Room 93 escrita por Izzy Aguecheek


Capítulo 1
I. Is There Somewhere


Notas iniciais do capítulo

Nem acredito que finalmente consegui terminar essa história?????? Eu escrevi o primeiro capítulo em 2015, e fiquei enrolando pra publicar porque achei que as chances de eu desistir dela na metade eram muito grandes... Cinco anos depois, cá estamos nós :v
O título do capítulo significa "Há Algum Lugar?", título da primeira música do EP. Espero que gostem ;)



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White sheets, bright lights

Crooked teeth and the night life

You told me this is right were it begins

But your lips hang heavy underneath me

And I promised myself I wouldn’t let you complete me

 

Lençóis brancos, luzes brilhantes

Dentes tortos e a vida noturna

Você me disse que é bem aqui que começa

Mas os seus lábios pairam pesados sob mim

E eu prometi a mim mesma que não deixaria que você me completasse

Halsey – Is There Somewhere

 

O hotel não é bonito, mas é imponente: três andares de paredes desbotadas, quartos minúsculos e corredores silenciosos, e, embora o prédio não seja de fazer virar a cabeça, há sempre alguém fazendo uma pausa na calçada para analisá-lo. Às vezes, o hotel fica cheio de música, fantasmas e pessoas perdidas; nessas noites, o quarto de Nicole é que fica em silêncio, porque são essas três coisas que lhe fazem companhia, e, quando elas saem para dançar, ela é deixada com os próprios pensamentos ecoando nos ouvidos.

Hoje não é um desses dias, mas, enquanto sobe as escadas silenciosamente até o último andar, Nicole pode ouvir o barulho de música vindo de algum lugar lá em cima. Os corredores podem ser silenciosos, mas os quartos são células vivas e distintas; há sempre um ruído de fundo em todos eles.

Cada andar tem três quartos, numerados de 1 a 9 do primeiro andar ao terceiro. A iluminação do corredor do terceiro andar é fraca, e o local cheira a mofo. A porta de madeira velha do quarto número 9 fica espremida no final, e os pés de Nicole a levam até lá sem que ela precise pensar no assunto. Ao lado do 9 de latão pendurado na porta, alguém rabiscou algo com uma caneta azul. É difícil ver nessa luz, mas ela sabe que é um 3 torto e anguloso; já passou longos minutos encarando esses dois números, decidindo se deveria entrar ou não.

93. O ano em que Callum nasceu. A idade com que a avó de Nicole morreu. Ela gosta do número, e gosta do fato dele estar rabiscado assim em uma porta de hotel deteriorada.

É de dentro do quarto 9(3) que vem a música. Nicole faz uma pausa para identificar a canção, então entra sem aviso.

Callum está de pé no meio do quarto, de olhos fechados, com meias encardidas nos pés e um dos lençóis brancos do hotel enrolados no torso. Nicole fica parada junto à porta por alguns segundos, prendendo a respiração, sem querer quebrar o encanto dele. Uma coisa é ver Callum diariamente, em assentos de metrô e flertando com desconhecidos em festas e andando de mãos dadas com Brenda. Outra é surpreendê-lo assim, sozinho, com o cabelo castanho todo bagunçado e nenhum cigarro nas mãos. A versão pública de Callum é imprevisível; esta versão é incognoscível.

Então ele abre os olhos e a vê olhando para ele, e sorri. O velho Callum de sempre.

— Foi mal – diz ele. – Acho que tomei alguma coisa estragada.

Nicole adentra o quarto e fecha a porta atrás de si.

— De novo?

— Ei, aquele episódio com os drinques exóticos não conta – Callum joga o lençol em cima da cama; Nicole quer dizer a ele para não fazer isso, mas não diz. Ele está usando uma camiseta cinza e folgada, com algo ela não se dá ao trabalho de ler escrito em letras pretas. Um pedaço de uma tatuagem aparece logo acima do colarinho, serpenteando por seu pescoço. – Desligo o som?

Nicole faz uma pausa para escutar e torce o nariz.

— Não precisa desligar, só troca a música – Essa música não é o tipo de música para se ouvir com alguém, e ela sabe muito bem que Callum não vai lhe dar acesso a seu espaço privado.

A despeito das palavras dela, Callum caminha até a pequena caixa de som de onde vem a música e a desliga. Em seguida, volta para junto da cama, que ocupa a maior parte do quarto. O resto da mobília – um armário embutido na parede e uma cadeira – é irrelevante. O quarto 9 só fica ocupado durante o auge da temporada de turismo, e a gerência do hotel, liderada pelo tio de um amigo de Callum, não liga muito para o local.

— Não tem outro tipo de música – diz Callum, à guisa de explicação, quando Nicole olha para ele, surpresa.

— Tudo bem – Ela tira os coturnos, ficando só de meia, como ele. As meias dele estão sujas. As dela estão rasgadas e não combinam. Ela também tira o casaco, expondo a blusa justa que veste por baixo. – O que faremos, então?

Se ele não vai deixar a música tocando, fica claro que hoje não vai ser uma das noites em que eles se deitam no chão frio e passam a noite em claro, conversando sobre o tempo e apontando para o teto, para estrelas que só eles conseguem ver. Nessas noites, Nicole ama-o com mais intensidade do que nas outras, porque sabe que, nessas noites, ele está pensando em Brenda e na tempestade que sempre paira sobre seu relacionamento. São noites de chuva na alma de Callum, e Nicole está feliz em ver que não está chovendo hoje.

Callum dá de ombros e se deita na cama, apoiando as costas na cabeceira. Nicole senta de pernas cruzadas ao lado dele.

— Foi um longo dia – diz Callum, com um sorriso de lado que faz algo dentro de Nicole morrer um pouco. – Não estou muito criativo hoje.

Nicole também sorri, porque, embora ela precise de mais concentração, ele não é único que sabe jogar esse jogo.

— Acho que foi por isso que você me chamou, então.

— Por isso – Callum estende uma mão para brincar com o cabelo dela, longo, liso e com resquícios de tinta lilás. – e porque, de todas as garotas que eu conheço, você é a mais bonita.

É necessária grande parte do autocontrole de Nicole para que ela não deixe escapar o nome de Brenda. Ao invés disso, ela se inclina para frente e o beija. Ele tem gosto de lágrimas e fumaça, e ela é ótima em chorar e em fumar, e Brenda desaparece no maravilhoso vazio que toma conta de sua cabeça.

Os lábios de Callum estão manchados de roxo escuro quando ele se afasta, e Nicole ri.

— Essa cor fica bem em você.

— Cala a boca – diz ele, mas está sorrindo ao avançar para beijá-la novamente com a intensidade de uma descarga elétrica.

E é por isso que Nicole gosta das noites em que o céu de Callum está claro: quando eles estão assim, corpos enroscados em meio a lençóis e mãos se movendo descuidadamente e bocas procurando uma pela outra, não há necessidade de inventar estrelas; eles são as estrelas, e a melhor e a pior parte é que não ninguém mais consegue vê-los.

***

A lua já está alta quando eles se deitam lado a lado novamente, se alternando para dar tragos em um cigarro já pela metade. A princípio, eles não dizem nada, porque não há mais nada a ser dito, mas logo o silêncio começa a ficar desconfortável, e Callum diz:

— Queria não ter que trabalhar amanhã – Ele largou a faculdade aos dezenove anos, e, agora, aos vinte e três, trabalha como balconista em uma loja de música.

Nicole franze os lábios e passa o cigarro para ele. Amanhã é segunda-feira, e, ainda que ela não seja a estudante mais aplicada da péssima universidade pública local, precisa comparecer às aulas.

— Que droga.

— É – Callum exala lentamente. – Mas a galera tava querendo sair à noite. Você vai?

— Tô querendo guardar meu dinheiro pro festival. É daqui a duas semanas.

Callum devolve o cigarro a Nicole e sorri. O espaço entre seus dentes da frente é grande demais, o que combina com seu nariz torto, consequência de uma briga há alguns anos.

— O festival. Vai ser foda.

O Festival de Música e Arte é um dos eventos mais populares da cidade, por envolver atividades para todos os gostos. No grupo de amigos de Nicole e Callum, cada um quer ir por uma atração diferente, embora todos queiram aproveitar a música eletrônica e a comida, e qualquer outra substância à qual eles tiverem acesso.

Nicole faz que sim com a cabeça, impaciente.

— É, mas não é de graça, né? Preciso juntar o dinheiro. E eu não tenho emprego.

Callum passa um braço ao redor dos ombros dela. Ele está sem camisa agora, e dá para ver uma parte maior da árvore tatuada em parte de suas costas, cujos galhos chegam até os ombros e o pescoço.

— A gente vai pra casa da Alice – diz ele, e ela coloca o cigarro delicadamente entre seus lábios. – Não tem nada com o que gastar.

— Talvez eu vá, então – Se Callum a está convidando, é muito improvável que ela não vá, mas ele não precisa saber disso. – Vou pensar no assunto.

Eles ficam em silêncio por algum tempo. Nicole escuta a respiração dele, baixa e controlada como sua voz, e deseja poder ter a mesma calma. Olha ao redor, para os quadros em molduras brancas nas paredes, para os sapatos dos dois jogados no chão, para a lâmpada desligada no teto. Uma vez, em dezembro, logo depois que começou a sair com Brenda, Callum trouxe luzinhas de natal e as pendurou na parede atrás cama, como uma moldura para a bagunça que eles eram. Ela se pergunta onde estão aquelas luzinhas agora. Se eles a jogou fora. Ou se usou para decorar algum outro lugar.

Por fim, Callum diz:

— Eu gostaria muito que você fosse.

Nicole demora um pouco para lembrar do que ele está falando, então sorri.

— Gostaria, é?

— Não vá ficar convencida – Callum cutuca-a na altura das costelas. Ele está monopolizando o cigarro desde a última vez em que o pegou, mas Nicole não reclama. – Você tem estado meio sumida esses dias, só isso.

Não, você é que tem. Ao invés disso, Nicole diz:

— A gente podia se encontrar amanhã. Ou durante a semana.

Amanhã é segunda-feira, o que significa que eles provavelmente não vão se ver por quatro, talvez cinco dias; o quarto 9(3) só existe nos finais de semana. Callum olha para ela de esguelha.

— Não é complicado para você dormir fora durante a semana? – Aos dezoito anos, Nicole ainda mora com a mãe.

— Não precisamos passar a noite –Tecnicamente, ela também não pode dormir fora aos domingos, mas decide burlar essa regra hoje, porque Callum esteve ocupado na sexta e no sábado. A mãe já deve estar dormindo; ela nunca nota a ausência da filha, de qualquer jeito. - E não precisa ser aqui. Você não tem nenhum outro lugar em mente?

Quando Callum responde, ela já está certa de que ele vai negar o pedido. Ele está saindo mais cedo com cada vez mais frequência, e Nicole está sentido falta dele duas vezes mais.

— Você pode passar na loja, se tiver um tempo – diz ele, após uma pausa pensativa. – Não dá pra tirar uma folga muito longa, mas a gente pode conversar por alguns minutos.

Quase distraída, Nicole faz que sim com a cabeça e tira o cigarro dos lábios dele.

— E hoje? – É a vez dela de olhar para ele de esguelha. Os lábios de Callum estão franzidos, e seus olhos, baixos. – Vamos passar a noite?

Callum sorri de leve, puxando-a mais para perto.

— A menos que você queira fugir de mim.

Nicole também sorri, mas seu sorriso é mais selvagem.

— Eu nunca fujo.

O que ela não diz é: Eu gostaria de poder fugir.

***

Ir até a loja de música no meio do expediente é uma péssima ideia, portanto é claro que é exatamente isso que Nicole faz. Se matricular na faculdade comunitária foi uma péssima ideia, começar a fumar foi uma péssima ideia e ir até o quarto 9(3) com Callum foi uma péssima ideia, e ela acha que está muito tarde para começar a repensar suas decisões agora.

A princípio, Nicole pensa que a loja está vazia, mas logo a figura esguia de Jackson aparece por entre as fileiras de instrumentos. Ele é o outro funcionário que trabalha no turno de Callum: um rapaz alto e magrelo a quem os cabelos pretos escorridos e o nariz adunco conferem a aparência de uma ave de rapina. Nicole tem certeza de que ele sabe sobre o que há entre ela e Callum, mas tudo o que consegue dizer é:

— Ahn, boa tarde.

— Boa – Jackson ergue uma sobrancelha densa. Segundo Callum, ele é um péssimo vendedor, porque não consegue ter conversas amenas. Isso é algo que Nicole pode respeitar. – Procurando o Cal?

Nicole abre a boca, fecha-a sem dizer nada e seca as palmas das mãos nos jeans rasgados que escolheu para hoje. Algo no olhar severo de Jackson faz com que ela queira negar, dar meia-volta e voltar para casa.

Por fim, ela consegue se recuperar. Com um sorrisinho irônico, diz:

— Eu só estava dando uma olhada, mesmo.

Soa como um flerte, e isso a deixa mais tranquila. Faz com que ela se lembre que Callum não está acima dela. O sorriso de Jackson é sincero, mas ainda há algo errado.

— Eu vou chamá-lo.

Ele se afasta em direção aos fundos da loja, os cabelos compridos esvoaçando atrás de si. Enquanto analisa atentamente um contrabaixo vertical, Nicole o ouve gritar:

— Ei, babaca. Visita.

Eles sempre agem assim, com essa estranha e casual cumplicidade, quase como se fosse irmãos. A loja assume o lugar de casa, como se eles não tivessem uma. Callum responde algo em voz mais baixa, e Jackson retorna, ainda mais soturno do que antes.

— Ele tá vindo – Ele faz uma pausa. – Apesar de eu não entender como você ainda aguenta isso.

Nicole não sabe se “isso” se refere a Callum ou a ser a segunda opção dele, mas retruca mesmo assim:

— E eu não entendo porque você não cuida da sua própria vida.

Jackson dá uma risada resfolegada. Nicole está se segurando para não descer a mão na cara dele quando Callum surge, a camiseta com o logo da loja suja de poeira, um pano jogado sobre o ombro e um ukulele na mão.

— Oi – diz, simplesmente, colocando o ukulele sobre o balcão.

— Oi – responde Nicole, sem saber bem o que fazer.

— Ah, meu Deus – diz Jackson. Ele desaparece nas profundezas da sessão de percussão.

Nicole e Callum se entreolham por alguns segundos, então caem na gargalhada.

— Esse cara é maluco – declara Callum, sacudindo a cabeça. – Adoro ele.

— É – concorda Nicole. Ela dá uma olhada ao redor: não há nenhum cliente. – Sem movimento hoje?

Callum sacode a cabeça e aponta para o cavaquinho.

— Não. Passei o dia todo limpando os usados. As pessoas só querem vender os instrumentos velhos nas segundas-feiras, parece. Ninguém quer comprar novos.

Nicole se aproxima para espiar o instrumento sobre o balcão. Seu ombro, quase na altura do dele, encosta de leve no tecido do uniforme de trabalho.

— Eu compraria um novo, se tivesse dinheiro.

Callum vira o rosto para olhar para ela, perto demais, e de repente ela está pensando nas luzinhas de natal. Ele tem essa luz nos olhos; ela sempre pensou que fosse por causa das luzes de festas, mas, por um instante, pensa que é sua própria imagem refletida neles.

— Quem sabe a gente te arruma um desconto – diz Callum, a voz baixa demais, mas ainda ultrajantemente leve.

O som de passos faz com que ambos se virem, esperando ver Jackson retornando do reino das baterias com algum comentário profundo. No lugar disso, os olhos de Nicole deparam-se com Brenda saindo dos fundos da loja, com o cabelo tingido de verde preso em um nó atrás da cabeça e o corpo magro coberto por um vestido preto. Ela cora ao vê-los, mexendo na barra da saia nervosamente.

— Oi – cumprimenta, hesitante. Nicole sorri, do jeito que deveria ter feito quando Callum entrou.

— Oi – diz. Apesar de se esforçar, ela não sabe o que fazer em seguida. Callum não diz nada, embora se afaste ligeiramente do balcão.

— Veio procurar um violão novo? – pergunta Brenda, delicadamente. Seu olhar vai de Nicole para Callum, não como se procurasse por pistas, mas como se estivesse tentando evitar esbarrar em uma.

— Bem que eu queria – diz Nicole, ignorando a ânsia de contar por que veio aqui. Brenda é uma boa pessoa, e ela mesma não é burra o suficiente para achar que a outra lhe deve alguma coisa. – O meu está caindo aos pedaços.

Brenda ri, contornando um piano vertical para chegar até Callum e entrelaçar seus dedos aos dele. Isso parece fazer com que ele acorde.

— É verdade. Ela realmente precisa de um novo – diz ele. – Ou ela podia só aprender a cuidar melhor do dela.

— Ah, não seja chato – Nicole sente vontade de estapeá-lo. – Eu cuido muito bem dele, obrigada. E não tenho dinheiro para um novo. Vim só ficar paquerando os modelos.

— Vocês podiam ver se arrumavam um desconto para ela – diz Brenda a Callum. Antes que ele possa responder, Jackson ressurge das profundezas da sessão de percussão e diz:

— Engraçado, parece que só o Callum que ganha um desconto por aqui.

Por um segundo, todos ficam em silêncio. Nicole sente a vergonha passar de sua cabeça até a ponta dos seus pés, revirando seu estômago e congelando seu sorriso. Agora, é inegável que ele sabe de alguma coisa, e é uma coisa que ele não aprova. Ela nunca se importou com a opinião alheia antes, mas há algo na forma como Jackson franze os lábios que faz com que ela queria que um buraco no chão a engula.

O rosto de Brenda está vermelho de novo, seja porque ela também sabe ou porque acha que a frase foi referência a alguma outra coisa. A expressão de Callum não muda, mas ele solta a mãe de Brenda antes de dizer:

— Eu?! Você é que passa mais tempo brincando com os instrumentos do que vendendo – Ele se vira para as meninas, ainda imóveis como numa brincadeira de estátua. – Eu tenho certeza de que ele já roubou um chocalho ou dois.

Jackson dá um soco de brincadeira no ombro de Callum ao passar.

— Eu não, companheiro – Sua expressão se desanuviou. – Eu, ao contrário de você, sou uma pessoa honesta, muito obrigada.

Ele retorna à saleta nos fundos da loja - eles nunca trabalham de verdade?, pensa Nicole – e demora um segundo para Brenda retornar a si.

— Eu também não me conteria, trabalhando aqui – comenta ela. – É como trabalhar em uma livraria e não ler nenhum livro.

— Ah, esse Jackson é um vagabundo – diz Callum. O toque afetuoso que ele usou para falar de Jackson anteriormente ainda está presente, mas parece ter endurecido. – Eu que faço todo o trabalho por aqui, mas eu que levo todas as broncas.

Nicole pisca, ainda sentido o estômago embrulhado, e ergue uma sobrancelha para ele.

— Parabéns, Sr. Trabalhador Honesto – Ela hesita, a mente trabalhando a mil. – Bem, como eu não tenho um emprego fantástico em uma loja de música ou em uma livraria, preciso voltar para casa – Uma careta distorce seu rosto quando ela pensa que, na verdade, tem mesmo trabalhos da faculdade. – Aquelas notas abaixo da média não vão se tirar sozinhas, não é mesmo?

Ela se despede do casal e segue até o ponto de ônibus, quase ausente, com o coração batendo devagar, porém com força demais. Era disso que você precisava, diz a si mesma, sem parar. E é verdade: ela precisava de um lembrete de que, embora Nicole e Callum sempre existam como indivíduos separados, eles só existem juntos durante os finais de semana. Nunca na casa dela. Nunca no trabalho dele. Em um lugar só.

Nicole chega em casa e faz os deveres da faculdade. Ouve música. Dança sozinha, escorregando de meias sobre o assoalho. Ela não vai a festa nenhuma essa noite. Essa noite, ela também não existe.


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Notas finais do capítulo

As atualizações serão rápidas, porque a história é super curta e já tá toda escrita :v eu dei uma revisada, até porque fazem 5 anos desde que eu escrevi os primeiros capítulos e eu tive que reler tudo pra escrever os últimos, mas qualquer erro, podem dizer aí.



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