Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 20
Capítulo 19




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Os sonserinos não sabiam o que tinha acontecido, apenas sabiam que as coisas entre Dallas e Draco estavam estranhas. Ambos evitavam ficar na presença um do outro por mais tempo que o necessário, as detenções eram cumpridas em absoluto silêncio e as provocações do garoto e piadinhas de mau gosto ganharam um silencioso fim. O recesso de fim de ano veio e foi e, mais uma vez, Dallas permaneceu em Hogwarts, enfurnada em seu dormitório ou na biblioteca durante todo o período. Não compareceu a ceia no salão principal e evitava cruzar com Potter que, mesmo assim, parecia saber exatamente onde ela se escondia e ia até lá lhe fazer companhia. Dallas não se incomodava tanto assim com Potter impondo a existência dele à sua pessoa, a companhia dele era silenciosa e no máximo o que faziam era trocar ideias sobre alguns deveres ou ele perguntava coisas superficiais sobre o livro que ela lia naquele momento. O incidente da Torre de Astronomia não era mencionado e Dallas era agradecida por este pequeno conforto. 

Janeiro de 1994 chegou extremamente frio e, junto com as temperaturas baixas, os alunos retornaram à Hogwarts para o segundo trimestre. O início de um novo período de aulas significou o retorno das detenções e mais caldeirões encardidos, e com crostas de poções envelhecidas presas no chumbo, para serem limpos. 

— Eu, por várias vezes, quis perguntar a minha mãe o que aconteceu. — Draco quebrou o silêncio que sempre existia entre eles quando cumpriam as detenções juntos. Dallas não desviou o olhar da crosta que tentava soltar com a espátula, no fundo do caldeirão. — Mas sei que ela não me responderia e me daria voltas até eu esquecer do assunto. Então, eu perguntei aos elfos domésticos. — Dallas parou os seus movimentos, mas ainda sim não mirou Draco. — Alguns de nossos elfos são relíquias da família Malfoy, mas existem três que foram herdados dos Black, vieram com o dote de minha mãe e são fiéis somente àqueles que carregam o sangue Black… teoricamente. E um deles Potter fez o favor de libertar ano passado. 

— Dobby. — Dallas murmurou e ergueu o olhar para mirar Draco. O rosto dele agora tinha um tom amarelado dos hematomas que sumiam, ele não tinha mais o gesso no pulso e os olhos não estavam mais inchados. 

— Não foi fácil encontrá-lo, mas um elfo liberto não possui mais lealdade com os seus mestres e nenhuma obrigação de manter os seus segredos. Dobby me contou que meus pais estavam em crise no casamento na época, a minha mãe desaprovava o contínuo apoio que meu pai dava a certos ideais que estavam sendo propagadas à época. — Dallas rolou os olhos. Lucius Malfoy conseguiu fugir da punição do Ministério por associação ao Lordes das Trevas, mas era de conhecimento de todos que ele foi, ainda era, provavelmente, um Comensal da Morte. — E quando mamãe ficou grávida de mim, ela insistiu que meu pai largasse esta luta, pelo bem da família. 

— Deixe-me adivinhar, ele disse não. 

— E mandou mamãe para a França por segurança. Ela ficou furiosa, e triste, e solitária, uma mistura de emoções e então conheceu um trouxa…

— Albert Winford. 

— Sim. Charmoso, sedutor, e que a fez esquecer todos os problemas em um caso extraconjugal intenso e curto. 

— O elfo te contou isto? Com essas palavras? — disse com deboche. Elfos eram analfabetos, mal conseguiam conjugar os pronomes com os verbos corretamente, então nunca que iriam contar uma história com tantos detalhes e de forma tão rebuscada. Draco ignorou a explícita alfinetada de Dallas e continuou o seu relato. 

— Eu conheço a minha mãe, sei que o que ela teve com o homem trouxa foi algo de momento e inconsequente. Ela ama o meu pai. 

— Não tão inconsequente assim, não é mesmo? Eu estou aqui. — Dallas disse com amargura. — O elfo te contou por que ela me entregou aos Winford ao invés de ter me largado em um orfanato? 

— Eu não sei. 

— E como o seu pai não descobriu a infidelidade dela através da gravidez? — Draco comprimiu os lábios em uma expressão de desagrado antes de responder: 

— Ele sabe. — Dallas perdeu o ar, como se tivesse levado um soco no peito, diante desta revelação. — Toda família tradicional sangue-puro possuí uma tapeçaria com a nossa árvore genealógica. Aparentemente, o seu nome consta na tapeçaria dos Black, sob o nome de Narcissa Malfoy. 

Dallas puxou a cadeira mais próxima e sentou-se nesta. As suas pernas trêmulas não mais suportavam o seu peso e ela continuava com a súbita falta de ar.

— O que eu achei estranho, porque no dia em que tivemos aquele incidente no Beco Diagonal, onde o seu empregado apontou uma arma para o meu pai, logo depois que vocês foram embora ele me pediu para criar alianças com você, porque o nome Winford era poderoso no mundo trouxa e todos sabem que Amélia Winford a favorece. E agora eu não entendo por que ele me pediu isto quando ele deveria te odiar. Você é a prova viva de que a minha mãe o traiu, você é uma mancha no bom nome da família.

Dallas sentiu o seu sangue ferver diante das palavras de Draco e, ao mesmo tempo, uma imensa tristeza. Era isto o que ela era, não é mesmo? Ao que sempre foi reduzida: a mancha que denegria a imagem de duas boas famílias. A culpa recaía nas costas dela e não de Narcissa e Albert, os irresponsáveis que resolveram violar os votos sagrados do casamento e traírem os seus cônjuges. Albert porque era um galinha e Narcissa por vingança a Lucius que preferiu dar mais atenção à Voldemort do que a esposa grávida e exilá-la em outro país. 

 — Aparentemente isto é tudo o que eu sou, não é mesmo? A mancha na família. — Dallas soltou com azedume e em um único puxão arrancou o colar que carregava no pescoço e o arremessou para Draco, que era um excelente apanhador quando não estava enfrentando Potter, porque ele pegou a joia em pleno ar. — Devolva isto à ela. Eu vivi doze anos da minha vida sem mãe, posso viver o resto da minha miserável existência sem ela. — declarou e pôs-se de pé, voltando a limpar o caldeirão e dando aquele assunto por encerrado. 

 

oOo

 

O jogo da Grifinória contra a Corvinal deu-se em um dia ensolarado, mas frio. Dallas apenas compareceu para dar apoio a Patrick, mas não tinha nenhuma disposição de torcer pela casa das águias. Obviamente que, como todo jogo de Quadribol de Hogwarts, este não foi sem incidente, causado por Draco ao fantasiar-se de Dementador, junto com Crabbe e Goyle, para assustar Potter. A ausência de efeitos negativos sobre a plateia e em Potter denunciou na hora que eles não eram Dementadores de verdade e Draco ganhou mais duas semanas de detenção sob a supervisão de McGonagall. A Grifinória venceu mesmo assim, para a completa consternação de Patrick que achou por um segundo que Cho Chang seria realmente capaz de vencer Potter. A menina voava bem e era ágil e de reflexos rápidos, mas para alguém míope e que nunca tinha voado na vida antes de vir para Hogwarts, Potter tinha um evidente talento nato para o esporte. 

A manhã após o jogo chegou com a notícia alarmante de que Sirius Black havia conseguido entrar novamente no castelo e a segurança da propriedade foi reforçada. Os Dementadores estavam ficando inquietos e pelas janelas dos corredores Dallas podia vê-los como sombras agourentas flutuando ao longe. As semanas passaram sob a mesma cortina de tensão que dominou a escola no ano anterior, por causa da abertura da Câmara Secreta, provas foram aplicadas, a rotina tentou ser mantida e mesmo com o clima pesado entre Draco e ela, o colega sonserino ainda arrumou tempo para gabar-se do fato de que conseguiu que o Ministério decretasse Bicuço culpado do ataque ao garoto e que fosse executado. Naquele momento, enquanto ouvia Draco vangloriar-se disto, entre os seus fãs fiéis, Dallas sentiu nojo de compartilhar o mesmo sangue que ele. Nojo e vergonha e isto deve ter ficado estampado de forma clara em seu rosto porque, ao vê-la, Draco calou-se e abaixou a cabeça para esconder o rosto ruborizado pela vergonha. 

A partida final da copa de Quadribol entre a Sonserina e a Grifinória foi carregada de tensão e jogadas violentas, deixando claro que os jogadores obviamente estavam atrás de sangue e vontade de quebrar alguém naquele momento, fortalecendo ainda mais a rivalidade entre as casas. 

— Vai ter a Copa Mundial de Quadribol este ano. A final vai ser aqui na Inglaterra. — Patrick comentou e Dallas desviou o olhar da partida, de Draco e Potter chutando-de e trocando insultos enquanto voavam lado a lado a caça do pomo de ouro. 

— E? 

— Você quer ir? — Dallas piscou repetidamente para o amigo diante deste convite. Havia um tom rosado nas bochechas dele e o garoto não a olhava nos olhos como sempre fazia. 

— Patrick, olha… — Dallas era nova, mas não era idiota. Ainda não tinha chegado a idade das paixões adolescentes arrebatadoras, mas era uma menina precoce e portanto conseguiu compreender em um piscar de olhos e outro as intenções do amigo. O tom de Patrick tinha dezenas de mensagens subliminares, entre elas uma suave conotação de interesse. — Você é meu amigo e eu acho que deveríamos permanecer assim.

— Hã? — Patrick respondeu, curiosamente distraído e então, após alguns segundos, ele piscou e pareceu compreender sobre o que Dallas falava. — Não. Não! — ele torceu o nariz como se cheirasse algo muito fedorento. — Ew! Você também é minha amiga e nada mais, eu não tenho nenhum interesse em você. — Dallas arqueou as sobrancelhas e isto foi o suficiente para embaraçar o corvinal que começou a atropelar-se nas palavras. — Não que você não seja uma menina interessante, e bonita, qualquer garoto de bom senso estaria interessado em você. 

— Menos você. — Dallas provocou porque ela queria ver até onde Patrick enrolaria-se e porque era divertido vê-lo perder a compostura. Patrick era o seu oposto, era calmo e sensato, com tiradas inteligentes regadas com uma pitada de sarcasmo, e sempre dava bons conselhos.

— Não é nada pessoal, Dally. — Dallas mordeu o lábio inferior para impedir uma risada. Patrick só a chamava de Dally quando estava muito embaraçado. A torcida em volta deles emitiu um grito ensurdecedor e por um momento eles desviaram os olhares do rosto um do outro para mirar o campo e então o rubor de mais cedo retornou as bochechas de Patrick. Dallas seguiu a direção dos olhos do amigo e viu que a atenção dele estava completamente focada em Davon Yale, quarto anista e batedor da Sonserina. A risada que ela tentava prender acabou saindo de forma involuntária. 

— Agora entendi. — o rosto de Patrick ficou da cor de um tomate maduro quando ele percebeu as implicações nas palavras de Dallas. 

— Eu posso explicar! 

— O que, exatamente, você pode explicar? — ela provocou ao recostar-se na arquibancada e cruzar os braços e as pernas. Patrick ficou ainda mais envergonhado e mirou o chão, sem palavras. Estava claro ali, naquele gesto, que ele esperava uma represália pela parte dela e Dallas sentiu-se ofendida por um breve segundo. Patrick deveria conhecê-la, saber que ela, melhor do que ninguém, não iria julgá-lo ou oferecer preconceitos mas, por outro lado, compreendia a hesitação e temor dele. — Se você quer a minha sincera opinião, acho que você tem chances. — ela comentou de forma casual e Patrick ergueu a cabeça tão rápido que Dallas pôde ouvir os músculos do pescoço dele estalarem, mesmo sob o alvoroço da torcida da Corvinal. 

— O quê?

— Davon não faz muita distinção de homem ou mulher, desde que seja ser humano e consciente de seus atos. 

— Como você sabe disto? — agora Dallas olhou para Patrick com ar julgador.

— Porque estamos na mesma casa e na Sonserina ninguém sabe guardar segredo. 

— Oh. — a atenção de Patrick voltou para o jogo por alguns segundos, onde ele admirou com intensidade Davon em pleno vôo e rebatendo balaços a torto e a direito. — Mas você não me respondeu.

— Sobre?

— A Copa Mundial de Quadribol.

— Patrick, você tem ciência que eu só venho à estes jogos porque você me pede, eu não tenho interesse algum em Quadribol. — Patrick rolou os olhos diante da mentira deslavada dela. Dallas poderia não ser uma torcedora ávida, mas ela tinha os seus momentos, ainda mais quando os jogos envolviam a Grifinória. 

— Você pode aprender mais sobre a cultura bruxa. Não é você que sempre procura oportunidades para participar de eventos mágicos? Centenas de bruxos estarão na final, vai ser legal, e a Bulgária e a Irlanda são as apostas para finalistas. Eles vêm fazendo uma campanha brilhante no campeonato. E depois da final você pode passar o restante das férias com a minha família. — esta parte da proposta era interessante. Não doeria em nada para ela passar alguns dias longe da mansão Winford, e dos gêmeos atolando os seus ouvidos a chamando de estúpida por causa dos tutores que eles achavam que eram para ajudá-la a não bombar na escola. Pobres ignorantes.

— Eu vou falar com a minha avó. — Dallas respondeu no momento em que Potter pegou o pomo de ouro e a torcida ao redor deles explodiu em gritos de comemoração.


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