It's a Match! escrita por mandy


Capítulo 7
Coisa de irmãos


Notas iniciais do capítulo

Oiê! Aproveitando que consegui um PC para atualizar, capítulo mais cedo (e tranquilo) para vocês! Espero que gostem ♥ e obrigada aos comentários, de verdade.



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Quando fechei a porta novamente me arrastei para a cama. Cheguei a pegar o celular, conferir a hora e uma nova notificação no Tinder, mas estava sonolento demais para prosseguir. Me deixei fechar os olhos e só não dormi imediatamente porque a imagem de Regulus ficava rondando a minha cabeça, mas o efeito do remédio venceu, no final.

Não sei por quanto tempo dormi, mas quando acordei, foi em meio a sussurros indiscretos dos meus amigos. Podia reconhecer a tentativa, mas nenhum deles conseguia falar baixo de fato.

— Eu acho que esse tipo de problema a gente só consegue resolver na porrada… – ouvia uma voz feminina, o que me fez ficar um pouco mais atento.

Não havia uma regra específica, ditada ou escrita, sobre garotas no dormitório dos garotos, mas somente o fato de nos separarem assim - meninos e meninas - já deixava implícito. Tentei abrir os olhos, mas ainda enxergava o estrado da cama acima de minha cabeça meio embaçado.

— Eu não posso meter a porrada no meu irmão, Marlene! – Sirius intervinha e, assim, eu associava a voz à pessoa.

— Não tô falando do Regulus, tô falando do Snape! Ele o tempo todo ficou desdenhando do que aconteceu, como se aquela fosse uma grande vitória para ele – Marlene emendou a fala com um grunhido enojado.

— Eu não me lembro de tê-lo visto falando alguma coisa deveras… – outra voz feminina e, agora com os olhos abertos, eu podia reconhecer os cabelos crespos de Mary McDonald ao lado de Peter.

— Oh, oh, Mary! – James intervinha – Se quer fazer parte do grupo, precisa entender que Severus Snape é inimigo de estado!

— Eu tô tentando ser justa só… – murmurou a garota.

E então eu respirei fundo.

— Deixa a garota em paz, James – minha voz saía tão rouca que eu quase não reconhecia.

E logo eu tinha os meus amigos rodeando a beliche baixa. James sorria de orelha a orelha e Sirius mordia o lábio inferior, com preocupação contida. Peter nem tentava esconder. Tinha os olhos grandes, saltados em minha direção, como se eu fosse um morto voltando à vida.

— E aí? Tá tudo bem, Lupin? – ouvia a voz de Marlene ao longe.

— Você precisa de alguma coisa? – Peter questionava, se debruçando sobre o colchão na cama.

— Trouxemos o seu jantar – dizia o James enquanto continuava a sorrir.

— Eu tô bem, gente… – dizia, me sentando devagar na cama e coçando os olhos em seguida – Só foi uma bola no nariz, não é como se eu pudesse morrer por causa disso.

— É que você dormiu tanto que achamos que pudesse estar em coma… – via uma careta no rosto de Peter, enquanto os meus demais amigos arqueavam as sobrancelhas. Provavelmente não estavam a par daqueles pensamentos – Estivemos aqui mais cedo, para ver como você estava, e você nem se mexia.

Mais cedo. Significava que já era tarde da noite.

— Os remédios me deixaram meio sonolento só… – explicava, encolhendo os ombros em seguida – Vocês não vão se livrar de mim fácil assim.

Eu comi na cama naquela noite, em meio às novidades dos meus amigos. Segundo Marlene, foi bom o fato de Regulus ter seguido para a sala dos monitores do acampamento, porque Sirius parecia estar prestes a cuspir fogo. “Você é muito querido entre os seus amigos, Lupin”, ela havia dito e eu quase fiquei vermelho com a afirmação, mesmo sabendo que parte daquele querer era só um espírito briguento que eles tinham. Contou ainda que com Snape as coisas tinham esquentado um pouco mais, já que não havia Lily para apaziguar. Ela quis me poupar das palavras exatas, mas Peter não tinha muitas papas na língua. “Um retardado que não consegue nem se esquivar de uma bola”, foi o que ele havia dito, o que quase fez James socar o nariz grande dele.

Disseram-me ainda que o último jogo da Grifinória havia sido cancelado, coisa que eu já sabia, mas omiti o detalhe. O próximo jogo seria em dois dias, quando decidiriam qual das equipes disputaria a final com a Lufa-Lufa, o que me surpreendia um pouco, já que imaginava que Bartemius iria correndo ao encontro de Regulus. Eu o faria se fosse o namorado dele…

Pouco antes da meia noite, Mary e Marlene seguiam para os seus devidos dormitórios. James deve ter sido o primeiro a dormir, enquanto Peter conversava com a mãe pelo telefone, já que todos os dias a Sra. Pettigrew exigia uma atualização dos acontecimentos no acampamento, superprotetora (e chata, como Peter gostava de lembrar) que era. Eu achei que fosse o único acordado quando peguei o celular, escondendo-o rapidamente quando Sirius pulou do beliche para o chão, arrastando-se para a minha cama no momento seguinte. Deitou-se ao meu lado.

— ‘Cê ta legal? – Questionou, apontando em seguida para o meu nariz – Dói?

Balancei a cabeça numa negativa uma vez, apesar de ainda evitar respirar muito fundo, temendo que o nariz voltasse a doer como antes. Continuei deitado, ambos de barriga para cima na cama pequena e, por um tempo, ficamos em silêncio, até que Sirius prosseguisse com o assunto que não era, de fato, a dor no meu nariz.

— Eu só queria me desculpar...

— Por quê? – Mas eu já sabia a resposta, no final das contas.

— Ah, pelo Regulus...

— Você não precisa se desculpar por uma coisa que não foi você quem fez.

— Eu sei, eu sei... – revirou os olhos então – É que... Cara. Eu não posso deixar de me sentir mal pensando que, provavelmente, ele queria me acertar e por culpa da minha treta com ele você tenha se machucado.

— Então você vai parar de brigar com Regulus por minha causa? – Não pude conter o riso anasalado.

— Cala a boca... – ria igualmente, me cutucando com o cotovelo – Mas eu não quero brigar com ninguém, não mais! Eu já fiz tudo o que estava no meu alcance... Se Regulus quer continuar a ser o meu inimigo – dava de ombros algumas vezes.

— Não acho que é um exagero colocá-lo como “inimigo?”

Eu não conhecia Regulus Black de fato. Algumas conversas fakes pela internet e uma interação de cinco minutos não era suficiente para conhecer pessoa alguma, mas eu não achava de verdade que aquela relação era de inimigos bélicos. Irmãos brigavam o tempo todo, era um fato histórico.

Mas Sirius apenas dava de ombros, tirando do bolso o maço de cigarros, o que me fez imaginar se ele sempre dormia abraçado com ele. Acendeu e infestou de fumaça o pequeno espaço da beliche, oferecendo para mim ao que neguei uma vez. E, por um tempo mais, guardamos o silêncio. As cinzas batidas iam para o chão, a fumaça para o estrado. E, no momento seguinte, eu quebrava o silêncio:

— Vocês não se odiavam assim antes... Que diabos aconteceu? – A voz saía mais baixa, era inevitável.

— Aconteceu que Regulus preferiu ser uma cópia cuspida do Sr. Orion Black e eu não tenho que aturar um moralista em versão miniatura! – soprou para o alto a fumaça, voltando os olhos para mim em seguida.

— Mas você não sente falta? De conversar com ele, da relação que tinham, sei lá...

Em resposta, ele apenas sorriu de forma melancólica. Virou-se de costas para mim, apagando o cigarro na quina da cama antes de se levantar enfim, respirando fundo uma vez.

— Boa noite, Rems.

Durante um tempo, eu fiquei pensando: realmente era impossível conhecer alguém em tão pouco tempo, mas no final das contas parecia que eu conhecia bem o Sr. Black e não poderia julgá-lo igual a Regulus. Sirius sempre destilava ódio pelos pais, mesmo que ódio fosse uma palavra forte, só que eu não acreditava de fato que ele odiasse o irmão. A falta de resposta a minha última pergunta deixara aquilo ainda mais claro para mim.

Sozinho na cama, eu voltava a pegar o celular.

Havia mensagem de Regulus desde às cinco da tarde.

 

LUCI: Oi, oi. Eu estava no trabalho. Cheguei em casa tão cansada que não consegui nem pegar o telefone, acordei agora!

 

Tentando espairecer por um momento, não pude deixar de imaginar: do que Luci trabalharia? Na minha cabeça, aquela cidade pequena não deveria oferecer muitos empregos, a economia girando em torno do acampamento. Luci, quem sabe, trabalharia em alguma loja de discos falida. Mas isso tudo era ditado pelo meu espírito saudoso de uma época que eu nem mesmo tinha vivido, lojas de discos nem existiam mais! Então, quem sabe, em uma lanchonete. Se Luci seria descolada, poderia servir mesas com expressão de tédio e patins nos pés.

Cinco minutos depois, Regulus respondia.

 

REGULUS: Calma... Eu só mandei boa tarde, rs

REGULUS: Não precisa me relatar todo o seu dia.

REGULUS: Como está?

 

LUCI: Oh kkkkkk

LUCI: Cansada.

LUCI: E você? Como foi o seu dia?

 

REGULUS: Um caos.

 

Me senti ansioso com a resposta, principalmente sob nova perspectiva agora. Eu só conhecia a versão de Sirius sobre aquela história que deveria ser dos dois. Era como estar lendo um livro no ponto de vista de outra pessoa.

 

LUCI: O que houve? Quer falar sobre?

 

Ele demorou um tempo ainda para responder.

 

REGULUS: Hoje nos fizeram jogar queimada. Eu tenho um irmão mais velho que estava na equipe adversária e, bem, o objetivo do jogo é claro: queimar o adversário. E foi o que eu fiz.

 

LUCI: Queimou o seu irmão?

 

REGULUS: Não exatamente rs

REGULUS: No primeiro tempo foi ele quem me queimou. Entenda, eu estava sozinho em campo porque o meu time inteiro tinha sido eliminado, eram três contra um. Ele poderia ter dado a bola para qualquer um dos amigos, certo? Mas foi ele quem acertou a bola final.

 

LUCI: Doeu?

 

REGULUS: O sangue estava tão quente que não senti.

REGULUS: No segundo tempo, sabendo que ele era um jogador forte, nada mais justo que eliminá-lo, certo? Mas eu acabei acertando o amigo dele. Meio forte…

REGULUS: Luci

REGULUS: Acho que quebrei o nariz do rapaz.

 

Precisei conter o riso porque os meus amigos estavam dormindo. Eu não sabia se havia alguma complicação a mais com o meu nariz, mas por hora era um diagnóstico simplório e as certezas só viriam com o decorrer da semana.

 

REGULUS: No final, estava eu na sala de monitores, tentando explicar que não o havia feito por mal, que não havia controlado a força e que não tinha motivo nenhum para quebrar o nariz de alguém, mesmo as vezes tendo vontade de quebrar o nariz do Sirius.

 

LUCI: Sirius é o seu irmão?

 

REGULUS: Isso.

 

LUCI: Vocês têm nomes de estrelas…

 

REGULUS: É. A mais brilhante do céu noturno e a mais brilhante de uma única constelação. Combina bastante com ele, o astro do colégio.

 

LUCI: E você brilha em qual constelação?

 

REGULUS: Na de leão.

 

Novamente, o riso contido. Regulus havia se mostrado um rapaz deveras inteligente até ali, e a única coisa que eu poderia imaginar era que estava tão absorto no próprio drama que não entendera o sentido da metáfora. A verdade era que o via geralmente ao lado de Bartemius, e achar que ele fazia parte de uma constelação era grandioso demais. Também me recusava achar isso de Severus Snape, quem às vezes o acompanhava, mas era o meu ponto de vista.

De qualquer forma, continuei com a conversa.

 

LUCI: Você está chateado com Sirius? É isso?

 

REGULUS: Talvez

REGULUS: Ele me acertou uma bola sem nem pensar duas vezes. Não procurou sequer saber se eu estava bem. Mas bastou eu acertar o amigo dele para me tornar a pessoa mais cruel do mundo.

 

LUCI: É porque você meio que quebrou o nariz do garoto

 

REGULUS: Não foi de propósito! Eu não quis quebrar o nariz dele.

REGULUS: Eu acho que já estou me sentindo culpado o suficiente, então vou dormir viu

 

LUCI: Ei, volta aqui! Eu to brincando...

LUCI: Você já tentou falar com ele?

LUCI: Com o seu irmão, no caso.

 

REGULUS: Não?

REGULUS: E nem quero.

 

LUCI: Não seja assim, Reggie. Talvez seja bom ouvirem um ao outro.

LUCI: E ficarem longe de jogos competitivos, por enquanto.

 

REGULUS: Hm.

 

LUCI: E o garoto? O que você acertou a bola? Está bem?

 

Novamente eu sentia frio na barriga. Regulus poderia despejar tudo o que achava de mim naquele momento. Poderia concordar com Severus Snape, me comparar a um retardado sem esquiva. Poderia ter notado o quão desengonçado às vezes eu era, notado as minhas roupas de segunda mão, os cabelos que nem sempre estavam penteados… Poderia dizer para Luci o quanto era anormal para um adolescente da minha idade ser tão alto como eu era nos meus 1,80.

Contrário ao que eu imaginei, não houve qualquer ataque específico a mim.

 

REGULUS: Eu… não sei ao certo. Ele parecia meio dopado quando fui conferir.

REGULUS: E só fiz isso porque estava com peso na consciência. Ofereci ajuda, até, caso precisasse. Agora eles devem estar rindo de tamanha besteira…

REGULUS: Quer dizer, no que eu poderia ajudar?

REGULUS: No final eles são todos uns babacas. O meu irmão e os amigos dele.

 

Era essa uma visão particular dele? Eu sabia que não éramos sempre os mais bem vistos no colégio, que às vezes as brincadeiras ultrapassavam os limites aceitáveis por alguns. Mas não seria justo que eu comentasse com Sirius, James e Peter sobre a visita de Regulus, somente para que pudéssemos rir dele. Não achava que o fariam se eu realmente houvesse contado, era um pouco cruel imaginar algo assim.

Mas não era o que fazíamos com outras pessoas? Até mesmo com Snape - a quem me limitava a pensar por simplesmente não engolir a figura.

A verdade, no final das contas, era que Regulus não nos conhecia de fato. E nem eu a ele ou as pessoas com quem andava. E que os irmãos precisavam se entender de alguma forma, porque estavam chateados por motivos completamente diferentes, como uma falha na comunicação.

 

LUCI: Talvez uma conversa seja válida...

 

REGULUS: Eu já conversei com o outro, o amigo que acertei…

 

LUCI: E aí?

 

REGULUS: Bem, ele só me disse para tentar não acertar tão forte da próxima vez.

REGULUS: Acho que ele tinha razão.

 

Eu com certeza tinha razão.


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Notas finais do capítulo

Como disse nas iniciais: capítulo tranquilo. Eu acho importante falar um pouco sobre a realação Regulus X Sirius, achei a oportunidade perfeita, mesmo que imagine que a relação entre os irmãos seja ainda mais complicada do que isso. E então, o que acharam? Fico no aguardo.
Obrigada, e até o próximo! Beijos ♥



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