Pokémon - Unbroken Bonds escrita por Benihime


Capítulo 2
Mentirosos




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Calista se acomodou melhor na cama, puxando os cobertores até o queixo. Só então pegou seu celular e enviou uma mensagem para Diantha.

Ainda zangada?

Para sua surpresa, a resposta da atriz kalosiana foi quase imediata.

Talvez. Ela respondera. Mas não se preocupe, meu bem, isso não tem nada a ver com você.

A irmã de Ash fez uma careta, relembrando a briga entre Diantha e Cynthia horas antes. Fora uma discussão e tanto, considerando que nenhuma das duas partes envolvidas era realmente dada a conflitos.

Pegue leve. Calista recomendou. Cynth só estava tentando ajudar. Ela se preocupa com você.

Eu sei. Com aquela resposta, a jovem praticamente pôde ver Diantha soltando um suspiro de frustração. Mas isso não muda o fato de que ela está errada.

Pode ser. Mas e se ela não estiver?

Dessa vez a resposta demorou vários segundos. Assim que a leu, Calista pôde sentir a raiva de sua amiga imbuída em cada palavra, pôde praticamente ver aqueles olhos azuis chispando como fogo em brasa, a expressão de indignação naquele rosto de porcelana.

Pensei que você entenderia. Diantha respondera. Não importa. Vou provar a vocês que estão enganadas.

Apenas tenha cuidado, ok?

A isso a atriz kalosiana nem se dignou a responder, e Calista só a viu novamente no final da tarde seguinte, quando foram encontrar Olympia em Anistar a convite da líder de ginásio.

Ao ver a jovem kantoniana chegar acompanhada por Cynthia, Diantha as cumprimentou com um mero aceno de cabeça. Calista suspirou, resignada. Sabia que por baixo daquela fachada refinada e gentil, sua amiga podia ser uma tremenda cabeça dura. Não seria fácil fazer as pazes com ela.

— Diantha ... — Foi Cynthia quem quebrou o silêncio. Falou com suavidade e um toque de exasperação, da mesma forma que costumava falar com Calista quando a Rainha de Kalos estava sendo particularmente teimosa por alguma razão boba. — Agir assim não vai resolver nada, e você sabe disso.

A única resposta a essas palavras foi um olhar furioso. Calista estendeu uma das mãos, segurando o pulso da campeã de Sinnoh para impedi-la de continuar brincando com uma mecha de seu cabelo loiro, num gesto que a jovem sabia ser movido tanto por ansiedade quanto por uma pontada de mágoa.

— Dê um tempo a ela. — A morena aconselhou, tendo o cuidado de falar baixo o bastante para que a atriz não a ouvisse. — Diantha vai se acalmar. Bom ... Em algum momento. Eu acho. Assim espero, pelo menos.

— É, eu sei. — Cynthia respondeu em voz baixa. — E nós duas nos deixamos enganar, eu não esperava tanta teimosia. Diantha é quase pior do que você. Eu jamais imaginei que isso fosse possível.

— Tem razão. As pessoas sempre nos surpreendem, huh?

— Nunca mais vou subestimar a verdade dessa frase. — A campeã de Sinnoh declarou. — Agora ande logo, Cal. Estou curiosa para conhecer Olympia.

E lá estava de novo, a fachada da campeã. Calista já conhecia Cynthia bem demais, sabia dizer quando a loira estava simplesmente sendo ela mesma ou quando usava a persona da campeã de Sinnoh: fria, orgulhosa e extravagante, uma máscara para esconder o que realmente sentia. Mas, apenas daquela vez, a morena resolveu deixar passar.

Como sempre, Olympia esperava por elas na entrada do ginásio. Ao vê-las, a Oráculo abriu aquele sorriso misterioso com o qual Calista já começava a se acostumar.

— Diantha. — Ela cumprimentou. — Calista. É um imenso prazer vê-las de novo.

— O prazer é nosso, Olympia. — Calista respondeu honestamente.

Os olhos azul-gelo da líder de ginásio brilharam por um breve momento ao se voltar para Cynthia, um brilho de curiosidade que foi logo disfarçado com um sorriso cordial.

— Finalmente nos conhecemos. — Ela disse. — Sua reputação a precede, Cynthia.

— Obrigada. — A loira respondeu formalmente. — É um prazer conhecê-la, Olympia.

Olympia sorriu mais uma vez e fez sinal para que as três mulheres a seguissem, ao que todas obedeceram silenciosamente. Foram guiadas por um corredor lateral que terminava em uma única porta de madeira de aparência antiga.

A mulher de cabelos roxos girou a pesada maçaneta de prata, revelando uma ampla sala. Todas as paredes eram de um branco puríssimo, exceto aquela oposta à porta, que era feita de vidro e dava vista para o mar. Era um dia nublado e a luz acinzentada fazia com que as plantas dispostas em vasos pela sala contrastassem e parecessem de um verde ainda mais vivo. O efeito final era simplesmente estonteante.

Olympia se acomodou em um dos pufes colocados no centro da enorme sala, fazendo sinal para que as outras também se sentassem. Diantha se adiantou, propositalmente escolhendo sentar-se ao lado de Olympia, o mais longe possível de suas duas amigas. Calista estreitou os olhos diante de tal criancice, ao que a atriz respondeu com o mais sutil dar de ombros. Se Olympia notou a comunicação silenciosa entre elas, preferiu não fazer nenhum comentário.

— Então o elo é real. — A líder de ginásio disse simplesmente.

— Sim. — Diantha assentiu. — É muito real. E mais forte do que imaginávamos.

— Como eu imaginei. — A misteriosa Oráculo declarou pensativamente. — E sim, eu posso ajudá-las a controlar o poder desse elo. Por isso as chamei aqui.

A declaração fez com que as três mulheres esquecessem as hostilidades por alguns momentos, trocando olhares surpresos. Nenhuma delas conseguia imaginar como Olympia sabia que estavam justamente procurando uma forma de lidar com aquele elo.

— Mas devo avisá-las. — A mulher de cabelos roxos acrescentou. — De que só posso guiá-las até certo ponto. O resto, terão que fazer por si mesmas. E tenho uma condição: deverão deixar de lado quaisquer sentimentos pessoais. Se concordarem com esses termos, terão minha ajuda.

Calista fez o possível para esconder um sorriso, pega de surpresa. Embora não tivesse comentado nada, Olympia era muito mais observadora e perspicaz do que parecia.

— Eu concordo. — A morena declarou imediatamente.

— Também concordo. — Cynthia assentiu.

As duas amigas olharam para Diantha, que assentiu com relutância depois de alguns segundos.

— Ótimo. — Olympia declarou com um sorriso satisfeito. — Calista, Diantha me contou que lhe ensinou a técnica de projeção.

— Sim. — A irmã de Ash corou levemente, embaraçada. — Embora eu não tenha sido exatamente uma boa aluna.

— Se importaria de me mostrar? — A líder de ginásio inquiriu gentilmente. — Eu gostaria de julgar por mim mesma.

Calista hesitou quando Olympia estendeu uma das mãos. Apesar daquela aura de serenidade que fazia todos confiarem nela imediatamente, havia algo de intimidador naquela mulher. A hesitação, porém, foi logo varrida para longe e a jovem estendeu uma das mãos para colocá-la sobre a de Olympia. Alguns segundos se passaram sem nenhuma mudança.

— Você está tentando demais. — A líder de ginásio disse enfim. — Relaxe. Apenas deixe sua mente seguir o próprio curso. Não tente forçar.

A morena assentiu, respirando fundo e tentando seguir o conselho. A primeira coisa que lhe veio à mente foi Mirabelle, no dia em que sua pequena Eevee evoluíra para Sylveon. A memória trouxe um sorriso aos lábios de Calista. Olympia afastou a mão poucos segundos depois, parecendo satisfeita.

— Muito bem. — A Oráculo aprovou calorosamente. — E quanto a você, Cynthia? Suas amigas me disseram que você tem um certo dom.

— Honestamente? Eu não sei.

— Gostaria de descobrir?

Cynthia assentiu, ficando de pé e fechando a curta distância entre si mesma e Olympia. Ao contrário de Calista, a campeã de Sinnoh não hesitou nem por um segundo.

— Excelente! — A líder do ginásio de Anistar exclamou pouco depois. — Poderosa e afiada como uma espada. Me permitiria fazer um pequeno teste, minha cara?

— É claro. — A loira assentiu, mais uma vez sem hesitar.

— Então olhe para mim, e não desvie o olhar até que eu lhe diga.

Cynthia obedeceu enquanto Calista assistia com quantidades iguais de curiosidade e surpresa.

— O que ela está fazendo? — A morena sussurrou para Diantha.

— Testando a mente dela. — Foi a resposta. — Não é algo que ela faça com frequência, mas Olympia pode ler mentes se quiser. Tudo de que ela precisa é de contato visual.

O silêncio se arrastou por mais alguns segundos, até ser quebrado por Olympia.

— Estou impressionada. — A mestra psíquica declarou. — Cynthia, minha cara, nunca vi uma mente tão forte quanto a sua.

— O que você viu? — Diantha inquiriu, curiosa, enquanto Cynthia voltava a sentar.

— Absolutamente nada. — Foi a resposta. — Isso é excepcional. Cynthia me bloqueou completamente.

— Mas isso não é possível, você mesma me disse.

— Não, não disse. — A líder de ginásio corrigiu, com apenas o mais leve tom de diversão transparecendo em sua voz. — O que eu disse foi que seria necessário uma força de vontade muito além do ordinário para conseguir tal feito.

Isso pareceu amuar Diantha ainda mais. A líder psíquica percebeu e lhe lançou um olhar de advertência, mas mais uma vez escolheu não dizer nada.

Apesar de sua paciência e gentileza, Olympia se provou uma professora exigente, testando os limites de suas novas alunas ao máximo. As três estavam extenuadas quando finalmente deixaram o ginásio de Anistar.

— Diantha, espere. — Cynthia chamou, antes que a atriz mais uma vez virasse as costas. — Precisamos conversar.

— Não, não precisamos. — Foi a resposta, dada com absoluta frieza. — Você já disse tudo o que precisava dizer, Cynthia.

— Caramba, Diantha! — Calista exclamou, interferindo antes que suas duas amigas começassem a discutir mais uma vez. — Nunca pensei que diria isso, mas acho que Cynthia tinha razão: você não passa de uma primadonna mimada! Podia pelo menos ouvir o que ela tem a dizer, não acha?

Isso definitivamente fez a mulher kalosiana recuar, pega de surpresa. De todas as coisas que ela esperava ouvir, aquilo claramente não estava na lista.

— Você não entende, Caly. — Ela disse em resposta. — Simplesmente não entende nada. Vocês duas estão erradas, e vou provar isso hoje à noite.

Calista estava prestes a rebater, mas a campeã de Sinnoh a impediu pousando uma das mãos em seu ombro.

— Não faz sentido discutir, Cal. — Cynthia disse, sua voz baixa interrompendo a discussão que ameaçava se instaurar. — Deixe estar.

Para surpresa de Calista, a voz de sua amiga era calma, sem trazer o menor resquício de irritação ou mágoa. Se tanto, a voz da campeã trazia uma nota de sincera preocupação.

— Mas ...

— Deixe. — A loira repetiu com mais firmeza enquanto Diantha se afastava. — Ela está em negação, não vai aceitar a verdade. Não agora. Mas vai acabar vendo o que precisa ver. Assim como eu.

— Como você? — A morena repetiu, sua curiosidade despertada por aquelas palavras.

— Não vale a pena falar disso. — Foi a resposta, seguida por um sorriso desafiador. — Ande logo, Cal. Aposto que não conseguem nos vencer dessa vez.

— Fechado. — Calista cedeu, se deixando envolver pela atitude competitiva da campeã. Era algo que tinham em comum, ambas amavam desafios. — Até onde quer correr dessa vez?

— De volta a Lumiose. A última a chegar é um Slowpoke demente.

A irmã de Ash riu daquela piada idiota, o que era obviamente a intenção de Cynthia. Calista tirou IceFire da pokebola e a Charizard rugiu em desafio ao ver a campeã de Sinnoh libertar Garchomp. A pokemon tipo Dragão respondeu ao gesto com seu próprio rugido, enquanto as pokemon e suas treinadoras assumiam posição.

IceFire teve vantagem no início, decolando com movimentos rápidos de suas poderosas asas. Garchomp, porém, não demorou a alcançá-la. Nenhuma das duas rivais aceitaria perder, isso era óbvio. Calista se inclinou e abraçou o pescoço de sua Charizard enquanto sua parceira acelerava ainda mais.

Nenhuma das duas treinadoras percebeu quando exatamente aconteceu, mas em algum ponto a competição se tornou mais uma brincadeira para as duas pokemon, que esqueceram a corrida e passaram a voar lado a lado. Ocasionalmente IceFire tentava acertar Garchomp com golpes de suas asas, ao que a pokemon tipo Dragão retaliava tentando lhe bater com sua cauda.

— Isso! — Cynthia comemorou jocosamente ao ver a cauda de Garchomp passar a centímetros do pescoço musculoso de IceFire. — Tomem essa, vocês duas, e deixem de ser exibidas!

A Charizard revirou os olhos para aquela provocação, enquanto Calista meramente riu. No fim, ambas pousaram praticamente ao mesmo tempo perto do portal que levava à cidade de Lumiose.

— Droga! — Calista exclamou, pulando para o chão com agilidade. — Um empate de novo.

— Parece que é nosso destino, huh? — Cynthia brincou.

A irmã de Ash riu daquele comentário, mas apenas por um momento. Logo em seguida ficou séria, seu rosto assumindo uma expressão grave.

— Cynth ... O que você acha que Diantha quis dizer? — A morena inquiriu. — Sabe, sobre provar que estávamos erradas.

— Não acho que ela vá realmente fazer alguma coisa. Diantha não é esse tipo de pessoa. — Foi a resposta. — Ela só está sendo teimosa.

— Você a está subestimando.

— Talvez. Você saberia disso muito melhor do que eu. — A loira admitiu pensativamente. — Mas de uma coisa tenho certeza: do jeito que ela estava furiosa, não vai falar com nenhuma de nós até amanhã. Talvez por mais tempo.

— Nisso você tem razão. — A jovem kantoniana concordou. — Então ... Quer aproveitar e dar uma volta pela cidade, ou você está ocupada demais?

— De jeito nenhum. — Cynthia sorriu. — Será um prazer.

As duas amigas passaram o restante da tarde juntas, basicamente não fazendo nada de mais além de visitar os pontos turísticos da cidade e conversar. Despediram-se cedo, logo no começo da noite, e Calista decidiu tentar se distrair com um livro quando chegou em casa. Sua mente inquieta, porém, não lhe permitiu se concentrar.

Como sempre fazia quando se sentia ansiosa por algum motivo, a morena decidiu ensaiar alguns passos de dança. A música sempre a ajudava, fazia com que se perdesse no ritmo e esquecesse tudo o mais. Funcionou, até que o grito de um pokemon quebrou sua concentração.

— Ande, Inari! — A morena exclamou para a pequena Vulpix que ensaiava ao seu lado. — Vamos lá ver o que é.

Calista e sua pokemon saíram correndo. Ao chegarem à rua de paralelepípedos, que dava diretamente na Torre Prisma, tiveram uma enorme surpresa: o pokemon que gritara era uma Gardevoir.

— Gardevoir! — A morena exclamou, reconhecendo imediatamente o colar com um pingente de Gardevoirite que a pokemon usava. — O que faz aqui? O que aconteceu com você?

Um flash lampejou em sua mente, uma imagem do rosto furioso de Diantha, porém foi muito breve e desapareceu logo em seguida. O motivo ficou logo óbvio: atordoada e ferida, levada ao ponto da exaustão, Gardevoir desmaiara.

Calista a amparou rapidamente, pegando a pokemon no colo com facilidade. Alta e esguia, a Pokemon Abraço era surpreendentemente leve, e a jovem kantoniana não teve problemas para carregá-la de volta até seu apartamento. Uma vez que a pokemon estava acomodada, a irmã de Ash tratou de seus ferimentos o mais delicadamente que pôde, tentando não lhe causar mais dor. Quando terminou, cobriu-a com um cobertor e deixou Gardevoir descansar. Inari pulou na cama, observando a outra pokemon atentamente.

— É isso aí, Inari. — Calista sorriu. — Me ajude a ficar de olho até que Gardevoir se recupere.

A Vulpix assentiu com entusiasmo, parecendo muito satisfeita por poder fazer algo de útil naquela situação. Foi nesse momento que o celular de Calista tocou. Ela nem conferiu o número antes de atender.

— Oi, loira. O que foi?

— Cal, me diga que eu não estou ficando louca. — A campeã de Sinnoh disse à queima-roupa. — Estou com um péssimo pressentimento desde que nos despedimos.

— Não Cynth, você não está louca. — Calista declarou. — A Gardevoir de Diantha apareceu aqui uma meia hora atrás. A coitadinha está péssima. Parece que levou uma tremenda surra.

— Droga! — A loira esbravejou. — Eu tinha medo de que ela fizesse isso!

— O que?! Do que você está falando?

— Ontem à noite, depois daquela discussão que tivemos, Diantha me mandou uma mensagem. Ela disse que iria se encontrar com Lysandre hoje e provar que eu estava errada sobre ele.

— Mas que merda, Cynthia! — Calista quase gritou. — Por que você não me disse nada?

— Em primeiro lugar porque não adiantaria. — Foi a resposta. — E, em segundo: nunca pensei que ela iria em frente com isso depois de saber tudo o que Hitoshi e eu descobrimos sobre aquele homem.

— Esse é seu defeito, sabia? Você sempre subestima as pessoas. Confia demais na melhor parte de cada um.

— Não vou discutir sobre isso. — A loira rebateu. — Escute, Cal, preciso que você faça uma coisa por mim.

— Depende do que você precisa.

— Sei o quanto você quer descobrir o que aconteceu. — A campeã disse. — Mas preciso que fique com Gardevoir até ela acordar e deixe isso comigo.

— Está bem. — A morena cedeu de má vontade. — Mas tome cuidado, Cynth. É sério.

— Como sempre, Cal. — Foi a resposta. — Nos vemos amanhã. E tente dormir um pouco, também. Não vai ajudar em nada se estiver exausta.

— Tem razão. Boa noite, Cynthia.

As duas desligaram. Calista tentou dormir, mas não conseguiu pegar no sono. Alguma coisa lhe dizia que, por pior que aquele problema parecesse, seria apenas o começo.

A morena abriu os olhos devagar na manhã seguinte, ainda exausta. Caíra no sono quase ao amanhecer, vencida por puro cansaço, e sentia como se não tivesse dormido nada.

Levantando-se com movimentos desajeitados, a jovem caminhou silenciosamente até o quarto de hóspedes, onde Gardevoir ainda estava inconsciente. Inari dormia enrodilhada contra a Pokemon Abraço. A Vulpix entreabriu os olhos ao ouvir a aproximação de sua treinadora e lhe dirigiu um breve sorriso.

— Bom dia para você também, raposinha. — Calista sorriu enquanto a pokemon pulava em seus braços, dando-lhe uma lambida carinhosa na bochecha.

— Ei, Caly! Hora de levantar, sua dorminhoca!

A voz familiar, seguida pelo som da porta se abrindo, fez Calista soltar um gemido de frustração. Ash. É claro.

— Que droga. — A morena resmungou baixinho. — Por que diabos fui dar a ele uma cópia da chave?

Inari deu uma risadinha, saltando dos braços de sua treinadora e se acomodando novamente ao lado de Gardevoir enquanto Calista ia ao encontro de seu irmãozinho. Enquanto caminhava descalça pelo corredor acarpetado, a jovem passava as mãos pelos cabelos em uma tentativa infrutífera de domesticar as mechas negras. Ash esperava por ela na sala, esparramado no sofá. Como sempre.

— E aí, Slakoth. — O rapaz disse, abrindo um largo sorriso. — Até que enfim.

— O que você quer, seu pirralho?

— Caracas, que mau humor! — Ash exclamou, soltando uma sonora gargalhada. — Você devia ser Caly-Ados, mana. Combinaria direitinho.

— Cale essa boca, Ash.

— Ouch! Viu só? Assustadora e mau humorada como um Gyarados.

— Pare de tentar ser engraçado, idiota. Não está dando certo.

— Ok, sua Slowpoke ranzinza. Aqui. Pense rápido!

Ash lhe atirou uma sacola. Calista foi rápida e habilmente aparou o objeto pelas alças. Quando abriu e viu seu conteúdo, não conseguiu mais ficar com raiva.

— Rosquinhas de creme! — A morena exclamou em deleite. — Eu adoro essas coisas!

— Eu sei. — Ash respondeu, maroto. — Melhor agora, mana?

— Pode apostar, garoto. — Foi a resposta, acompanhada pelo primeiro sorriso verdadeiro desde a noite anterior. — Já tomou café?

— Não. — O rapaz admitiu. — Saímos cedo pra treinar e acabamos nos empolgando um pouco.

Calista riu da resposta já esperada, girou nos calcanhares e foi até a cozinha, acompanhada por seu irmão mais novo.

— E então? — A jovem inquiriu, separando ovos e bacon para uma omelete. — Quem você está planejando enfrentar dessa vez, maninho?

— Você, é claro. — O rapaz rebateu, colocando os grãos moídos de café na cafeteira para ajudar sua irmã. — Já se esqueceu, Caly?

— É verdade. — A morena disse enquanto quebrava os ovos. — Bom, garoto, você ainda tem muito trabalho pela frente.

— Qual é, Caly! — Ash bufou ironicamente. — Até parece que eu vou perder para a minha irmã mais velha idiota.

— Idiota é você, seu pirralho.

Para a surpresa de sua irmã mais velha, Ash não rebateu o comentário. Calista simplesmente se ocupou em cortar o bacon em silêncio, deixando seu irmão a sós com seus pensamentos. A treinadora kantoniana terminou de fazer as duas omeletes e Ash lhe alcançou os pratos. Os dois irmãos logo sentaram-se à mesa, de frente um para o outro.

— Mas então ... — Calista tomou um gole de café, apreciando o gosto forte e amargo do líquido. — Por que você veio, de verdade?

— Porque você não deu mais notícias. — Foi a resposta. — Eu fiquei preocupado.

— Me desculpe, Ash. — A morena baixou os olhos, arrependida. — É que ... Tem muita coisa acontecendo.

— Sei ... — Ash respondeu. — Olhe, mana ... Se você precisar de ajuda, pode me dizer. Eu estou do seu lado. Sabe disso, não sabe?

— Eu sei, sim, Ash. Obrigada.

Os dois terminaram o café da manhã em silêncio. Calista lavou a louça e então os dois irmãos voltaram para a sala. A morena ligou a televisão e zapeou até encontrar uma série qualquer, a qual assistiu com a cabeça aninhada no ombro de seu irmão mais novo.

O celular de Calista, que a jovem mantinha em seu bolso, facilmente ao alcance, tocou, fazendo-a pular de susto. Discretamente, a morena conferiu o número de quem ligava. Era Cynthia.

— Desculpe, preciso atender. — A Rainha de Kalos disse. — Problemas no trabalho.

— Você leva esse título de rainha a sério demais, mana. Precisa relaxar um pouco, sabia?

— Me avise quando descobrir como. — Calista rebateu, forçando uma risada enquanto seguia rapidamente para seu quarto e fechava a porta.

— Oi, loira. — A jovem kantoniana cumprimentou. — Sem novidades. Gardevoir continua inconsciente.

— Imaginei. — A campeã respondeu. — Também não consegui descobrir nada.

Antes que Calista pudesse responder, seu celular vibrou em sua mão ao receber uma nova chamada. A morena arquejou de surpresa ao perceber de quem se tratava.

— É ela. — A Rainha de Kalos anunciou. — Vou atender e colocar você na chamada, mas não diga nada. Do jeito que Diantha está com raiva de você, vai desligar na hora se ouvir sua voz.

A campeã de Sinnoh não aprovou o subterfúgio, mas concordou mesmo a contragosto, vencida pela preocupação com a amiga. Calista então atendeu a chamada de Diantha.

— Diantha! — A Rainha de Kalos exclamou, não conseguindo evitar que o alívio se infiltrasse em sua voz. — Mon Dieu, Maître, você me assustou!

— Oi, Caly. — O tom de Diantha era leve e bem humorado. — Sinto muito, meu bem. De verdade. Não foi minha intenção.

— Posso pensar em perdoá-la. — Calista respondeu, se forçando a manter um tom jocoso. — Se você me contar tudo sobre o seu encontro com Lysandre na noite passada.

— Oh, não, nós não nos encontramos. — A atriz explicou. — Eu estava chateada por causa da discussão com Cynthia, então liguei para ele e desmarquei.

— Assim, de última hora? E ele não ficou zangado?

— Extremamente surpreso, na verdade. Mas Lys é um cavalheiro. Ele compreendeu.

— E quanto a Gardevoir? — Calista inquiriu. — Eu a encontrei ontem à noite. Bastante machucada, se quer saber. O que aconteceu?

— Oh, ainda bem que ela está com você! — Diantha exclamou, com um alívio que pareceu muito sincero na voz. — Fiquei tão preocupada! Foi por isso que liguei, na verdade.

— É mesmo? E como pôde ter tanta certeza de que Gardevoir me procuraria? — A morena desafiou. — Além do mais, ela raramente sai de perto de você. O que diabos aconteceu ontem, Diantha?

— Respondendo à sua primeira pergunta, Calista, é claro que eu sabia que Gardevoir a procuraria. Você é minha amiga mais próxima, exceto por Lys e Tin. — A atriz kalosiana respondeu calmamente. — Quanto à sua segunda pergunta ... Bem, nós tivemos uma briga. Gardevoir acha que Cynthia tem razão, consegue acreditar nisso? Enfim ... Quando fui procurá-la algumas horas depois, ela havia sumido.

— Eu não descartaria a opinião de Cynthia assim tão facilmente, se fosse você. — Calista disse. — Aprendi que ela raramente se engana em relação a pessoas e suas intenções.

— Já chega. — Diantha interrompeu carinhosamente. — Não quero mais brigar por isso, especialmente com você.

— Por mim tudo bem. — Foi a resposta. — Ah, e Gardevoir está bem. Ela ainda não acordou, deve estar exausta, mas os ferimentos já sararam. Achei que você gostaria de saber.

— Sim, gostei muitíssimo. Não tenho palavras para agradecê-la, Calista. — A atriz disse calorosamente. — Droga! Eu queria poder ir até aí agora mesmo!

— Então venha. — Calista respondeu, forçando uma breve risada. — O que foi, superestrela? Acha que eu estou com raiva de você?

— Eu a conheço bem demais para sequer considerar pensar tal coisa, meu bem. — Foi a resposta, dada com inequívoco afeto. — Mas não posso. Recebi um convite inesperado para um desfile. Kathi Lee insistiu e, bem ... Você sabe como ela é.

Calista se pegou rindo novamente, mesmo contra sua vontade. Já conhecera a agente de Diantha, uma mulher controladora, de temperamento esquentado e viciada em trabalho. Kathi Lee chegava a ser meio assustadora, às vezes.

— Não se preocupe. — A morena disse. — Gardevoir vai ficar perfeitamente bem aqui comigo.

— Obrigada, Caly! — Diantha exclamou fervorosamente. — Mil vezes obrigada!

— De nada. — Calista respondeu. — Apenas me prometa que não vai sumir desse jeito de novo. Nos deixou morrendo de preocupação, sabia?

— "Nós"? — Pelo tom de sua voz, Calista pôde praticamente ver Diantha erguer uma sobrancelha em descrença. — Ah, não, não vou cair nessa. Você não me engana, Calista.

— Estou falando sério. Cynthia e eu estávamos planejando virar Kalos de cabeça para baixo se não tivéssemos notícias suas.

— Certo. — A atriz riu, obviamente ainda descrente. — Preciso ir. Ligo de novo assim que eu puder.

— Não suma. — Calista advertiu jocosamente. — Se fizer isso de novo, vamos atrás de você, entendeu?

— Considere-me avisada. Até mais, meu bem. E muito obrigada mais uma vez.

— Até mais, Maître.

— Tem alguma coisa diferente. — Cynthia declarou assim que Diantha desligou. — Isso tudo me pareceu uma enorme desculpa furada.

— A mim também. — A morena admitiu. — Mas realmente há um desfile de moda para acontecer na região de Unova, presidido por Elesa. Quem sabe Diantha tenha dito a verdade?

— Talvez. Vamos esperar que sim.

Assim que Cynthia desligou e Calista desviou a atenção de seu celular, ouviu o som de algo batendo suavemente na porta. Ao verificar, deparou-se com Inari. O som havia sido originado pelas patas felpudas da pequena Vulpix.

— Hey, pequenina. — Calista disse. — O que foi?

A pokemon tipo Gelo girou e correu para o quarto de hóspedes. Calista a seguiu e entrou no cômodo a tempo de ver Gardevoir abrir os olhos, fazendo uma fraca tentativa de sentar-se.

— Oi, Gardevoir. — A jovem disse, mantendo sua voz o mais calma possível enquanto se aproximava da pokemon e a amparava. — Fique deitada mais um pouco, está bem? Você ficou muito machucada ontem à noite. Precisa descansar.

A Pokemon Abraço a encarou com seus enormes olhos vermelhos por um momento, então assentiu devagar. Calista sentou na beira da cama.

— Você se lembra do que aconteceu e como acabou aqui?

A pokemon tipo Psíquico/Fada assentiu afirmativamente mais uma vez. Antes que Calista pudesse formular sequer mais uma frase, seu celular vibrou com uma nova mensagem.

Diantha está mentindo. O texto dizia. Café Lysandre, às 20h. Venha se quiser saber a verdade.

Tanto Gardevoir quanto Inari a olhavam com preocupação. A jovem guardou o celular rapidamente e forçou um sorriso.

— Aposto que você está com fome, Gardevoir. — Calista disse, se esforçando para soar o mais despreocupada possível. — Vou preparar algo para você. Fique aqui e descanse. Inari, você fica com ela e ajuda Gardevoir no que ela precisar até eu voltar, certo?

A pequena Vulpix assentiu, orgulhosa da missão que lhe havia sido confiada. Gardevoir, por sua vez, estava exausta demais para mais do que um sorriso de agradecimento.

Ao passar pela sala de estar a morena encontrou Ash esparramado no sofá, com Pikachu enrodilhado no colo de seu treinador. Os dois dormiam a sono solto. Agindo o mais silenciosamente possível, Calista desligou a televisão e fechou as cortinas para que a luz do sol não incomodasse a dupla.

— Esses dois devem ter acordado cedo mesmo. — A morena sussurrou, sorrindo consigo mesma ao sair da sala. — Espero que tenham um bom descanso.

Calista seguiu para a cozinha, onde decidiu que uma sopa seria algo mais fácil para Gardevoir. Como medida complementar, fez um suco à base de frutas Oran e Sitrus, ambas excelentes para restaurar a vitalidade dos pokemon.

Enquanto isso, Diantha encarava o céu que escurecia rapidamente. Estrelas já haviam começado a aparecer, cintilando contra o pano de fundo azul-escuro. A atriz baixou os olhos para suas mãos, ainda fechadas em punhos. Estavam tremendo.

A mulher kalosiana baixou a cabeça, descansando a testa contra suas mãos unidas. O tremor foi aos poucos se espalhando até tomar conta de todo seu corpo, e lágrimas silenciosas começaram a correr por seu rosto sem que se desse conta do fato. Detestava mentir, ainda mais para alguém que lhe era tão cara. Fazer aquilo a dilacerava, mas era necessário.

Às oito horas, como especificado na mensagem, Calista adentrou o Café Lysandre. Logo a viu, na mesa mais afastada de todas. Usava jeans azul-escuros e um suéter preto, com os cabelos cor de rosa presos em um coque bagunçado despretensioso. Ao cruzar olhares com a jovem kantoniana, Malva abriu um breve sorriso.

— Oi, menina fada. — A repórter kalosiana disse quando Calista se aproximou. — Devo confessar que estou surpresa. Eu não esperava que você viesse.

— Depois daquela mensagem?! — Calista bufou ironicamente ao sentar-se à frente da mulher de cabelos cor de rosa. — Vamos, Malva, você me conhece melhor do que isso. Sabia que eu viria. Fez isso de caso pensado.

Malva tossiu discretamente e tomou um gole de seu café expresso, procurando disfarçar uma sonora gargalhada. Calista sabia mesmo calar sua boca com estilo, isso não podia ser negado.

— Escute, Caly ... — A especialista kalosiana em pokemon tipo Fogo disse. — É melhor você sair daqui. Nenhuma outra pessoa em seu juízo perfeito teria concordado com esse encontro. Confie em mim, não vale a pena.

— É claro que confio em você. — Calista declarou secamente. — Foi por isso que vim. Eu não diria não a uma amiga.

— Me considera uma amiga, mesmo depois de tudo o que aconteceu?

— E você não? — Foi a resposta. — Foi a impressão que tive, pelo menos. A não ser que haja outro motivo para você ter me ajudado. E, nesse caso, por que estaríamos aqui para começo de conversa? Qual seria o sentido?

Mais uma vez Malva precisou conter um sorriso. Corajosa, astuta, bondosa ... E bonita, para completar. Aquela garota era mesmo uma combinação rara.

— Talvez seja um armadilha. — A repórter declarou apenas para provocá-la. — Talvez seja tudo parte de um plano da Equipe Flare e eu esteja prestes a raptá-la para fazer coisas horrendas com você.

Para surpresa da mulher à sua frente, Calista riu com gosto daquela declaração.

— Malva. — O tom da morena era de total diversão, até mesmo zombaria. — Se você quisesse mesmo me ferir, já o teria feito.

A repórter balançou a cabeça, desconcertada. Qual era o problema daquela garota, confiando tão cegamente?

— Você tem razão, minha cara Calista. Mas a intenção nunca foi causar mal nenhum a você.

A voz profunda que soou às suas costas fez a jovem kantoniana pular de susto. Ela só não pulou de pé porque Malva foi mais rápida, estendendo uma das mãos para segura-la pelo pulso. Um flash de acusação brilhou por um momento naqueles olhos verdes.

— Então você estava falando sério. — A irmã de Ash declarou. — Era mesmo uma armadilha.

— De forma alguma. — Foi Lysandre quem respondeu, juntando-se a elas e cumprimentando Calista com uma ligeira reverência. — Eu simplesmente pedi à Malva que a chamasse aqui para que pudéssemos conversar apropriadamente.

Calista ainda permaneceu tensa por mais alguns segundos, mas em seguida relaxou.

— Está bem. — Ela disse. — Se você se deu a todo esse trabalho para falar comigo, deve ter algo que valha a pena ouvir. Por que me chamou aqui?

— Porque estive observando você, Calista, e admiro sua determinação. Você é impetuosa e inteligente, exatamente o tipo de pessoa de que preciso.

— Conheço seu plano, Monsieur De Lion. — A jovem declarou rispidamente. — E jamais me juntarei à sua louca ideia de destruir o mundo.

— Calista. — Malva interferiu. — Apenas escute, está bem? Eu mesma duvidei no começo, mas depois vi o quanto estava enganada. Dê a Lysandre uma chance de se explicar.

— Tudo bem. — Calista cedeu de má vontade. — Vá em frente e me convença, então. Por que eu deveria compactuar e ajudá-lo a destruir o mundo?

— Calista, minha cara. — Lysandre disse, balançando a cabeça com desaprovação. — Minha intenção jamais foi destruir o mundo, e sim salvá-lo.

— E espera que eu acredite em você?

— É claro que não. — Foi a resposta. — Espero que me dê uma chance de provar o que digo. Venha comigo, Calista. Permita que eu lhe mostre.

— Assim como fez com Diantha?

Por um momento o magnata apenas a encarou, surpreso, então suas feições se suavizaram em um sorriso de apreciação.

— Então você descobriu. — Ele disse simplesmente. — Juntou os fatos, não foi? Meus parabéns.

— O que aconteceu naquela noite? — Calista inquiriu num rosnado. — Que mentiras você contou a ela?

— Isso não vem ao caso. — Lysandre rebateu calmamente. — O que Din viu foi apenas uma pequena parte do todo. Sua amiga Cynthia já havia contado a ela a verdade sobre mim. Aquele jantar foi um ataque da parte de Din, um confronto. Eu tinha que fazê-la me ouvir de algum jeito.

— E então enganá-la para se juntar a você?

— Eu nunca a enganei. — Lysandre respondeu. — Tudo o que fez, Din fez com perfeita consciência da verdade.

— Não acredito em você.

— Pois deveria. — Foi a resposta. — Diantha pode ser uma amiga querida, mas não é a mulher que você pensa que conhece. Ela tem a alma de uma guerreira e um coração de aço.

— Não vamos desperdiçar tempo falando sobre aquela mulher. — Malva disse. — Aceite, Calista. Deixe que Lysandre lhe mostre o que ele realmente pretende. Não há perigo, eu garanto.

Calista olhou naqueles olhos ambarinos por um breve instante antes de finalmente assentir. Lysandre lhe dirigiu um breve sorriso e com um gesto fez menção para que a jovem o seguisse. Ele a guiou até seu escritório, onde um livro cuidadosamente disfarçado entre as várias estantes se revelou na verdade a alavanca de abertura de uma passagem secreta, deixando à mostra um corredor com chão e paredes cinza-claro, com lâmpadas industriais dispostas a intervalos regulares.

A jovem seguiu lado a lado com Malva, propositalmente ficando alguns passos atrás de seu improvável guia.

— Ele não sabe, não é? — A morena inquiriu em um sussurro.

— Que eu tentei ajuda-la? — A repórter sussurrou de volta, sem voltar-se para olhá-la. — É claro que não. E jamais pode saber.

Calista meramente assentiu em resposta e as duas seguiram em silêncio. Lysandre as guiou até uma sala nas profundezas daquele local, onde um pokemon jazia adormecido.

— Este é ...

A jovem kantoniana não conseguiu completar a frase, arquejando de choque e recuando vários passos ao ver a figura do gigantesco pássaro preto e vermelho se mover ligeiramente.

— Não tema, minha cara. — Lysandre disse gentilmente. — Yveltal não vai feri-la. Está sob efeito de uma droga poderosa, que o mantém profundamente adormecido. É perfeitamente seguro.

— Mas ... Por que?! Digo, o que você pretende com isso?

— O que pretendo, Calista, é usar a habilidade de Yveltal. Este pokemon pode absorver a energia vital de qualquer coisa que esteja ao seu alcance. No momento certo, usarei essa energia para carregar minha arma suprema e limpar o mundo da coleção cada vez maior de pessoas desprezíveis vivendo sobre ele.

— Que tipo de pessoas, exatamente?

— Pessoas estúpidas e egoístas que somente demonstram sua força usurpando o que não lhes pertence. — Foi a resposta. — Imagine só, minha cara. Um mundo sem conflitos, de volta a seu estado natural. Apenas beleza e paz. O fim do caos da era em que vivemos. Um futuro melhor e mais brilhante onde mais ninguém precisará sofrer pela ganância de outrem. Seria assim tão horrível?

Calista foi pega de surpresa pelo tom apaixonado com que Lysandre descrevia seu mundo ideal. Foi só naquele momento, ao ouvi-lo falar e perceber o quanto queria acreditar em suas palavras, que a jovem entendeu o quanto aquele homem poderia ser um adversário perigoso.


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