Correio Elegante escrita por Sirena


Capítulo 7
Don Juan de meia tigela


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a Isah Doll e Joshua de Vine pelos comentários ♥
Obrigada Joshua de Vine por favoritar ♥



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— Eu devia responder? – mordi os lábios, andando de um lado para o outro do quarto, sem saber. Clarisse revirou os olhos pra mim, enquanto corrigia as lições que tinha trazido pra mim fazer.

— Responde, gato, responde. – ela revirou os olhos, enquanto conferia os resultados nas contas. — Vai que você desencalha e descobre um brinquedo melhor e maior.

— Clarisse! – bati o pé.

— Amor, aceita que você não tem nada a perder e foca aqui, porque eu ainda não entendi de onde você tirou esse número, filho! Me explica como você arranjou isso.

Suspirei me deitando do seu lado na cama e franzindo os lábios enquanto analisava a conta. — Sinceramente?

— Óbvio.

Respirei fundo antes de encará-la. — Eu não faço ideia!

***

“Eu não sabia que existia um filme de Hércules pela Disney, só sabia da existência da série, sempre assistia quando ia na casa da minha avó. Agora vou ter que encontrar o filme para assistir.

Enfim, eu gostei da ideia de continuarmos conversando. Mais, não seria muito mas fácil trocarmos mensagens pelo whatsapp ou facebook ou até mesmo só trocarmos e-mails? Me parece tão mas simples e teríamos tão mais opções, poderíamos fazer chamadas de vídeo ou ligar, as conversas seriam bem mais rápidas também, e não teríamos que esperar tanto para responder... Seria melhor, não concorda? Seria muito bom saber como é sua voz também...

Sua alegria em receber minha carta foi mil vezes mas calorosa do que eu poderia sequer imaginar! E me deixou muito contente! Espero que essa carta (ainda que muito curta), também o agrade.”

***

— Quem você acha que é? – o Gabriel perguntou depois de ler o que eu tinha escrito e passar para o Pedro.

— Ainda não sei.

— Você tem uma letra péssima, sabia? – Pedro suspirou, passando a mão pelo cabelo cacheado que brilhava de gel.

Era incrível que não importava que merda ele fizesse no cabelo sempre ficasse bom. Moicano? Lindo. Topete? Maravilhoso. Raspado? Sexy. Cacheado? Adorável. Mechas verdes neon nas pontas? Bonitão! Ele era tão perfeito quanto aquelas estátuas de mármore de antigamente. Uma obra de arte perfeita, encantadora e de tirar o fôlego, tão lindo que faria o Davi de Michelangelo sentir uma pontada de inveja.

— Eu sempre falo isso pra ele. – Paulo opinou pegando a carta e apoiando a mão no queixo enquanto lia. — Você confundiu “mas” e “mais”. Imperdoável!

— E você confunde “el” e “lo” em toda a prova de espanhol. – alfinetei, sem conseguir conter uma revirada de olhos. — Vou colocar no armário quando subirmos pra sala.

— Vai tá uma confusão de gente na hora, vai ser impossível reparar em você. – Gabriel concordou, assentindo com a cabeça para si mesmo. — É uma boa.

— Aham. – Paulo ainda lia a carta com atenção. — Tirando os erros, você até que é bom escritor. – ele riu me entregando a folha de papel.

Revirei os olhos enquanto a guardava de volta no envelope.

— A direção convidou eu e os meninos para cantar na baladinha da escola. – o Pedro comentou de repente. — Vou vir essa tarde ensaiar, algum de vocês quer vir assistir?

— Eu quero! – concordei um pouco rápido, mas, não pude evitar.

Fazia muito tempo que não ouvia Pedro cantar e ele tinha uma voz deliciosa de se ouvir. Ele sorriu pra mim e abriu a boca para dizer algo, mas o sinal bateu, nos alertando para que fossemos lá para cima, sofrer na aula de biologia.

***

Enquanto todos desciam para o intervalo, eu fui rapidamente verificar se havia uma carta nova no armário. Não tinha. E a que eu havia escrito continuava ali. Suspirei. Talvez ele só a pegasse na ultima aula, ou... Não sei.

Antigamente, mais ou menos na época que entrei na escola, inauguraram aqueles armários. Por um tempo, pareceu que fariam sucesso, todo mundo sonhava com armários estilo escola americana afinal, certo? Certo, mas, não deu. Eram muito menores do que esperávamos, além de que tínhamos de pagar cinquenta reais todo mês para continuar usando e isso não compensava, como se não bastasse, também não tinha armários o bastante para todos os alunos.

Acabou que eles ficaram esquecidos no corredor por um tempo, sem que ninguém tivesse interesse em usá-los. Muito embora, eu soubesse que alguns alunos, como a Adriana gostassem de usá-los para esconder coisas e as garotas da minha sala volta e meia deixavam agendas e cadernos neles, uma vez que viviam destrancados mesmo. O Pedro guardava gel de cabelo em um.

Ah, não era um armário especifico que eles usavam para guardar, qualquer um que tivesse vazio tava bom, então era um pouco estranho o Quinze ter escolhido um especifico. Mas, suponho que como a maioria dos armários estava vazia na maior parte do tempo aquilo não importava realmente.

De qualquer forma, o grande segredo da coisa, é só mexer quando não tem ninguém vendo ou prestando atenção.

 

Desci as escadas, os ombros caídos.

— O que foi? – Pedro questionou, arqueando a sobrancelha quando sentei com ele e os meninos na cantina.

— Nada. – dei de ombros, enquanto o Gabriel separava cartas de Uno para nós. — Que horas vai ser o ensaio, Pedro?

— Duas e quinze. – ele respondeu. — Você vai vir mesmo?

— Por que eu perderia? – dei risada, empurrando seu ombro. Ele devolveu o empurrão dando risada e se ajeitando, de forma que sua mão ficasse encostada na minha.

Sorri.

***

Quando sai da escola, olhei novamente o armário, mas, minha carta ainda não tinha sido pega. Irritado, guardei-a no bolso, chateado.

— Don Juan idiota. – resmunguei.

— Você está sendo dramático. – Paulo deu risada, atrás de mim. — Vem, vamos para casa, deixa isso aí.

— Não, vou passar a limpo. Corrigir os erros e deixar lá de manhã.

— Você tá muito ansioso. – ele observou. — Relaxa um pouco. Uma hora você recebe sua resposta. To até surpreso de tá querendo tanto isso, você nunca pareceu se importar com essa coisa.

— Eu também to surpreso. – admiti, descendo as escadas. — Mas, é estranho. Ele parece ser legal e... É estranho interagir com alguém que parece gostar tanto assim de mim. Nem eu gosto tanto assim de mim!

— Hum... Você vai vir mesmo no ensaio do Pedro?

— Não perderia por nada. – garanti. — Ele canta tão bem! Algum dia ainda gravo e coloco como toque do meu despertador. Aposto que assim vou acordar sempre de bom humor.

Paulo revirou os olhos.

— E como tá seu pai?

Hesitei. Eu tinha contado isso apenas para o Paulo, mas já começava a me arrepender.

— A gente tá levando. – dei de ombros. — Ele ainda tá mal, mas, eles chegaram no acordo deles, então tá tudo certo.

— Você tem falado com sua mãe?

— Às vezes. No final da tarde normalmente. E mando mensagem sempre que acordo. – encolhi os ombros enquanto falava. — Mas, fuso horário é uma droga.

Meus pais tinham se separado e minha mãe tinha decidido voltar pra Espanha. Ela disse que eu sempre poderia visitá-la nas férias, mas que não aguentava mais o Brasil. O divórcio deles foi à coisa mais sem sentido que eu ouvi, era como se estivessem atrás de qualquer desculpa para terminarem.

De forma geral, minha mãe queria voltar para Madri e tentou convencer o meu pai a ir com ela, quando ele negou, ela simplesmente pediu o divórcio. Tinha muito cara de desculpa, não é? Como se só tivessem tentando empurrar a verdade para baixo do tapete e inventado essa história pra mim.

E mesmo que parecesse sem sentido, se fosse mesmo verdade, eu conseguiria entender. Quando meu pai se formou no ensino médio, meus avós deram para ele uma viagem a Madri, ele passaria três meses lá.

Durante a viagem, enquanto visitava o Museo Del Romanticismo, ele esbarrou com minha mãe. Eles conversaram o dia inteiro, e se beijaram quando estava para anoitecer. Minha mãe disse que amanhã iria visitar o Museo Cerralbo e o chamou pra ir com ela.

No final do segundo mês, eles se casaram. Rápido, não é? Meu pai voltou com minha mãe para o Brasil e eles se estabeleceram aqui.

Fomos para Madri várias vezes ao longo dos anos, mas, nunca passamos mais do que um mês e eu sabia que minha mãe sentia muita falta de lá e, bom... Ela largou tudo que conhecia pra vir morar aqui com meu pai. Eu não estranhava tanto que ela quisesse que ele fizesse o mesmo e fosse com ela e comigo para Madri.

Mas, eles não eram mais adolescentes pra fazer essas loucuras e por mais que eu adorasse a Espanha, eu gostava de morar no Brasil. Me dava bem na escola, tinha bons amigos e Madri era um lugar para férias, meus amigos eram amigos de férias, não de ano inteiro. Até minha família lá, era uma família de férias. Eu só falava com eles quando estava lá, no resto do tempo... Bom, mal me lembrava deles. Minha vida era toda no Brasil, não queria sair.

Apesar disso tudo, não entrava na minha cabeça que era por isso que eles estavam se divorciando. Era como se faltasse uma peça.

De qualquer forma, meu pai ainda não estava lidando bem com a separação e eu estava realmente começando a ficar preocupado com ele. Respirei fundo, tentando afastar esses pensamentos e me ater ao tempo presente.

— Você vai vir pro ensaio também, né? – questionei, mexendo as sobrancelhas enquanto fitava o Paulo. Ele resmungou, passando a mão pela cabeça raspada e deu de ombros.

— Talvez, se eu tiver tempo. Mas, tenho muito que fazer da vida, sabe?

— Tipo ir no cabeleireiro? Ainda não acredito que deixou o Gabriel raspar seu cabelo. – comentei.

— Como eu ia saber que ele ia por a máquina no um?  Eu disse pra ele raspar na três, mas... Ele inventou de tentar fazer um degrade.

— É, da pra ver. Mas, olha, ele raspou no três. – opinei. — Em partes. Aqui desse lado tá todos os níveis e na frente tá no três e aqui no meio eu não sei direito o que parece, mas ficou esse buraquinho e... Ficou uma merda, na boa!

— Cala a boca! – ele resmungou me empurrando de brincadeira.


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Notas finais do capítulo

Toda vez que a Clarisse aparece eu sinto falta de dar aula kkkkk
Tivemos só uma cartinha nesse capítulo, mas, teve cenas com menino Pedro e menino Paulo (e eu sei que vcs amam ele). Não deixem de me dizer o que acharam, ok?



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