Ele nunca havia tido um gato antes, apesar que seria mais de Hayato do que dele.

 

— Eu me controlei pra não trazer a loja inteira. Tem tanta coisa interessante!

 

— Quando combinou de buscá-lo? Vamos precisar de uma caixa de transporte também.

 

— Eu pensei no próximo fim de semana, quando tivermos folga. Assim ele não fica muito tempo sozinho e nos acostumamos com ele em casa.

 

— Ainda vai demorar… Por que não vamos no meio da semana? Eu e Teruo devemos gravar primeiro e você por último, podemos buscar nesse intervalo, quando for a vez do Jack ou do seu primo. Eu fico com o filhote quando estiver trabalhando. Ou sou irresponsável demais pra isso?

 

— Claro que não, mas eu vou ficar morrendo de vontade de voltar pra cá. E se isso afetar a gravação?

 

— Ok, entendi. Deixamos pro fim de semana. Assim você aproveita com cal-

 

O telefone voltou a tocar, chamando a atenção do casal. Takeo encarou o visor desconfiado, lançando um olhar para Hayato, tentando decifrar sua reação. Estava na cara que Mikaru não ia desistir tão fácil.

 

— Não vai atender?

 

— Você não se importa? – Takeo pegou o celular, ainda em dúvida se era uma boa ideia, mas se livrou de tomar uma decisão quando a chamada encerrou, arrancando-lhe um suspiro – Não é a primeira vez que ele liga hoje…

 

— O que ele quer? – Hayato beliscou o lábio nervosamente, tentando mostrar desinteresse, mas não deixava de se preocupar. Não tanto pelo rapaz, mas por Takeo.

 

— Não sei, também não atendi nas outras vezes. – dando de ombros, o celular foi deixado de lado enquanto o guitarrista voltava a atenção para os brinquedos, guardando-os com cuidado, mas então o celular sooul novamente, dessa vez com a chegada de uma mensagem.

 

“Você disse que me ajudaria se eu precisasse.”

 

Shiroyama não perguntou dessa vez se o namorado se incomodaria caso lesse a mensagem ou atendesse a ligação. Hayato não parecia se importar, mas sabia que era fachada. Leu a mensagem com estranheza, a seguir virando o visor para o vocalista, esperando sua reação.

 

— O que acha?

 

— Será que é algo sério? – Hayato ainda cutucava o lábio, sentindo-o arder. Precisava controlar aquele tique nervoso.

 

— Hmm não muito… caso contrário iria ligar para uma ambulância ou pra polícia e não pra mim.

 

— Você vai ajudar?

 

— Não sei… não parece boa ideia… – Takeo suspirou fundo, pegando a mão de Hayato – Não quero te chatear. E sempre tem a possibilidade dele só estar querendo aprontar.

 

— Verdade… vamos lá. – decretou por fim, guardando o restante dos brinquedos.

 

— Vamos? – será que tinha escutado direito? Hayato estava se oferecendo pra ir junto? Ele tinha motivos para não confiar, mas daí a querer encontrar alguém que era notável o desgosto?

 

— Sim, vou com você. Se for algum motivo idiota, nós voltamos na hora. Entendeu?

 

— Entendi! – aquela era a melhor sugestão no momento. Estava preocupado sem saber o motivo de tantas ligações, mas também não queria complicar mais o namoro. Já foi difícil conseguir que Hayato se aproximasse de novo.

 

Retornou a ligação para o amigo, confirmando que Mikaru estava em casa e informando que chegaria em pouco tempo, pedindo que esperasse na porta. Omitiu o detalhe que levaria o namorado junto, caso contrário Mikaru estaria pronto com algum repertório de tiradas irônicas para incomodar o vocalista. Tinha quase certeza que não era nada muito importante, mas ofereceu ajuda, não é? Não especificou o tipo de gravidade em que devia ser contatado.

 

As suspeitas de Takeo foram comprovadas ao avistar o amigo a poucas casas de distância, fumando despreocupado debaixo da sombra de uma árvore. O que incomodou Hayato aos extremos foi a aparência do rapaz. Era fim de semana e ele usava um terno completo, com direito a blazer, gravata e tudo mais, além do cabelo sem nem um fio fora do lugar. Por um instante entendeu porque o namorado não gostava de roupas sociais. Se sentiu sufocado apenas por ver a vestimenta do tal amigo.

 

Será que ele queria passar alguma imagem de perfeição? De seriedade? Totalmente desnecessário.

 

Ao estacionarem em frente à casa, acendeu na cabeça de Hayato um alerta de filho rico e mimado. Analisando apenas o lado de fora dos muros,aquilo parecia uma mansão. Mikaru não se aproximou para recebê-los, encarando o vocalista com claro desprezo. Ele realmente estava esperando que apenas Takeo aparecesse.

 

— O que houve? – Shiroyama questionou enquanto se aproximava, mas o olhar do empresário ainda estava voltado para o vocalista e deixou seu desagrado sair em palavras.

 

— Por que trouxe esse encosto? Eu pedi sua ajuda, não a dele.

 

— É meu namorado e sai muito comigo. – Takeo entrou na frente antes que Hayato revidasse e a briga se estendesse – Se me quer aqui, ele vai ficar também.

 

— Ele não vai entrar na minha casa. Vai trazer má sorte pro lugar.

 

— Desde quando você é supersticioso? – Takeo revirou os olhos, pegando a mão do namorado e colocando em prática a sugestão dele, voltando em direção à moto – Se não aceitar assim, nós vamos embora.

 

— Tsc… tudo bem… mas ele vai só até a garagem.

 

Takeo considerou aquilo um avanço, mas era visível o desagrado na face dos dois. Virando-se para encarar o namorado, esperou ouvir alguma reclamação, mas Izumi apenas apertou sua mão em retorno.

 

— Não se importa mesmo? – era melhor confirmar de novo, só para ter certeza que não estava tomando uma decisão errada, mas teve um aceno afirmativo. Já estavam ali, não é? Se algo desse errado, só precisavam ir embora – Certo, o que você precisa, Mikaru?

 

— Por aqui. – Mikaru indicou o portão, levando o casal para dentro e, como suspeitaram, o lugar era grande, bonito e com um jardim visivelmente bem cuidado. Chegando à garagem, Kazunari apontou para um banco próximo à parede, no maior ato de bondade que teria com alguém que odeia – Daqui ele não passa.

 

— Até parece que estou implorando para entrar. – Hayato resmungou ácido, se sentando para esperar.

 

— Estou fazendo isso pelo Shiro, caso contrário você não teria passado do portão. – virando-lhe as costas, Mikaru pegou o amigo pelo pulso, puxando-o para dentro de casa, sem dar chances para que o outro respondesse. Havia notado que aquela imitação de vocalista odiava o apelido de Takeo, então fez questão de pronunciar com bastante ênfase.

 

— Não devia fazer isso, Mikaru… Hayato não fez nada contra você. – Takeo tentou amenizar e trazer um pouco de razão à conversa, mas não se negou em segui-lo, ambos parando no meio da sala – Então, que ajuda você queria?

 

— Ele roubou você de mim… – resmungou em resposta, o tom mais carinhoso do que o usado anteriormente na presença de Izumi – Não sei o que viu nele.

 

— Quer que eu enumere? – Takeo comentou brincalhão, dispensando-lhe um cafuné enquanto caminhava pelo cômodo – Bem legal aqui. Você escolheu tudo?

 

— A maior parte, mas também tive ajuda. Achei duas decoradoras muito boas.

 

— Não vou nem perguntar o preço do serviço. – riu baixinho, aproximando da porta de vidro que levava para um jardim lateral – E então, o que precisa? Parece tudo certo com você.

 

— Quero trocar uns móveis de lugar.

 

O comentário fez Takeo olhar pra trás, esperando a confirmação que era uma brincadeira, mas Mikaru apenas deu de ombros, como se não pudesse fazer muito a respeito.

 

— Tenho certeza que o pessoal da transportadora colocou exatamente onde você pediu.

 

— Sim, mas depois vi que ficaria melhor de outro jeito e não consigo mudar sozinho. Não tenho força pra isso.

 

— Está fazendo de propósito. – Shiroyama acusou sem pensar duas vezes, cogitando chamar o namorado para ir embora. Não queria bagunçar mais a própria vida – Eu disse que podia me procurar em caso de emergência, mas na primeira vez você apareceu no meu apartamento pra irritar o Hayato e agora me chama aqui pra ajeitar sua casa.

 

— Ah, não sabia que existia um manual de ética e motivos plausíveis para se chamar um amigo para ajudar. – Mikaru retrucou sem pestanejar – Vou salvar seu número na lista de emergência, assim qualquer autoridade te liga em caso de necessidade. Pode voltar para seus afazeres. Eu pago alguém pra me ajudar aqui.

 

— Não seja dramático… – sabia que precisava negar o favor, mas não conseguiu recusar diante dos argumentos. Não devia ser chamado apenas em casos extremos. Eram amigos e podiam se ajudar em coisas cotidianas também – Tudo bem, já estou aqui mesmo, eu ajudo.

 

— Não se incomode, realmente não é importante e posso conseguir outra pessoa. Sabe o caminho da rua, não é? Fique à vontade. – Mikaru se afastou, seguindo pelo corredor, mas Takeo fez questão de segui-lo. Sabia que era apenas teatro para chamar atenção.

 

— Vamos lá… não seja assim. Você tem razão, não precisa ser só em emergências. Eu também vou te chamar pra me ajudar com coisas aleatórias, aí ficamos quites.

 

— Eu não te convidei para vir ao meu quarto! – Mikaru parou no meio do corredor, elevando um pouco a voz, comentando em tom insinuante – Eu sei que aprovou meu sofá, mas não vamos testar a cama hoje.

 

— É ela que você quer trocar de lugar? – Takeo revirou os olhos, ignorando a provocação.

 

— Não, os sofás. E levar algumas caixas para aquele quarto ali.

 

— Certo, me mostre onde é pra colocar.

 

Voltando para a sala, Mikaru seguiu sem pestanejar, sorrindo de canto. Ele sabia que dava para ouvir a conversa do lado de fora, havia notado o eco no corredor enquanto transportavam os movéis.

 

Hayato ficou alerta ao ouvir falar de camas e aprovações de sofá. Deixou o joguinho no celular de lado, mordendo o lábio com força. De onde estava, não conseguia ver movimento dentro da casa, mas se notasse algo suspeito, iria entrar atrás do namorado. Ouviu alguns murmúrios mais distantes e então o barulho de móveis sendo arrastados, seguido do comentário de como os braços do Shiro eram fortes e se havia conseguido músculos apenas praticando guitarra ou algum exercício físico.

 

Aquele filho da mãe… ele não tinha mais o que fazer além de ficar reparando no corpo do seu namorado? Não conseguindo ouvir a resposta de Takeo, Hayato concluiu que ele ignorou a indireta. Ou esperava que tivesse ignorado…

 

Por que Takeo estava sendo tão ingênuo com aquela conversa? Ou estava se fazendo de idiota? Não queria imaginar que estivesse gostando.

 

— Eu vou pagar o favor do jeito que você quiser. – Hayato apertou o celular em mãos com o novo comentário, odiando aquele tom oferecido. Ele estava praticamente se jogando! Se fosse o Takeo de antigamente, o cara que conheceu no começo da banda, tinha certeza que ele ia aceitar aquele convite safado, mas agora… Não, não podia ter certeza que ele ia negar, mas precisava confiar!

 

— Não precisa se preocupar com isso. – Takeo respondeu com um suspiro, afastando os fios de cabelo que caíam sobre os olhos – Bom, talvez eu aceite uma bebida.

 

— Uma bebida e um jantar! Nós dois podemos sair pra beber já que estamos quase terminando aqui.

 

— Três, – Shiroyama corrigiu enquanto coloca a mesa de centro no lugar – estamos em três. Vai arcar com tudo?

 

— Claro que não. Estou te convidando, já que está me ajudando. Pode deixar o encosto em casa antes de sairmos.

 

— Mikaru…

 

— Só falei a verdade. – deu de ombros, colocando mais um enfeite na prateleira e então voltou a mexer nas caixas, como se procurasse algo – Leva essa pra outro cômodo pra mim? Não lembro onde coloquei os livros que iam ficar aqui…

 

O último comentário foi bem pensativo, como se ele realmente estivesse procurando à sério, mas assim que Takeo se afastou, Mikaru caminhou para a entrada, se apoiando no batente da porta, encarando o vocalista com desprezo.

 

— Espero que tenha escutado. Estamos planejando sair pra jantar, só nós dois. Então que tal fazer um favor e ir embora? Shiro não vai sentir sua falta. Vou cuidar bem dele pra isso não acontecer.

 

Hayato mal notou quando se levantou, caminhando para perto do empresário e puxando-o pela frente da camisa. Ia acabar com aquele abusado agora!


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Notas finais do capítulo

Continua...



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