Olhe outra vez escrita por psyluna


Capítulo 7
Exaustão




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A luz incomoda, uma voz chama, o vento continua do lado de fora e tudo dói. O tempo custa a se arrastar. Fecha os olhos de novo, antes mal abertos; quando acorda, já está escuro, não por completo. Sair dos lençóis é fora de questão. Enterra a cabeça mais fundo no travesseiro improvisado. A testa coça, mas nota um peso sobre a mão ao levantá-la. Com o canto do olho, vê que Reimu a segura. Ela parece dormir até bocejar, espreguiçar-se de mau jeito e murmurar um cumprimento com a voz áspera.

—Que horas são?

—Não sei. - Solta as mãos de ambos e tira as mechas de cabelo do rosto dela. Que isso não soe errado.— Algum pesadelo?

—Não.

As próximas horas passam num mosaico. É difícil separar a lógica real dos sonhos extravagantes, mas cada despertar é mais fácil que o anterior. Perde o sono de vez em algum ponto da madrugada. Perambula pela casa reorganizando objetos com ajuda da lanterna. Tem paciência com a dor de estômago e o corpo não se decide entre sentir frio ou suar. Desconfortável demais para ler, se deixa cair nos cobertores, com a cabeça anormalmente vazia. De repente, ouve um tatear pelo piso à sua esquerda. Reimu procura pela luz com os olhos estreitos e desiste de alcançá-la.

—Pode desligar isso?

—Posso. Tente não me assustar. Melhor agora?

  Ela assente e o lençol farfalha, impossível ver para qual lado se virou. Um bocejo colossal ecoa pelo quarto.

—Você está bem? - Reimu solta, de maneira meio forçada.

—“Bem” é relativo. Nada insuportável, mas eu não correria uma maratona. E você?

O resmungo serve de resposta. Ela emenda:

—Já passou de meia-noite?

—Não fui conferir.

—Vamos dizer que sim. - Mais acostumado ao escuro, vê Reimu com as mãos atrás da cabeça, virada para cima. - O festival é hoje à noite.

—Falta bem pouco para o ano-novo, então. Passamos mais de um dia inativos.

E deu tempo de tudo, é o que me surpreende. Fazer parte da história de Gensokyo de tal forma vai, com certeza, para seu misto de diário e livro de história, em contínuo processo de escrita e revisão. Claro que algumas coisas não vão para a versão final. Não por minha causa… Reimu lamenta:

—E pensar que vou ter que ficar de pé, treinar e executar o ritual.

—Creio que não posso ajudar.

—Você já fez demais.

Sei que não foi suficiente.

—E pretendo continuar. Todos nós de Gensokyo devemos a vida e a segurança a você.

O herói salva o povo, mas quem salva o herói? O enigma o intriga enquanto ela se cala por um bom tempo. Será que passei do limite?

—O que houve? - Procura a feição dela e, no escuro, não encontra.

—Sabe quando você pensa numa coisa, mas nunca falou dela?

—Sim, suponho, e não gosto da sensação. Não costuma soar bem quando colocado em palavras.

—É mais como… - Ela procura a definição. - Como se não fosse feito para falar.

Porque parece mais real.

—Se o que eu digo te incomoda, gostaria que eu não dissesse?

—Alguém já te disse que suas perguntas são estranhas?

Eu deveria me defender, mas esse tom de mágoa me diz que é melhor não.

—Não. Só que elas são excessivas. - “Você questiona demais.” Eu sei. — Estranhas? Não.

—Eu já teria ido embora se não quisesse estar aqui.

Você se convidou e veio com as próprias pernas. A ideia de alguém pensar nele como companhia é agradável. Retribui a gentileza criando coragem para ficar de pé e preparar chá. O despertador desligado mostra seis e algo da manhã, o dia ainda não despontado. Os dois se sentam em lados opostos do quarto, sem conversar, Rinnosuke entretido demais com a pulseira colorida. O som de páginas virando o desperta do transe; Reimu folheia o diário de Tenshi sob a luz da lanterna.

—Ela desenha bem, olha só.

O caderno aberto passa para as mãos dele. Há um rascunho do rosto de ambos com as proporções e traços muito bons. Até a expressão facial. No desenho, Reimu carrega uma cara fechada, meio entediada. Típico. Deixa a questão de lado:

—Como ela conseguiu fazer isso tão rápido?

—O que é um esboço para quem causou aquela bagunça toda? - Ela dá de ombros, empacotada num cobertor.

Rinnosuke aproveita para estudar o momento. Folheia o diário e observa Reimu a intervalos, até que ela peça o volume de volta e comece a lê-lo. Não está feliz, mas já esteve pior. Leva o copo de chá aos lábios e o toque da porcelana ao afastá-la o lembra de um assunto não resolvido. Pensa, repensa, considera e reorganiza várias tentativas, mas nenhuma é segura por completo. O sol torna a lanterna cada vez menos necessária. Fecha a mão ao redor da pulseira, deixando-a no chão, e interrompe a leitura.

—Sei que não gosta das minhas perguntas, mas preciso esclarecer uma coisa. Prometo que será só uma.

Muito cuidado agora. Ela aguarda em silêncio, a contragosto.

—Você pretende… Como dizer, repetir o que fez?

—Depende. - Reimu dá um sorriso sarcástico. - Do que está falando?

Ou ela quer me forçar a dizer, ou não quer falar sobre isso. Aposto na segunda opção. Hesita antes de continuar.

—Veja bem, foi algo muito inesperado e aconteceu algumas noites atrás. Você… - As palavras custam a sair. Por favor. Você não é a pessoa mais inexperiente do mundo.— Você me beijou. Não tenho ideia do que foi aquilo.

—Foi exatamente o que pareceu. Não tente fazer perguntas disfarçadas.

Um a zero para ela.

—Peço desculpas. Sua resposta, por favor.

Reimu solta o próprio copo e usa a parede de encosto, numa postura descuidada. Demora a falar, num tom casual falso.

—Eu gostaria.

Você pode, eu não me importaria, agora me diga o porquê.

—Mas algo parece te impedir.

—Não é bem isso. Entende?

—…Não. - E nem sei se quero.

—O que eu fiz foi certo?

Rinnosuke traça a situação na mente. Você estava num relacionamento com sua amiga, que tinha outro relacionamento em segredo. Então, eu entro em cena sem pedir por isso.

—Não estou em posição de julgar.

—Eu não acho que foi. - Ela ajeita as frestas da coberta e se endireita. - Mas quanto mais penso nisso, menos sentido faz. Se eu não duvidasse do que Marisa sente, eu… Não teria com o que me preocupar. Ficaria tudo bem. Mesmo em segredo.

É um misto do receio da perda e da confusão com um possível novo sentimento. Eu acho. Antes que Reimu mencione chorar, ele se estica ao outro lado do quarto estreito. Ela se encolhe por um instante e baixa a guarda quando Rinnosuke afaga sua franja. Não sei o que nós dois somos, mas você é uma pessoa boa demais para merecer se machucar.

—Certo e errado não me parecem existir nessa situação.

—E isso não piora tudo?

—Não a meu ver. Pensar dessa forma remove o sentimento de culpa.

—Pensar dessa forma me deixa mais confusa.

Não notou em que ponto Reimu segurou sua mão, agora no ombro dela. Ele evita falar. Já cheguei longe demais para estragar tudo agora.

—Eu preciso de um pouco de tempo.

—Ainda vou viver alguns séculos. - Ergue a sobrancelha. - O que quer dizer?

—Vou esclarecer algumas coisas. Posso confirmar algo mais tarde, depois do festival. - Ela aperta mais forte. - Prometo.

Pessoas e seu hábito de testar minha paciência.

—Eu estaria lá de qualquer forma.

Cortam o contato visual. Apesar de só o vento da nevasca soar lá fora, o silêncio não é tão aflitivo; as coisas parecem mais em seus lugares.

—E agora? - Reimu deixa escapar, quase inaudível.

—Não sei. Você quer que eu faça alguma coisa?

Mais um momento de reflexão o faz perceber e temer a possível grosseria.

—Não, nada. - Ela gagueja e vira o rosto de lado. - Acho que vou dormir de novo. Se alguém aparecer, eu não estou. E você não me viu.

—Tudo bem. - Tenho uma vaga ideia de quem você tem em mente.— Hora para acordar?

—Nenhuma. Minhas coisas do ritual até que estão em bom estado.

“Até que estão?” Sério? Afastam-se e Reimu se acomoda de novo. Disfarça o desgosto. Meu trabalho é melhor do que “bom estado”. Peças assim são feitas para durar por gerações. Deixa-a para acender a luz e ler na sala. No entanto, a coletânea de crônicas sobre psicologia não consegue prendê-lo, por mais intrigante que seja. Batuca com a lombada do livro no braço do assento algumas vezes, fecha as páginas e inclina a cadeira de balanço para trás com todo o peso do corpo. Além dos olhos embaçados, ainda saudosos dos óculos, um pensamento sussurra caos. Até as roupas que criei para ela vão durar mais tempo que a própria dona.

Quem mais vive uma situação assim? Repassa os relacionamentos que conhece. A ligação entre a criada da mansão Scarlet e sua senhora é obscura. Para Aya, humanos são só pauta de notícia. Os motivos de Yukari rodear Reimu são uma grande interrogação; ela trata a sacerdotisa como uma singularidade divertida. Na verdade, os motivos de ela fazer qualquer coisa carecem de sentido. Sorri com amargura para afastar memórias. E eu entrei nesse ciclo porque… Qualquer justificativa não lhe dá firmeza. Esfrega os olhos, tentando despertar. Foi um acidente? Não foi? Por que tento entender algo que não consigo?

A porta sinaliza ser aberta. Ah, é mesmo. Eu a deixei destrancada ontem. Recepciona às pressas a cliente, ou seu acompanhante: o enorme gato laranja de Alice entra antes da dona, tilintando a coleira e espalhando neve pelo chão. Dessa vez, eu até perdoo. Quase não vê o rosto dela, por trás de um capuz e um cachecol.

—A placa dizia que a loja estava fechada, mas tentei entrar de qualquer maneira. É cedo demais?

—Não se preocupe com isso. No que posso ajudar?

—Vim buscar o pagamento. Marisa deixou uma lista com os títulos dela e algumas sugestões para mim. Posso vasculhar o acervo?

—Claro, por aqui. - Recolhe o lembrete, corre os olhos e a realidade de perder objetos finalmente dói. - Falando em Marisa, como ela está? Eu mesmo dormi mais de um dia.

—Ela diz não estar bem, mas não acreditei muito.

E faz bem em não se enganar. Notou que Alice falou muito mais com ele em dois minutos do que se somasse todas as outras oportunidades. Perguntar o porquê seria um retrocesso. Confia na honestidade dela e dá atenção ao gato. Ele bate as patas dianteiras num brinquedo de penas, morde suas mãos e explora os cômodos com um espírito aventureiro. Rinnosuke desiste de ter energias para acompanhá-lo. “Exaustão: desgaste físico intenso e perigoso, cuja recuperação completa é longa.” Encara seu dicionário como se ele fosse responder, caso se sinta intimidado o bastante.

—Aí estão vocês. - Alice aparece no portal da cozinha com uma pista de sorriso. - Encontrei quase tudo o que me interessou. Você teria uma cópia da Ars Goetia?

—Adoraria, mas não consegui. Talvez você tenha mais sorte do que eu ao negociar com a Suzunaan. Sendo hoje um dia festivo, não tenho certeza se vão abrir.

Ela não parece fazer questão de ouvi-lo, chama pela mascote e se despede com a bolsa cheia de produtos. É por uma… Causa maior. Aperta as mãos para conter a agonia. A portas fechadas, volta para a cadeira e se balança, enquanto lê a mesma página quinze vezes por falta de atenção. Larga o livro para cuidar da primeira refeição em várias horas. Processar tantas verduras sozinho o estressa no início, mas a inquietude de antes termina por se esvair. Uma olhada pela janela da cozinha abate sua tentativa de bom humor. É pedir muito um inverno autolimpante? Até considera buscar as ferramentas e deixa o depósito bem como está. Não, agora não. Quero mais chá.

Enquanto o forno faz seu lento trabalho, Rinnosuke fica na sala esquematizando um projeto antigo de aparelho auditivo. Já no terceiro protótipo, ainda precisava de ajustes para o conforto. Como será que o mundo exterior está quanto a isso? Bate o lápis na lateral do rosto, entretido com as possibilidades. E pensar que Beethoven só precisava de um simples aparato desses. A eternidade de suas obras poderia ser muito maior. Pergunta-se a última vez que ouviu música. O fiel gramofone deu seus últimos suspiros há anos e os momentos sonoros de festivais aconteciam quando já desistira da multidão e se entocara em casa. Mas não hoje. Se eu me esconder, não terei respostas. Ouve coisas caindo, um som abafado vindo do quarto, e deixa os rascunhos como estão.

—O que houve?

—Não quebrei nada, relaxa. - Reimu abre a porta. - Bom dia de novo.

Ela enxuga uma mancha de chá do chão com um pano velho, que estava sob uma pilha de caixas. Não deixa de ser uma pilha, mas agora está fora de ordem. Descarta a ideia de reclamar quando a própria culpada começa a reorganizar tudo.

—Enfim. Eu fiz… Café da manhã. Almoço. Jantar. Não sei em que refeição estamos.

—Que bom, estou morrendo de fome.

Rinnosuke sente o estômago doer, mas seu apetite só desperta quando vê a comida. Assar vegetais é um dos clássicos do inverno. Até pensa em comentar do protótipo, mas não vê humor para um diálogo. Reimu o surpreende:

—Já vou sair. Você vem?

—Preciso ajustar meus óculos novos.

—Isso é um sim…?

—Tal como pareceu.

A resposta passa batido; ela estreita os olhos, boceja e espreguiça. Haja sono. O caminho até a vila não revela muito, boa parte dele em silêncio. Em frente a um estabelecimento discreto, uma senhora tira neve da porta. Como eu deveria ter feito em casa.

—É você mesmo, Morichika? - A idosa repousa as ferramentas para recebê-los. - Quase não creio em meus olhos. Se bem que meu trabalho é esse. Não está muito mais quente aqui dentro, mas ficamos fora do vento, ao menos.

Apesar dos joelhos não responderem mais tão bem, a dona da ótica o trata com a mesma presteza de muitos anos atrás. A mãe dela me atendia, e eu me lembro de quando ela nasceu. De relance, vê que Reimu se diverte com uma armação vermelha em frente a um espelho embaçado. Um quinto do meu tempo de vida, mais ou menos? As letras à distância, enfim, ficam nítidas.

—Parece que seu grau subiu. Já estava em tempo de aparecer por aqui. - A oculista guarda seus instrumentos e ajeita a cadeira para a posição padrão.

—É mais por uma eventualidade que uma dificuldade de enxergar. Não tenho mais uso para a armação antiga, fique com ela se houver proveito.

—Vou ver o que faço.

Era melhor ter ficado por lá. A brisa o incomoda e andar pela neve é enfadonho. Apesar disso, há gente trabalhando por todos os lados. As ruas mais estreitas não têm muito, mas nas mais largas, comerciantes já montam seus chamarizes para a noite. A rota é outra em relação à vinda, para o templo no fim da estrada. Ao olhar para trás, ganhou distância e Reimu ficou. Retorna alguns passos. Os vidros da loja estão cobertos de neve no beiral e foscos no resto. Quando se resolve sobre falar algo, um vulto ágil corre dos fundos do estabelecimento, pula em Reimu e ambas rolam na neve. Marisa arruma o gorro bege antes de ficar de pé.

—Então, prontos para hoje à noite?

—Ainda tenho coisas para ajeitar. - Reimu espana neve da roupa. - Minha parte não é a mais interessante do festival.

O resto é só para tirar as pessoas de casa. Decide não se intrometer.

—Preciso ajudar meu pai, mas vejo com ele se posso te acompanhar.

—Melhor não. Sério. Quero que seja surpresa.

Rinnosuke desvia o olhar para a fachada da loja, ainda com os ouvidos atentos. Há uma mancha circular na janela; alguém os observava há pouco. Lá dentro, a figura do senhor Kirisame carrega duas caixas enormes como se pesassem quase nada.

—Eu não poderia, tipo… Ajudar com algum encantamento, ou sei lá? - Marisa barganha, hesitante. - Não é muita coisa para arrumar em tão pouco tempo?

—Não, não, relaxa, já planejei tudo. Nem é tão difícil assim.

Você deveria mentir melhor. Ou falar logo que não a quer lá. Um floco de neve invade seu olho quando vira a cabeça para o céu, e sente falta dos óculos novos, ainda em confecção. Eles estariam embaçados de qualquer maneira, de que adianta?

—Ei, vamos andando. - Reimu abandona a conversa banal para chamá-lo.

—Claro. Mande cumprimentos ao seu pai, Marisa. Vejo vocês mais tarde.

Deixam-na para trás com um sentimento amargo. Isso não estava nos planos. Decide ficar quieto até chegarem ao templo. Há muita gente no caminho preparando o terreno e instalando as tendas, alguns concentrados demais para notá-los de passagem; outros, curiosos o bastante, param o trabalho. Mais adiante, alguém corre atrás deles e os dois se viram.

—Desculpa por não ter visto vocês. É difícil pregar tábuas num frio desses.

A jovem esbaforida se apresenta quando volta a respirar com propriedade. Quase não se vê seu rosto por trás de tanta roupa, mas liga o nome à pessoa sem muita dificuldade. Sobrinha do líder da vila e dona de um bom restaurante.

—Meu tio pediu que eu te ajudasse, sacerdotisa. Tem um bocado de neve no seu telhado.

—Tem neve em tudo, na verdade. - Reimu constata com desinteresse.

—Com certeza. Não estamos livres dela em lugar nenhum, não é mesmo?

Os infinitos ensaios de puxar assunto com Reimu não surtem muito efeito. Pelo menos, não sou eu o inoportuno. O terceiro elemento do grupo pergunta e comenta uma miríade de coisas ao mesmo tempo em que vai e volta das telhas como se não fosse esforço algum, até que seja possível vê-las de novo.

—Vou deixar vocês e voltar para o meu serviço. Ainda tenho um monte de instalações e nem comecei a comida ainda. Foi um prazer ajudar, até mais tarde.

—Agradeça ao líder por mim.

As portas do templo, tão míseras para conter o frio, trancam os dois num mundo silencioso à parte, e Rinnosuke não ousa atrapalhar. Toma a liberdade de se aquecer melhor enquanto Reimu corre de um lado para outro atrás do que quer que seja. Tira os olhos da janela por um instante e nota um casaco marrom embolado no chão. Uma saia longa se junta a ele, arremessada pelo lado do biombo opaco. Volta a encarar o lado de fora. Que nível de intimidade é esse? Tenta memorizar um truque de destreza com a caneta da bolsa e não tenta mais depois de tanto derrubá-la. Reimu sai da parte privativa com a versão mais quente de seu traje cerimonial, desenrolando os fios do cajado. Ela resmunga, absorvida na atividade, e balança o utensílio no ar quando consegue desembaraçar tudo.

—Sinto falta de quando isto se arrumava sozinho.

—Quanto tempo faz isso?

—Alguns meses. Foi um ano bem conturbado. - Ela coloca a parte de cima da roupa nos eixos. - Pode me dar o pote de laranjas?

Empurra a vasilha pela mesa com as costas da mão. Estão boas. Provavelmente, eu as financiei. Reimu pratica uma série de movimentos; alguns mais enérgicos, outros cuidadosos, que levam tempo para serem recordados na ordem e execução certa. A coreografia é quase a mesma das outras edições e épocas, com um toque pessoal aqui ou ali. Rinnosuke rascunha os passos da performance na última página do caderno, num modelo humano sem nome e rosto, depois retira a folha para manter os propósitos de um grimório.

—Você está bem quieto hoje.

Alguém quer me ouvir. Um milagre aconteceu.

—Não achei que você estivesse com humor para conversar.

Ela faz cara de deboche, coloca o cajado no chão depois de considerar arremessá-lo e dá a volta na mesa para se acomodar mais perto. Deixa a cabeça cair e se apoiar no ombro dele, com um suspiro de cansaço. Sem perguntas, contenha-se. Custa a controlar a perna nervosa. Tudo bem, só uma não faz mal.

—Você está bem?

—Cansada, só. - Duvido. — Não tenho folga nem em casa.

—E eu deveria ser mais responsável. Pulei vários dias de trabalho. Os males de ser autônomo. - Faz um gesto conformado.

—Pode me dizer se eu atrapalhar.

Não te reconheço.

—Não disse isso. É verdade que não tenho mantido a rotina, mas não costumo aceitar calado o que me desagrada.

—É, eu sei. Todo mundo sabe.

Rinnosuke espreme os olhos. Que tipo de sarcasmo é esse?

—Não vejo como isso pode ser um defeito.

—Isso não é nada. Pelo menos… - Ela hesita e se revira um pouco. - Pelo menos você não arrasta todo mundo para os seus problemas.

Olha de lado, meio para baixo, e dá um suspiro tolerante. O pescoço dói; muda o braço de lugar, passando-o ao redor dos ombros de Reimu. Ela não me expulsou. Ótimo. Deixa como está.

—Sua função é se envolver em problemas. Resolvê-los, aliás. O que há de errado nisso?

—Não parece certo.

—Não significa que seja errado. - Coça o rosto antes de concluir. - Além do mais, não é suficiente o quanto já apontou defeitos em si mesma?

Ela relaxa o corpo sob seu braço e se acomoda. Não deve ser fácil sentir isso. Ou passar por isso. Ou ser… Você.

—O que você faz para não ter problemas consigo mesmo?

—Comigo mesmo? - Rinnosuke encara o teto enquanto pensa na resposta. - Perdoe a redundância, mas convivo comigo mesmo a todo momento. Acho que aconteceu naturalmente.

—Quem sabe um dia, não? - Reimu parece adormecida ao seu lado. - Aconteça aquela coisa de ver a si mesmo como um amigo.

Você tem andado demais com o pessoal das outras doutrinas.

—Também podemos usar o ponto de vista do tempo. Talvez você só tenha pressa.

Mas não acho que seja só relativo a você. O breve encontro com Marisa ainda ressoa. Será que ela suspeita de algo? Deixa o corpo escorrer pela parede e pelo chão, ainda meio sentado; a coluna agradece. Mesmo se suspeitasse, quem ela seria para julgar? Reimu aconchega a cabeça. Que cena rara vê-la tão calma. Toda a situação repassa várias vezes, desde a noite da carta anônima até ele estar o mais perto de alguém em um bom tempo. Sem todo esse pesar por um rompimento, eu mesmo não sairia prejudicado. E sem as ambiguidades sobre o que posso ou não fazer. Algo, no entanto, interrompe a linha de pensamento em uma dúvida que o suga como um redemoinho. No que gostar de estar com uma pessoa atrapalha apreciar a companhia de outra? Por que isso ofende todos os lados envolvidos? Alguma relação exclui a existência do laço anterior? A última pergunta o prende um pouco mais. Creio que não. Reimu e Marisa sentem falta uma da outra, é evidente, e nenhuma das duas está feliz com isso. Alice parece não se afetar, mas com o que ela se importa é um mistério.

—É melhor você ir. - Ela se desencosta e espreguiça.

—Estou sendo expulso?

—Não exatamente. O templo serve meio de depósito, meio de camarim nesse dia. E não acho esse seu casaco muito quente para mais tarde.

Além do mais, posso ser visto e mal interpretado por quem não deveria. Nem há roupas cerimoniais rasgadas para remendar. A cabeça de Reimu volta para seu ombro.

—Quer que eu fique? - Tenta encará-la sem sucesso.

—Quero que o tempo pare e as coisas sejam fáceis.

Rinnosuke arqueia a sobrancelha, sem compreender.

—Não faltam tantas horas assim para nos vermos de novo.

Reimu ri como se ele tivesse dito um absurdo e finalmente o olha nos olhos.

—Às vezes esqueço que você não é bom com essas coisas. - Que coisas? Segura a mão dela para ficar de pé. - Por que não fala menos e faz mais?

Da última vez, isso foi obra sua, e você está confusa até agora. Não vou piorar. O caminho mais seguro é aproveitar a distância para um abraço, que ela retribui com atraso.

—Acertei? - Questiona ao se soltarem.

—Sim, eu acho. - Reimu ainda se recupera do quase tropeço.

Tantas regras não ditas. Deixa escapar uma careta de indignação antes de partir.

 

~

 

A procissão de desligar as luzes e fechar bem as janelas se repete. Cantarola baixo uma música clássica cujo nome lhe foge, sem volume o suficiente para não se envergonhar com a própria falta de afinação. Uma onda repentina de vento e energia que atravessa a casa fechada quase o derruba ao chão. Espia pela fresta da porta; o tempo fechado se tornou um pôr do sol de várias matizes. Vinte e quatro horas de telhado limpo. O último item vai para dentro da bolsa, quase deixado para trás.

Quando a luz do sol desaparece, as lanternas começam a se destacar. Suas linhas luminosas marcam as ruas em atividade, enquanto os estabelecimentos das vias apagadas montaram barracas temporárias, mais perto do calor da fogueira central e dos pedestres curiosos. Quanta gente que não se costuma ver fora de casa. E quanta gente desordeira em paz. A conclusão arranca um sorriso dele. O Navio Palanquim deve ter pousado; vários de seus residentes compõem a mesma longa fila. Nem Byakuren, nem sua escolta habitual o notam passando.

—Apareceu a margarida! - O cutucão nas costas o faz virar para ver Marisa com uma garrafa de bebida. - É um recorde te ver fora de casa tantas vezes num dia.

—É falta de educação não oferecer as coisas, sabia?

Ela faz que não ouve, mas enche o copo miúdo que Rinnosuke tira da bolsa. Brindam e se afastam do corredor. Nem parece mais tão triste. Memória curta ou o que? Um tronco posto ao chão tem uma ponta livre onde podem se acomodar.

—Não faria mal se estivesse quente.

—Pago uma rodada daqui a pouco. Sei onde tem. Veio só olhar? Comer? Comprar algo?

—Um pouco de tudo, acho. - Esconde as mãos, frias mesmo com luvas, na roupa. - Quase me arrependo de não ter vindo como comerciante, mas faltou tempo. Este ano parece especialmente movimentado.

—É, eu sei. - Marisa veste o capuz. - Bom encontrar você aqui. É sem graça beber sem companhia.

—Não conseguiu trazer ninguém?

—Eu tentei, mas está todo mundo ocupado.

Várias das suas conhecidas estão por aqui, e acho que você está furando serviço com seu pai. Um início de melodia alcança os ouvidos dos dois; as três irmãs fantasma manipulam seus instrumentos para a trilha sonora do dia. Ninguém se apresenta no palco ainda, visível daquele ponto, e a banda se esconde atrás das cortinas para não interferir nas futuras cenas.

—São barulhentas, essas aí, mas depois de uma lição, até que mandam bem.

—Seu método de fazer amizades não é muito usual, Marisa.

—Eu não tive que te bater, tive? - Ela vira a garrafa sem sucesso. - Vem comigo.

A fila para as bebidas quentes é enorme; têm tempo de falar sobre toda e qualquer coisa. Exceto o que eu queria saber. Opta por uma tentativa segura.

—Seu pagamento chegou conforme o previsto?

—Ah, sim, sim. Aquele suco é muito bom. Você tem outro?

—Não daquele sabor. As pessoas do mundo exterior custam a perder esse tipo de coisa. Agora que comentou da qualidade, entendo o motivo de não termos muitos por aqui.

—Alice só tomou um gole porque tinha álcool. Ela não é muito fã. Bom para mim, não?

Chegamos até rápido no assunto.

—Ela preferiu não vir?

—Meio que isso. Não me deu detalhes, só não veio.

Não parece que se desentenderam. Aproveita o calor do copo nas mãos antes de escondê-las nos bolsos de novo. Isso significa que ainda estão juntas, e que esse embaraço não acabou. Marisa puxa a manga de seu agasalho para chamar atenção.

—Podemos ir andando? Tenho umas coisas para fazer.

—Melhor que ficarmos expostos a essa brisa. Para que lado?

Ela o guia pelos corredores de vendas até uma barraca com pouco movimento. O senhor Kirisame parece ainda mais alto e corpulento com tantas camadas de roupa. Antes distraído com algo nas mãos, o cumprimenta com menos contato do que na visita à loja, mas com a mesma alegria.

—Ora, Kourin. Vindo de você, é como se tivesse acabado de passar lá em casa. - Ele deixa o objeto na bancada. - O que está achando deste ano?

—Penso que só um evento tão atrativo para tirar tantas pessoas de casa num clima desses.

—Não parece, mas faço parte do lado que está vendendo bem. A fila dispersou pouco antes de vocês chegarem. Aliás, Marisa, o que é isso? Uma menina pouco maior que você veio entregar.

—Pelo menos eu não bato a cabeça nas entradas de casa. - Ela espicha os olhos para o embrulho retangular achatado que ele ergueu. - Ah, pode abrir. Eu e Kourin encomendamos para você.

Rinnosuke leva meio segundo para processar e ficar calado enquanto eles pulam qualquer formalidade. Não encomendei presente algum. O pacote se abre e revela um caderno preto elegante; os olhos de seu novo dono brilham, e ele agradece levantando a filha desconcertada ao ar. Que nobre da parte dela. Nem me passou pela cabeça presenteá-lo.

—Tratem de ficar atentos, vocês dois. A apresentação de marionetes deve começar logo.

—Marionetes? - Olha de esgueira para Marisa. - Mas você tinha dito que-

—Eu queria que fosse surpresa, ora. Vamos, antes que a gente perca.

Os corredores se esvaziam aos poucos e a maioria se concentra em frente ao palco, espichando-se para enxergar. Um leve murmúrio de conversa paira enquanto há ainda só música. Marisa fica na ponta dos pés, mas não passa dos ombros da pessoa à sua frente.

—Quer que eu te levante? Você parece ter dificuldades.

—Até você, Kourin? Prefiro ir para a primeira fila, tem espaço lá.

Numa posição melhor, os dois discutem o aparelho auditivo que Rinnosuke planeja. Marisa assume não entender muito a respeito e mais ouve do que opina. No entanto, algo a mantém aérea. O que será? Indagar seria desconfortável, então retoma a conversa sobre o conforto do dispositivo. Na mesma hora, a música pausa e percebe ter falado alto demais. Ambos congelam em seus lugares, olhando para os lados como quem pede desculpas. Luzes surgem em degradê no palco e projetam a sombra de uma charmosa boneca, os fios que a seguram quase invisíveis. Ela dá um rodopio de balé antes de sair andando de costas. Alice Margatroid dá um passo à frente, trajada de preto da cabeça aos pés, não sem charme pela ausência de cor. Outras várias bonecas de seu arsenal encenam um duelo de esgrima, uma fuga de amantes e as tarefas diárias de uma atribulada dona de casa. Cada esquete tem como trilha sonora uma canção própria, algumas conhecidas e outras não. O rosto da titereira segue impassível por toda a performance, adornado por um brilho nos olhos difícil de enxergar.

—Onde ela ficou esse tempo todo sem ser vista? - Agacha-se ao lado de Marisa e comenta com o tom mais baixo que consegue. Ainda assim, a plateia ao redor os reprova.

—Ela se escondeu com a outra estrela da noite.

Como assim? Um instante de reflexão causa um peso no estômago. Isso pode ter dado tão errado. Tenta pensar rápido em algo para dizer, mas a salva de palmas da multidão o cala antes que tenha chance. Melhor. Não é tarefa minha contar o que quer que seja. Alice faz uma reverência de artista e se retira com classe. O silêncio seguinte é tenso; uma linha de violino surge, no início de um tema lento e obscuro. Pelo outro lado do palco, Reimu faz sua entrada discreta, como quem nada tem a apresentar.

O traje está todo alinhado, cada adorno do cajado nem sonha em se embaraçar com o próximo e não há um fio de cabelo fora de prumo. Ao que ela abre os olhos, começa uma dança que varia com o compasso da música, contida ou enérgica quando tem que ser. Rinnosuke resiste a olhar seus rascunhos no caderno; a diferença entre o ensaio e a apresentação de fato é gritante de qualquer forma. Numa breve vistoria, o ar ganha uma aura dourada que não vem da fogueira. A bênção de fim de ano. Já a viu tantas vezes que é incapaz de contá-las. É curioso como cada portador deste dever é tão diferente do anterior. Que família. Ao que a coreografia termina e a população de Gensokyo aceita o encantamento como um presente, despede-se de Marisa com um cumprimento fugaz. Ela até tenta segui-lo para perguntar o porquê, mas se faz perder de vista. Se eu fosse ela, aonde iria? O festival em si interessaria se fosse um dia melhor. Ir muito longe da vila seria perigoso. Até em casa os problemas a perseguem… Esquina depois de esquina a passo rápido, sem olhar muito em volta, há uma sombra na trilha para a Kourindou que sua lanterna de mão não revela bem. A silhueta sai da estrada assim que ouve seus passos e tenta se esconder atrás de um pinheiro. Aproxima-se com cautela.

—Vim em paz. - Rinnosuke põe as mãos ao alto.

Ela tira o capuz vermelho e abaixa a guarda; tem uma expressão sentida.

—Como sabia que eu viria para cá?

Foi o que restou. A respiração de ambos se condensa, mesmo que não ousem falar.

—Intuição.

Estende a mão e Reimu opta por segurar seu braço. Só o vento forte soa, assobia nos galhos das árvores, anunciando a nevasca contida. Às portas da loja, ela ignora não ter uma chave e sobe primeiro os degraus até a entrada. Vai avisá-la, mas antes que possa, ela se vira com um bom humor inesperado no rosto. O que foi agora? Desliga a lanterna para não ofuscar ambos.

—A vida é estranha, não é? - Não a interrompe. - Onde eu estava com a cabeça? Esperar sinceridade da pessoa mais mentirosa que eu conheço.

Espero que não esteja falando de mim. Aguarda o resto.

—Alice me contou tudo hoje à tarde. Para o meu bem, ela disse. Porque não achava certo eu não saber. Eu já sabia e fingi que não.

—Sobre elas, você diz?

—Sim, o que mais? - Qualquer traço de ironia some de sua voz. - Não sei quando vou fazer o mesmo. Digo, contar sobre nós. Mas vou fazer.

—E o que acha que vai acontecer?

—Não dá para saber. Não é algo que eu possa controlar.

Estar ao meu redor não é uma coisa que você fez por vingança. Assim como Marisa estar com Alice não é algo que elas tenham feito por mal. Você tem consciência disso e… Perde-se na linha de raciocínio. Sem perceber, Reimu a completa:

—Só quero ficar em paz. - Como a cereja do bolo de uma confusão enorme.

—Se me permite a pergunta… - Ela faz cara de quem não o suporta e o deixa continuar mesmo assim. - O que eu faço?

Reimu ri e aperta sua mão um pouco mais, sem machucá-la.

—Você pode parar de agir como se eu te desse medo. Se ousar perguntar mais qualquer coisa, eu mesma vou bater sua cabeça.

—Que maneira eficiente de me levar a não ter medo.

Um instante quieto se passa. Ela o encara com uma ponta de decepção.

—Deixa para lá.

Sente um puxão repentino. Ah… Isso. A surpresa não é mais tanta, nem as proibições parecem ser. Atreve-se a tocar o rosto de Reimu com as pontas dos dedos. Certo, isso meio que passa dos limites para o ar livre. Pensa duas vezes e se sente tolo. Estamos a sós.

—A próxima vez é com você.

Faz que sim com a cabeça. Gostaria de poder parar o tempo. Não fico tão inquieto durante. É menos incerto. Um assobio agudo chama sua atenção; gira o corpo e ainda tem tempo de ver o disparo ascendente, que logo explode num buquê alaranjado. Mais fogos se seguem em todos os tons do arco-íris. Os dois se sentam na escadaria curta para assistir ao espetáculo. Olhando para qualquer lugar, exceto para ele, Reimu solta:

—Posso pedir uma coisa?

—Se ela estiver ao meu alcance.

—Só até amanhecer, você consegue… - Demora a prosseguir. - Ignorar que o resto do mundo existe?

—São perfeitas as condições para isso.

Ela se dá por satisfeita. O vento irritante retorna; Rinnosuke pensa no aquecedor, apenas a alguns metros, mas tão distante.

—Já vamos lá para dentro.

Você lê mentes agora? Assente e volta a observar o céu. 


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Notas finais do capítulo

Chegamos ao fim. O que acharam? Gostaram? Não? Escrever essa história foi uma terapia e um conforto para mim, até hoje eu a leio e sinto que ela me acolhe. Espero que tenham gostado tanto de ler quanto eu gostei de escrevê-la, mesmo que, para isso, eu tenha interferido em um dos meus ships favoritos em prol de outro que eu também amo de coração. "Quem fica com quem no final" continua em aberto, afinal, há diálogos que precisam acontecer e, no tempo da história, eles não aconteceram ainda. Quem sabe um dia eu volte para matar essa curiosidade? ;)

No mais, a indagação que me levou a escrever mais de trinta e duas mil palavras foi: como é que a Reimu se portaria em um relacionamento com um homem? Vide que, na lore, não exatamente temos muitos homens disponíveis e eu não queria criar um OC, investi nesse relacionamento com o homem que temos em mãos. Visto que ele tem uma personalidade um tanto... Peculiar, e deixei uma grande charada no comportamento dele para vocês desvendarem, é como eu imagino que seria o ponto de partida entre eles.

Até as minhas próximas aventuras em Gensokyo.



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