O Legado escrita por KayallaCullen, Miss Clarke


Capítulo 63
Ethan


Notas iniciais do capítulo

Sejam bem vindos a segunda parte de O Legado, dessa vez conheceremos a história de amor de Ethan e Cíntia.
Espero que estejam preparados para essa temporada, pois ela promete grandes emoções.
Os primeiros capítulos se passam alguns dias antes do casamento do Ben e da Mel.
Sem mais delongas, fiquem com o capitulo de hoje.
E lembrem-se: Fiquem em casa, lavem as mãos frequentemente, bebam água e mantenham pensamentos positivos.
Beijos e boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/788068/chapter/63

Caminhava em direção a enfermaria quatorze, em mais uma das minhas rondas diárias averiguando se tudo estava tranquilo, mesmo não precisando fazer isso já que a rotina burocrática da administração da rede de hospitais tomava praticamente todo o meu tempo, amava andar pelos corredores do hospital vendo e  ouvindo os funcionários, os quais fiz questão de aprender seus nomes, saber se estavam confortáveis em suas funções ou se precisavam de algo mais, que ainda não havia sido passado a direção.

Enquanto estava de cabeça baixa, concentrado em um prontuário de um paciente que estava internado no leito cinco, ouvi ao longe algumas enfermeiras comentando sobre uma funcionária do prédio da administração do Conglomerado que teve um caso com outro funcionário, o qual estava de casamento marcado para um dia depois que o casamento do meu irmão, do qual serei padrinho ao lado da melhor amiga da minha cunhada e do meu irmão.

Alguém que não conhecia pessoalmente.

—Duvido que ela não sabia. Como uma mulher se relaciona com alguém, e não sabe que ele é noivo?!- Soraia, uma das enfermeiras chefes questionou indignada para as outras.

—Soraia tem razão. É praticamente impossível uma mulher não perceber isso. Quando o Kaio, meu ex-namorado, estava pulando a cerca já desconfiava das traições dele. Com certeza ela sabia de tudo e aceitava ser a amante. - Judith, uma auxiliar de enfermagem, comentou enquanto caminhava ao lado das outras.

—Não sei...Talvez possa ser verdade, os homens tem uma lábia que só Deus para saber se estão mentindo ou falando a verdade. Além do mais, não devíamos ficar julgando a pobre moça... E se realmente ela foi enganada? Imaginem como deve ser, saber que toda a empresa fala por suas costas. - Sarah, outra auxiliar de enfermagem, comentou e balancei a cabeça concordando, pois ninguém deveria achar que tinha o direito de falar dos outros, muito menos julgar a sua vida.

Para mim as pessoas estavam no mundo para serem felizes, independente da sua raça, credo ou orientação sexual, quando elas começavam a fazer isso acabavam sendo julgadas por aqueles que não faziam o mesmo, como se eles tivessem algum direito de colocarem o comportamento dos outros em um tribunal, condenando-os apenas porque tinham uma vida diferente da sua.

Saber que alguns funcionários do Conglomerado, especificamente o hospital, perdiam tempo julgando outros funcionários, me deixava envergonhado e indignado. Envergonhado como ser humano, por saber que uma pessoa estava sendo alvo de boatos maldosos que só serviam para movimentar a sala do cafezinho, e indignado como chefe, por perceber que minhas funcionárias estavam perdendo tempo com fofocas ao em vez de estarem salvando vidas.

Ouvir a conversa das minhas funcionárias me fez tomar uma decisão, assim que terminasse a minha ronda iria convocar todos os chefes dos setores do hospital, avisando que não admitiria qualquer fofoca sobre um funcionário do Conglomerado sendo ele quem seja, pois se ouvisse algo assim novamente faria questão de demitir a pessoa, afinal estávamos ali para salvar a vida e não para julgarmos o comportamento dos nossos colegas de trabalho.

Depois que terminei de analisar o prontuário da última enfermaria, recomendando a chefe de enfermagem do setor levar o paciente para fazer uma ressonância, comecei a caminhar em direção a minha sala, pois precisava colocar em prática minha medida contra o boato que estava se espalhando pelo hospital, assim que chegasse em casa conversaria com o meu pai sobre esses boatos, afinal ele precisava tomar uma providência urgente sobre isso.

—Doutor Thompson? - ouvi uma voz conhecida me chamar e parei no meio do corredor do hospital, virando para ver quem me chamava.

Esperei pacientemente a enfermeira Chloé, caminhar apressadamente em minha direção com uma pasta azul marinho nas mãos, a cor padrão de todas as documentações oficiais pertencentes ao Conglomerado Thompson.

—A cada dia... Esse corredor fica mais...Longo. - ela disse sem folego assim que parou ao meu lado e sorri gentil para ela.

A enfermeira Chloé trabalhava no hospital há mais de trinta anos, apesar de já ter se aposentado ainda continuava conosco por vontade própria, sendo responsável por recepcionar os novos enfermeiros que fariam parte da nossa família, repassando nossa rotina, normas e regimentos internos, além de transmitir toda a sua experiência de anos atuando como enfermeira intensivista.

Tê-la como colaboradora, mesmo após sua aposentadoria, era o resultado de um programa especial que havia no Conglomerado, o qual tinha como objetivo a valorização dos funcionários aposentados, já que os mesmos haviam acumulado anos de experiência e conhecimento da prática profissional, algo que faltava nos recém-formados profissionais que ingressavam no mercado de trabalho.

—Antes de tudo, respire fundo, Chloé. - pedi preocupado com ela, afinal ela tinha a mesma idade que meus avôs maternos. -Chloé, não precisava vir correndo atrás de mim, era só ir até uma das enfermarias e pedir que me chamassem pelo alto falante do hospital.

—Nunca consigo me lembrar desse novo recurso, prefiro a moda antiga. Sabia que conheci meu marido, correndo atrás de um médico?

— Sério? - questionei confuso, nunca pensei que alguém pudesse encontrar a sua alma gêmea em um hospital.

 Mas quem eu era, para julgar?

Meus pais, haviam se conhecido em um velório e meu irmão mais velho, conheceu a noiva na entrevista de emprego que conduzia, para a vaga de farmacêutico assistente dos laboratórios que chefiava.

O que me fez perceber que minha família tinha uma forte tendência, em encontrar seus imprinting em situações e locais inusitados.

—Sério, doutor Thompson. Mas essa história fica para outro dia. - ela disse me tirando dos meus devaneios e concordei antes dela me entregar a pasta que estava em suas mãos. - Suzanna, me pediu para lhe entregar esses documentos, pois precisa da sua assinatura com urgência e ela também me pediu para informa-lo, que tivemos um problema na clínica pediátrica.

—Que tipo de problema, Chloé? - questionei preocupado, afinal havia acabado de fazer minha ronda pelo hospital e tudo estava em perfeita ordem.

—Sei que o seu último dia na clínica foi no mês passado, mas os filhos da senhora Barnes não aceitaram que o doutor Ramos os examine. - Chloé me explicou e concordei com a cabeça, enquanto pegava a pasta das suas mãos e as colocava em cima do balcão de uma das enfermarias, para que pudesse assinar e colocar meu carimbo nas copias. - E o senhor sabe, como eles são crianças de opinião forte.

—Como sei. - disse sorrindo enquanto assinava, pois conhecia muito bem os gêmeos Barnes, já que fui pediatra deles desde que tinham um ano de idade.

—Não se preocupe Chloé, vou ver os filhos da senhora Barnes e conversar com eles. Já assinei os documentos, poderia, por favor, leva-los novamente para a Suzanna. - pedi a ela que concordou antes de pegar a pasta das minhas mão e nos despedirmos, seguindo caminhos diferentes.

Assim que me aproximei da recepção da clínica pediátrica, pedi informações a Louise, que trabalhava no local, sobre o número da sala em que estavam meus ex-pacientes geniosos.

—Será que poderia conversar alguns minutos com seus pacientes, doutor Ramos? - questionei depois que bati na porta e recebi autorização para que entrasse.

—Claro, doutor Thompson. -  Edgar disse sorrindo cúmplice para mim, o que me fez ter certeza que durante o almoço ele iria me infernizar para saber se meus ex-pacientes e sua mãe, ainda insistiam em querer me juntar com a tia solteirona deles.-Bom, como vocês estão em boas mãos, vou atender os outros pacientes.

—Obrigada e me desculpe, doutor Ramos. - a senhora Barnes disse envergonhada pelo comportamento dos filhos e Edgar sorriu compreensivo.

—Está tudo bem, senhora Barnes. Seus filhos não tem culpa de terem um médico preferido, um dos melhores que já conheci. - meu amigo disse gentil me deixando sem graça antes de se despedir.

Respirei fundo e me ajoelhei perto de Pandora e Alex, que estavam sentados nas cadeiras em frente à mesa do consultório, e olhei para os dois que sorriram antes de me abraçarem.

—Estávamos com saudade, Ethan. -Pandora disse saudosa enquanto me abraçava e os abracei mais forte, sentindo o cheiro de criança pequena que eles ainda possuíam, antes de soltá-los.

—Eu sei Pandora, também sinto falta de vocês, mas já conversamos sobre isso meses atrás, lembra? -questionei olhando em seus olhos azuis, pois antes de assumir o cargo de chefe administrativo da rede de hospitais, havia conversado individualmente com cada um dos meus pacientes e seus responsáveis, lhes explicando tudo sobre a minha mudança de cargo e todos pareceram entender e aceitar a mudança, menos os gêmeos Barnes.

—Sabemos disso, mas estamos acostumados com você. - Alex destacou e concordei com a cabeça, pois entendia o quanto seria difícil para eles se acostumarem com outro médico, depois de anos sendo acompanhados por mim.

 Por isso havia indicado Edgar, meu amigo de longa data além de ser um excelente profissional, ele era muito paciente e divertido, qualidades primordiais para um pediatra na minha opinião, ainda mais se ele fosse cuidar dos gêmeos Barnes, conhecidos pelo hospital como crianças geniosas e difíceis de lidar. Mas nunca achei nada disso, para mim eles eram apenas crianças que sabiam muito bem o que queriam e lutavam por isso.

—E gostamos mais de você, do que do doutor Ramos. - Pandora segredou para mim e Alex concordou com a cabeça.

—Eu sei crianças, também gosto muito de vocês, agradeço do fundo do coração por gostarem tanto de mim, mas adoraria que dessem uma chance para o doutor Ramos, ele é uma pessoa maravilhosa e um médico incrível. Tenho certeza que assim que o conheceram, irão gostar dele muito mais do que de mim. - segredei sorrindo aos dois que me olharam desconfiados, como se não acreditassem nas minhas palavras.

—Duvido. - Pandora disse decidida e sorri, afinal a ruivinha sempre teve opinião forte.

—Estou com a Pandora, ou você é o nosso médico de crianças ou nada feito. - Alex disse decidido ao lado da irmã que balançou a cabeça, dando apoio a decisão dele.

—Crianças, vocês não podem...- a senhora Barnes começou a repreender os filhos mais velhos enquanto segurava o caçula no colo e a interrompi.

—Senhora Barnes, me deixe conversar com eles, por favor. Tenho certeza que posso fazê-los mudar de ideia. - disse seguro da minha decisão enquanto olhava em seus olhos verdes claros, pois já tinha uma ideia de como persuadi-los.

—Tudo bem, se você não convencê-los a mudar de ideia, não sei mais quem é capaz. - a senhora Barnes disse resignada e sorri agradeci para ela, antes de voltar minha atenção para os gêmeos geniosos em minha frente.

—Que tal se apostarmos? -sugeri aos dois que sorrirem felizes, por minha ideia

Como havia cuidado deles por anos, sabia muito bem que adoravam participar de competições sempre querendo ganhar todas, só que eles não sabiam que eu também era extremamente competidor e que jamais havia perdido uma aposta, a não ser aquela que apostei que meu irmão daria a palavra final na primeira discussão com a esposa, o que não aconteceu.

—Doutor Thompson, não prometa nada a esses dois se não tiver a intenção de cumprir. Eles têm memória de elefante. -a senhora Barnes me alertou e balancei a cabeça concordando.

—Não se preocupe, garanto que cumprirei a minha palavra, senhora Barnes. - disse a ela sem desviar a atenção dos gêmeos sentados em minha frente, esperando que se manifestassem sobre a minha proposta.

—O que quer apostar, Ethan? - Alex questionou animado com a possibilidade de ganhar e sorri com a sua empolgação.

—Quero apostar sobre o médico de vocês. Aposto que irão gostar do doutor Ramos em menos de um mês. - disse olhando para os dois que me olharam desconfiados.

—O que você irá ganhar se perdemos? -Alex questionou curioso em saber mais sobre a proposta e sorri confiante, por saber que havia ganhando o seu interesse.

—Vocês aceitarão que o doutor Ramos, seja o pediatra de vocês. - disse e os dois se entreolharam antes de concordarem com a cabeça.

—Acho justo, e se você perder? - Pandora questionou curiosa e suspirei resignado, pois sabia que só havia uma coisa que os fariam aceitar definitivamente a aposta.

— Se eu perder...Levo a tia de vocês para jantar. - disse e os dois sorriam diante da minha proposta.

—Temos um acordo doutor Thompson. -Pandora e Alex disseram juntos e me ofereceram suas mãos enquanto exibia meu melhor sorriso de vencedor, pois sabia que ganharia aquela aposta.

.............................................................................................................................................

—Dessa vez, você perdeu o juízo de vez. Não acredito que fez uma aposta, com duas crianças de oitos anos?! O que apostou com eles, Ethan? -Edgar questionou enquanto pegávamos nossas bandejas antes de seguirmos para o self-service do restaurante do hospital.

— Apostei que eles irão gostar de você em menos de um mês. Acho bom começar a se preparar para duas crianças amorosos, mas extremante geniosas e cheias de opinião. - disse enquanto me servia de uma generosa porção de feijão, minha comida preferida, desde que meus pais me levaram quando criança em um restaurante especializado em comidas brasileiras, para fazer um trabalho escolar.

—Fico lisonjeado por sua confiança, Ethan, por acreditar o bastante no meu trabalho, ao ponto de apostar sobre ele.

—Edgar, nos conhecemos desde o jardim de infância. Você é um pediatra incrível, só precisa de uma chance com os gêmeos Barnes. - disse enquanto continuávamos nos servido.

—E se eles ganharem? - Edgar questionou se servido de uma porção de brócolis, um vegetal que odiava desde pequeno, Dona Leah que o diga.

—Isso nunca vai acontecer, Edgar, jamais perdi uma aposta na vida, ainda mais para duas crianças de oito anos. - disse sério e meu amigo sorriu enquanto me olhava.

—Sei, e aquela vez em que você perdeu uma aposta sobre o Ben...- ele lembrou do dia em que lhe liguei chateado e frustrado, por ter perdido uma aposta e o interrompi.

—Em minha defesa, meu irmão mais velho está cego de amor pela noiva, fazendo com que ela sempre tenha a palavra final em qualquer discussão que eles possam ter. Porque as pessoas mudam quando se se apaixonam? - questionei me lembrando de como Ben havia mudado depois de ter seu imprinting.

—Elas mudam porque se tornam completas, Ethan. Você sempre quer ser e fazer o melhor para quem ama, não importa o que seja. Você aprende a pensar primeiramente no ser amado do que em si mesmo...Você devia tentar se apaixonar algum dia, faria bem a você. - meu amigo sugeriu brincando e neguei a cabeça veemente fazendo-o rir. -Agora pare de me enrolar, Ethan, o que você prometeu se eles ganharem?

—Prometi que sairia com a tia solteirona deles. - disse me servido com dois pedaços de bifes generosos, afinal era um filhotinho em crescimento.

—Você o que?!- Edgar praticamente gritou no refeitório antes de ter uma crise de riso, atraindo a atenção de todos, me deixando totalmente sem graça.

—Dá pra ser mais discreto? Você está chamando a atenção do hospital inteiro. - pedi sem graça enquanto via meu melhor amigo chorar de rir.

—Me desculpe, mas foi engraçado imaginá-lo tendo um encontro. Ethan, pelo que saiba você nunca foi em um encontro na vida.

—Isso não é verdade, já fui em vários, Edgar. - disse pegando uma garrafa de suco de laranja antes de pegar os talheres.

—Ethan, meu caro amigo de anos, quando se vai a um encontro não terminamos a noite em um quarto de hotel transando com uma desconhecida, alguém para quem jamais ligará ou voltará a ver, ou seja, um encontro se resumi a duas pessoas que estão interessadas uma na outra e que querem ter um relacionamento sério e duradouro. -Edgar me explicou paciente enquanto caminhávamos em direção a nossa costumeira mesa no restaurante do hospital.

—Você realmente tem razão, nunca fui em um desses...E nem quero ir. - disse dando de ombros antes de começarmos a comer, enquanto meu amigo ria sem acreditar no que havia acabado de falar.

—Você não tem jeito. Espero que algum dia encontre uma mulher, por quem queira se tornar um homem sério e comprometido. -ele desejou e me benzi antes de bater na mesa três vezes, fazendo-o rir.

—Deus me livre, Edgar. Não nasci para ser preso a ninguém. Além do mais, estou prestando um serviço à sociedade inglesa, cuidando de inúmeras mulheres solitárias e carentes que existem na nossa comunidade. - disse antes de comer um pouco da minha comida, que estava uma delícia.

—Como diz a minha mãe, nem todos nasceram para serem comprometidos.

—A dona Leila tem razão, a única que possui o meu amor e fidelidade eterna, é a senhora medicina. - disse e meu amigo balançou a cabeça rindo antes de voltarmos a comer em silêncio.

—Tudo bem? - Edgar questionou assim que me viu pegar o telefone, que havia deixado em cima da mesa, e suspirar depois de ler a mensagem da minha irmã mais velha.

—Tudo. É só a Ária, me mandando a milésima mensagem do dia, me lembrando de ir no nosso último jantar entre irmãos hoje à noite, antes do Ben se casar depois de amanhã. - disse antes de tomar um gole do meu suco enquanto pensava que seria melhor falar com a minha irmã do que meu pai, afinal ele já estava aposentado e não devia ficar se preocupando com as fofocas dos funcionários.- Carol, acha que ando trabalhando demais, depois que assumi a administração da rede de hospitais. Acredita que ela me manda várias mensagens ao dia, questionando se já comi ou descansei?!

—Ela tem razão, Ethan. Você está a um passo de se mudar para cá, um médico precisa de uma vida fora do hospital, isso nos faz bem. - ele me recomendou e suspirei resignado.

—Sei disso, mas não consigo me manter longe daqui. Não quando tantas pessoas, precisam dos meus cuidados. - disse olhando em seus olhos verdes, que ficavam em destaque graças a sua pele negra.

—Certo, mas quem cuida de você? Afinal, quem cuida das pessoas merece ser cuidado.

—Pelo jeito a Carol faz isso. - disse dando de ombros antes de comer e meu amigo suspirou preocupado.

—Ela cuida de você como uma irmã, mas a Ária tem a própria vida para dar conta. Você precisa de alguém com quem dividir seus sonhos, preocupações e felicidades...Alguém que te espere acordada para saber como foi o seu plantão, que lhe diga palavras de conforto quando você perder um paciente e se sentir culpado.  Resumindo, você precisa de alguém que preencha o vazio que nem sabe que possui.- Edgar disse sério olhando nos meus olhos e pensei por um minuto como seria ter alguém para todas as situações que meu amigo descreveu, mas não conseguia visualizar nada.

—Eu estou bem, Edgar, não precisa se preocupar. Podemos, por favor, mudar de assunto? - pedi ao meu amigo que concordou antes de voltarmos a comer.

—Quem diria que o Ben, iria se casar e ainda se tornar pai. A sua mãe deve estar nas nuvens. - ele disse mudando de assunto e agradeci em pensamento, antes de sorri negando o que lhe deixou confuso.

—Nas nuvens é pouco para a Dona Leah. Quando o Ben e a Mel, nos contaram sobre a gravidez, minha mãe caiu no choro antes de fazer a dancinha da vitória. Daquele dia em diante, ela compra tudo que vê pela frente que esteja relacionado a bebês. Acredita que ela mandou fazer um body para o meu sobrinho ainda nem nascido, com a frase “Sou o amor da vovó loba”?!- disse e meu amigo sorriu antes de voltar a comer. - Não satisfeita, mamãe fez uma camisa para ela, com a frase “Sou a vovó loba”. É oficial, minha mãe está surtando com a chegada do novo neto.

—Deixa ela curtir esse momento, Ethan. E seu pai, o que está achando disso tudo?

— Meu pai se diverte com tudo, seu Elliot nunca se estressa com nada. Apesar das extravagâncias da minha mãe em relação ao novo neto, fico feliz pelo meu irmão e pela minha cunhada, os dois mereciam uma felicidade dessas depois de tudo que passaram. - disse me lembrando de todo os obstáculos que os dois tiveram desde o início do relacionamento.

—Isso tem a ver com a sua viagem repentina e misteriosa para La Push? - Edgar questionou me olhando nos olhos enquanto cortava sua comida.

Odiava mentir para Edgar, afinal éramos amigos há anos e podia confiar plenamente nele. Ele sabia todos os meus segredos menos o principal deles, pois a magia Quileute me impedia de compartilhar a verdade, com qualquer pessoa de fora da nossa cultura.

A única ressalva era o meu imprinting, que esperava ansiosamente que nunca aparecesse, pois estava vivendo muito bem sem ela.

Na verdade, sabia que não havia sido feito para dividir a minha vida com outra pessoa. Amava desesperadamente minha liberdade para jogá-la fora por causa de alguém, sendo meu imprinting ou não.

—Sim, tem a ver com a minha viagem repentina e misteriosa para La Push. Me desculpe, mas não posso dar detalhes do porque tive que sair correndo. - disse culpado por não poder lhe contar o real motivo da minha viagem.

—Ethan, está tudo bem. Somos amigos há mais de vinte anos, sempre soube que sua família possuía alguns segredos, e respeito isso. Afinal, todo mundo tem direito a sua privacidade. -Edgar explicou e agradeci antes de voltarmos a comer em silêncio.

.......................................................................................................................................................

Depois que dei por encerrado o meu plantão do dia, fui até o repouso dos médicos tomar um bom banho e trocar de roupa, antes de encontrar meus irmãos no restaurante para jantarmos.

Já devidamente pronto, caminhei em direção ao estacionamento do hospital onde havia deixado a minha moto, a qual havia sido um presente de tia Rose e tio Emmett, em comemoração ao meu aniversário de vinte e sete anos no mês passado.

—Oi garota, sentiu a falta do papai? - disse carinhoso para a minha moto enquanto alisava o seu banco de couro.

Amava tudo relacionado a velocidade, principalmente motos.

  Havia feitos vários cursos de mecânica quando adolescente, além de aprender inúmeras outras coisas com tia Rose, que compartilhava da mesma paixão.

Enquanto Ben, preferia passar suas férias na biblioteca com seu padrinho ou aprendendo a esconder coisas em sua mente com tio Edward, eu preferia ficar na garagem embaixo de um carro me sujando de graxa ao lado de tia Rose e tio Emmett, enquanto não estava tendo aulas de piano com tio Edward.

Sabia que meu amor por velocidade deixava meus pais preocupados, mas sempre tomei cuidado, se me envolvesse em um acidente não correria o risco de me machucar seriamente, afinal era um filhote de uma transfiguradora.

—Vamos dar uma volta garota. - disse sorrindo para a minha moto antecipando a sensação que seria voar pelas ruas de Londres.

Pilotar uma moto, sentindo o vento batendo no meu corpo, enquanto tinha a sensação de voar pela pista, só perdia para a sensação decorrer pela floresta na forma de lobo.

Eram duas sensações diferentes, que amava vivenciar.

—Olha só, Ethan sendo pontual, isso é um milagre. - Ária disse amorosa sorrindo para mim, assim que me aproximei da mesa em que meus irmãos mais velhos estavam.

—Depois das inúmeras mensagens que mandou, Carolzinha, fica difícil me atrasar. -disse sarcástico lhe dando um beijo na bochecha antes de me sentar ao seu lado.

—É por isso que mando mensagens. Quando está no hospital, você perde a noção do tempo, Ethan. -minha irmã disse e sorriu amorosa antes de passar a mão de leve em meus cabelos, que provavelmente deviam estar rebeldes por causa do capacete. -Por favor, me diga que não veio feito um louco naquela coisa perigosa, que ousa classificar como meio de transporte.

— Carolzinha, não me obrigue a mentir quando já sabe a verdade. - disse abrindo o menu do restaurante que já estava na minha frente, enquanto meu irmão ria.

—Você ainda vai deixar todos de cabelos brancos, por causa daquilo. - minha irmã segredou antes de me analisar de cima a baixo. - Pelo jeito que está arrumado, você não vai voltar para casa com o Ben.

—Não, vou dar uma volta para recarregar as energias. Além do mais, Ben não dorme em casa desde que chegou de viagem. Ele acha que não percebemos, quando foge no meio da noite para a casa da Melissa. - disse olhando para o meu irmão que corou sem graça.

—Benjamin, não passou pela sua cabeça o que aconteceria se seus sogros descobrissem que dorme na casa deles, sem a sua autorização? - Ária questionou séria olhando para o nosso irmão do meio.

—Sei disso Carol, mas não consigo evitar. Mel não consegui mais dormir sozinha e ela precisa descansar por causa da nossa filhotinha, para que cresça saudável e linda como a mãe. -Benjamin  explicou tentando persuadi-la enquanto olhava nos olhos da nossa irmã.

—Essa é a desculpa mais furada que já ouvi na vida e olha que sou o rei das desculpas. - falei por trás do cardápio ganhando um olhar zangando do meu irmão.

— Só me diga, por favor, que estão apenas dormindo. - Carol pediu olhando para o meu irmão que corou sem graça, comprovando que ele e a noiva estavam fazendo bem mais do que dormir.

— Vou pedir costelas com batatas, como prato principal. E vocês, o que irão pedir? - Ben disse mudando de assunto enquanto corava, dedicando toda sua atenção para o cardápio em suas mãos, fazendo com que nossa irmã o olhasse de forma severa.

—Benjamin Elliot, coloque um pouco de juízo nessa sua cabeça. Você está às vésperas do seu casamento, não coloque tudo a perder porque se deixou cegar por seus desejos.

—Ária, por acaso está sugerindo que a família da Mel, pode impedir o casamento? -questionei traduzindo suas palavras e Benjamin negou com a cabeça.

—Eles não podem fazer isso. Melissa é adulta perante a lei e minha esposa na cultura Quileute, moramos e vivemos como marido e mulher há meses, além dela estar esperando a nossa filhotinha. Jamais deixaria alguém me afastar delas, nem que tenha que fugir com ela para o outro lado do mundo. - meu irmão disse sério enquanto olhava nos nossos olhos.

—Sei disso meu irmão, só estou falando isso para que pense um pouco antes de se deixar levar pelo que senti por sua esposa. Não custa nada usar a razão, no lugar da emoção as vezes. - Carol disse sábia para Ben que concordou suave.

—Você tem razão, vou tentar ser racional, mas não prometo nada. - ele disse suave e ela sorriu concordando por Ben ter levado em consideração a sua opinião.

—Sei que isso não é o tema do nosso jantar, mas ficaram sabendo de um boato que está correndo pela empresa? Escutei três enfermeiras comentando no corredor do hospital sobre isso e tomei a decisão de chamar todos os chefes do setor, alertando que demitiria por justa causa qualquer um que fosse visto espalhando ou comentando sobre esse boato. - disse e meus irmãos se entre olharam antes de Carol virar para me ver.

—De que boato estamos falando? - ela questionou cuidadosa e a olhei surpreso, afinal achava que ela como administradora do Conglomerado devia ter ouvido algo, já que trabalhava no local de origem do boato.

Respirei fundo, me odiando por ter que repetir o que havia ouvido das minhas funcionárias, pois não queria ser mais um a denegrir a imagem da pobre funcionária envolvida nesse boato.

—De que uma funcionária do prédio da administração do Conglomerado, tinha um caso com outro funcionário, que estava de casamento marcado.

—Há esse boato. - ela disse aliviada e percebi que Ben também respirou aliviado, o que me deixou desconfiado. - Não se preocupe, estou tomando providências sobre isso. Que tal fazermos os pedidos, pois estou morrendo de fome.

—Concordo com a Ária. - Ben desconversou antes de dedicar toda a sua atenção ao menu assim como a nossa irmã, me fazendo estreitar os olhos diante do comportamento estranho dos dois.

Me fazendo acreditar, que os dois sabiam muito mais do que queriam demonstrar.

Como se estivessem escondendo algo de mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Legado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.