Paradoxo Temporal 2: O Projeto K1 escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 20
Chuva fraca com ressentimentos




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Enquanto os yakuzas liderados por Kurogoma Katsuo se encarregavam de começar a remover os cadáveres dos mortos na batalha no Distrito Kabuki, o pessoal da linha de frente seguiu rumo ao Distrito Yoshiwara. Ginmaru havia recebido uma ligação, comunicando que Yamazaki e Ichiko haviam chegado ao local, informando que o Shinsengumi fora atacado.

Ao chegarem, Ichiko foi recepcionar efusivamente os pais, que se mostraram aliviados ao verem que aparentemente ela estava bem. Porém, contrastando com o alívio da família Kondo, Yamazaki tinha uma expressão bastante compenetrada e o recém-chegado Okita havia recebido alguns curativos e não escondia o cansaço da batalha que encarara no Quartel-General. O Capitão da Primeira Divisão relatou que enfrentou uma dura batalha contra um dos Yatos invasores e conseguiu superá-lo com a ajuda dos companheiros. E, junto com esse invasor, havia um grupamento de soldados de fardas amarelas que davam suporte, obrigando todos os homens de fardas pretas a lutarem furiosamente para defender o Quartel-General. Por fim, Sougo informou que houve uma quantidade importante de baixas e que o QG tivera sua estrutura novamente danificada.

E as buscas iniciais pelo Hijikata vindo do passado haviam sido feitas pelo espião, que regressara após se encontrar com o homem de cabelos cor de areia. Em suas mãos, estava uma katana que encontrara caída no bosque. Não fora difícil reconhecer que se tratava da Muramasha.

Shinpachi, o comandante do Shinsnegumi, suspirou cansado:

― O pior de tudo isso é que não temos efetivo suficiente para ampliar as buscas agora.

― E a gente não pode voltar pra casa sem o Hijikata-san! – o Shinpachi mais jovem acrescentou.

― Por mim – Gintoki enfiava o dedo mindinho no nariz para limpá-lo. – Ele poderia ficar por aqui mesmo.

― Ninguém mandou ele ficar na nossa frente quando viemos pra cá. – Kagura concordou com o Yorozuya, inclusive imitando sua higiene nasal.

― Ele não ficou na frente! – o garoto de óculos contestou. – Ele estava passando e nós que trombamos nele enquanto fugíamos da Otose-san! Nós temos que voltar com o Hijikata-san!

― Dá um tempo, Pattsuan... – o albino tentava limpar nos cabelos da ruiva a caquinha de nariz enquanto ela tentava fazer o mesmo no yukata branco dele. – Não temos culpa se ele virou passageiro clandestino...!

E Gintoki e Kagura se engalfinharam numa briga para ver quem conseguia grudar no outro a caquinha de nariz retirada durante a limpeza com o dedo mindinho. O Shimura só podia dar um facepalm, inconformado com as opiniões de seus companheiros e a disputa ridícula de quem sujaria o outro com ranho.

― Ninguém viu o outro Gintoki e o Ginmaru? – Tsukuyo notou a ausência de pai e filho.

― Devem ter ficado em Kabuki. – Hijikata olhava para a Muramasha de sua contraparte mais jovem, agora desaparecida. – Também não vejo o Katsura.

 

*

 

A chuva havia diminuído, mas não cessara de todo. Continuava a cair bem fraca, o suficiente para molhar tudo o que a ela fosse exposto. Ginmaru acabava de encerrar a ligação em seu telefone, justificando a permanência em Kabuki junto com o pai. Ambos estavam no cemitério e naquele momento visitavam o túmulo de Kagura após depositarem um prato com manjus no túmulo dos Terada. Gintoki tirou do bolso uma caixinha vermelha de sukonbu e colocou no túmulo da Yato como oferenda.

Após esse momento de contemplação, pai e filho seguiram a caminho da saída quando encontraram uma pessoa. Um homem baixo, cabelos escuros, o único olho aberto cor verde-oliva, quimono roxo com mariposas e detalhes em amarelo e dourado. Os olhos rubros do albino mais velho se encontraram com o do tal homem, encarando-se de soslaio.

― Não espere gratidão da minha parte, Takasugi. – Gintoki disse enquanto passava pelo líder do Kiheitai. – Quem te chamou foi o Zura, não eu. Dê satisfações a ele.

O outro nada respondeu. Apenas observou o Yorozuya e o filho seguirem caminho pela chuva fraca, mas persistente.

Toda a cena foi presenciada e observada à distância por Katsura, que temia que houvesse um possível embate entre os dois ex-companheiros. Conhecia a ambos o suficiente para saber que, em cada olhar e nas palavras proferidas pelo albino, havia uma mostra do ressentimento que ele carregava há vários anos. Os dois carregavam seus respectivos fardos de mágoas e ressentimentos que remontavam daquele fatídico dia em que os três – à época, jovens samurais lutando na parte final da guerra contra os invasores amanto – se viram à mercê do Tendoushuu, e decisões extremas marcaram suas vidas, com danos e perdas.

Cada um, depois do que ocorrera, tomara seu caminho e os reencontros sempre eram carregados de tensão, fúria e ressentimento. Katsura, Gintoki e Takasugi cresceram juntos, mas os dois últimos ficavam cada vez mais distantes um do outro.

Havia muitas feridas abertas em ambos e contas a acertar. E um dia seria inevitável um eventual acerto de contas entre os dois.

Pai e filho seguiram caminho para casa. Apesar de todo o restante do pessoal estar em Yoshiwara, preferiram permanecer em Kabuki. Não queriam deixar o prédio totalmente vazio e aquele era um bom momento para refletirem sobre tudo o que ocorrera e o que iriam fazer a seguir. Ambos estavam bem desgastados da batalha e precisavam se recuperar.

Percorreram o trajeto em silêncio, cada um absorto em seus próprios pensamentos, mas ambos queriam a mesma coisa: que tudo isso acabasse e voltassem a viver como antes, tocando a vida e a Yorozuya Gin-chan em paz. Já haviam sido marcados o bastante por guerras, tanto de forma direta quanto indireta.

Encontraram Sadaharu abrigado por sob o vão da escada, aguardando os dois para subir ao segundo andar. Os dois albinos afagaram o cão gigante, que os seguiu para dentro de casa, mesmo com os pelos úmidos e o típico cheiro de cachorro molhado se espalhando pela sala principal. Apesar disso, chegar em casa era algo que fazia com que eles já começassem a se sentir mais descansados, tirando certo peso das costas e ficando apenas o peso das roupas ainda molhadas da chuva.

Como costumavam fazer, Gintoki e Ginmaru decidiram no par ou ímpar quem tomaria banho primeiro, sendo o mais velho a ir fazê-lo enquanto o mais jovem decidiu limpar a katana.

Compenetrado, Ginmaru se pôs a fazer sua tarefa de limpar aquela lâmina suja. Por mais que estivesse cansado, não iria deixar para depois, visto que tinha que manter sua katana afiada, principalmente nas atuais circunstâncias. Em tempos menos tensos, aprendera com o pai o hábito de andar com uma bokutou à cintura. As espadas de lâmina de aço poderiam ter sido proibidas, mas as de madeira, não.

Sua katana só existia por uma necessidade maior, a de proteger sua alma e tudo aquilo que acreditava e amava. Essa fora uma das lições que aprendera na época em que começara a treinar no Dojo Koudoukan, com Shinpachi sendo seu primeiro sensei. Lembrava-se de quando seu pai o levara ao dojo no primeiro dia de aula e ele lhe dissera que aprendera de seu sensei justamente isso, que se deveria balançar uma espada para proteger sua alma.

Durante a década de ausência de Gintoki, Ginmaru buscava saber mais histórias a respeito de seu pai. Ao mesmo tempo que alimentava suas esperanças de reencontrá-lo, tinha algumas incertezas à época se de fato aquele reencontro ocorreria. Era algo que mantinha viva até mesmo a sua própria história. Havia procurado saber o máximo que pudesse, através de Otose enquanto ela vivera, de Shinpachi e todos os demais, até mesmo Hijikata. Entretanto, o único que sabia mais a respeito de seu pai antes de passar a viver em Kabuki era Katsura.

Apesar de Zura ser cauteloso para contar esses fatos, ele lhe fornecera informações interessantes, pois sempre afirmava que Ginmaru se parecia com o pai quando mais jovem. Até mesmo lhe dera pistas a respeito da relação entre ele e Takasugi. Aliás, ele conseguira condicionando isso a um acesso mais fácil para que o líder Joui fizesse carinhos em Sadaharu. Enfim, no tocante ao líder do Kiheitai, sabia também que Gintoki lhe atribuía a responsabilidade pelo ataque de anos atrás que culminara na morte da Kagura de sua linha de tempo, apesar de não ter estado pessoalmente no local do ocorrido. Àquela época, Kiheitai e Harusame eram aliados e tinham negócios que com certa frequência eram prejudicados pela interferência do antigo Trio Yorozuya.

Apesar disso, percebeu em Takasugi um aliado e tanto. Sentia necessidade de saber mais a respeito e se poderia ao menos dar um voto de confiança, como Zura lhe dera... Ou se era melhor ficar bem longe como seu pai fazia questão de ficar.

 

*

 

Enquanto os Sakatas permaneciam em Kabuki, os demais que participaram da batalha no distrito ficaram em Yoshiwara. Por enquanto aquela era uma zona segura para todos, até mesmo para os homens do Shinsengumi, que estavam em número ainda mais reduzido. A Segunda Divisão ficara encarregada de guardar o QG esvaziado e informar qualquer movimento inimigo que tentasse atacá-los novamente, além de prosseguirem as buscas de forma mais cautelosa pelo Hijikata vindo do passado. O que tranquilizava um pouco era o fato de que ele estava vivo, visto que sua contraparte não sentia nada de anormal consigo.

Mas, a julgar pelos resultados das primeiras horas de buscas, o comandante Shimura já deduzia que muito provavelmente não encontrariam o Vice-Comandante nos arredores. Havia uma possibilidade bem forte de que ele fosse considerado um prisioneiro de guerra e estivesse sob a tutela da Junta...

... Como se fosse o seu companheiro de farda.

― Comandante – Yamazaki parecia ter o mesmo raciocínio de seu superior. – Se for preciso, posso tentar me infiltrar de novo no governo para descobrir mais alguma coisa.

― Você já antecipou sua volta por ter corrido o risco de ser descoberto, Yamazaki-san. Eu não vou arriscar novamente a sua vida nessa missão, você pode ser reconhecido.

― Mas quem iria no meu lugar? A menos que alguém se voluntariasse!

Kondo teve a brilhante ideia de falar:

― Se alguém se dispõe a nos ajudar, que dê um passo à frente!

Um breve silêncio se fez enquanto todos estavam pensativos. Gintoki fazia tranquilamente sua higiene nasal, quando sentiu que lhe chutavam o traseiro. Surpreendido, o Yorozuya caiu de cara no chão e viu a expressão sádica de Okita...

― O que é isso, Okita-kun? – o albino protestou. – Tá me sacaneando, é?

... E de Kagura.

― ATÉ TU, PIRRALHA?! E POR QUE EU?

― Porque é mais divertido ver você e o Hijikata-san numa treta. – Sougo disse, lembrando-se de algo que aprontara duas décadas atrás envolvendo algemas e fazendo uma veia brotar no rosto de Hijikata.

― Porque você sabe como fazer cosplay de lata de lixo – a Yato se referia àquela vez que formaram o Goninja junto com Sacchan. – E não consegui chutar o Shinpachi também.

― TÁ MALUCA? – o Shimura mais jovem berrou. – E POR QUE EU TAMBÉM IRIA?

― Porque ninguém nota um suporte humano sem o Shinpachi.

Shinpachi deu um sonoro cascudo em Kagura, enquanto sua contraparte mais velha dava um facepalm. Os anos passavam, mas ele continuava a odiar as piadas com seus óculos.

Tentava há anos não se irritar com as piadas, mas realmente não adiantava.

Haja paciência.


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