— Tá, mas por que as algemas? - Willy perguntou sentado na cadeira com as algemas em seus punhos para trás.

— Nós não sabemos se podemos confiar mesmo em você, Serval. Não sabemos se vai tentar sair e de repente enviar ao Varl'ha mensagens de como é por aqui - Yara balbuciou enquanto se aproximava dele.

— E por que eu faria isso? Aqueles desgraçados iam me vender para o cara, se eu trabalhasse para ele nem estaria por aqui... Estaria?

— Não sei... Mas você chegou perto dos chefões o suficiente, certo? Sabe dizer quem são?

A expressão imutável da raposa das neves congelava seu sangue. Não havia mais ninguém naquela sala, e Willy, apenas com ela, sentia mais medo que qualquer torturador do rei.

— Pegaram meu pen drive? Passei por algumas lojas, roubei um notebook qualquer só para transferir os itens...

Yara notava a tentativa de Willy normalizar a respiração e se acalmar perante sua presença intimidadora.

A raposa o fitou friamente. E para ele, sua espinha estava agora congelada, com um calafrio que percorria o corpo inteiro em uma fração de segundo, o que dificultava a respiração.

— A senha... - as palavras foram lentamente pronunciadas. A pequena mesa fez um som agudo quando o notebook foi arrastado e um click seguido de outro ao ligar e inserir em sua entrada o aparelho.

— Leão filho da puta um, dois, três! - Fez uma longa pausa com o desconforto do peito vazio de ar. - Tudo junto e... e minúsculo...

Ambos ficaram em silêncio. Yara digitava a senha quieta e esperou o conteúdo carregar.

— Onde tá a Sarah?

— Não importa.

— Quê?

— Não importa. Não é com ela que você deve se preocupar agora, serval!

Ela arrastou o notebook, virou a tela para ele e abriu a primeira imagem que estava na pasta cheia com fotos sobre pessoas, armas e tudo mais.

— Bahrol. Esse tigre, não é?

O serval assentiu com a cabeça.

— Tem mais alguns... parece que mais quatro além dele.

— Atiradores? - Passou para a próxima imagem. Uma tricerátops amarela... Era enorme.

— Vixie. Ela é um tanque de guerra vivo. 

— Okay. Próxima - Apertou a tecla para avançar a foto.

— Esse daí! Um canguru.

— Kailee. Ele é um mecânico. E bom... ajuda a fazer umas coisas doidas. E sim, um dos chefões lá.

— Esses dois. Uma lontra e um esquilo...

— Kancheun, a lontra. Essa daí é doida. Tipo a espiã deles, ou chefe dessa área. Tolin, o esquilo. Sei lá o que esses dois são, parecem um casal, amantes, sei lá. Só sei que esse daí é o caçador deles, um assassino.

Ela voltou sua atenção para a tela, passando as imagens com uma pausa de alguns segundos em cada uma delas para analisá-las.

— Eu fiz aí umas anotações. Umas fotos que tirei na câmera que tinha roubado de um deles, ela era pequena o bastante para que eu continuasse com ela na delegacia. O chão ficou em pouco tempo forrado de areia, sempre carregavam de um lado pro outro, aí fiz esse "mapa"... É, meio improvisado. Todo mapa que tirei foto leva para essas armas e suprimentos. Tem aí algumas filmagens com áudio de guardas conversando sobre algum posto com suprimentos e tudo mais.

— Ótimo. Obrigada, Willy - Yara seguiu até atrás da cadeira e tirou as algemas. - Pode ficar por aqui se quiser... É um lugar seguro.

— Lugar seguro... - repetiu o felino. - Finalmente.

— É a primeira vez que vê um lugar para descansar um pouco?

— Bom, sim... O próprio reino não tá seguro... - Ele andou até a janela, analisou maravilhado o lugar onde estava e suspirou. - E a Sarah? - perguntou preocupado.

— Eu não sei... alguma coisa mexeu com ela hoje. De verdade. Sabe de alguma coisa?

— Não faço ideia... Ela ficou quieta no caminho todo depois que mandou o acampamento pelos ares. Ela estava abatida... Acho que só precisa de um tempinho pra cuidar de si mesma.