Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 19
Capítulo 18




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Dallas sabia que os meninos da Sonserina não tinham acesso ao dormitório feminino, pois algum feitiço antiquado de proteção da virtude delas impedia que os garotos subissem a escadaria de acesso para os quartos, então, se eles não tinham acesso ao dormitório, a obra de arte que apresentava-se diante de seus olhos foi coisa de Pansy e Millicent, ambas sob as ordens de Draco. 

As suas roupas estavam espalhadas sobre a cama destruída, rasgadas e ensopadas de tinta preta. O seu material escolar tinha virado confete e serpentina e o malão estava aberto e de cabeça para baixo, aos pés da cama quebrada. Dallas cutucou com a ponta da varinha as peças arruinadas, ruminando qual o melhor curso a seguir. Roupas e material escolar eram passíveis de reposição, ela tinha dinheiro para isto, e a cama poderia ser consertada com um feitiço, mas não era somente isto que tinha em seu malão, era? Dallas fez um inventário de seus pertences e pânico começou a subir pelo seu corpo. Com gestos bruscos ela convocou peça destruída atrás de peça destruída, que voou por cima de sua cabeça, espalhando tinta preta para todos os lados, enquanto eram arremessadas à um canto do quarto, até que ela encontrou o que queria. A peça era pequena, quase imperceptível entre os bolos de tecido, mas a sua cor escurecida e o seu formato a destacava claramente dos outros objetos. O soldadinho de chumbo estava manchado de tinta e com a cabeça decepada e, ao vê-lo, Dallas lembrou-se da cena que encontrou na sala comunal quando chegou nesta minutos antes.

Draco ria e contava alguma anedota para um público cativo que o rodeava como fãs fiéis. Dallas supôs que as palavras maldosas e as risadas sarcásticas deviam-se ao deleite que ele sentia porque conseguiu que o pai abrisse um inquérito contra Bicuço por causa de própria estupidez e, por isso, ela seguiu direto para o dormitório porque não estava disposta a ouvir a voz arrastada do menino, carregada de contentação por ter mais um de seus mimos atendidos. Mas, agora, ao ver o soldadinho de chumbo destruído, o cenário de minutos antes retornava-lhe à mente de forma clara. Draco sim contava alguma anedota para uma plateia focada, mas ele tinha um chumaço de pergaminhos em mãos, dos quais lia alguma coisa e depois ria.

As suas cartas. As cartas que Potter mandou para ela e que Dallas estupidamente trouxe para Hogwarts ao invés de trancar em seu cofre na Mansão Winford. 

Um véu vermelho sangue desceu em frente aos olhos de Dallas, ódio cru, do mais intenso, tomou o seu corpo e ela girou sobre as solas do sapato e saiu em disparada do quarto.

O primeiro feitiço despontou de sua varinha antes mesmo que ela terminasse de descer os últimos degraus da escada e acertou Draco em cheio no peito, o calando no meio de uma gargalhada maldosa. Pergaminhos e sonserino voaram para lados opostos, o súbito ataque assustou os alunos que cercavam Draco e esses recuaram aos tropeços, abrindo espaço para Dallas que pisou no assento da poltrona mais próxima, de onde tomou impulso, e pulou por sobre o sofá, caindo sobre Draco ainda no chão e atordoado pelo ataque. Ele mal teve tempo de registrar o que acontecia e o soco já lhe acertou o nariz, o quebrando no processo e fazendo espirrar sangue para todos os lados. O grito de dor que ele deu foi música para os ouvidos de Dallas que largou a varinha e decidiu que iria resolver aquele embate da maneira antiga: no punho. 

Draco tentou reagir, claro que tentou, mas Dallas estava colérica e este estado ativou a sua força Veela de forma que quando o garoto tentou erguer a varinha para atacá-la, ela o segurou pelo pulso e bateu este com força no chão. Os ossos quebraram diante do impacto, a varinha dele voou para longe e Dallas desceu o outro punho fechado no rosto dele. A chuva de socos que seguiu acertava o que conseguia acertar. Com as coxas, Dallas prendeu Draco contra o chão pelos quadris dele, o imobilizando enquanto o atingia no rosto, testa e peito. Draco debatia-se, gritava e chorava e o desespero dele somente fazia crescer um prazer mórbido dentro de Dallas ao ver o garoto sofrendo. Braços grossos a envolveram pela cintura e alguém a puxou pelas costas com um tranco, a tirando de cima de Draco. Dallas urrou de ódio e tentou soltar-se de seu súbito captor, e quase conseguiu, mas mais braços surgiram para segurá-la e então ela estava sendo arrastada por três jogadores do time de Quadribol para o outro lado da sala comunal. Draco ainda estava caído no chão, gemendo e ensanguentado, com as roupas amarrotadas e rasgadas e sendo socorrido por colegas sonserinos. A estátua de acesso abriu e o professor Snape entrou na sala, com as vestes farfalhando às suas costas como de praxe e acompanhado dos dois alunos que foram buscar socorro. 

Severus não perguntou o que aconteceu, porque a cena era clara. Draco era uma massa patética no chão, choramingando e abraçando o braço esquerdo contra o peito, o seu rosto estava coberto de sangue e o nariz fora do lugar. Pansy e Millicent tentavam consolar o garoto que dividia-se em apreciar a atenção das meninas e rosnar para elas se afastarem e deixá-lo em paz. Dallas, do outro lado da sala, era pura fúria muito mal contida em um pequeno frasco. Ela bufava, rosnava e os seus olhos estavam em um tom profundamente violeta nesta noite. O seu rosto estava vermelho, ela estava descabelada e os nós de seus dedos e roupas estavam sujos de sangue. Sangue de Draco. 

Severus deu um passo à frente e recolheu um pedaço de pergaminho caído no chão, um pedaço entre tantos vários. A mensagem que havia na folha era de poucas linhas, mas ele reconheceu o garrancho que passava-se por letra e, principalmente, as iniciais na assinatura. O Mestre de Poções suspirou. Draco cutucou um vespeiro ao usar justamente o que não deveria em sua jornada de vingança contra Dallas. Ele poderia ter destruído os pertences dela, a encurralado em cantos escuros e a azarado, mas nunca ter mexido em nada que tivesse o dedo de Potter. Veelas eram criaturas possessivas, ainda mais com aquilo que elas consideravam seu, e Dallas considerava Potter seu, mesmo que ela ainda não soubesse deste fato. 

— Parkinson, Bulstrode, acompanhem Malfoy até a enfermaria. — Severus ordenou e com um girar de varinha recolheu todos os pergaminhos espalhados, as cartas de Potter, e as estendeu para Dallas. O gesto a acalmou de imediato e ela relaxou nos braços de Yale e Flint, que a soltaram após um aceno positivo de  cabeça do professor. — Não há mais nada o que ver aqui, senhores. Acredito que é hora de vocês se recolherem. — a ordem foi clara e a sala comunal esvaziou em um piscar de olhos. 

— Malfoy passou dos limites aceitáveis. — Dallas explicou-se. As íris tinham retornado a cor azulada usual e ela abraçava as cartas contra o peito, mas ainda havia um ar de irritação e petulância a rodeando. 

— Não me interessa. — Snape declarou. — Mas você sabe as regras, eu mesmo as recitei em seu primeiro dia de Hogwarts, quando Malfoy resolveu anunciar a todos o seu status de nascida-trouxa.

— Professor, o senhor sabe que eu não sou nascida…

— Não interessa! — ele a cortou bruscamente. — Quais são as regras, Winford?

— Não podemos nos dar ao luxo de picuinhas internas. 

— E?

— O que acontece dentro da Sonserina, permanece dentro na Sonserina. — declarou e por isso foi com surpresa que, ao acordarem no dia seguinte, os alunos de Hogwarts viram a ampulheta de contagem de pontos da Sonserina com cem pontos à menos, pontos que até a noite anterior ainda estavam lá, fora o fato de que Draco Malfoy apareceu para o café da manhã com o rosto inchado e roxo, o punho engessado, e Dallas vestia o uniforme de Daphne Greengrass. 

 

oOo

 

Os olhos negros de Severus miraram a dupla na sua frente, largados sobre as cadeiras e com ares petulantes. Ambos tinham carrancas em seus rostos ainda infantis e Draco protestou por uns dois minutos sobre a humilhação que era estar preso àquela cadeira por um feitiço de castigo. Ele não era mais criança, não precisava ir para o cantinho do pensamento algum. Apesar do que as pessoas poderiam pensar, do que Dallas gostava de jogar na cara dele, Draco não era de todo mimado, os seus pais impuseram limites à ele, limites esses que ele sempre gostou de testar, e a última vez que foi preso a um banco qualquer por um feitiço de castigo, ele tinha nove anos e acabado de atear fogo na fronha encardida que Dobby usava como roupa. Se Dobby ainda vestia a fronha quando o ato de atear fogo aconteceu, bem, isto não era problema dele. 

Dallas, obviamente, não conhecia a humilhação de um feitiço de castigo, porque a irritação dela era mais pelo fato de que não podia se mover do que estar sendo tratada como criança. Draco não sabia que métodos os trouxas empregavam para castigarem as suas crianças, mas tinha a teoria de que eram semelhantes aos dos bruxos, mas sem o uso de magia. E se Dallas não se sentia ofendida por estar sendo punida como uma criança era porque ela desconhecia tal método de punição, e a menina ainda tinha a ousadia de chamar Draco de mimado. 

— Vocês permanecerão aqui até resolverem as suas diferenças e então darão início a detenção. — Severus declarou e a reação foi instantânea, Draco empertigou-se na cadeira e começou a argumentar a injustiça de tudo aquilo. 

— Ela me agrediu gratuitamente! — ele apontou um dedo em riste para Dallas. — Por que eu tenho que estar em detenção?

— Destruição de propriedade privada e escolar te lembram alguma coisa, senhor Malfoy? — Severus comentou calmamente ao recostar na mesa e cruzar os braços sobre o peito. Ele concordava em um ponto com Draco, a reação de Dallas foi exacerbada e ele, que ignorou a situação tempo o suficiente, achava que agora era o momento de intervir. Veelas não eram criaturas de bando, como os pássaros, acreditavam que era cada um por si e que todas deveriam aprender as coisas da forma mais difícil. Elas não educavam as suas jovens, não as ensinavam controle, sob a cultura de que esta era uma lição que elas deveriam aprender sozinhas. Severus mudaria isto. Hogwarts não tinha um vasto histórico de meio-Veelas em seu corpo estudantil, talvez três ou quatro nesses mais de mil anos de existência e, como no passado, elas causaram alguns estragos por causa de seus hormônios adolescentes descontrolados, somados aos genes Veela. 

— Eu não fiz nada! — Draco defendeu-se. — Foram Pansy e Millicent! — Severus mirou o garoto de forma dura e qualquer protesto futuro dele morreu em sua garganta. Os seus alunos tinham a irritante mania de tomá-lo por idiota mas, como Draco e Dallas, Severus também já foi um aluno da Sonserina, ele conhecia todas as táticas de manipulação que a casa ensinava, porque essas sempre eram as mesmas, passada de família sangue-puro para família sangue-puro e reproduzidas na sala comunal. 

Severus verificou rapidamente o seu relógio de bolso. Eram sete e meia da noite e baseado na teimosia das duas crianças na sua frente, era garantia de que esta primeira parte da detenção fosse varar a madrugada. 

— Lembrando que vocês não sairão daqui até resolverem os seus problemas. — ele declarou e desencostou da mesa. — Isto significa que quanto mais teimosos forem, mais tempo passarão aqui e se este tempo significar a noite toda, assim será. — e foi com este último aviso que ele deixou a sala de aula e foi recolher-se em seu escritório para a ingrata tarefa de corrigir as lições do primeiro ano. 

Assim que a porta do escritório fechou às costas de Snape, Draco lançou à Dallas um olhar venenoso, ou ao menos tentou, os olhos dele estavam ambos com dois círculos roxos que faziam par com o nariz inchado. Pomfrey havia colocado o nariz dele no lugar e restaurado a cartilagem rompida, mas o hematoma era algo que teria que sumir por conta própria. 

— Isto é tudo culpa sua! — ele a acusou e Dallas riu de puro deboche.

— Minha?! — ela remexeu-se na cadeira e viu com prazer Draco tensionar os ombros, com medo de ser atacado novamente. Um segundo depois ele relaxou ao lembrar-se que Dallas também estava presa ao móvel pelo feitiço de castigo. — Você destruiu as minhas coisas por puro despeito!

— Você está desonrando o nome da Sonserina! — Draco rebateu em tom inflamado. 

— Como é?

— Andando com o Santo Potter para cima e para baixo, o defendendo como se ele fosse uma donzela em perigo, isto é vergonhoso e uma desonra! — Dallas soltou outra risada de deboche e cruzou os braços sobre o peito.

— Curioso que somente você acha isto. — até onde ela sabia, nenhum dos outros alunos, dos anos acima dos deles, dava a mínima para o que Dallas fazia ou deixava de fazer, com quem andava, falava ou defendia a honra. Não era problema deles envolver-se em disputas infantis ou ataque de pelancas de Draco. Os Malfoy eram ricos e influentes, mas não eram a única família que possuía este status no mundo mágico. Draco precisava descer de seu pedestal e ver que ele não era um floquinho de neve precioso, era apenas mais um floco entre tantos outros. — Você sempre protesta sobre o Potter, mas parece não incomodar-se com Patrick. — Draco abriu e fechou a boca como um peixe fora d'água e Dallas abriu um sorriso maldoso. — Isto é inveja, Malfoy? 

— Inveja? — ele soltou com puro desdém. — De você? — e Dallas ajeitou-se na cadeira de modo a ficar de frente para ele e encará-lo dentro dos olhos e ver a resposta que procurava refletida nas íris cinzentas. 

Sim, era inveja. Draco a invejava porque sem esforço algum ela conseguiu algo que ele almejou: a amizade de Harry Potter. O problema é que Draco tinha a delicadeza de um rinoceronte correndo entre estantes contendo itens de porcelana. A abordagem inicial dele foi a de apresentar-se para Potter ao mesmo tempo em que ofendia o primeiro amigo que o grifinório fez na vida. Draco era cego e não muito brilhante se ele não percebeu até hoje que Potter sofria de carência afetiva, síndrome de abandono e que sofreu intensos abusos psicológicos quando mais novo por parte dos tios trouxas. Os Weasley foram as primeiras pessoas que o trataram com dignidade e ele apegou-se à isto com unhas e dentes e foi crescendo e amadurecendo sob este novo tipo de tratamento. 

Dallas ainda lembrava claramente do menino tímido do primeiro ano, até mesmo do segundo, demonstrando claros sinais de abuso emocional porque ele apegava-se sempre a primeira pessoa que o defendia. Era uma forma falha de medir caráter, mas Potter ainda tinha tempo para aprender quem era inimigo e quem era aliado baseado em dados que iam além de “fulano gosta de mim, sicrano me detesta”. Agora, no terceiro ano, ele finalmente mostrava ao que realmente veio. Inflava tias chatas, fugia de casa no meio da noite, tinha como Bicho-Papão um Dementador, um medo ao qual ele recusava-se a ceder, e Draco Malfoy nem ao menos registrava mais em seu radar dentro da gama de preocupações que ele tinha.

— Não é inveja? — Dallas provocou e o rosto de Draco refletiu várias emoções diferentes. — É ciúmes! — declarou quando finalmente conseguiu decifrar o que via. — Ciúmes de mim ou de Potter?

— Eu não estou com ciúmes! — Draco soltou, ultrajado. 

— Sim, você está. — Dallas respondeu com firmeza e silêncio por alguns segundos seguiu-se a esta declaração. 

— Você me prometeu a sua amizade. — Draco comentou em um muxoxo. 

— Não, eu não prometi. Eu falei que iria pensar no seu caso.

— E você ainda está pensando! — Dallas suspirou longamente diante do tom de indignação do garoto.  Draco era digno de pena e agora que ela via isto. Ele tinha associados, colegas, aliados, mas não tinha amigos. O primeiro amigo que tentou fazer o rejeitou e a sua segunda tentativa não foi bem sucedida também, e ele reagia a rejeição de forma negativa porque não tinha maturidade alguma para lidar com a decepção, e Dallas só reagia de uma única maneira a meninos mimados que achavam-se melhores do que os outros: com sarcasmo e uma pitada de violência. A sua técnica de abordagem não era das melhores, confessava, mas também era a única que sabia usar. No entanto, não podia esperar que Draco mudasse as suas atitudes se ela também não mudava as dela. 

— Peço desculpas mas, assim como você e Potter, eu não sou muito boa em fazer amizades e geralmente faço as escolhas baseada em afinidades. 

— Hunf. — foi a única resposta de Draco, que relaxou mais ainda sobre a cadeira e cruzou os braços sobre o peito. O olhar dele ficou distante, fixo em um ponto qualquer da parede alguns metros à frente. Dallas inclinou-se sobre a mesa e começou a brincar com o cordão que nunca saía de seu pescoço, deslizando o pingente porta-retrato ao longo da corrente, de um lado para o outro. — O que é isso? — Draco perguntou ao ver o cordão com o qual ela brincava distraidamente. Não era a primeira vez que via a joia no pescoço da garota, mas era a primeira vez que a via de perto. 

Dallas abaixou o olhar para o cordão e depois voltou-se para Draco. 

— Foi um presente de aniversário da minha mãe, ganhei em meu primeiro ano em Hogwarts. 

— Pensei que não conhecesse a sua mãe. 

— E não conheço. Mas ela, aparentemente, sabe quem eu sou. — Draco empertigou-se na cadeira, subitamente curioso. 

— Eu posso ver? — Dallas o olhou com desconfiança e soltou o pingente de seu pescoço e o estendeu a Draco, que o ergueu em seguida com as pontas dos dedos para avaliação. Quando ele virou a joia entre os dedos, o seu rosto ficou ainda mais pálido sob as manchas roxas. Quando ele abriu o porta-retrato e viu a imagem dentro deste, Dallas achou que ele iria desmaiar de tão branco que ficou. 

— Draco? O que foi? — ele não respondeu, somente soltou o pingente como se este tivesse lhe queimado e remexeu o colarinho de sua camisa, puxando de sob este um cordão igualmente prata, com um pingente em forma de gota, como o dela, e com a mesma flor entalhada no fundo e a foto de braços segurando um bebê pálido e de ralos fios loiros. 

Dallas desejou por tudo o que era mais sagrado que não estivesse presa àquela cadeira pelo maldito feitiço de castigo, porque o seu corpo todo formigava no instinto primordial de bater ou correr. Ela queria fugir dali, ao mesmo tempo em que queria arrancar o cordão do pescoço de Draco e exigir dele uma explicação para o que estava acontecendo.

— Eu ganhei este cordão da minha mãe de aniversário, antes de vir para Hogwarts. — Draco explicou com a voz falha e olhos inchados e largos. 

— Como isto é possível? — Dallas perguntou em um ofego e com algo entalado em sua garganta. 

— Quantos anos você tem?

— O quê?

— QUANTOS ANOS VOCÊ TEM? — Draco vociferou e saltou na cadeira em um gesto reflexo, na intenção de levantar, mas o feitiço de castigo o manteve no lugar, e meia dúzia de impropérios deixaram a sua boca. O grito atraiu Snape que deixou o escritório com uma expressão tempestuosa. Era para os dois sonserinos estarem resolvendo as suas diferenças, não piorando tudo. 

— Doze. — Dallas respondeu, por fim.

— Onde você nasceu? — Draco continuou, em um tom mais controlado e ignorando totalmente o professor parado em pé na frente deles.

— França. — a resposta dela fez um som estrangulado brotar do fundo da garganta de Draco. 

— Eu nasci na França. — ele declarou com uma voz quase sumida. — Meu pai mandou a minha mãe para a França quando ela ficou grávida de mim e só voltamos para a Inglaterra quando eu tinha quatro anos. — Dallas sentiu o mundo girar ao seu redor diante desta implicação. Os Winford haviam ido para a França um ano e meio antes de seu nascimento, movidos por uma vontade súbita de Amélia de mudar de ares (hoje Dallas sabia que a avó estava fugindo da guerra e da ameaça que era Voldemort) e voltaram alguns anos após o seu nascimento. Dallas voltou o olhar para Snape, parado, em silêncio, na frente deles. O rosto do professor não era de demonstrar muitas emoções mas, naquele momento, os pensamentos dele estavam estampados em sua face e esses diziam que ele sabia, sabia exatamente do que Draco e ela falavam, sabia antes mesmo deles dois descobrirem. 

— Me solta. — ela pediu em um tom sufocado.

— Senhorita Winford… — Snape tentou argumentar e algo partiu-se dentro de Dallas e ela notou que foi a sua curta paciência.

— EU FALEI PARA ME SOLTAR! — berrou e sentiu um imenso alívio quando o professor apontou a varinha para ela. Assim que viu-se solta, Dallas deixou a cadeira em um pulo e a sala em igual velocidade. Os seus passos pesados ecoavam ao seu redor, as suas pernas a levavam para onde queriam levar e a sua mente estava tão nublada com os recentes acontecimentos que só notou onde estava quando o seu corpo chocou-se contra a grade de proteção do terraço de observação da torre de Astronomia. O seu corpo inteiro tremia e ela sentia como se houvesse algo bloqueando a sua traquéia, pois não conseguia respirar diante do que Draco lhe disse, diante da implicação do que Draco falou.

As suas pernas fraquejaram e Dallas só teve tempo de girar sobre os saltos antes de seus joelhos cederem e ela cair sentada no chão gelado, com as costas contra a grade. Não havia razão para ela estar abalada, a sua mãe era uma completa estranha para ela mas, ainda sim, a relevação balançou com todos os seus alicerces. Mesmo diante dos presentes de aniversário, ela era uma mulher sem rosto, sem nome, sem história. Agora ela tinha nome, o rosto permanecia uma incógnita, pois Dallas ainda não a encontrou em suas idas e vindas ao Beco Diagonal, mas ela tinha uma história que excluía Dallas e continuava mal contada.

Como ela e seu pai se conheceram? Ambos casados, o que a levou a trair o marido e depois abandonar a filha? Por que ela lhe deu um medalhão que corria o risco de ser identificado por Draco, mas recusava assinar as cartas com nada além de um M? Dallas ofegou. Sentia que estava sufocando, desmoronando por alguém que não merecia o seu descontrole, mas é que as possibilidades eram enormes, agora que sabia a verdade. Ela teria sido criada pela mãe ou abandonada? Draco teria sido um irmão melhor que os gêmeos? Sua origem seria camuflada? Seria criada como uma Malfoy ou reduzida a uma bastarda sem nenhum direito? Porque hoje ela estava no meio termo. Não era a nobreza, mas também não era a ralé. Como ela seria se Narcisa Malfoy tivesse a coragem de assumir os seus erros, coisa que Albert não teve?

Dallas sobressaltou-se quando sentiu uma capa cobrir as suas costas e um braço passar-lhe sobre os ombros. Como sempre, ela não precisava olhar para ver quem era, porque a presença de Potter sempre lhe era familiar, sempre a relaxava e a fazia acomodar-se involuntariamente contra o corpo dele. Ela não o indagou sobre como ele a encontrou ali na torre, ou sobre como ele soube de que Dallas precisava dele, mesmo que inconscientemente, somente agradeceu por ele estar ali. 

 


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