Eu os declaro, Clarice e Barone escrita por Bianca Castilieri


Capítulo 1
Conheça Eduardo Barone




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Em frente o espelho ela se preparava, tinha comprado aquele batom vermelho da marca que patrocinava a atriz Marina Coelho da novela Tempos de ganância, que passava toda noite no horário principal. Seus lábios eram finos demais, mas usou um truque que havia aprendido no YouTube para fazê-los parecer carnudos.
— Fantástico - Disse para si mesma enquanto encarava seu reflexo no espelho repetindo a sua fala favorita de Eduardo Barone, sua paixão, alma gêmea platônica e ator da novela no comercial de suco natural. Estava animada, pela primeira vez iria participar da platéia de um talkshow. "Noite da Braga", programa da apresentadora Olivia Braga, celebridade notória e respeitada no meio artístico, programa de maior audiência e elegância do gênero, apenas perdendo pro "A noite é nossa" de dois comediantes da emissora concorrente. Comediantes sempre sabem como chamar a atenção do público. Mas, Clarice era apaixonada por novelas, por esse tipo de celebridade. Tinha todo tipo de revista de fofoca. Sabia tudo o que iria acontecer nos capítulos seguintes e seguia os trabalhos, principalmente de uma celebridade específica, o belo e galante Eduardo Barone, que já fora mencionado anteriormente. Louise, uma amiga de Clarice tinha começado a estagiar no programa de Olivia Braga, e Clarice vazia parte do maior fã clube de Eduardo Barone do País. É claro que como boa amiga que é Louise não deixaria ela de fora quando soubesse que Eduardo seria o entrevistado da semana no programa; já que além da novela, agora estava trabalhando em um filme. Um romance, claro. E lá estava ela, toda produzida na maquiagem usava um vestido muito parecido com o da personagem de Marina Coelho na novela na cena em que ela aparece na festa de gala. Dourado, brilhoso e bufante. Um tanto exagerado. Claro que ela tem mais carne e curvas que Marina Coelho, mas a intenção é que conta. Fez um contorno para que seu rosto ficasse mais fino numa tentativa de não revelar suas bochechas redondas. Pelo menos esse excesso de peso ela poderia cobrir. De início ficou um pouco receosa com o vestido, mas depois de se olhar uma, duas , três, quatro vezes no espelho acabou se acostumando com a visão. Tirou uma foto para as meninas do fã clube antes de sair e enviou no grupo. O programa era gravado na parte da manhã, então Clarice pegaria a van da emissora bem cedo. Seu visual chamou bastante atenção, algumas pessoas tiraram foto com ela no caminho. Apesar da diferença com a atriz estava reconhecível. Todos estavam com fome e sede quando chegaram, foi oferecido água e pães enquanto não entravam o estúdio. Ficaram em uma sala enorme parecida com um refeitório. Nenhuma estrela por perto. As pessoas estavam conversando descontraídas, alguns já tinham ido ao programa mais de uma vez. Informavam como costumava ser a produção e que Olivia Braga era muito elegante e intimidadora em sua postura. Admirável, mas não era de se aproximar tanto do público, a descreviam com brilhos nos olhos. Foram guiados para o estúdio de gravação pela produção. Clarice viu Louise verificando algo perto dos monitores no andar de cima, Louise não a viu. Sua roupa claramente chamou atenção da equipe, uma mulher chamada Marcele Pagotto perguntou sobre sua história. Clarice sabia que ter se vestido daquela maneira tinha sido uma boa ideia. Contou que conhecia uma pessoa da produção e em como era fã da novela Tempos de Ganância e do ator Eduardo Barone, que fazia parte do maior fã clube e sua vontade de conhecê-lo pessoalmente. A mulher pareceu ter uma ideia em mente. Pediu para que ela sentasse na frente no canto, e depois foi organizando as pessoas. Orientando a platéia. Depois saiu e demorando algum tempinho e assim voltou com um sorriso no rosto, um belo sorriso social e simpático.
— Querida, tivemos uma ideia e gostaria de perguntar se aceita participar de uma surpresa do nosso programa.. Quer dizer, não seria bem uma surpresa, mas vamos fazer que sim ao gravar. gostaríamos de simular Eduardo tendo uma surpresa de uma fã com homenagem a novela quando ele for cantar a música ..
— Ele vai cantar hoje?! - Clarice a interrompeu empolgada.
— Sim, e seria ótimo se participasse do quadro ao lado dele. Não precisa cantar se não quiser, apenas ficar do lado durante essa parte. Ele concordou em tirar foto e dar autógrafo.
— Eu Adoraria!
Marcelle já esperava essa resposta, quem negaria aparecer na televisão ao lado de Eduardo Barone? Sem falar que seria um ótimo trecho para as homenagens de fim de ano. - Obrigada, então vou te explicar como isso vai funcionar, Olivia vai fazer a entrevista, vamos passar cenas da novela na tela e então ela vai até você e perguntar seu nome e você, perguntar do que está vestida e então você diz que veio pra conhecer o Eduardo, então ele vai te chamar pro palco..
— Ele que vai me chamar?! - Seu coração quase que saiu pela boca.
— Sim, mas finja surpresa quando ele fizer isso. Ele vai cantar a abertura da novela, vocês vão tirar uma foto ele vai te dar um autógrafo e você volta a se sentar.
— Estou nervosa, nunca achei que fosse ficar tão perto!
— É o seu momento garota, aproveite quando chegar a hora e não deixe o nervosismo te vencer. - Ela piscou para Clarice e se afastou. O programa já ia começar. Todos estavam em seus lugares o ambiente era bem gelado o que a fazia se arrepender de não ter trazido uma blusa de frio, só uma charpe por conta da manhã, mas aquele estúdio ultrapassava o frio normal. Mas, aguentaria firme. Olivia Braga estava linda e elegante, havia acabado de completar cinquenta e cinco anos e seu corpo estava longe disso apesar da pele já mostrar a idade, porém ainda assim era muito bem tratada. Clarice ficou impressionada com o ar que Olivia passava, era tudo aquilo que haviam lhe desenhado. E com um toque distante, ela estava li a poucos metros de sua frente e ainda assim era intocável como se houvesse uma parede de vidro entre ela e sua platéia. Todos eram tão sérios ali nos bastidores, completamente diferente da magia da tevê. Estava hipnotizada de ver aquilo de perto. Claro que Olivia gravaria mais de uma entrevista no dia. A primeira foi bem rápida com um especialista em víboras. Algumas piadas de Olivia, mas completamente entediante. Ele se levava a sério demais e parecia ter dificuldade em se consentrar na sua linha de pensamento quando tinha sua fala cortada por alguma piada, o tempo todo disfarçando o incomodo. Com certeza geraria reclamação quando essa entrevista fosse para o YouTube depois de passar no ar, os amantes de serpentes ficariam ofendidos. Olivia o cumprimentou de forma educada e fez perguntas sobre as cobras quando davam o tempo. Era outra pessoa, mais séria o que fez ele se sentir mais a vontade e confortável em falar quando voltaram a gravar. A segunda entrevista com com o comediante Graveto, antigo ator da emissora conhecido por fazer piadas sem graça. Exageros, pular no sofá. Falar alto, esse era ele. Quando davam o tempo ele e Olivia conversavam tranquilamente. Ela basicamente costuma bater papo com todos os convidados quando não está gravando e quando voltavam o show começava. E então finalmente Eduardo Barone apareceu, era a vez dele. Subiu no palco acenando para a platéia que era induzida a fazer assobios e gritar enquanto a banda de jazz tocava alguma música galante. Ele usava um smoking azul e gravata borboleta preta. Totalmente elegante. Seu cabelo preto jogado pra trás. Ele era alto e magro. Definido, dava pra notar. Ele com certeza fazia academia. O queixo quadrado e masculino, dentes bem brancos e grandes, cativantes. Nada exagerado. Ele parecia ter saído de um conto de fadas, era bonito de todos os ângulos. Os olhos verdes escuros que pareciam castanhos. Clarice se sentia nas nuvens, não acreditava que daqui a pouco estaria ao lado do homem dos seus sonhos. Ele brincou com a banda, falou sobre o filme, contou histórias engraçadas sobre situações nos set de gravação com o elenco. Mandou um beijo pra sua mãe para fazer uma graça charmosa. E interagia com a platéia quando contava alguma história. O entusiasmo dele era contagiante. E então, o momento chegou. Na tela começou a passar cenas da novela enquanto Eduardo mantinha um sorriso no rosto como se estivesse se emocionando a cada cena que a apresentadora comentava. O olhar brilhoso e orgulhoso dele, Clarice sentia aquilo.
E então teve a deixa, Olivia estava falando sobre a música da novela que estava fazendo sucesso e dizendo que Eduardo já tinha participado de músicas no teatro, um assunto casando no outro. Então os dois começaram a cantar trechos da letra um pro outro. Olivia cantando levemente desafinada e rindo de si mesma e ele tentando dar uma de professor de canto a corrigindo charmosamente.
— Temos uma linda platéia aqui - ela olhou de forma travessa para todos na platéia com as mãos apoiando em sua mesa. Fazia parte do show. - Que tal uma das meninas vir aqui e participar de uma música junto do Edu? - Ela se levantou e fingiu procurar alguém da platéia enquanto ele permanecia parado no meio do palco com microfone em mãos já preparado. Ela procurou até ir á Clarice no canto.
— Meu amor, meu amor - Ela disse olhando Clarice de cima a baixo a fazendo se levantar. - Marina Coelho ficaria com inveja. - Disse olhando para a câmara. - Não é por nada, mas já podem mandar a Mari embora e contratar a.. perdão meu amor, qual seu nome?
— Clarice, Clarice Ilhéu. - Disse tentando conter sua empolgação, aproximando do microfone já apontado pra si para responder.
— Clarice, bonito nome. Você é fã de tempos de ganância Clarice?
— Muito! - Seus olhos brilharam.
— E do Edu? Você é fã do Edu?
— Me vesti de Cassandra Brandão só por causa dele - Respondeu se esforçando pra voz não sumir citando a personagem de Marina Coelho.
— Edu, venha aqui pegar sua fã pra subir com você aí no palco. - Olivia abriu espaço para que ele se aproximasse. Clarice nem precisava fingir surpresa sua empolgação estava a mil, qualquer um acreditaria que aquilo foi algo inesperado e não planejado. Eduardo sorriu e foi até ela como um príncipe, dando lhe um abraço e cumprimentando de forma carinhosa, sempre com um sorriso no rosto, ela nem podia acreditar. Segurou sua mão e ela o acompanhou até o palco. A banda começou a tocar a música que ela tanto conhecia, a abertura da novela e ali estava Eduardo Barone segurando sua mão na frente de todos com lindo sorriso a olhando nos olhos e iniciando os primeiros trechos da letra, ela começou a cantar junto fazendo com que a produção lhe arrumasse um microfone instantâneamente. Olivia já estava atrás na mesa apenas se balançando no ritmo romântico da música. Eduardo deu um pequeno passo de valsa assim como a cena da festa de gala na novela. Quando seu personagem, Alberto dança com a personagem de Marina. Clarice pode sentir o cheiro de seu perfume caro. Ela nunca se esqueceria disso. Cantou alguns trechos não todos, ela não tinha uma excelente voz, mas não era isso que a impedia. Era sua vontade de ouvir a voz dele claramente. Ela não queria ser o show, apenas queria estar perto dele. O momento foi rápido, durou apenas a música mesmo. Depois que terminou ele a abraçou de novo e tirou uma foto, a primeira foi deles dois, depois com a apresentadora. Os três juntos. A foto no celular dos três. Clarice logo estava de volta na platéia, presa no mundo dos contos de fadas. Cada minuto durou a eternidade, guardaria isso para sempre. E em uma parte sombria pensou em como a líder do fã clube morreria de inveja em seguida caindo na real lembrando que a líder do fã clube já tinha milhares de fotos com Eduardo Barone.

Quando as gravações cessaram, Olivia assim como quando entrou partiu sem qualquer tipo de contato com a platéia com exceção de Clarice. Foi bem educada e agradeceu por sua presença. Eduardo Barone desapareceu do palco assim que terminou sua entrevista, nem sequer olhou pra trás. Embora tenha se despedido de forma sorridente. Clarice, tinha suas fotos e autógrafo, mas decidiu que isso não seria o bastante. Não queria que o dia terminasse, passou a maior parte do tempo o esperando do que estando ao lado dele. E aquela falta de despedida lhe deixou um sentimento de encontro incompleto. Quando todos eram guiados para fora do estúdio, sua amiga Louise descia do andar de cima para cumprimenta-la.
— Você deve estar surtando por dentro.
— Você é a melhor amiga do mundo. - Ela não conseguia conter sua emoção - Ele é tão lindo!
— Eu sei, levei uvas secas ao camarim dele mais cedo, nunca tinha visto um homem tão bonito na vida e vê se não esquece desse meu feito no meu aniversário.
— Uvas passas misturadas em Iorgute integral - Clarice recitou como se tivesse decorado a resposta de uma prova. Orgulhosa do seu aprendizado como membro do fã clube.
— Sim, gosto estranho. - Louise deu de ombros como se já estivesse acostumada com as esquisitisses dos famosos. - Bom, acho que sua participação vai aparecer no especial de fim de ano. A produtora estava comentando algo assim. Eles sempre fazem homenagens aos atores da emissora em seus melhores momentos. Ótima ideia ter vindo vestida como a Marina Coelho em Tempos de Ganância.
— Eu sabia que isso me traria sorte. - Uma ideia iluminou o rosto de Clarice enquanto Louise falava sobre detalhes da produção que a fez interromper imediatamente. Louise estaria ali o dia todo e quando quisesse. Ela não. - Você consegue me levar até o camarim do Eduardo Barone? - Perguntou aflita. Louise era apenas uma estagiária e talvez esse pedido podia até soar demais. Mas, Louise por sorte era o tipo de pessoa que não se incomodava fácil.
— Claro, só vem comigo. - Então as duas seguiram pelo outro corredor um que tinha figurinos pelo corredor, fios, câmeras, pessoas da equipe. Salas com números enormes nas portas que indicavam outros estúdios e cenários. Era uma área que ninguém da platéia havia passado até chegar na área do camarim. Tudo ali ainda era gelado e as pessoas pareciam já estar acostumadas com aquela temperatura. Ninguém pareceu interromper ou ligar para Clarice ali, algumas pessoas estavam vestidas de forma engraçada também.
— Te deixo aqui, tenho que voltar. É só bater na porta e... - Então com a porta entre-aberta elas escutaram. Lá estava Eduardo Barone sem o smoking, camisa social aberta e gravata solta rindo junto de seu acessor. Ele estava diferente, o cabelo agora bagunçado e usando uma diálogo menos sofisticado. Para Louise não era nenhuma novidade, mas Clarice nunca o tinha visto assim. Ele ainda não era um ser humano normal para ela, mas ainda assim aquilo era uma novidade, então elas notaram mais uma pessoa ali dentro a produtora do programa Marcelle Pagotto.
— Porra Marcelle, se eu soubesse que a fã que você tinha me falado era aquela gorda eu não tinha aceitado isso. Justo uma gorda?! - Ele riu indignado. - Puta que o pariu, quando pisei no palco e vi aquela mulher.. não vou nem comentar, mas que situação você me colocou, hein? E a Olivia comparando ela com a Marina? - Clarice ficou estática.
— Pra mim era apenas uma garota normal, não sabia que você tinha especificações. - Marcelle respondeu de forma indiferente, como se nem levasse aqueles comentários a sério.
— Nem pense em colocar a minha imagem com ela no especial de fim de ano porque eu te conheço - Ele apontou pra ela rindo.
— Se não quer então descartaremos isso, porém a imagem vai ao ar no programa normal.
— Com essa parte não tenho problemas, mas quando for querer fazer algo assim me arruma uma mais bonitinha. Não um botijão dourado. - O acessor se divertia com o humor de Eduardo, a produtora apenas riu como se dissesse "você não tem jeito" ninguém ali estava levando a sério embora soubessem que era sério. Ninguém se importava com aquilo, era Eduardo Barone e o programa foi ótimo.

E então, Louise estava gravando da câmera do seu celular.
— Que homem nojento, esquisito e nojento. - Ela se virou para Clarice e a garota estava com uma expressão estranha no rosto, claramente humilhada. Ela queria sair daquelas roupas imediatamente. Se sentia totalmente ridícula. Claro que ele acharia isso, como ela pôde pensar em se vestir como a personagem da novela? Marina Coelho era bela, cintura fina e curvas nada exageradas. Ela não era um "botijão de gás".
— Eu preciso...- Clarice se virou apenas querendo sair dali, caminhou para fora imediatamente ignorando qualquer som ao seu redor e ficando com sua visão turva, consequência de seu atual psicológico. Aquele era o pior dia da sua vida. Se sentia um ser humano nojento, asqueroso.


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