Sempre Em Minha Vida escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 23
Capítulo 23 — Descoberta


Notas iniciais do capítulo

Primeiro, quero agradecer a Vi e a Gracii Cullen pela recomendação. Meninas, eu adorei. Muito obrigada! Espero que gostem do capítulo.
A todos, desejo uma boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786179/chapter/23

Apoiada a ilha, na cozinha, Rosalie observou Emmett ajudando Joshua com a lição de casa, pouco depois do jantar. O pequeno calendário embaixo da palma da mão tinha alguns números rabiscados. Ouviu quando Emmett alertou Joshua para um erro na lição. E também elogiá-lo ao refazer. Sorriu de nervoso no momento que ele olhou em sua direção.

Com o pensamento longe, Rosalie largou calendário e caneta ali mesmo em cima da ilha, e se retirou em silêncio.

Emmett a olhou de canto de olho. Ficou com impressão de ela estar agindo de modo estranho. Olhou na ilha, onde minutos atrás rabiscava algo. Levantou para conferir. Encontrou o calendário e não entendeu nada.

— Papai, eu já terminei aqui.

Voltou para perto do menino.

— Que bom! Deixe papai ver como ficou? — Pegou o caderno, em seguida, olhou o caminho por onde Rosalie saiu.

— Papai — Joshua chamou sua atenção —, não iria conferir minha lição? Por que ficou olhando para lá?

— Desculpe filho — ele finalmente deu atenção ao caderno de Joshua, revisando o que ele fez.

Rosalie entrou no banheiro, fechou a porta atrás de suas costas, ansiosa, as mãos tremendo. Levantou a blusa e, do cós do short branco, retirou a pequena caixa que pegou na bolsa. De repente, se viu voltando no tempo. A imagem da adolescente que ela foi um dia, estava diante de seus olhos, tremendo, com lágrimas no rosto, segurando um teste positivo de gravidez, no banheiro da casa onde morava, na época, com os pais. A sensação de que, embora tudo estivesse igual, pareceu diferente após a confirmação daquele positivo.

Uma batida na porta lhe causou um sobressalto, forçando a lembrança se dissolver.

— Rose — a voz de Emmett soou do outro lado da porta.

A pequena caixa fez malabarismo em suas mãos.

— Rose. — Outra batida à porta. — Você está bem? — havia uma nota de preocupação em seu tom de voz.

Rosalie apressou-se até a pia, no armário abaixo dela, onde escondeu a pequena caixa.

— Rose.

— Sim — respondeu, afobada. — Sim, eu estou bem.

Emmett parou com o punho erguido como fosse bater novamente à porta. Ouviu mexer na fechadura, então, voltou abaixar a mão.

— Oi — falou, se esforçando em parecer natural, quando sabia estar sendo avaliada.

— Está tudo bem mesmo?

— Sim.

Emmett segurou sua mão. Automaticamente, o abraçou, inibindo o choro que se formava, lembrando-se de coisas que ficaram no passado.

— Ei — murmurou Emmett —, o que foi?

— Só me abrace — ela pediu.

Emmett a envolveu em seus braços, tentando entender o que aconteceu. Segurou seu rosto entre as mãos, olhando-a nos olhos. Enxergou neles a Rosalie adolescente, a mulher que se tornou, mas, também notou medo, e, acima de tudo, um amor imenso.

— Eu te amo — declarou-lhe. Uniu seus lábios em um beijo saudoso, que logo tomou proporções maiores, chegando lhes roubar o ar.

Perceberam passos em torno deles. Ao se afastarem, deparam com Joshua fazendo uma dança silenciosa em comemoração.

Rosalie não conteve a gargalhada.

Joshua parou em pose de estátua, sabendo que foi descoberto.

Emmett o agarrou com o braço.

— Está feliz né, seu sem-vergonha.

Joshua gargalhou, recebendo cócegas de ambos.

— Parem vocês dois com isso — pediu entre risos e gargalhadas.

Emmett o deixou.

Joshua afastou os cabelos da testa com o antebraço. O sorriso sapeca desenhando seu rosto.

— Vocês me deram muito trabalho — acusou.

Os pais acharam graça de sua afirmação.

Emmett passou o braço na cintura de Rosalie, com o outro, trouxe Joshua para perto deles.

[…]

Essa noite, o colchão para Emmett não foi colocado ao lado da cama de Joshua. Por esse motivo, quando a mãe o cobriu e o pai pegou o livro para dar continuidade à leitura, os questionou:

— Onde está o colchão para o meu pai dormir?

— Seu pai não vai mais precisar dele.

Joshua observou o pai no outro lado, olhos de expectativa, aguardando mais detalhes.

— Vai dormir no quarto da mamãe?

Emmett meneou a cabeça, abriu um sorriso e confirmou:

— Sim. E será assim sempre que o papai estiver de volta. O que acontecerá com maior frequência.

Joshua sentou e o abraçou. Segurou na mão da mãe, ouvindo o pai retomar a leitura de onde haviam parado na última vez.

— Ele dormiu — disse Rosalie ao sentir Joshua soltar sua mão.

Emmett fechou o livro, com marca página, para a próxima leitura. Levantou para deixar o livro na mesinha de estudos de Joshua. Aguardou Rosalie encobrir o menino e beijar sua testa.

Ela lhe ofereceu a mão. Pôs a sua sobre a dela, enquanto sustentava seu olhar. Rosalie apagou as luzes ao saírem. E ele foi cuidadoso ao fechar a porta. Permitiu-se ser levado pela mão ao quarto dela. Fazia muito tempo esperava por esse momento.

Rosalie soltou sua mão e se dirigiu ao closet. Emmett passou a chave na fechadura, sem deixar de olhar para ela; viu pegar um pijama. Aproximou-se por detrás de suas costas. Tocou seu braço com uma das mãos, usando a outra para afastar os cabelos louros dos ombros e pescoço. Rosalie inclinou o pescoço para o lado em um convite a suas carícias.

Emmett beijou todo seu pescoço, orelha e maxilar. Retirou o pijama de suas mãos, lançando-o na cadeira diante a penteadeira. Virou-a de frente para si, murmurando:

— Não vai precisar essa noite. — Passou os braços por trás de suas coxas a erguendo do chão, levando até a cama. Observou seu rosto, os cabelos espalhados no lençol esticado, brilhando sob a luz como fios de ouro. Parecia uma pintura de tão bonita. Acariciou toda a lateral de seu corpo sem pressa.

— Não pode me deixar como na última vez… — as palavras deixaram os lábios de Rosalie num tom que beirava medo e angustia.

Emmett manteve o peso do corpo nos cotovelos ao se inclinar sobre ela. Odiou ter feito se sentir como sentiu, quando foi embora sem se despedir. Aproximou os lábios de seu ouvido, sussurrando:

— Não vai se repetir. — Beijou o lóbulo de sua orelha. — Não faz ideia do quanto quero estar com você.

Rosalie o silenciou com um beijo urgente.

[…]

Despertou pela manhã com uma carícia que ia de seus braços aos ombros nus. A carícia chegou ao maxilar. Abriu olhos preguiçosamente, deparando com o abdômen nu de Emmett. Sentiu sua respiração. Levantou o rosto, encontrando o mesmo olhar de amor, satisfação e realização que viu nos olhos dele tanto tempo atrás. Foi isso que mais sentiu falta na última vez que fizeram amor.

— Bom dia! — desejou ele, com voz de sono. Acariciou seu rosto, mantenho-a junto ao corpo pela força do outro braço.

Rosalie piscou os olhos devagar, apreciando a entonação naquele bom-dia.

— Como se sente? — Beijou no alto de sua cabeça.

— Bem, muito bem — respondeu de volta.

Emmett sorriu, passando o dedo em seu rosto.

— Em que está pensando? — tentou Rosalie.

— Estou pensando se ainda temos tempo. — Pôs as mãos embaixo do lençol, apertando sua cintura.

Rosalie se esticou buscando no relógio, na mesinha ao lado da cabeceira da cama, o horário.

— Não até alguém bater nesta porta.

— Ainda não é hora de Josh acordar.

— Se o conheço bem, não vai precisar que um de nós o acorde hoje.

— Tem certeza?

— Pode apostar. — Se mexeu para sair da cama, de debaixo do lençol.

— Onde pensa que vai? — Ele a reivindicou prendendo-a em seus braços.

— Vamos precisar do pijama — lembrou.

Batidas apressadas à porta mostraram ter razão. A maçaneta sendo forçada, não deixou dúvidas.

— Mamãe, mamãe.

Rosalie lançou um olhar a Emmett que, em um segundo, estava de pijama.

— Você tinha razão — afirmou, se curvando para beijá-la no pescoço. — Pegou o pijama na cadeira da penteadeira e levou até ela.

— Mamãe, mamãe. Me deixe entrar.

Emmett sorriu.

— Ele é insistente demais — admitiu.

— Coitadinho do meu bebê — disse num tom de diversão. — Abre logo a porta para ele entrar.

Emmett se aproximou da porta. Girou a chave na fechadura, abrindo devagar.

Joshua sorriu.

— Bom dia! — disse.

Emmett levou a mão ao seu ombro.

— Bom dia, filho. — O guiou até estar no quarto. — Ganha quem chegar à cama primeiro — lançou, de surpresa, a Joshua a aposta.

Os dois saíram correndo, pulando na cama ao se aproximarem. Joshua passou por cima dele e foi abraçar a mãe, no desespero de conquistar a vitória.

— Eu ganhei — gritou agarrado ao pescoço da mãe, que sorria da situação.

— Não ganhou — Emmett recusou. — Cheguei primeiro.

— Ganhei, sim. Estou com a mamãe. — Se esticou, beijando no rosto dela. — Viu só, eu ganhei — provocou.

Emmett o pegou pela cintura, forçando se afastar de Rosalie.

— Assim não vale papai.

— Josh, está machucando a mamãe — Rosalie avisou.

— É o papai que está me puxando.

— Solte o pescoço de sua mãe, Josh.

Joshua obedeceu.

— Eu ganhei — deixou claro.

— Está tudo bem? — Emmett pediu a Rosalie, acariciando seu pescoço.

— Desculpe mamãe.

— Está tudo bem, vida.

— Foi papai que fez isso com você.

— Não coloque a culpa em mim. Era você quem estava puxando ela.

— Porque você me obrigou.

— Tá bom. Já chega! Parem os dois. Parecem duas crianças.

— Quem vai me levar na escola hoje? — Joshua mudou de assunto.

— Sua mãe e eu — afirmou Emmett.

— É mesmo? — pediu Rosalie.

Emmett segurou sua mão, beijando-lhe os dedos.

— Vamos juntos levar Josh na escola, depois deixo você no trabalho.

— O que vai fazer depois disso?

— Vou voltar para cá. Trabalharei algumas horas em home office. O almoço, porém, tem de ser em sua companhia. Não abro mão. Passo para te pegar, basta me enviar uma mensagem dizendo quando devo ir.

— Combinado. Agora, preciso que os dois me deixem ir ao banheiro. — Levantou e se encaminhou até a porta. Ainda os ouviu, do corredor, discutindo sobre quem ganhou a corrida.

— Eu ganhei — insistiu Emmett.

— Papai, você não sabe perder.

— Você que não aceita perder. Não revire os olhos quando estou falando.

Rosalie deu risada. Ouviu a risada de Joshua. Entrou no banheiro e fechou a porta.

Ia sentar na privada, quando olhou o armário, lembrando o que deixou ali ontem a noite.

Passou a chave na fechadura da porta.

Aproximou-se descansando as mãos no mármore da pia. Abaixou-se. No impulso da decisão, encontrou o que procurava. Retirou o objeto da caixa, respirou fundo. O coração passou bater mais rápido.

Seguiu o passo a passo. Aguardou o tempo necessário, sempre olhando de canto de olho o teste em cima da pia. Tentou duas vezes pegá-lo, e, por medo do resultado, desistiu. Na terceira vez, pegou sem recuar. Levou a mão à altura dos olhos, os dedos fechados em volta dele. Respirou fundo tornando abrir a mão. As duas riscas estavam lá, tão vividas quanto ao primeiro teste de farmácia que fez anos atrás.

Suas mãos tremeram tanto que teve dificuldade em segurar o teste, confirmando aquilo que já sabia. O cansaço, o sono excessivo, os seios doloridos, o enjoo. De todos os sinais, o mais frequente foi o cansaço. 

Só se deu conta que chorava ao ver as lágrimas caírem em cima do teste de gravidez. Por um instante, os sentimentos se tornaram os mesmos vividos no passado: medo, preocupação e insegurança.

A consciência de que já não era mais uma menina, que o pai do bebê estava em outro cômodo da casa, na companhia do primeiro filho deles, a calmou. Aos poucos, a tremedeira foi diminuindo. Pôs uma das mãos na barriga, sorriu em uma mistura de felicidade e desespero. Tanto tempo longe um do outro e na primeira relação, em um encontro explosivo, engravidou dele uma segunda vez.

Recordou as palavras que Emmett lhe disse ontem à noite.

“Não quebre meu coração de novo, por favor.”

Certamente não faria isso. Não cometeria o mesmo erro. Não causaria ao segundo bebê os mesmos danos causados a Joshua, a Emmett e a si mesma.

Precisava apenas de um momento a sós com ele. Guardou o teste no fundo do armário para o momento da revelação.

Ainda ficou um tempo no banheiro recuperando o mínimo de normalidade. Arrumou os cabelos e também escovou os dentes.

Parou um segundo, antes de abrir a porta. Levou ambas as mãos à barriga em uma mistura de amor, surpresa e incredulidade. E uma certeza, queria muito aquele segundo bebê com Emmett.

Saiu do banheiro, por fim. Seguiu para o quarto onde Emmett e Joshua esperavam juntos por ela. Ao se aproximar da porta, os ouviu conversando. Respirou fundo antes de entrar. Tentou ao máximo sua expressão corporal não dar sinais de que estava acontecendo algo, quando queria mesmo era gritar.

Joshua veio ao seu encontro, abraçou sua cintura, e beijou sua barriga. Lembrou que ele vinha fazendo muito isso nas últimas semanas, era como sentisse.

Emmett a olhou com ar de quem avaliava. Levantou e foi ao seu encontro. Colocou o braço em volta de sua cintura, falando ao pé do ouvido:

— Aconteceu alguma coisa… seu olhar… tem algo diferente de quando saiu daqui, minutos atrás, dizendo que iria ao banheiro.

Rosalie segurou rosto dele entre as mãos, beijando os lábios devagar.

— Vai me contar, não vai? — pediu, sem deixar de olhá-la.

Ela se limitou em balançar a cabeça. Dirigindo-se a Joshua para não entregar de cara a notícia.

— Precisa se trocar, vida. Vai se atrasar para a escola.

— Meu pai vai ajudar — agarrou a mão do pai arrastando-o com ele para fora do quarto.

Emmett olhou em seu rosto, lamentando não descobrir agora o que tinha a dizer.

Outra vez sozinha, Rosalie caminhou de um lado a outro no quarto, vivendo novamente a mistura de alegria, ansiedade e medo.

[…]

Emmett fechou a porta do carro assim que Joshua entrou nele. Levou a mão ao pulso de Rosalie no momento que ela tentou abrir a porta no lado do carona.

— Estou curioso demais — admitiu. Um sorriso desenhou os lábios dela. — Não pode faltar ao trabalho hoje?

— Nos encontraremos para o almoço, não vai levar tanto tempo assim.

— Diz isso porque não é você quem tem de esperar. — Beijou o canto de seus lábios, em seguida, abriu a porta do carro para que pudesse entrar.

Rosalie olhou Joshua no assento de elevação, no banco traseiro.

— Colocou o cinto, Josh?

— Sim, papai.

Olhou Rosalie no banco do carona. Ela ergueu a mão, fazendo um carinho em seu rosto.

— Te amo — moveu os lábios ao sussurrar.

Joshua os olhava com satisfação.

[…]

— Tchau, vida — Rosalie se despediu de Joshua na porta da escola. — Tenha um bom dia.

Joshua ajeitou a alça da mochila. Olhou para os lados, procurando pelos amigos.

— Tchau, mamãe. Tchau, papai.

— Tchau filho, até mais tarde.

Joshua se apressou pelo portão encontrando-se com Summer e Dilan.

Emmett estava dirigindo novamente.

— O que aconteceria se eu te raptasse? — soltou, sem Rosalie esperar.

— Como assim, me raptar? Não está falando sério, está?

— Quero ficar com você o dia inteiro. Quero que me conte seja lá o que for que esteja guardando com você.

Ela alcançou seu ombro com a mão.

— Amor, eu vou contar.

— Então faça isso.

— Está parecendo Josh, quando quer saber das coisas.

Emmett achou graça, mas logo seu rosto ficou sério de novo.

— O que foi? — ela pediu.

— De repente, fiquei com medo.

— Não precisa ficar com medo.

Ele pareceu angustiado quando olhou em rosto novamente.

— Não vai me deixar outra vez…

— É claro que não — viu como seu rosto pareceu relaxar a resposta que recebeu, embora permanecesse curioso.

[…]

Despediram-se com um beijo demorado, dentro do carro, no estacionamento da pousada. Emmett não queria a deixar ir.

Rosalie saltou do carro e bateu a porta. Deu alguns passos, como não ouviu o motor ligar, parou olhando para trás. Voltou se aproximar do carro.

— Amor, você pode ir agora.

Emmett colocou a mão pela janela aberta, alcançando sua mão, entrelaçando seus dedos.

— Estou angustiado — admitiu.

— Não — Rosalie murmurou. — Por quê?

Ele olhou para frente e não mais pela janela como estava fazendo antes. Recolheu a mão dizendo:

— Melhor eu ir.

— Emmett, olhe para mim. — Quando o fez, ainda tinha o olhar preocupado. — Não tem motivos para se sentir assim. Não está prestes acontecer nada de ruim. — Se dobrou na janela, beijando o rosto dele. — Se quer ficar por aqui, tudo bem. — Viu um quase sorriso no rosto se desenhar.

— Teríamos um tempo a sós?

— Talvez — sorriu de volta.

— Em um dos quartos ou em um lugar qualquer?

— Qualquer uma das opções.

Ele passou o braço pela janela, envolvendo sua cintura.

— Assim fica difícil.

— É mesmo? — ela o provocou.

— Melhor eu deixar você trabalhar em paz — emendou, embora não fosse o que desejava fazer. — Avise, quando puder vir te buscar.

[…]

Quando Emmett sugeriu onde almoçarem, horas mais tarde, Rosalie pediu que pegassem comida para levar para casa.

Indicou estrategicamente, próximo a uma loja de departamentos, o restaurante.

Assim que ele entrou para pegar a comida, correu na direção contraria desaparecendo no interior da loja. Comprou um par de sapatinhos brancos de tricô e voltou rapidamente ao carro.

Emmett retornou bem quando ela ficou ao lado do carro. Aproximou-se carregando as embalagens de comida. Notou, em suas mãos, a sacola. Desconfiado, questionou:

— Aonde foi?

— Lembrei que Josh está precisando de meias novas.

Ele estudou seu rosto. Rosalie sentiu as bochechas queimando de vergonha por estar mentindo descaradamente.

— Podia ter me dito, teríamos ido juntos. Ele está precisando de mais alguma coisa? Podemos voltar e pegar.

— Não — se apressou em dizer. — Ele não está precisando de mais nada. É só isso mesmo.

— São meias, não é? — tentou pegar ela na mentira.

— Sim, sim.

— Então, podemos ir?

— Sim.

Emmett passou pela frente do carro e foi se acomodar atrás do volante.

Rosalie respirou aliviada.

Ele abriu a porta por dentro para ela.

— Amor, você não vai entrar?

Rosalie sorriu de nervoso. Entrou no carro toda sem jeito. Emmett lhe entregou as embalagens de comida para segurar.

— Posso ver? — pediu se referindo à sacola das supostas meias.

Os dedos dela se fecharam ao redor do plástico.

— Em casa.

Emmett ainda parecia estudar seu rosto.

— Então tá — resmungou, voltando se concentrar na direção do veículo. De tempos em tempos, olhava seu rosto, outras vezes, a sacola descansando no colo.

[…]

— Por que não vai arrumando a mesa? — sugeriu, deixando as embalagens com a comida em cima da ilha, na cozinha. — Preciso ir ao banheiro. — Não aguardou uma resposta, virou as costas e se retirou levando a sacola da loja.

— Você está bem?

— Estou, sim. Não se preocupe.

— Então, eu ponho a mesa?

— Sim, por favor.

Voltou pela sala às pressas. No corredor, a caminho do quarto, olhou para trás, garantindo que estava sozinha antes de correr até o banheiro.

Suas mãos estavam tremendo muito ao pegar o teste de gravidez no fundo do armário onde havia escondido. Pôs a sacola em cima do mármore da pia e retirou a pequena caixa branca que trazia nela. Respirou fundo ao abrir a tampa.

— Ai, meu Deus — murmurou. O coração num ritmo acelerado. Apertou os lábios em uma linha fina ao senti-los tremer. Acomodou o teste de gravidez junto aos sapatinhos de tricô.

Ouviu Emmett na cozinha.

— Rose. Rose — na segunda vez pareceu mais perto. Então, uma terceira. — Amor, está tudo bem aí?

— Sim, estou bem — respondeu se esforçando em não deixar transparecer nervosismo. Saiu do banheiro direto para o quarto. Deixou a caixa em cima da cama.

Emmett alcançou o limiar da porta bem quando deixou o objeto ali.

— Está tudo bem? — insistiu, olhando a caixa em cima da cama. — O que tem aí dentro? — pediu.

Rosalie chegou um passo para o lado.

— É alguma coisa para você.

— Para mim? — duvidou. — Não estava aí quando saí para encontrar você.

— Talvez não tenha prestado atenção.

— Está brincando comigo?

Rosalie sorriu de nervoso.

— Olha o que tem dentro — sugeriu, então. — Não é uma bomba — brincou.

Ouviu-o rindo. Ele chegou perto da cama, se curvou ao alcançar a caixa com a mão. Olhou em seu rosto.

— Posso abrir mesmo?

— Pode, sim, seu bobo.

Ele ainda parecia desconfiado.

— Abre! — Rosalie se desesperou.

Emmett segurou a tampa da caixa.

— Estou abrindo, calma.

Rosalie não se deu conta que estava mordendo a unha do indicador esquerdo.

Emmett levantou a tampa sem mais rodeios. De início, ficou sem reação. A consciência do que estava diante seus olhos foi, aos poucos, se fazendo entender. De uma hora para outra estava, assim como ela, tremendo. O coração pulsando forte no peito.

Olhou Rosalie. — É o que estou pensando?

Ela balançou a cabeça, os olhos cheios de lágrimas.

— É sério, amor?

Outra vez ela balançou a cabeça, confirmando.

Emmett chegou mais perto, emocionado. A abraçou. Rosalie percebeu seu choro.

Ele recuou o suficiente apenas para olhar na caixa. Segurou o teste positivo na mão, olhando então em seus olhos, com lágrimas no rosto.

— Obrigado, meu Deus. — Abraçou Rosalie novamente. — Obrigado, amor. — Beijou seus lábios, sentindo o leve sabor salgado das lágrimas. — Pegou o sapatinho na mão. — Que coisa mais fofa — declarou, e voltou beijá-la. — Você está feliz, amor? Como se sente?

Rosalie segurou seu rosto entre as mãos, e o beijou brevemente.

— Sim, estou muito feliz. Você gostou? — quis saber dele.

— Se eu gostei? Meu Deus, Rose. Estou transbordando de felicidade. — Apertou os braços em volta de sua cintura a erguendo do chão. Esmagando os lábios aos seus mais uma vez. — Quando descobriu? — A colocou de volta no chão, porém, os braços permaneceram ao redor da cintura.

— Já desconfiava. A confirmação mesmo eu tive hoje pela manhã, quando fiz o teste.

— Por isso estava agindo de maneira estranha.

— E você todo bolado. Sabe-se Deus em que estava pensando.

— O cansaço que vem sentindo ultimamente. O mal-estar…

Rosalie meneou a cabeça.

— Obrigado, meu Deus. — A expressão em seu rosto a seguir, mostrou uma mistura de choque e surpresa. — Foi naquela manhã…

Um sutil movimentar de cabeça lhe disse que sim.

— Obrigado Deus. Obrigado, amor. — A beijou novamente. — Vou poder acompanhar tudo desde o começo.

— Não planejei — desabafou Rosalie. — Mas, de alguma forma, eu te devia isso.

— Mais alguém sabe? Seus pais? Josh?

— Apenas você e eu. Não quis que mais ninguém soubesse antes de você.

Emmett vibrou com os punhos erguidos. Deus dois passo, e virou de volta.

— Obrigado, amor. Precisamos contar ao Josh antes de qualquer pessoa.

— Sim — Rosalie concordou.

— E se ele sentir ciúmes? — Emmett mostrou preocupação.

— Vamos cuidar para isso não acontecer.

— Sim, vamos sim. — Colocou as mãos em sua barriga. — Oi, meu bebê. — Buscou seu olhar. — Será que ele me ouve falar?

Rosalie sorriu, com lágrimas nos olhos, emocionada.

— Seja você menino ou menina, papai já te ama muito. — Se curvou, beijando a barriga ainda esguia. E ao se erguer, beijou Rosalie mais uma vez. — Quando vamos contar a Josh? — pediu, acariciando sua barriga.

— Quanto antes. Só preciso comprar algo que diga sobre ele ser o irmão mais velho.

— Primeiro passo para se sentir incluso nas mudanças que estão por vir.

— Exatamente — Rosalie sorriu. — Vamos mostrar a ele que ser o grande irmão mais velho é legal. Que seu papel também é importante.

— Somente então contaremos a ambas as famílias.

— Sim — concordou Rosalie mais uma vez.

Emmett voltou comemorar e agradecer o que estava vivendo.

— Obrigado Deus. Abrigado, amor. Obrigado.

[…]

Rosalie não voltou à pousada pelo resto do dia. Almoçaram juntos, e a tarde acabou sendo unicamente deles. Estava feliz por revelar a gravidez a Emmett antes que a qualquer pessoa. E ver o quanto estava feliz por viver esse sonho desde o começo. Entre um sorriso e outro, um afago na barriga e um beijo, ele voltou agradecer, juntos no sofá da sala, onde se entregaram um ao outro mais uma vez.

[…]

Joshua sorriu ao avistá-los no carro. Acenou e correu para eles. Pôs o rosto na janela do carona. Rosalie esmagou sua bochecha com um beijo. Joshua se afastou para abrir a porta traseira. Jogou a mochila e a lancheira no banco. Ficou de pé entre os bancos da frente, beijou o rosto da mãe e também do pai.

— Está feliz, vida?

Joshua balançou a cabeça, com energia.

— Que lindo, filho.

— Era meu sonho ter você e o papai assim.

Emmett fez carinho na cabeça de Joshua.

— Papai também está feliz — disse.

Rosalie afagou a bochecha do menino.

— Mamãe te ama tanto.

— Também te amo, mamãe.

— O que acha de irmos tomar um sorvete? — Emmett sugeriu.

— Obá, sorvete! — comemorou Joshua. — Eu amo sorvete.

— Vá para o seu assento e coloque o cinto de segurança.

Joshua obedeceu sem questionar. Os pais o incentivaram contar como foi seu dia, ele disparou falar até chegarem à sorveteria.

Rosalie segurou na mão de Joshua no estacionamento. Os olhos dele brilharam ao ver o pai se aproximar e segurar na mão livre dela.

Assim que passaram pela porta do estabelecimento, os deixou para trás para escolher seus sabores de sorvete favorito.

— Posso pedir?

Emmett respondeu primeiro:

— Pode pegar o que quiser.

Sorrindo, Joshua parou diante a vitrine de sorvetes, mostrando a atendente suas escolhas.

Não havia muitas pessoas lá dentro. Um movimento beirando a parede de vidro chamou atenção de Rosalie. Royce estava lá, do outro lado, olhando-os. Reencontrá-lo causou uma sensação ruim. Num gesto impensado, chegou mais perto de Emmett e segurou sua mão. Ele percebeu haver algo errado no exato momento. A conversa com Joshua foi interrompida e o olhar direcionado a parede de vidro. Não havia nada lá.

— O que viu? — perguntou a Rosalie.

— Royce.

Emmett se moveu como fosse sair, Rosalie apertou a mão na sua impedindo de ir adiante.

— Ele já foi — disse.

Ainda assim, Emmett foi até a porta olhar no lado de fora. Joshua o seguiu com o sorvete na mão.

— O que foi papai?

Emmett levou a mão à cabeça loura do filho.

— Não foi nada. Continue saboreando seu sorvete.

Retornaram ao interior da sorveteria bem quando Rosalie recebeu outros sabores de sorvetes, dos quais um entregou na mão de Emmett. Ele lhe beijou o canto do olho ao agradecer.

Joshua fez careta e resmungou sobre o cérebro estar congelando com o sorvete. Rosalie e Emmett riram de seu exagero.

[…]

Joshua parou olhando a mãe atrás da ilha, na cozinha, cortando limões.

— O que vai fazer? Uma limonada?

— Não.

— O que então?

— Chupar.

Joshua fez uma careta.

— Por quê?

— Porque mamãe está com vontade.

— Não pode, é muito azedo.

Um sorriso desenhou os lábios de Rosalie.

— Não quer um pouquinho.

— Saí fora. Não quero isso, não.

— Não quer mesmo?

— Quero limonada.

— Mamãe faz limonada para você, então. — Ameaçou ele o com limão cortado ao meio.

Joshua se afastou fazendo careta.

Emmett o chamou na sala, onde estavam brincando com lego. Não pensou duas vezes, deixou a mãe na cozinha com o recente gosto por limões.

— Está uma delícia — disse aos risos.

— Não está, não — Joshua recusou. Ao ficar ao lado do pai no tapete da sala, comentou. — Isso é muito estranho, mamãe está chupando limão. Quem faz isso? Quem chupa limão? E nem mesmo faz careta.

Emmett respondeu com um sorriso nos nós lábios:

— É mesmo?

— Sim.

— Deixe a mamãe e o limão dela. Me ajude terminar de montar isso aqui.

Rosalie chegou à sala.

— Emmett, eu vou fazer limonada para Josh, vai querer também?

— Não, obrigado.

— Não quero mais, mamãe.

— Tem certeza?

— Sim. Vem brincar com a gente.

— O que estão montando?

— Um parque de dinossauros. Não é legal?

— Muito legal — sorriu. E foi sentar no tapete ao lado deles.

Emmett lhe entregou algumas peças de lego. Após um longo tempo brincando, Joshua deitou no sofá e adormeceu. Emmett o pegou no colo e levou para cama. Mas, quando se preparavam para dormir, ouviram bater à porta do quarto.

— Josh? — pediu Rosalie, surpresa.

— Mamãe.

Emmett levantou, usando o short do pijama, para abrir a porta. Encontrou Joshua com o dinossauro de pelúcia no braço, o rosto amarrotado e os cabelos uma bagunça. Passou a mão na testa dele afastando os fios louros dos olhos.

— O que aconteceu filho?

— Tive um pesadelo — confessou. — Posso dormir aqui com vocês?

— Pergunte a mamãe.

— Mamãe, eu posso dormir com vocês?

Rosalie afastou o cobertor e bateu a palma da mão no colchão.

Joshua entrou no quarto, subiu na cama e foi de joelhos para junto dela. Rosalie o abraçou e beijou seu rosto sonolento.

Emmett fechou a porta e voltou para a cama.

— Com o que sonhou? Conte a mamãe — Rosalie pediu.

— Com Royce.

— É?

— Sim.

Rosalie beijou sua testa.

— Foi muito ruim?

Joshua balançou a cabeça, concordando.

— Não foi real. Não tem com que se preocupar. Royce não vai mais voltar aqui.

— Ele não é corajoso o bastante para enfrentar meu pai.

Emmett deu risada ao concordar:

— Claro que, não. Royce é um covarde.

— Estou muito feliz que somos os três agora — contou Joshua.

Emmett chegou mais perto, beijou Rosalie, depois a testa do filho, pensando sobre em breve serem quatro.

[…]

Após deixar Joshua na escola, Emmett acompanhou Rosalie a consulta médica que tinha marcado antes do teste de farmácia. Depois almoçaram juntos e foram à loja comprar a camiseta que usariam para contar da gravidez a Joshua. Nessa mesma ida à loja, Emmett comprou a primeira roupinha; um body com babador bandana nas cores branco e cinza.

— Não precisa vir me buscar — disse, no estacionamento da pousada. — Preciso levar meu carro hoje.

— Pego Josh na escola, então.

— Tudo bem.

Ele repousou a mão em seu rosto.

— Volte para casa com cuidado.

— Quanto a isso, não se preocupe.

— Como está se sentindo?

— Bem.

— Nada de enjoo?

— Nesse momento, me sinto bem.

Emmett levou as mãos dela aos lábios, beijando seus dedos.

— Qualquer coisa que precisar é só me ligar, que venho correndo.

— Vem dirigindo mesmo — brincou.

Ele sorriu. Aproximou os lábios dos seus. Rosalie passou os braços em volta de seu pescoço.

— Se cuide — ele pediu. Pôs a mão na barriga dela. — Amo vocês.

[…]

Emmett buscou Joshua na escola no final do horário letivo e o levou direto para casa. Ajudou com a lição, depois foi com ele a rua, para Joshua poder andar de bicicleta.

— Vá devagar — avisou.

— Olha papai, o que sei fazer.

— Legal filho, mas, por favor, vá devagar.

Joshua sorriu.

Emmett avistou o carro de Rosalie se aproximando pela rua.

— Josh, sua mãe chegou.

Ela estacionou na entrada de veículos, em seguida, saiu do carro. Emmett foi encontrá-la. Levou as mãos à cintura dela, enquanto trocavam um beijo.

— Está tudo bem por aqui?

— Ele não tem noção de perigo — respondeu Emmett, olhando Joshua com a bicicleta.

— Por isso somos os pais, ele, a criança. Há quanto tempo está testando seus nervos?

— Uns vinte minutos.

Ouviram o baque da bicicleta ao atingir o chão. Viraram a cabeça quase que imediatamente para ver o que aconteceu.

— Machucou? — Rosalie pediu. — Josh.

— Não, mamãe. Estou bem. — Ele levantou, puxou a bicicleta pelos punhos para erguer do chão.

— Venha, vamos entrar.

— Já fiz a lição de casa, papai me ajudou.

— Tudo bem. — Ela olhou Emmett ao seu lado. — Obrigada.

Joshua foi até eles, empurrando a bicicleta.

— Por que não foi com o papai me buscar?

— Precisava trazer meu carro.

— Ah é, papai falou.

— Você esqueceu, vida? — afagou os cabelos dele. — Precisa de um banho.

Joshua soltou a bicicleta no chão.

— Não é assim que faz. Pegue a bicicleta e leve de volta para a garagem, por favor.

O menino obedeceu sem questionar.

— Obrigada, rapazinho.

Joshua olhou para trás com um sorriso no rosto.

Rosalie comentou com Emmett em voz baixa.

— Não deixou ver o que compramos, não é?

— Ele não sabe de nada ainda. Combinamos que contaríamos juntos. — Levou a mão à barriga dela, fazendo carinho.

— Mamãe. — Joshua gritou da entrada da garagem. Olhou os dois com desconfiança.

Emmett afastou a mão, com um sorriso se formando nos lábios.

— Oi, vida?

Emmett segurou sua mão, os dois foram juntos ao encontro de Joshua na porta da garagem, então, para o interior da casa.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pessoal, teremos mais dois capítulos, apenas.
Não se esqueça de deixar seu comentário.
Até breve!