Correio Elegante escrita por Sirena


Capítulo 4
Quarta Carta


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a Isah Doll e Rafa Borges pelos comentários ♥️

Primeiro ano do ensino médio, carta bem curtinha pq o 15 a escreveu as pressas. Nosso odiado personagem do cap passado, Renan n tá mais estudando na mesma escola que o Marcos, então n vamos nem sequer cita-lo aqui, ainda bem.



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Enquanto o professor recolhia as provas, Mariana entrou na sala, usando um vestido de festa junina roxo, o cabelo solto, a franja cobrindo a testa e os olhos puxados brilhando com a cesta no braço.

Não pude evitar o sorriso ao ver a aliança de namoro no dedo dela.

— Quem pediu? – perguntei olhando sobre o ombro da Gabriela.

— A Adriana. – o Paulo respondeu dando risada. — No aniversário da Mariana, no final de semana, no shopping. A Adriana chegou toda iluminada como uma arvore de natal. Primeira vez que a vi sorrir tanto desde que entrou na faculdade.

— Oi. – Mari sorriu de forma nervosa. — Professor, eu.... Eu posso interromper a aula ra-rapidinho? Tenho umas cartas para entregar, você... Você sabe. Correio elegante.

— Claro, claro. – o professor suspirou, dando um gole em sua garrafa de café.

— Certo. Gente, e-eu vou chamar vocês pelos nomes e entregar as cartas, quem quiser ler lá fora... É... Saibam que vai ter gente tirando fotos pro insta da escola. Okay?

A Mariana gaguejava um pouco enquanto falava e parecia nervosa enquanto passava instruções que todos já tínhamos e sabíamos de cabeça havia anos, apesar de isso ser irritante, lhe ofertei o melhor sorriso que pude para tentar confortá-la, porque ficar em pé na frente de um monte de adolescentes estranhos e chamando pelo nome um monte de desconhecidos... Bem, não devia ser o trabalho mais fácil do mundo.

Especialmente para uma garota que era tão quieta e tímida quanto a Mari.

— Pedro. Sofia. Eduarda. Paulo. José. Marcos. Erick. – ela chamou estendendo as cartas uma de cada vez, enquanto levantávamos para pegá-las.

Olhei em volta quando peguei a minha para ter certeza de que não havia ninguém prestando atenção.

O envelope feito de folha de caderno estava preso com um adesivo do Homem-Aranha e a folha colorida na qual a carta fora escrita era cor-de-rosa com caneta roxa.

“Oi, de novo! Já se passou um ano?

Quando a Adriana me perguntou se eu não tinha nenhuma carta para entregar esse ano, juro que fiquei surpreso porque não tinha percebido que já era hora de fazer isso de novo. Abrir meu baú e tirar todos os sentimentos que escondo as sete chaves durante o resto do ano. Colocá-los para respirar e deixá-los a luz do sol por um instante, transformá-los em palavras e te revelar sem me revelar.

Apenas por um momento, para então, guardá-los novamente, como se não existissem. Como se nunca tivessem existido.

Sabe que às vezes eu penso em só falar de vez quem sou, mas recuo? Eu te escrevo há tantos anos já, que acho que se você realmente tivesse interesse em saber quem eu sou já teria dado um jeito de descobrir, não é?

Mesmo assim, eu continuo me torturando com esse amor platônico que parece que não acaba nunca.

Talvez se eu não estivesse tão perto de você fosse mais fácil.

Talvez tudo fosse mais fácil se você não me deixasse chegar tão perto...

Soldeville.

***

— Minha mãe tá falando de nos mudarmos no ano que vem. – suspirei, me jogando na cama.

Ela também vinha brigando com meu pai, mas, não falei isso. Eles também vinham discutindo sobre o fato de ela querer voltar a Madrid e ele não querer, mas tampouco falei isso.

E íamos nos mudar porque as únicas alternativas eram basicamente, ou nos mudavamos os três pra Espanha, ou eu e meu pai ficávamos no Brasil e íamos para uma casa menor enquanto mamãe voltava a morar em Madrid, mas, eu não queria nem sequer pensar sobre isso.

A ideia ainda parecia fantasia na minha cabeça, se eu falasse, seria real e eu morria de medo de concretizar aquilo.

Clarisse me olhou com desdém, empurrando meus pés. — Então eu vou perder meu melhor aluno? – ela riu, com certo deboche na voz.

Revirei os olhos. Clarisse estava um ano a minha frente e normalmente era um doce.

Ela me dava aulas em casa duas vezes por semana por cinquenta reais cada semana e mamãe a adorava. Mas, vamos relembrar: normalmente, não queria dizer sempre. E por mais que eu adorasse, sabia que ela era incrivelmente ácida quando queria e absurdamente exigente me ensinando. Ela nem me deixava usar a calculadora!

— Seu pior aluno, você quer dizer.

— Ah, você melhorou bastante. – ela deu risada abrindo o caderno. — Então, a Brenda passou alguma formula nova?

— Não, a gente só tem que revisar. – suspirei. — Mas, se você quiser me adiantar ia ser legal, eu adoro quando ela passa a matéria e eu entendo de cara porque você já ensinou. É tão bom!

Clarisse deu risada, o cabelo loiro balançando com o vento que entrava pela janela. — Certo, então vamos fazer assim... Vamos revisar os dois últimos conteúdos e então eu te adianto um pouquinho à próxima matéria antes de passarmos para física.

— Okay. – suspirei. —... Clarisse, se alguém te mandasse cartas anônimas você iria querer saber quem é?

— Hum, não. – ela bocejou enquanto folheava meu livro procurando alguma atividade para fazermos juntos. — O mistério de não saber é muito mais emocionante do que se decepcionar ao saber. Mas, eu ficaria curiosa, acho. Ah, esse aqui. – ela sorriu apontando para uma atividade. — Essa parece ser bonita.

Revirei os olhos outra vez. Clarisse sempre separava as questões de matemática entre as que achava bonitas e as que achava entediantes. Normalmente quanto mais bonitas, mais difíceis as contas eram. O que era um inferno, vou ser sincero.

Balancei a cabeça tentando ler o enunciado, ao mesmo em tempo que pensava no que ela havia dito.

“O mistério de não saber é mais emocionante do que se decepcionar ao saber.” Essa era uma frase que ela não teve nem que me explicar para fazer sentido.


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Notas finais do capítulo

Prox cap é o último com salto de tempo



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