Paradoxo Temporal 2: O Projeto K1 escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 19
Luta em meio à tormenta




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A tempestade continuava intensa e abundante. Todos sentiam que os pés grudavam na lama do chão batido, assim como as roupas encharcadas estavam coladas ao corpo. Mesmo assim, nada parecia tirar a determinação daquele grupo empenhado em defender o Distrito Kabuki com unhas e dentes. E absolutamente nada parecia abalar a confiança presente na linha de frente, que permanecia inalterada em sua formação e tinha como reforços os integrantes do Kiheitai.

Tinham uma estratégia que haviam traçado com antecedência, baseada nas lutas anteriores com Yatos, além de ouvirem também a única Yato daquele grupo. Gintoki havia ficado meio surpreso com a aparição de Takasugi e os demais, pois não contava com o Kiheitai ajudando como fora na Batalha do Terminal. Não, quando ainda havia pendências entre os dois. Mesmo assim, permitira que Zura fizesse contato e deixasse em aberto a possibilidade de reforçar o grupo, como estava ocorrendo naquele momento.

“Mortos não fazem acerto de contas”, o líder Joui dissera tanto a Gintoki e, depois, a Shinsuke. “Primeiro vocês sobrevivem juntos, depois se acertam.”

O olho verde-oliva do líder do Kiheitai encontrou os olhos rubros do Yorozuya. Sim, havia muita coisa a se acertar e, apesar do suporte que Takasugi dera naquela batalha de meses atrás, isso não apagara a cota de ressentimentos de um e outro. Se antes não se importava muito com o caminho que seu ex-companheiro dos tempos de Shoka Sonjuku e Joui havia tomado, nos últimos dezoito anos a coisa passara a ser bem diferente. Se havia ressentimentos antes, atualmente havia muito mais. Matar Kamui naquele dia não fora suficiente para vingar o sangue da Kagura de sua época. Se Takasugi estivesse junto com aquele Yato, seria capaz de matá-lo da mesma forma, com certeza.

O Sakata interrompeu o fluxo desses pensamentos e voltou seu foco para os invasores. Zura estava certo, primeiro deveria sobreviver para depois ter seu acerto. Sua prioridade era o Distrito Kabuki.

Junto com ele, continuavam a formar a linha de frente Ginmaru, Shinpachi, Kondo, Hijikata, Katsura, Elizabeth, Kyuubei, Sacchan, o Trio Yorozuya do passado, além de Matako, Bansai e Takasugi. Tae, junto com Hasegawa e Hattori, ficaria encarregada de ajudar a proteger os demais do grupo e liderar uma possível retirada, se necessário. Tudo havia sido devidamente planejado por todos aqueles que integravam aquela linha que tinha como objetivo refrear o ataque inimigo.

Tão logo aquele grupo fechou seus guarda-chuvas, a linha de frente avançou, com trios atacando cada Yato. A estratégia era não permitir que atacassem e sufocar qualquer tentativa de revide. Era a única estratégia possível a ser adotada por um grupo predominantemente de humanos – com exceção de Kagura, uma Yato, e Elizabeth, um indivíduo Renho. Por mais que tivessem força física admirável, habilidades impressionantes com espadas e poder de fogo, o tempo todo levavam em consideração o fato de estarem enfrentando inimigos de força sobre-humana.

Gintoki, Ginmaru e Shinpachi foram os primeiros a avançar contra o primeiro inimigo, cuja constituição física era semelhante à dos demais. Aparentemente, não havia nenhuma intenção dos executores do Projeto K1 de diferenciar um Yato artificial do outro, pareciam quíntuplos com o mesmo padrão: cerca de um metro e noventa de altura, pele pálida, longos cabelos castanho-claros, olhos arregalados da mesma cor e o mesmo sorriso tétrico daquele indivíduo que enfrentaram anteriormente. Parecia que os cientistas eram fãs de Uzumaki Naruto e de seu “Jutsu Clones das Sombras”.

O albino mais velho foi o primeiro a desferir o ataque, mas antes que o adversário revidasse, Ginmaru, empunhando sua katana e a de Taichirou, emendou um ataque duplo e travou o guarda-chuva com as duas lâminas cruzadas. O Comandante do Shinsengumi fez sua investida, visando o pescoço do Yato, mas este se livrou a tempo do bloqueio, erguendo o guarda-chuva – maior do que o padrão de um guarda-chuva comum – e jogando longe o Shimura e sua katana, além de atingir os dois albinos com uma forte lufada de vento gerada por aquele movimento.

Pelo jeito, os movimentos que faziam para enfrentar aquele adversário deveriam ser mais ajustados, o Sakata mais velho avaliou. E isso deveria ser feito o quanto antes!

O Trio Yorozuya vindo do passado também se empenhou em enfrentar seu adversário. Gintoki e Shinpachi combinaram uma estratégia de ambos tentarem bloquear o golpe a ser dado com o guarda-chuva usando cada um sua bokutou. Tão logo conseguiram, Kagura disparou uma rajada de metralhadora, para depois desferir um poderoso chute. Entretanto, a ruiva sentiu que seu pé era agarrado e, quando se deu conta do que estava acontecendo, só sentira seu corpo sendo arremessado contra o chão e ouvia os gritos preocupados de Gin-chan e Shinpachi.

― KAGURA!

― KAGURA-CHAN!!

 

*

 

Em meio à chuva pesada, um grupo de integrantes da Hyakka escoltava apressadamente duas pessoas até a loja de Hinowa, onde Seita, junto com Tsukuyo, já aguardava com duas toalhas para cobrir os recém-chegados exaustos e encharcados da corrida que fizeram sem parar no trajeto. Os dois se sentaram em um banco, começando a sentir o calor das toalhas embrulhadas contra o corpo em que as roupas estavam grudadas.

― Tio Zaki – Ichiko encarou o rosto preocupado do espião do Shinsengumi. – Espero que o tio Toshi do passado consiga vir pra cá.

― Também espero. – ele disse enquanto recebia das mãos de Seita um copo de chá fumegante. – Ele é muito forte, seja no passado ou na nossa época.

Por fora, Yamazaki buscava transmitir otimismo para Ichiko, mas por dentro ainda se recriminava por ter obedecido à ordem de Hijikata para que seguisse o plano de fuga e o deixasse lutando com aquele Yato. Ele jamais deveria ter sido deixado para trás, deveria ter levado em conta o paradoxo temporal que afetava seu superior e que poderia custar-lhe a vida e a de seu filho recém-descoberto. Isso era realmente ruim e temia pelo pior.

Tsukuyo observava tanto os dois quanto Catherine e Tama. A androide se mostrava prestativa e eficiente, se entendendo perfeitamente bem com Hinowa para desempenhar as tarefas que fossem possíveis naquele momento. Já a ex-ladra ficava amuada em um canto, fumando e jurando que iria fazer Gintoki pagar por eventuais danos ao bar que ela herdara de Otose.

A Cortesã da Morte deu mais um trago em seu kiseru e liberou a fumaça num vagaroso sopro, enquanto passava a olhar para a chuva intensa que caía sem parar. Ao mesmo tempo em que pensava na eficiência das estratégias que a Hyakka estava adotando para proteger o distrito de Yoshiwara, perguntava-se se ainda estava acontecendo o confronto em Kabuki mesmo em meio àquela chuva torrencial.

Esperava sinceramente que o Rei de Kabuki tivesse guarda-chuvas suficientes para superar aquela tormenta.

 

*

 

Hijikata correu ao ataque para se antecipar ao Yato que era seu adversário. Sabia o que estava enfrentando, apesar de a pirralha ruiva com quem Sougo sempre rivalizava ter mais sanidade mental do que aquele indivíduo. Trombar com o Yorozuya o fizera conhecer aquela fedelha e saber de sua força descomunal para uma menina de catorze anos e sobre a forma de ela lutar, usando o guarda-chuva que era mais do que um acessório que protegia sua pele pálida do sol.

Entretanto, aquele indivíduo era bem diferente em alguns aspectos. Era uma máquina de lutar e nada mais, uma criatura bestial que parecia ter sede de sangue.

O guarda-chuva bloqueou a lâmina da Muramasha, travando-a de tal modo que o Vice-Comandante do Shinsengumi recebeu um potente chute na região abdominal e, com o impacto do golpe, sentiu suas costas colidirem contra uma árvore. Apesar disso, conseguira segurar firme sua katana, evitando assim ficar desarmado.

“Que situação, não é, Toushirou?”, ironizava a si mesmo ainda atordoado. “Deveria ter ido atrás de Yamazaki, mas não...! Aqui estou enfrentando um Yato louco por meu sangue!”

Ele viu que o guarda-chuva o mirava e sabia muito bem o que iria acontecer em seguida. Não demorou para que uma rajada de tiros viesse em sua direção e ele, por puro instinto, se jogou no chão a fim de escapar do ataque. Deveria se lembrar de agradecer a Sougo, pois seus atentados o treinavam para situações como aquela.

Como diz o ditado, há males que vêm para o bem.

Hijikata correu novamente ao ataque, com a Muramasha pronta para causar estragos no adversário. Porém, não conseguiu seu intento, pois o Yato o desarmou e acertou um forte golpe com o seu guarda-chuva, fazendo com que ele caísse de cara no chão encharcado. Ele conseguiu se refazer e se levantar rapidamente, antes que suas costas fossem perfuradas pelo acessório do inimigo. Pegou novamente a espada, os olhos azuis determinados encarando aquela criatura ensandecida que avançava novamente. O Vice-Comandante Demoníaco do Shinsengumi também correu, mas no último instante se desviou para a sua esquerda, para fazer um corte profundo no flanco direito daquele Yato.

Mesmo conseguindo o que queria, Toushirou recebeu uma forte pancada na nuca, que o fez perder a consciência de imediato e cair no chão do bosque, forrado por folhas encharcadas e lama.

 

*

 

― Kagura-chan, você está bem? – um preocupado Shinpachi a ajudava a se levantar enquanto Gintoki estava posicionado para proteger os dois.

Nem deu tempo para a garota responder, pois viu o outro Yato disparar uma rajada de tiros contra eles. Entrou na frente do Yorozuya e abriu o guarda-chuva roxo, que absorveu o impacto das balas e protegeu o trio. Gintoki tentava pensar rápido em outra estratégia para derrotar aquele Yato, até que Kagura fechou o guarda-chuva e avançou dois passos à frente.

― Vocês dois são fraquinhos pra segurar um cara daqueles. Deixa comigo que eu tento segurar!

― Kagura-chan – o Shimura questionou. – Tem certeza disso?

― A pancada afetou seus miolos, pirralha? – Gintoki perguntou em tom de bronca. – Isso é perigoso!

Ele logo coçou o queixo, pensativo:

― Se bem que...

― O que é, Gin-san? – Shinpachi ficou intrigado.

― Kagura, distrai ele! Pattsuan, vem comigo!

Logo o garoto de óculos entendeu. A garota se lançou ao ataque disparando uma rajada de tiros com a metralhadora embutida em seu fiel guarda-chuva roxo. Em seguida, se abaixou e bloqueou o guarda-chuva adversário com o seu, e foi quando os outros dois saltaram e acertaram suas espadas de madeira com toda a força que possuíam contra a nuca do oponente; quando este se virou, Kagura também deu um salto e aplicou o seu mais poderoso chute contra o rosto dele, fazendo-o cair inconsciente no chão. A força do golpe fora tamanha, que a Yato sentiu até seu próprio pé doer bastante.

Não duvidava que seu chute poderia até ter quebrado o pescoço daquele Yato de laboratório, pois tinha canalizado toda a sua força para aquele golpe.

A garota, mesmo ensopada, abriu seu guarda-chuva mais uma vez e abrigou a si mesma e aos companheiros. Os três estavam exaustos do combate intenso que fizeram, mas ainda assim observavam as demais lutas, pois poderia ser necessária uma intervenção para ajudar alguém... Ou então teriam que proteger a si mesmos de algum eventual ataque, pois Gintoki e Shinpachi, assim como suas contrapartes, eram afetados pelo paradoxo temporal.

Enquanto Matako atirava contra o inimigo na intenção de distraí-lo, Bansai lançava as cordas de seu shamisen para imobilizá-lo. Takasugi conseguiu se esquivar com mais facilidade dos golpes adversários limitados e a loira disparou mais tiros de seus dois revólveres, forçando o Yato a abrir o guarda-chuva para se proteger. Foi quando o líder do Kiheitai surpreendeu o inimigo, perfurando-lhe o peito com sua espada.

Kondo, Sacchan e Kyuubei tinham um pouco mais de dificuldade no combate, mas a kunoichi se encarregou de dar a cobertura necessária para que os outros dois tentassem se aproximar do inimigo. A ninja de cabelos cor lavanda lançou dezenas de kunais ininterruptamente, forçando o Yato a abrir o guarda-chuva para tentar se proteger. O Comandante-Honorário do Shinsengumi se aproveitou da distração e desferiu um grande corte nas costas do adversário com sua katana. A Yagyuu se aproveitou de sua baixa estatura e da dupla distração para dar o golpe certeiro com sua lâmina, atravessando-lhe o peito.

Katsura e Hijikata se lançaram ao ataque ao mesmo tempo, obrigando o adversário a ficar na defensiva, bloqueando os golpes rápidos e intensos do líder Joui e do Vice-Comandante do Shinsengumi. Ambos procuravam não dar qualquer espaço para um contra-ataque ou um revide, mesmo que se esgotassem fisicamente no processo. Faziam isso porque precisavam ganhar tempo para Elizabeth dar o ataque final. A criatura substituíra, no bico entreaberto, a metralhadora por um canhão laser, que estava terminando de carregar a energia necessária.

Elizabeth ergueu a primeira placa, que dizia: “PREPARAR!”

Alguns segundos depois, ergueu a segunda: “APONTAR!”

Mais alguns segundos e a terceira placa avisou: “FOGO!”

Os dois homens se afastaram e do canhão saiu um raio azulado de energia que atingiu em cheio o Yato e fazendo-o cair inconsciente ao chão, todo chamuscado apesar da chuva que caía. Elizabeth também caíra no chão, pois na hora do disparo o impacto fora grande e esgotara sua energia, vinda de sabe-se lá onde. Katsura correu para acudir sua mascote, que ergueu mais uma placa dizendo que ficaria bem, o que tranquilizou o moreno de cabelos longos.

Gintoki, Ginmaru e Shinpachi enfrentavam o último Yato ainda em pé. Assim como os demais trios, também encarava uma luta difícil. O albino mais velho já havia enfrentado e vencido três Yatos, mas em situações diferentes. Contra Housen, não lutara sozinho e o então Rei da Noite fora derrotado, na verdade, pela luz do sol. Já contra Kamui, fora quando o irmão de Kagura estava de guarda baixa e ele estava tomado pela fúria, situação que se repetiria anos depois, matando aquele Yato que ferira Ginmaru.

E lá estava ele novamente diante de um indivíduo do clã Yato. Precisavam melhorar a estratégia para derrotar o último inimigo. Faltava um último ajuste para conseguirem derrotar o adversário. Já havia trocado de espada, passando sua bokutou para o filho e empunhando a katana que era de Taichirou. Shinpachi partiu ao ataque incessante, no intuito de distrair o adversário e obrigá-lo mais uma vez a ficar na defensiva. Na hora que haveria um contra-ataque, o Sakata mais jovem bloqueou o guarda-chuva inimigo cruzando sua katana e a bokutou de tal modo que o acessório, mesmo grande, ficou preso. Antes de qualquer outra reação, o jovem e o Comandante do Shinsengumi viram uma lâmina de uma katana se projetar para fora, no peito.

O Shiroyasha, pelas costas, transpassou a katana e abateu o último inimigo. Não era uma forma “leal” ou “digna” de fazê-lo, mas uma questão de sobrevivência.

E mais uma vez o Distrito Kabuki sobrevivera, mesmo com dezenas de cadáveres inimigos jogados ao chão junto a alguns do distrito que foram abatidos. Mesmo assim, o saldo fora positivo. Aguardaram mais algum tempo para ter certeza de que não viria mais nenhum inimigo. Só quando tiveram a certeza de que mais ninguém viria, boa parte do grande grupo comemorou a vitória.

A chuva começou a diminuir, por fim. Exausto, Gintoki olhou para o Trio Yorozuya vindo do passado enquanto recebia do filho sua bokutou, a qual colocou na cintura. Já a katana de Miyojin Taichirou foi espetada na lama, ao lado do corpo do homem de farda branca que recebia a contemplação silenciosa de Hijikata.

O Distrito Kabuki estava novamente a salvo...

Mas, por quanto tempo até a próxima ameaça?


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