Paradoxo Temporal 2: O Projeto K1 escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 26
Usar roupas limpas te deixa mais bonitinho(a)




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― Me lembre de nunca mais confiar em você para me resgatar! – Hijikata disse. – É melhor fazer seppuku do que ser resgatado por um idiota!

― Pelo menos deveria ter um pouco de consideração por termos nos arriscado a vir, seu babaca! – Gintoki esbravejou. – No que dependesse de mim, você poderia mofar aqui!

― Falou o idiota que trombou comigo e me trouxe à força pro futuro!

― A culpa é sua, por ter cruzado meu caminho enquanto eu fugia da velha me cobrando o aluguel!

Shinpachi tentava não se importar com a discussão entre seu chefe e o Vice-Comandante do Shinsengumi, antes buscava pensar em uma solução para aquela enrascada na qual haviam se metido. Entretanto, seu lado tsukkomi estava gritando para que ele fizesse algo antes que aqueles dois quebrassem a cara um do outro. Precisavam se livrar daquela situação o quanto antes e sobreviver, pois as vidas dos três estavam em risco e precisavam informar os demais sobre os planos inimigos que haviam ouvido no laboratório.

― Gin-san, Hijikata-san – ele os chamou à razão, tentando se controlar para não dar seus berros surtados de costume. – Alguma ideia de como sairmos daqui?

Os dois homens estavam agarrando a gola um do outro, prestes a se engalfinharem em uma briga como de costume, mas caíram na real ao perceberem o perigo que corriam. Poderiam cair na porrada depois que sobrevivessem àquela estadia em território inimigo. O albino respondeu enquanto largava a gola de seu rival:

― Só vejo uma única forma de fazer isso... Abrindo caminho no meio desse monte de caras. Só que tô desarmado. – ele apontou para a bainha vazia na cintura.

― Eu vou abrir caminho – Toushirou avançou um passo à frente enquanto segurava firmemente a katana Muramasha e encarava aquele monte de indivíduos de farda branca. – Vocês dois me dão cobertura.

― Ainda tô sem espada, se alguém esqueceu esse detalhe.

― Vamos nessa, Hijikata-san. – Shinpachi assentiu.

― VOCÊS NÃO ESTÃO OUVINDO? – Gintoki protestou. – EU TÔ SEM ESPADA!

― Se vira e arranja uma, você não é quadrado! – o moreno debochou.

― Assim que sair daqui, vou tirar essa sua cara de deboche com um soco no meio da sua fuça, Mayora idiota!

O outro nada respondeu, sua expressão compenetrada indicava que ele estava calculando por onde começar a executar a ideia que lhe ocorrera tão logo o de permanente natural sugerira abrir caminho. Deu alguns passos para trás, respirou fundo e deu um grito, para depois correr com tudo para o ataque. Desferiu vários golpes contra os adversários, abrindo caminho entre eles, derrubando-os. Na confusão, Gintoki afanara uma katana para si e, junto com Shinpachi, dava cobertura ao Vice-Comandante do Shinsengumi, que em dado momento tirara um par de óculos escuros para usar e sacava de sabe-se lá onde sua bazuca em forma de frasco de maionese, para dispará-la contra os inimigos no melhor estilo Mayora 13.

Enquanto isso, os homens de branco corriam atrás do trio, que tentava despistá-los e sair daquele lugar de uma vez por todas. Se quisessem sobreviver e voltar para o presente, de onde vieram, precisavam fugir dali, rumo ao Distrito Kabuki, a Yoshiwara, a qualquer local longe daquele. A urgência de sobreviver era tão grande que Shinpachi não manifestara a indignação que sentia por ser injustiçado na colaboração com The King Of Fighters, onde aparecera como um par de óculos flutuante e não como um personagem jogável.

Correram o máximo que as pernas permitiram e mais um pouco, se aventurando por vários corredores daquela base, que lhes dava uma sensação de que estavam enfiados em um intrincado labirinto. Não viam mais ninguém no encalço, então se permitiram parar um pouco a fim de tomar fôlego, sem baixar a guarda. Haviam parado em uma bifurcação e, por um dos lados, vinha um homem que usava macacão azul e um boné da mesma cor, que encobria seus olhos, mas não seus cabelos negros compridos. Ele caminhava aparentemente despreocupado enquanto empurrava um carrinho de lavanderia e assobiava desafinadamente uma melodia qualquer.

Não demorou muito para que no outro lado começassem a ser ouvidos os passos dos perseguidores. Gintoki, Shinpachi e Hijikata cogitavam nocautear o sujeito do carrinho de lavanderia, quando este fez “Pssst!”, os chamando. Tirou um lençol que cobria o referido carrinho e gesticulou para que os três saltassem para dentro. Eles ponderaram por alguns minutos, mas no fim decidiram confiar no homem dos longos cabelos negros. Jogaram-se no meio das roupas e o homem os cobriu com o lençol para depois prosseguir com sua caminhada despreocupada e seu assobio desafinado, embora com uma carga mais pesada.

Os homens do Mimawarigumi passaram pelo sujeito sem desconfiar de nada. Enquanto isso, o trio tentava ao menos respirar aliviado, dividindo espaço com a roupa suja em um carrinho de lavanderia. Os três se perguntavam em pensamento se conseguiriam sair dali com as colunas inteiras após um contorcionismo forçado de dois adultos e um adolescente dividindo um espaço um tanto diminuto.

 

*

 

Enquanto Ginmaru jogava algo no smartphone, sentado à escrivaninha, Kagura estava sentada em um dos sofás da sala, gastando seu tempo mascando uma tira de sukonbu e afagando Sadaharu. Frustrado por perder mais uma partida, o jovem albino saiu do jogo e foi checar as mensagens no ZupZup. Ambos estavam sem assunto, apenas aguardando Gintoki e Tsukuyo conversarem mais em particular na varanda. As duas saíram de Yoshiwara e foram até a Yorozuya saber mais novidades... E espairecer um pouco, depois de vários acontecimentos.

Na varanda, Gintoki contemplava pensativo o horizonte, seus olhos rubros encaravam uma direção específica. Naquele momento, pensava no dia seguinte. Iria às ruínas da Shoka Sonjuku encontrar Takasugi Shinsuke e decidira resolver as pendências que tinha com ele de uma vez por todas. Não estava muito contente com essa ida, mas era necessário, se quisesse exorcizar mais alguns fantasmas de seu passado.

― Então você vai lá, não é? – Tsukuyo o tirou daquele breve momento de reflexão.

― Vou.  – ele desviou seu olhar do horizonte para os olhos violetas dela. – É o melhor que devo fazer. Uma ferida que dói não se cura fazendo de conta que não existe. Ela continua doendo até eu tomar vergonha na cara e tratar.

― Ótimo. – ela sorriu. – Não aguento mais ver essa sua cara de um homem cansado de carregar um fardo que já era para ter largado faz tempo.

― Ei, tô tão acabado assim?

― Basicamente você parece ter quase cinquenta anos.

― Mas eu tenho quase cinquenta!

― Sim, mas não aparentava isso quando reapareceu. Aquela coisa que controlava a sua mente atrasou seu envelhecimento, não foi isso que me contou?

― Foi.

― Só espero que seja realmente verdade, porque seria um tanto frustrante se na hora H você falhasse comigo.

― Eu nunca falhei na hora H, e não sou tão velho assim pra chegar a esse ponto!

― Sei lá, a gente ainda não teve a oportunidade de...

O som da porta corrediça se abrindo interrompeu a conversa do casal, que corou quando viu que era Kagura quem havia ido até lá. A ruiva olhou para a Cortesã da Morte e disse:

― Tsukky, o Ginmaru-chan disse que recebeu mensagem do Seita.

― Ah... – ela se recompôs e foi para dentro. – Já vou ver.

Permaneceram na varanda o Gintoki daquela linha de tempo e a Kagura vinda do passado. Era um reencontro bastante estranho para o Yorozuya, como se ele estivesse revisitando uma parte de seu passado. Aquela pirralha era de outra época, mas parecia ser a pirralha da sua, embora de vinte anos atrás. A que morava com ele, aos dezesseis anos praticamente não mudara, como aquela de catorze provavelmente não mudaria em dois anos. Não seria voluptuosa como a verruga alienígena que se passara por ela em determinado momento, mas certamente teria a mesma personalidade de sempre... Imitando as suas manias desde sempre, como fazia naquele momento, em que enfiava o dedo mindinho no nariz para depois extrair uma caquinha.

― Gin-chan – Kagura se aproximou da balaustrada na qual Gintoki estava debruçado. – Como é viver num mundo onde eu não existo mais?

Como sempre, ela era direta para perguntar as coisas e com uma sinceridade que às vezes chegava a ser ofensiva por conta de sua língua afiada. E aquela era uma pergunta bem sincera, que merecia uma resposta igualmente sincera.

― É estranho. – ele respondeu. – É realmente estranho quando acordo e não ouço você falando besteira ou acabando com todos os mantimentos do mês. Já se passou muito tempo, mas sinto falta até hoje das suas besteiras, pirralha... E com certeza meu outro eu sentiria o mesmo.

A garota sorriu. Aquele idiota de cabelo prateado não mudara quase nada apesar da idade. Ainda continuava sendo quase sua figura paterna na Terra, a quem admirava e sempre admiraria. Gin-chan era algo entre um irmão mais velho ou um segundo pai, e adorava isso. Embora ele muitas vezes fosse estúpido ou até grosso, sabia que havia da parte dele um cuidado para com ela, algo que tivera pouco – ou quase nada – em seu planeta natal.

― Gin-chan – os olhos azuis da garota o encararam. – Como você me imaginaria se eu estivesse viva aqui?

― Como uma pirralha crescida. Irritante, talvez, mas não acharia ruim te aturar.

― Eu seria bonitinha, não é? Bo-ni-ti-nha!

― Não, Kagura, não é assim... – ele fez bico para pronunciar de forma cantada a palavra. – Bo-ni-ti-nha.

Ela o imitou, como sempre gostava de imitá-lo em seus trejeitos e entonações:

― Bo-ni-ti-nha.

Ela sorriu e ele também. Era inevitável, adorava aquela pirralha, que lhe marcara tal como Shinpachi também o fizera. Sentiu um arrepio percorrer seu corpo e, por um breve instante, vislumbrou perto da pirralha do passado a Kagura de sua época com um sorriso idêntico.

Sentiu que aquilo era como um bálsamo para começar a tratar e fechar as feridas abertas há dezoito anos.

 

*

 

Shinpachi, Hijikata e Gintoki apenas ouviam o atrito das rodinhas do carrinho de lavanderia contra o chão. Não faziam muita ideia de para onde estariam sendo levados, mas não viam por que não confiar naquele sujeito que os conduzia para sabe-se lá onde. Por um momento, o Yorozuya pensava que poderia ser Zura, mas os longos cabelos negros não eram sedosos como os do amigo de longa data, e a sedosidade das madeixas do líder Joui era notada bem de longe. Entretanto, aquele não era Katsura. No impulso, os três confiaram naquele desconhecido, mas agora não sabiam ao certo se realmente estavam sendo levados rumo à liberdade.

Sentiram um solavanco, como se subissem uma rampa e, depois, chegassem ao alto dela. Desde que se jogaram no carrinho, o trio não ousava pronunciar sequer um “a”, para não se denunciarem. Para todos os efeitos, estava cheio de várias trouxas com roupas, e roupas não falavam.

Ouviram o som de portas se fechando e não era difícil deduzir que se tratava de portas de um furgão. Os três, embolados um no outro, tentaram sem sucesso levantar o lençol que os cobria. Foi quando alguém o tirou: aquele homem de cabelos compridos e um boné que encobria seus olhos.

Gintoki, Hijikata e Shinpachi tentaram sair do carrinho de lavanderia ao mesmo tempo, mas tudo o que conseguiram foi derrubá-lo e cair no assoalho do furgão. O albino olhou para cima e perguntou mais para tirar uma dúvida:

― É você, Zura...?

O homem tirou o boné, revelando seus olhos azuis penetrantes e um sorriso no rosto, enquanto prendia seus cabelos em um rabo-de-cavalo alto e deixava sobrar uma franja em formato de “V”.

― Não é Zura, é Hijikata... Hijikata Taichirou.


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