Não podia acreditar que todas as minhas esperanças haviam sido aniquiladas naquela manhã, após os amigos de Aurora afirmarem que não havia saída pra mim. Para todos os efeitos, era culpado de desviar milhões da rede de hospitais, mesmo não lembrando quando havia assinado tais documentos.
–É isso que dá não ser tão atencioso com as questões burocráticas, Ethan Harry. - me recriminei furioso, assim que sentei na cama do quarto de hospedes já devidamente vestindo depois que tomei um banho para relaxar um pouco, após uma manhã exaustiva de buscas de provas que me inocentassem a qual acabou dando em nada.
Sabia muito bem o que devia fazer agora, mas meu instinto implorava para não fazê-lo.
Estava em uma verdadeira encruzilhada, onde um caminho me levava em direção a renúncia do cargo de administrador da rede de hospitais, mantendo assim a credibilidade e o bom nome da instituição já o outro, me impulsionava a lutar para provar a minha inocência sem medir as consequências desse ato.
Apesar de querer agir por impulso, não poderia fazer isso.
Inúmeras pessoas dependiam dos hospitais Thompson, tanto para terem sua renda no final do mês ou terem atendimento especializado, seria egoísmo da minha parte pensar apenas em mim, quando havia tantos outros que precisavam muito mais da instituição do que eu.
Sem alternativas, decidi que seria melhor me demitir e assumir toda a culpa pelo desfalque, protegendo assim não só todo o legado da minha família como o direito de todas as pessoas que dependiam direta e indiretamente do hospital.
Determinado me levantei da cama, peguei meu celular e liguei para o gerente do meu banco, para questioná-lo se dispunha da quantia que havia sido desviada do hospital, mas sua resposta negativa me deixou frustrado.
–Ethan? - ouvi a voz de Benjamin me chamar da porta do quarto, que estava entre aberta, e virei para vê-lo.
–Aconteceu alguma coisa com a Mel ou com a minha sobrinha? - questionei preocupado deixando meu celular de lado e meu irmão negou, antes de entrar no meu quarto fechando a porta em seguida.
–Não, as duas estão bem, deixei Mel dormindo e vim ver como está...Pelo jeito, você não está nada bem. - meu irmão mais velho disse antes de vir se sentar ao meu lado na cama.
–Parece que tudo está dando errado, Ben. Logo agora que estava tão feliz, que havia finamente conseguido ficar com o meu imprinting, essa bomba cai em cima da minha cabeça?! O que foi que fiz, para merecer algo assim?!- questionei para o meu irmão desesperado por respostas e ele suspirou, antes de colocar sua mão direita no meu ombro e olhar nos meus olhos.
–Queria poder responder a todas as suas angústias, irmãozinho, mas não posso. Tudo que posso dizer é que não importa a decisão que tomar, estarei sempre ao seu lado. - Ben disse sincero e sorri com carinho para ele.
–Eu sei, Ben, obrigado por estar ao meu lado nos melhores e piores momentos.
–Sou seu irmão mais velho, caçulinha, se pudesse faria qualquer coisa para que não passasse por isso.
–Eu sei que faria, maninho.
–E então, o que pretende fazer agora? - Ben questionou interessado e suspirei resignado, afinal era a melhor solução que poderia tomar nesse momento.
–Vou pedir demissão e pagar pelo menos uma parte do desfalque que deram no hospital, pois não possuo o valor total disponível já que comprei a pensão para Aurora. Espero que esse dinheiro ajude a amenizar a crise financeira que o hospital irá enfrentar em breve. - disse torcendo para que a falta desse dinheiro não afete tanto os pacientes e os funcionários, mas sabia que seria impossível isso não acontecer.
–Isso é muito nobre da sua parte, Ethan. Arcar com uma culpa que não é sua, apenas para proteger o legado da nossa família e a sobrevivência de outras pessoas. Você está ciente de que se fizer isso, mesmo sendo inocente todos o julgaram como culpado? - meu irmão questionou olhando nos meus olhos e suspirei concordando.
–Sim e não tenho medo. Sei que é o certo a se fazer, mas e você, ficará ao meu lado até o fim, irmão? -questionei apreensivo por sua resposta e Benjamin sorriu para mim, tentando me tranquilizar de alguma forma, o que surtiu efeito.
–Sempre, irmão, não importa a ocasião. Conte comigo para o que precisar.
–É bom saber, porque vou precisar de um favor, mas se você não puder irei entender.
–Do que precisa? - Benjamin questionou e respirei fundo, antes de lhe pedir a soma que faltava para quitar o desfalque do hospital. -Não se preocupe, amanhã cedo ligarei para o meu gerente e transferirei a quantia que me pediu para a sua conta.
–Tem certeza que esse dinheiro não irá lhe fazer falta, Benjamin? Não quero que sacrifique o futuro da sua filhotinha por minha causa. - disse preocupado, afinal meu irmão estava prestes a se tornar pai e devia pensar no bem da sua família.
–Tenho, Ethan. Não se preocupe, o futuro da sua sobrinha está assegurado. Se não se lembra, quando fiz dezoito anos além da viagem para o Caribe...- meu irmão começou a dizer e sorri me lembrando daquelas férias inesquecíveis, antes de interrompê-lo.
–Foram dias incríveis...Você contou para a sua esposa...- comecei a dizer e meu irmão me interrompeu enquanto me olhava em pânico.
–Não e ela nunca vai saber. Ultimamente a Mel está tendo algumas crises de ciúme, imagina se ela souber o que aprontei nessa viagem quando era adolescente...Acho que ela me mataria e nem sentiria remorso, por deixar sua filha sem o pai.- meu irmão segredou e sorri negando, afinal Melissa não aparentava ser tão brava, assim como não éramos tão frágeis ao ponto de um humano nos machucar.
–Você está exagerando, Benjamin. - disse não acreditando no que meu irmão havia acabado de falar.
–Quem me dera, irmão. Semana passada, minha mulher armou um verdadeiro escândalo quando entrou na minha sala e viu minha secretária me ajudando a secar uma macha de café, que a mesma havia derrubado sem querer na manga da minha camisa...Você não sabe o quanto foi difícil convencer a Melissa, que não estou tendo um caso.- meu irmão explicou e suspirou passando a mão nos cabelos escuros, como se estivesse tentando aliviar a preocupação de alguma forma.
–A sua lobinha está afetando tanto assim a mãe dela? - questionei preocupado, afinal pelo que nossos pais haviam contado, Melissa poderia ficar diferente durante a gravidez, como por exemplo ficar irritada do nada ou extremamente cansada, pois minha sobrinha não tinha nenhum controle sobre o temperamento explosivo dos transfiguradores.
–Sim. Depois que Melissa dorme, converso com a minha filhotinha para tentar acalmá-la, com a evolução da gravidez as oscilações de humor da minha esposa têm diminuído, mas nem sempre minha lobinha me escuta.
–Pelo jeito, minha sobrinha vai puxar o gênio indomável dos Clearwater. - brinquei e meu irmão concordou sorrindo.
–Provavelmente sim...E eu torcendo para que minha filhotinha, puxasse o temperamento da mãe. - meu irmão segredou e sorri negando.
–Espero que esteja preparado para uma mini versão da dona Leah, Benjamin.
–Eu também espero, irmão. Por via das dúvidas, vou pedir umas dicas para a vovó. - ele segredou e sorrimos. -Voltando ao assunto, meus padrinhos também me deram de presente de aniversário uma generosa poupança, na qual sempre depositavam uma grande soma desde que nasci, desde então nunca mexi nesse dinheiro, nem tinha planos para ele. Se isso o fizer se sentir melhor, você pode encarar como uma espécie de empréstimo, do qual poderá me pagar assim que puder.
–Obrigado, Benjamin, não sei o que lhe dizer. - disse emocionado pela generosidade do meu irmão.
–Não precisa dizer nada, sei que se estivesse no meu lugar faria a mesma coisa por mim. - ele disse olhando nos meus olhos e concordei. - E você, já contou seus planos para Cíntia?
–Não. Isso é só mais um item na lista de segredos que escondo dela... E agora estamos noivos e não tenho ideia de como contar tudo a ela, tudo que faço é adiar até que chegue o momento certo.
– Por experiência própria, o momento certo não existe, irmão. Você precisa contar a verdade para Cíntia, antes que ela saiba da pior forma e não o perdoe por mentir.
–E se depois que contar ela ficar com raiva de mim? Deus, não suportaria saber que a mulher que amo me odeia. O que devo fazer, Ben? - questionei aflito e meu irmão suspirou ao meu lado.
–Por mais que queira dizer o que deve fazer, não posso. Essa é uma decisão que só você deve tomar, Ethan. - Benjamin disse sábio e concordou com a cabeça, pois meu irmão tinha razão.
–Obrigado pelo concelho, irmão. Tenho certeza que será um excelente pai. -disse sincero e meu irmão sorriu agradecido para mim.
Conversamos mais um pouco até que Cíntia entrou no quarto, em seguida Benjamin saiu nos dado um pouco de privacidade.
–Está tudo bem com você? - Aurora questionou preocupada, assim que se sentou ao meu lado na cama.
Esse é o momento Ethan...O momento de contar tudo... comecei a pensar comigo mesmo, mas antes que pudesse organizar os meus pensamentos para falar a verdade para Aurora, meu espirito de lobo rosnou furioso em minha mente deixando claro que não concordava comigo.
“Esse não é o momento...Nossa fêmea não está pronta.” - o espirito de lobo que habitava em mim disse autoritário e pisquei confuso, afinal achava que ele seria o primeiro a me apoiar na decisão de contar tudo a ela.
“Tem certeza disso?” - questionei em pensamento para a força que havia dentro de mim e ela soltou uma rosnada esquisita, como se fosse uma espécie de risada sarcástica.
“Tenho, Ethan. Já vivi muito mais vidas que você, sei do que estou falando.” - o espirito disse impaciente e suspirei concordando, afinal meus pais sempre diziam para que escutássemos a voz do espirito de lobo que vivia dentro de nós, pois segundo meu pai os espíritos se tratavam dos primeiros transfiguradores, provavelmente nossos antepassados.
“Tudo bem, só espero que não esteja errado.” -pensei preocupado e ele suspirou.
“Jamais arriscaria a nossa chance de ficar com a nossa fêmea, tem a minha palavra.” - o espirito jurou e concordei resignado, torcendo para que não me arrependesse.
–Ethan, está tudo bem? Você parece tão distraído. - Aurora questionou preocupada acariciando meu rosto com a mão direita e sorri carinhoso para ela.
–Estou bem, amor, só um pouco cansado. - assegurei suave e tirei sua mão direita do meu rosto, entrelaçando nossos dedos antes de beijar o dorso da sua mão. - Sinto muito por não termos tido o nosso final de semana romântico, como prometi.
–Está tudo bem, Ethan, tenho certeza que teremos outros finais de semana românticos.
–É o que espero, Aurora. - disse suave olhando em seus olhos verdes esmeralda.
Sem dizer uma palavra, ela encostou sua testa na minha e aproveitei para acariciar a ponta do seu nariz com o meu, desfrutando do seu calor e do seu doce cheiro de pitanga.
–Não se preocupe, amor, tudo irá se resolver, eu prometo. - Aurora jurou suave para mim, enquanto permanecíamos com nossas testas unidas e desejei que ela pudesse ter razão.