It's a Match! escrita por mandy


Capítulo 21
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente.
Então, zero preparada para dizer tchau. Foram sete meses enormes e o tanto que essa fanfic me ajudou, seja no lado criativo, seja no bem estar psicológico de estar fazendo algo que eu amo com personagens que eu amo... enfim. O epílogo é um complemento de passagem de tempo e fechamento. Eu espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786372/chapter/21

No final das contas, a vida não é nenhum pouco parecida com um conto de fadas. Nenhum príncipe encantado vai aparecer e te salvar, te livrar de uma vida miserável e te fazer feliz para sempre. O poder da amizade não cura todos os males dentro de você. Não se pode depender de uma única pessoa, ou três, que seja, contando que ela será o seu caminho de início, meio e fim para  felicidade. É tudo um grande conjunto.

No meu caso James, Sirius e Peter foram parte essencial no meu processo de melhora, isto porque sabe-se lá o quão pior eu estaria nas férias no acampamento se não fosse por eles. Foram essenciais não somente me dando todo o apoio que eu precisava, mas também quando ligaram para a minha mãe, o meu outro suporte para uma fase complicada. Ela cuidou da minha saúde física e marcou pra mim um psicólogo, que me encaminhou para um psiquiatra, que me receitou alguns remédios e marcou diversas consultas semanais. Eu nem sabia se tínhamos como pagar, mas a minha mãe não me deixava tocar no assunto.

Em três semanas eu não podia dizer que estava bem, mas havia melhoras consideráveis. O meu pai sabia o que precisava saber, ou seja, que eu havia tido uma recaída no acampamento e precisava de tratamento agora, tratamento que eu não deveria nem mesmo ter parado. Mas eu conseguia conversar com a minha mãe. Dizer com verdade como eu estava me sentindo e até falar sobre a minha sexualidade, o que não era um problema para ela. Só não quis lhe contar sobre o começo daquela nova crise, porque não a queria pensado que tudo aquilo se dera por conta de um garoto. Certas coisas só nos servem de gatilho.

Para isso eu tinha um psicólogo. Para entender os tais gatilhos, conhecer um pouco mais de mim mesmo e do Transtorno que inevitavelmente me acompanharia pelo resto da vida, à espreita das minhas relações e influenciando a minha personalidade. Mas nem tudo tinha de ser uma tempestade num copo d’água.

É normal estar inseguro. Normal se esforçar para pertencer, normal omitir que a comida da sua mãe está salgada demais somente para não piorar o dia dela. O que não é normal é quando os esforços fodem com o seu psicológico… Ou quando os seus atos machucam uma pessoa, quando suas mentiras se tornam destrutivas.

Mas é normal se apaixonar por alguém. É normal se dar para essa novidade, sofrer quando dá errado, se perder um pouco no caminho.

É só preciso um pouco de equilíbrio…

Uma semana depois do acampamento eu tive coragem de ligar o meu celular. Primeiro para ignorar todas as mensagens, e-mail e redes sociais. Dias depois respondia a Sirius, James e Peter no grupo dos Marotos e por conta da minha distância trocávamos textos imensos, eles falando sobre os últimos dias no acampamento, eu falando sobre algumas consultas que me sentia confortável para comentar e as séries chatas que assistia.

Sirius e Marlene eram um casal. Não se assumiam, mas ela mais de uma vez dormia clandestinamente no quarto dos meninos e eles viviam juntos. Um casal.

Lily e James estavam próximos. Bem próximos. Não brigavam mais e James voltava a fazer piadas sobre o fato de ela ser a garota mais insuportavelmente linda que ele conhecia e Lily por sua vez não lhe dava uma porrada. Era um avanço.

Eu não tinha notícias sobre ela e Severus. Certos assuntos acabavam por ser um tabú agora, mas tempo ao tempo. É isso que a minha mãe sempre diz. Mas soube que a palestra sobre sexualidade aconteceu. E foi uma grande bagunça já que palestras não mudam o mundo. Um passo de cada vez. E soube também que a equipe da Corvinal ganhou a competição, e houve festa e outra “festa” quando enfim os alunos fizeram as malas para voltar para casa, como se a experiência no acampamento houvesse sido ruim num todo - afinal, meio de mato nenhum se compara a uma visita à Paris - mas eu estava tentando não julgar mais.

Não tive nenhuma notícia de Regulus.

Eu ainda tinha o número de celular dele, apesar de ter desinstalado o Tinder, mas não ousava mesmo chegar perto da agenda telefônica. Três semanas e as coisas ainda não haviam assentado tão bem no meu estômago, mas haveria uma hora em que eu teria de encarar mesmo que fosse a citação do nome dele.

Daí o momento chegou.

— Filho, você tem visitas.

Já era tarde da noite de acordo com o meu relógio biológico. Eu já tinha jantado, banhado e tomado os remédios, então o que me restava era me enrolar nas cobertas e assistir alguma coisa até dormir enfim. Então, depois de pausar As Vantagens de Ser Invisível - filme que devo ter assistido mais de cinco vezes no decorrer das duas últimas semanas somente para concordar que era sim um filme páreo ao livro - eu me sentei na cama, sentindo o estômago revirar, pensando em quem diabos estaria me visitando sem avisar, a noite.

Mas a resposta se apresentava de coque alto e jaqueta de couro.

— Eu trouxe chocolate porque a tia disse que você está acabando com o estoque dela — Sirius escorou-se no batente da porta, erguendo para mim uma sacola.

— E desde quando você fala com a minha mãe? — Questionava, mal conseguindo conter o sorriso. Eu tava com uma puta saudade.

Ele encolheu os ombros uma vez.

— Trouxe outra coisa também, se tiver tudo bem pra você…

Coisa…

Sirius se afastou da porta, entrando no meu quarto enfim, dando espaço para a aparição de um Regulus um pouco tímido. Eu não sabia se era porque estava dopado, os remédios tinham aquele efeito, mas eu mal sentia o meu corpo naquele momento e somente respirei porque o meu inconsciente me lembrou que aquela era uma ação precisa. Uma, duas, três vezes, até que eu conseguisse focar o rosto dele ali, parado, olhando para mim com rosto baixo.

Daí meu cérebro gritou: puta merda! E, sem o mínimo controle, eu não podia diferenciar se aquela era a pura expressão do pânico ou encanto, porque eu tinha me esquecido do quanto ele era bonito.

— Eu acho que vocês precisam conversar um pouco — o meu amigo servia como um mediador, olhado de um para o outro, demorando um pouco mais quando olhava para mim — Você me disse que estava bem. Que estava pronto para encarar o mundo.

Certo, foco Remus Lupin.

Parte daquela confissão, feita por alguma mensagem de celular, era somente uma força de expressão. Pronto para encarar o mundo significava voltar para a escola, continuar me esforçando para ter boas notas, focar no sonho universitário que estava tão próximo. Mas o mundo não era só o que eu escolhia, hora ou outra aquilo teria de acontecer, estudávamos na mesma escola e mesmo que Sirius ainda planejasse sair de casa, eles eram irmãos.

A questão era… eu estava pronto para Regulus?

— Precisa que eu fique? A tia disse que ainda tem sobremesa do jantar.

Balancei a cabeça numa negativa, contendo o impulso contrário de segurá-lo ali. E quando Sirius finalmente saiu, deixando a sacola com chocolates sobre a cama e empurrando o irmão mais novo para dentro, eu respirei fundo uma quarta vez. Nenhum dos dois parecia saber como quebrar o silêncio, e então ele foi se intensificando… Até que Regulus desviasse os olhos para a televisão e eu desviasse os meus para os remédios jogados sobre a mesa de cabeceira. Com algum esforço me obriguei a meter um assunto em meio à quietude antes que os detalhes no meu quarto começassem a chamar atenção.

— Vocês se acertaram? — A rouquidão em minha voz era tanta que precisei pigarrear — Você e o Sirius, digo…

— A gente meio que não tem solução — ele dava de ombros assim, entrelaçando os dedos das próprias mãos e voltando a olhar para mim, o que só fazia o frio em minha barriga aumentar — Mas estamos bem.

Era bom. Eles não queriam matar um ao outro.

Outro bom sinal é que ele estava ali. Acompanhara Sirius até a minha casa e estava possivelmente disposto a ter uma conversa comigo. Mas do que ele sabia?

A minha mente não tinha forças para criar teorias da conspiração naquele momento, então eu mal entendia o porquê de ter aquele nó incômodo na garganta. A única coisa que eu precisava fazer era falar. Era a conclusão que havia chegado em minha terapia: falar ajuda a não criar paranoias. Mas na teoria era tão mais fácil… Na prática eu entreabria os lábios, sentia a boca secar, mexia nos chocolates dentro da sacola, voltava a tentar.

Até que Regulus se aproximou e sentou na beirada da cama.

E eu, finalmente, verbalizei:

— O que veio fazer aqui?

Por um momento ele ficou olhando para mim, em silêncio. Eu teria soado rude? Eu mal tinha consciência do tom da minha voz. Mas depois de respirar fundo uma vez ele me respondeu:

— Imaginei que poderíamos conversar — e depois, mais um tempo de silêncio, até que ele encolhesse os ombros — Eu estava meio relutante, mas o Sirius me convenceu.

— E o que foi que ele te disse, exatamente?

— Que ninguém é perfeito, que todo mundo erra. Frases feitas — e, de alguma forma, o seu riso anasalado fez com que o meu corpo relaxasse um pouco mais na cama — Mas também disse que você era uma pessoa incrível que só estava passando por uma fase ruim, que não sabia se valia a pena remoer os erros, mas certamente valia a pena te conhecer melhor. Eu acho que, no final das contas, o que me convenceu não foi bem o Sirius. Foi o fato de eu não ter questionado ele. Porque, de alguma forma, eu sei disso tudo.

Me senti quase hipnotizado olhando para ele. Se por um momento eu esperava que ele dissesse que sabia do Transtorno Bipolar, o que confirmaria para mim que ele só estava lá por pena, no outro eu me sentia novamente amado, não por Regulus, mas pelas pessoas que me rodeavam e no seguinte eu me sentia bobo. Sabe quando você fica bobo perto da pessoa que gosta - frio na barriga, coração batendo mais forte, lábios entreabertos? Tratei de fechá-los, respirando fundo uma vez.

Eu não sabia se tinha aquele direito e, ainda assim, me arrastei um pouco mais para o lado da cama, chamando-o para se sentar mais perto. Não precisei falar, ele havia compreendido. Arrastou-se igualmente e sentou ao lado, em silêncio, enquanto eu tentava encontrar algo para falar, mas a proximidade pareceu me deixar dormente.

— Vantagens de ser invisível? — Ele quebrou o silêncio. Por um segundo achei que era uma pergunta direcionada para mim, mas então me dei conta de que ele se referia ao filme ainda pausado.

— Ah, é. Alguém me disse que era um filme muito bom, quase tão bom quanto o livro — respondi um tempo depois entre risos breves.

Cedo demais para falar sobre conversas de Luci e Regulus? Ele não pareceu se importar. Luci nunca existiu, no final das contas. Era eu o tempo todo.

— Olha… — tomei fôlego e, então, comecei a dizer — Eu não sei se existe uma verdade que eu possa te falar agora, porque o que eu tenho me rasga da cabeça aos pés. Me dói. E eu não sei o quanto você está disposto a lidar com isso, e nem precisa estar, mas o que eu posso te dizer agora é que eu sou fodidamente instável. E isso não é algo que eu consiga lidar sozinho. Se eu lhe disser para confiar que eu vou mudar da noite para o dia eu estaria mentindo de novo. Mas posso te dizer pra confiar que eu aprendi com os meus erros. Eu realmente aprendi.

E depois disso, depois daquilo que pareceu uma descarga de confissões, eu me senti fraco. Havia aguentado bastante até, o remédio já fazia efeito há um tempo e se eu não dormisse tão logo estaria falando besteira. Mas me senti leve por dizer.

Mais um tempo em silêncio e ele concordou.

— A vida não é um contrato eterno, Remus. E é exatamente por isso que a gente pensa no hoje. Amanhã ninguém sabe, mas hoje… Hoje eu só quero te conhecer melhor — e sorriu.

O sorriso que ele poucas vezes demonstrava.

Suspirei uma vez e fechei os olhos, por tempo demais quem sabe.

— Mas parece que você está caindo de sono… — riu-se.

— Me desculpa — disse no automático, voltando a olhá-lo.

Mas ele dava de ombros.

Aproximou-se um pouco mais e eu estremeci. No final ele só queria pegar o controle remoto jogado no meu colo. Então eu me acomodava no travesseiro enquanto ele dava play no filme. Em silêncio, deixamos rolar a imagem, até que o meu corpo estivesse tão pesado que a única noção que eu tinha era do corpo dele próximo ao meu, da presença dele tão junto a minha.

Não sei em que momento foi que eu apoiei a cabeça em seu ombro e peguei no sono.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então. Eu sei que a história acabou por se deslocar um pouco do que possivelmente era esperado. Eu peço perdão por possíveis lacunas. Perdão pelas demoras... Mas, acima de tudo isso, eu só agradeço vocês que ficaram até aqui! Que ficaram até o final comigo ♥ Obrigada, obrigada de todo o meu coração!
Me digam o que acharam. Comentem, critiquem, qualquer coisa e vou continuar grata.
No mais, a gente se vê por aí ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "It's a Match!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.