Equilibrium escrita por Diane


Capítulo 18
Capítulo 17 - Sutura intradérmica




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— Puta que pariu — Vanessa falou quando me viu — O que fez isso?

Não posso chamar ela de exagerada, eu suponho que parecia bem mal: Minha camiseta, que um dia foi branca, estava ensopada de sangue e eu estava ensopada de chuva — isso dava um efeito dramático, aposto. E como estava quase congelando, eu parecia bem pálida.

— Um gatinho — Alec falou.

Layla riu baixinho. 

— Quinto dos infernos, um único momento que não fico com essa praga e vocês quase deixam ela ser morta — Vanessa ainda parecia irritada — Vocês tiveram algum treinamento para aprenderem a ser tão incompetentes?

Visivelmente, ela imaginava que o gatinho era um tigre.

— É, sério. Foi um gato normal de rua — Alec continuou.

Ergui a mão.

— Mea culpa, mea maxima culpa — falei — Tinha um gatinho convulsionando, tentei levar ele no veterinário e ele me arranhou no caminho.

Me joguei no sofá e ergui a camiseta. Ah, aquilo parecia péssimo. Desconfiei que teria cicatrizes até a próxima reencarnação e ainda iria precisar levar pontos. Para vocês terem ideia, eu estava conseguindo ver minha hipoderme. Uma coisa é ver imagens de machucados em páginas de anatomia do Facebook, outra é no próprio corpo. 

— Eu preciso de um hospital.

— Não tem nenhum kit de primeiros socorros aqui? — Layla perguntou — Só os deuses sabem o que podemos encontrar no caminho do hospital.

E como se fosse alguma deixa divina, relampejou lá fora.

Emocionante.

— Somos sobrinhos de uma especialista em cura e você acha que não teríamos nem um kit de primeiros socorros? — Vanessa revirou os olhos e depois olhou para Alec — Você que deixou isso acontecer, você que remende.

Ergui a mão.

— A propósito, estou me sentindo uma boneca de pano com seu comentário. Mas ainda prefiro que seja você a dar os pontos. Ou, melhor ainda, Layla.

Layla balançou a cabeça.

— Não sei dar pontos.

E logo em seguida, ela foi caçar um secador para secar a Idia. Por isso eu amava Layla, poderia estar rolando o Apocalipse, podia estar voando profecias louças e ela iria evitar que a gatinha felpuda ficasse doente, mesmo que a gatinha virasse uma onça gigante ocasionalmente.

Vanessa riu.

— Você não quer receber pontos de mim, acredite. Ele é melhor que eu só nisso. Você deveria ter medo de encontrar ele na faculdade de medicina ano que vem. — Alec parecia um pouco convencido enquanto ela falava. 

Ah, que maravilha. Parecia mais eu rezava, mais assombração aparecia. 

— Bem, acho que já vi vídeos de pontos várias vezes. Vou tentar sozinha, obrigada. 

Não tinha visto tantas vezes, mas… C'est la vie.

— Eu não vou matar você com agulhas na frente de todo mundo, Christine — Alec ainda tinha a audácia de parecer entediado.

— Bem, convidar meu suposto futuro assassino para me dar pontos parece pedir por um trabalho de qualidade questionável. 

Ele revirou os olhos, apoiado na porta enquanto eu sangrava no sofá.

— Sua mãe vai ficar desapontada quando tiver que pagar a reparação do sofá.

— Ela devia ter pensado que uma jovem de 17 anos não é a criatura mais qualificada para salvar o mundo.

Jovem demais e com poderes de menos.

Mas isso é o tipo de coisa que não admito em voz alta. 

— Vocês estão particularmente fricotentos hoje — Vanessa estralou os dedos repetitivamente e estava com olhar de desgosto. As vezes eu entendia, ela tirou "férias compulsórias" de engenharia aeroespacial para ser lançada nessa coisa… infrutífera, para ser educada — Resolvam isso.

O isso era minha barriga. 

— Tire a camiseta — Alec disse, enquanto abria a caixa primeiros socorros que Vanessa quase arremessou nele.

— Nem vai me convidar para um vinho antes? — ergui uma sobrancelha.

Alec gargalhou e se ajoelhou do meu lado.

— Prefere sutura intradérmica ou de Lembert?





Uma vez, li uma carta histórica de um espião alemão do século XIX sobre persuasão. Demorou uma boa quantia de dias para o alvo se aproximar dele. 

Deuses são mais rápidos.

Aquilo tinha suas vantagens: Eu poderia esfregar na cara da criatura ruiva que eu não era ineficiente. Mas as desvantagens eram gritantes, quanto mais rápido aquilo funcionasse, menos de tempo de férias para mim. 

Voltando o assunto, talvez aquilo tenha funcionado tão rápido porque Hermes conseguiu farejar que eu estava distraída, não o habitual ocupada lendo enquanto toma gelatos. Eu tinha passado a noite estudando tudo sobre Beladona e formulando estratégias. Só tinha Idia me acompanhando porque não me senti segura em trazer Layla para um lugar que ela podia tomar um gelato envenenado. Um vrykolaka mandando por Trivia poderia enfeitiçar quem quer que produzisse os gelatos para colocar beladona neles. Aliás, um envenenador poderia adulterar qualquer tipo de comida compradas fora de casa se estivesse motivado, e por isso, eu e Layla decidimos que ela só iria comer coisas cozinhadas por ela mesma e eu. Além disso, como medida preventiva, faríamos Vanessa e Alec comerem tudo que fizéssemos, só para o caso de algum deles ter envenenado algum ingrediente.

Parece neurose, mas nunca se sabe. 

Eu realmente não estava esperando que Hermes me notasse naquele dia. Só fui para fazer o trabalho de deixar meu rosto gravado no subconsciente dele. Como tinha passado a noite deliberando sobre o veneno e estudando absolutamente tudo que a literatura acadêmica tinha a oferecer sobre beladona, eu estava cansada, mas tinha reservado aquele tempo para surtar sobre meu próprio dilema. 

Bom, eu estava rabiscando um mapa mental encima do Assassinato de Roger Ackroyd. Não na capa, obviamente, não sou uma selvagem, mas naquelas folhas em branco antes do índice.

Talvez eu absorvesse a sagacidade de Agatha Christie por osmose. 

Em síntese, o mapa media os possíveis problemas em matar ou não matar Alexander. Era algo do tipo.

Não matar:

—> (-)  Aumento de chances de eu morrer tentando matar a criatura.

—> (+) Probabilidade dele matar Trivia (O que iria me poupar do trabalho).

Matar: 

—> (+) Eu não vou ser a rainha morta hehe

—> (-) Problemas com Vanessa e a tia dela (E os aliados da tia dela).

—> (-) Matar o assassino de Trivia –> Ninguém mata Trivia.

Depois de um tempo, refleti que essa coisa de Voldemort-Harry não fazia sentido. Se algum bruxo descarregasse o pente de uma metralhadora no Voldemort em uma hora oportuna, ele morria. Aposto que o mesmo iria servir para Trivia.

E enquanto eu estava plenamente distraída pensando em tráfico ilegal de armas...

— O que é isso? — alguém falou bem atrás de mim.

Fechei o livro com força. Para meu crédito, o mapa mental estava escrito em abreviações, então mesmo que ele tivesse lido, não iria entender pantufas nenhuma.

Eu nem tinha ouvido ou reparado que o filho da meretriz tinha levantado da própria cadeira. Bem, a imortalidade deve trazer alguns truques.

Sou obrigada a admitir que pensei em responder um suave: Não é da sua conta. Não é uma resposta criativa, mas seria pertinente. Mas o objetivo não era começar com o pé esquerdo com Hermes. 

— A curiosidade matou o gato — Sorri.

Idia fechou os olhos. Acho que ela não aguentava mais ditados populares sobre gatos. 

Hermes se sentou na minha mesa sem ser convidado, com os olhos verdes brilhando. A minha piada sobre o gato fazia sentindo, tinha algo de felino na criatura.

— Pensei em fazer você esperar durante semanas.

A criatura sabia. Fiz minha melhor cara de sonsa inocente. Até falei um "Uai?". Idia cravou as unhas silenciosamente na minha perna, talvez o uai tenha parecido exagerado. 

— Você sabe — Hermes cruzou as pernas — eu que ensinei esses truques para os mortais, menina. E agora vejo eles tentando serem usados contra mim.

Bom, plano 1 falhou miseravelmente. Ou não. Aquilo ainda poderia ser reaproveitado, enquanto eu falava com a criatura, ia pensando em novos passos simultâneamente.

— Bom, você não pode me culpar? — Suspirei — Que alternativas me restavam? Vasculhar a Sicília inteira sendo que a adaga pode estar escondida em um canto das Fossas das Marianas? Roubar a adaga de você igual uma cena do Truque de Mestre? E pensando bem, até para roubar a adaga eu precisaria ter uma proximidade para saber onde você escondeu.

Ele ficou parado me analisando.

— Talvez você seja a filha de Nix mais esperta. 

Idia soltou um miado agudo semelhante uma risada indignada. Como podem ver, minha gata não tem muita fé em mim.

— Aposto que minhas irmãs imortais podem vir a questionar isso.

— Se você roubar uma adaga do deus da trapaça, elas vão ser obrigadas a concordar comigo — Hermes riu.

— Depende, você vai me transformar em um alce se me pegar em flagrante? 

— Depende de quão entediado eu vou estar no dia.

Ah, aí estava a chave.

— Eu diria que a Sicília é adorável — sorri maldosamente — Mas para quem já pariu um potro segundo os nórdicos, o resto da vida pode ser entediante.

Ele me encarou, imóvel. É, relembrar os podres dos deuses nem sempre é uma boa ideia, não importa quão tentador pareça.

— Juro que foi tudo licença poética.

Ergui uma sobrancelha.

— Pelo menos grande parte foi licença poética. 

Ele balançou a cabeça. Acho que até os deuses sentem vergonha de algumas coisas nos históricos deles.

— Enfim, você não vai perguntar onde está a adaga — Como ele era rápido para mudar de assunto.

Sorri.

— Ah, não. Não vamos começar com grandes favores. Quer me ajudar a fazer uma pegadinha para meus colegas? 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam de Hermes? Atendeu as expectativas?



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