Sempre Em Minha Vida escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 19
Capítulo 19 — O Verdadeiro Monstro




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Chegando em casa, Rosalie não esperou ser desligado o motor do carro completamente para abrir a porta e saltar. Atitude que deixou Emmett ainda mais perturbado quanto ao o motivo de ela ter chorado e sumido de vista, momentos atrás, na casa dos pais dela.

Viu quando abriu a porta traseira para Joshua também sair do carro.

— Meus presentes — lembrou o menino. Então, voltou a entrar no veículo e recolher as sacolas. Rosalie fechou a porta quando terminou. Deixado para trás, Emmett.

— Cuidado, vida — Emmett ouviu falar para Joshua, depois de o menino tropeçar, carregado de sacolas com os presentes que recebeu dos avós maternos e do tio.

— Quero montar minha nova pista de corrida.

Rosalie retirou as chaves da casa da bolsa e abriu a porta. Ainda enquanto Joshua passava para o lado de dentro, avisou:

— Vá escovar os dentes e vestir o pijama.

— Mas… — Joshua olhou para trás.

— Não, Josh.

— Mamãe.

— Faça como eu falei. Amanhã você monta a pista de corrida, está bem?

— Por que amanhã e não hoje?

— Está tarde.

— É meu aniversário. Além disso, amanhã é sábado. Não terei de acordar cedo para ir à escola.

— Não vai à escola, mas tem treino de futebol, esqueceu? E eu estou cansada.

O tempo inteiro, ela evitou o olhar de Emmett.

— Não estou cansado, nem com sono.

— Daqui a pouco vai estar. Foi um dia agitado.

— Você pode ir descansar — interveio Emmett. — Eu fico cuidando de Josh. Assegurarei que escove os dentes e vista o pijama antes de dormir.

Rosalie olhou para o menino, sem tentar encontrar um motivo que a fizesse dizer não.

— Está bem. Você pode ficar mais um tempo acordado com seu pai.

Joshua vibrou, fazendo uma dancinha.

— Viva!

— A leitura hoje é por conta de seu pai.

Joshua balançou a cabeça com entusiasmo.

Rosalie se curvou, apertando os lábios em sua bochecha.

— Te amo, vida. E, de novo, feliz aniversário!

— Obrigado, mamãe.

Beijou mais uma vez o rosto dele e, ao ficar com a postura ereta, deparou-se com Emmett espiando.

— Não deixe ficar brincando até tão tarde — pediu. Os deixou na sala com Emmett ainda respondendo a seu pedido.

— Não vou.

Ele olhava o caminho por onde Rosalie se retirou, quando Joshua chamou sua atenção.

— Vamos, papai! Vamos montar minha pista de corrida.

— Vamos! Vamos, sim — respondeu, sem nem mesmo olhar para ele. Como não se moveu, Joshua puxou seu braço.

— Papai? Vamos.

— Vamos — repetiu Emmett, sem se mover.

— Papai, pare de repetir “vamos” e comece se mexer de verdade. Você ficou esquisito igual à mamãe depois de se trancar no quarto de hóspedes na casa da vovó.

— Você acha que sua mãe ficou esquisita?

— Acho que mamãe se chateou com algo, mas não quer que a gente saiba.

Emmett descansou a mão em seus ombros pequenos.

— Então, vamos fazer como sua mãe pediu inicialmente. Vá escovar os dentes e vestir o pijama. Deixe a pista de corrida para montar amanhã.

Joshua perdeu um pouco do entusiasmo, demonstrando com os ombros curvados.

— Tá bom, vai.

— Obrigado, filho. Você é um bom garoto.

Joshua foi andando até o quarto com o pai segurando seus ombros. Deixou as sacolas no carpete para pegar o pijama na gaveta da cômoda ao lado do closet.

— Hoje foi legal — comentou enquanto se trocava. — Ter você aqui foi o melhor presente de todos. — Chegou perto do pai e o abraçou. — Te amo, papai. Obrigado por estar aqui.

Emmett o abraçou de volta, ao final bagunçou seus cabelos na palma na mão.

— Também te amo, filho.

O menino correu para fora do quarto.

— Vou arrumar nossa cama e você vá escovar os dentes — Emmett lembrou.

— Tá bom, papai.

[…]

Joshua conversou com os avós paternos e a tia por chamada de vídeo após voltar do banheiro. Logo que a conversa se encerrou, Emmett pegou o livro e leu um pouco com Joshua.

Deixou o livro na mesinha de estudos depois que Joshua adormeceu, onde encontrou o porta-retratos com a fotografia do garoto ao lado da mãe compartilhando um sorriso.

Pensando em Rosalie, saiu para o corredor. Aproximou-se da porta do quarto onde ela, possivelmente, dormia. Tentou ouvir algum som, mas estava no mais puro silêncio. Resistiu ao impulso de abrir a porta por duas vezes, falhando miseravelmente em uma terceira.

Entrou no quarto. O perfume dela, concentrado entre quatro paredes, chegou ao seu olfato com uma lufada de ar. Avaliou sua figura adormecida, os cabelos espalhados no travesseiro, o respirar suave e tranquilo. Chegou ainda mais perto, viu lágrimas secas marcando seu rosto tão bonito.

Afastou alguns fios de cabelos louros do rosto com um gesto sutil de sua mão. Acariciou a pele macia, desejando saber o motivo que a fez chorar. Por um momento, teve medo de ser ele o causador de suas lágrimas. Quis deitar ao seu lado, cuidar de seu sono. No entanto, sentiu que ainda não estava pronto para o perdão, embora começasse desejar.

A caminho da porta, parou para olhá-la uma vez mais. Permitiu serem sussurradas palavras que estavam em seu coração.

— Não deveria ter ido embora daquela maneira… sem me despedir. Agi feito um babaca quando tudo o que queria estar ao seu lado. Eu sinto muito. — Virou-se novamente. Mais alguns passos, alcançou a maçaneta da porta.

— Papai.

Saiu para o corredor ao ouvir Joshua chamando. Foi cuidadoso ao fechar a porta para não atrair suspeitas.

— Não estava no colchão — Joshua acusou. Então se deu conta que o pai saía do quarto da mãe. — O que está fazendo? — Correu para perto dele. Quando tentou abrir a porta, Emmett impediu.

— Sua mãe está dormindo. Era o que você também deveria estar fazendo.

— Por que você estava lá dentro?

— Não estava lá dentro.

— E como sabe que minha mãe está dormindo?

— Por que…

Joshua balançou a cabeça como duvidasse.

— Porque eu dei uma olhada. Foi isso.

— Não pode espiar as pessoas. Precisa bater na porta se quer falar com quem está lá dentro. É isso que a mamãe sempre diz.

— Ela está certa — confirmou Emmett.

— O que significa que você, papai, fez uma coisa errada.

— A porta estava aberta.

— Papai — Joshua estreitou os olhos. — Papai.

— O quê?

— É a segunda coisa errada que faz hoje.

— Como assim? Do que está falando?

— Acabou de contar uma mentira.

Emmett sentiu o rosto queimando de vergonha. Desmascarado por uma criança, seu próprio filho.

— Eu vi que a porta estava fechada quando fui ao meu quarto deixar as sacolas e me trocar.

— Está bem, você me pegou. Eu só queria ver se sua mãe precisava de algo. Mas ela já estava dormindo.

— Você pode fazer isso amanhã.

— Fazer o quê?

— Mostrar que se preocupa. A mamãe iria gostar. E eu também.

Emmett passou o braço em volta dos ombros de Joshua trazendo-o para perto.

— Vamos dormir, está bem.

Começaram a se afastar da porta do quarto de Rosalie.

— Vamos montar a pista?

— Boa tentativa. — Ele sacudiu os ombros de Joshua de forma brincalhona, ouvindo sua risadinha.

[…]

Rosalie foi quem levantou primeiro na manhã do dia seguinte. A caminho do banheiro, parou para espiar no quarto de Joshua. Abriu a porta cuidadosamente, Joshua dividia o colchão ao lado da cama com o pai. A cena trouxe um quentinho ao coração. Conseguiu dar ao menino o que ele mais queria; a presença do pai.

Emmett estava despertando, chegou a vê-la fechando a porta.

Minutos depois, ao sair do banheiro, deparou-se com Emmett no corredor, apoiado à parede mantendo as mãos nos bolsos. Expressão sonolenta. Ficou surpresa quando, com voz de sono, cumprimentou-a com um bom-dia agradável.

O coração acelerou as batidas. Lembranças de um tempo memorável, quase a fizeram fraquejar. Limitou-se olhá-lo sem dar muita importância indo contra tudo o que sentia, deixando-o sozinho no corredor.

Emmett ainda ficou olhando a porta do quarto dela, mesmo depois de fechada.

Do outro lado, Rosalie ficou com as costas apoiadas na porta. Controlou a vontade chorar que estava de volta. Virou de frente para a porta desejando abrir e espiar no corredor.

Emmett entrou no banheiro, bem quando, sem saber, Rosalie espiou no corredor.

Joshua saiu do quarto de pés descalços, esfregando os olhos com os dedos.

— Mamãe. Papai.

Passou pela sala a caminho da cozinha. Não encontrou ninguém em ambos os cômodos.

— Mamãe. Papai. — Voltou à sala. — Mamãe.

— Estou indo, vida.

— Onde está meu pai?

O próprio Emmett foi quem respondeu:

— No banheiro, filho.

Joshua chegou perto da janela, olhando o jardim através do vidro. O céu encoberto por nuvens cinza o desagradou. Teve medo que o domingo fosse chuvoso estragando assim sua festa de aniversário no jardim.

Uma caixa foi deixada em cima do capacho diante a porta. Apressou-se em descobrir do que se tratava.

— Josh — Rosalie chamou seu nome, saindo do quarto, pronta para começar o dia.

A porta foi inteiramente aberta e Joshua correu para abrir a caixa deixada ali.

— É um presente para mim — anunciou com os joelhos no chão.

— Você abriu… — Rosalie não teve tempo de completar o raciocínio, encontrou Joshua rasgando a parte de cima do embrulho. — Vida, você não…

— É para mim, tem meu nome escrito.

Emmett chegou à sala, parou a poucos passos de onde Rosalie estava. Ela o olhou brevemente.

— Comprou presente para ele pela internet?

Não houve tempo para ouvir a resposta. O grito de Joshua ecoou fazendo disparar as batidas de seu coração. Virou-se a tempo de vê-lo jogar no gramado o objeto encontrado na caixa.

Emmett passou por ela em um borrão, verificando se Joshua estava bem.

— É a cabeça do coelho monstro — afirmou, indicando o objeto que esteve em suas mãos segundos atrás. — É a mesma que eu vi na janela de meu quarto.

Rosalie se aproximou com cautela. Estremeceu com a confirmação. Certamente era a cabeça de uma fantasia macabra de coelho, mas não podia dizer se era a mesma porque não chegou a ver na noite que Joshua viu a primeira vez. Assustada com o pensamento sobre quem estaria perseguindo Joshua, ela recuou um passo.

Emmett chegou ao seu lado, pôs a mão em seu braço levando-a recuar. Abaixou-se recolhendo a cabeça assustadora da fantasia de coelho.

Joshua agarrou-se a cintura da mãe. O coração disparado.

Emmett avaliou o objeto horrível.

— Vou enfiar isto na cabeça de quem o enviou. Não serei nada gentil, pode apostar.

— Não sabemos quem fez isso — lamentou Rosalie.

— Ainda não. — Colocou o objeto de volta na caixa.

— Aposto que foi Royce — Joshua acusou.

Rosalie desejou dizer que isso não era possível, mas não pôde. Mesmo ela, começava suspeitar que fosse Royce.

Emmett chegou perto de Joshua, e segurou seu rosto entre as mãos.

— Ei, campeão, está tudo bem. Não vamos deixar que o que acabou de acontecer aqui destrua seu dia — sorriu em uma tentativa de animar o menino. — Você consegue, eu sei. — O garoto anuiu. Emmett bagunçou seus cabelos com a mão. — Vamos nos arrumar para ir ao treino de futebol.

Joshua tornou balançar a cabeça.

O olhar de Emmett encontrou o de Rosalie. Quis erguer a mão para acariciar seu rosto preocupado, porém, limitou-se apenas em dizer:

— Vai ficar tudo bem. Irei descobrir a pessoa por trás disso.

Da mesma forma que Joshua havia feito Rosalie também balançou a cabeça, aceitando.

Voltaram para dentro de casa, Rosalie e Joshua na frente.

— Vou deixar essa coisa na garagem por enquanto — avisou. E desapareceu na garagem pela porta interna.

— É melhor jogar no lixo — Joshua aconselhou.

— Tudo bem filho, não deixarei onde possa vê-la.

Joshua olhou no rosto da mãe, com a dúvida que o assombrava.

— E se aquela coisa for enfeitiçada e voltar a bater em minha janela a noite?

Rosalie acariciou seu rosto preocupado.

— Não vai acontecer. É só uma fantasia boba de halloween.

— É muito assustadora, não é?

Rosalie se curvou, beijando sua testa.

— A mamãe também não gostou dela. É normal sentir medo em determinadas ocasiões, e está tudo bem.

— Não gosto de sentir medo.

— Claro que não. — O abraçou apertado. — Aposto que o abraço da mamãe ajuda se sentir melhor.

De canto de olho, Joshua viu que o pai estava de volta.

— Se o papai abraçar também ajuda mais — insistiu.

O olhar de Rosalie foi direcionado a Emmett. Ao menor sinal que iria afrouxar o aperto em volta dele, Joshua agarrou-se ainda mais a ela.

— Não — reclamou. — Não precisa ir. O papai pode abraçar a nós dois.

Rosalie ficou sem jeito, vendo Emmett se aproximar. Os olhares se cruzaram permanecendo presos um ao outro por alguns instantes. De repente, Emmett pareceu tão sem jeito quanto ela estava.

Sentiu o coração pulsar sem controle ao toque do braço dele em sua cintura. Memórias recentes da última vez que estiveram juntos puseram os sentidos à flor da pele. Reconheceu no olhar dele que sentia o mesmo. Suas testas estiveram muito perto de se tocarem.

Joshua se mexeu entre o abraço dos dois, lembrando-os de que estava ali.

— Agora, não estou mais com medo — disse.

A mãe abaixou o rosto ao olhar para ele. Joshua tinha um sorriso que se refletiu no seu. Notou que Emmett também estava sorrindo.

Algo aconteceu, porque esteve a ponto de perder o equilíbrio. Precisou segurar em Joshua para não cair.

— Mamãe.

Emmett levou a mão ao seu braço no impulso de ampará-la.

— Mamãe.

Rosalie levou a mão à têmpora sob o olhar preocupado de ambos.

— Você está bem? — Emmett perguntou.

— Estou. Não foi nada.

— Parecia que iria cair — Joshua discordou.

— Foi só um leve mal-estar. Com certeza foi pelo ocorrido lá fora.

— Pode ser — Joshua aceitou.

Emmett se afastou, mas sem deixar de prestar atenção nela.

— Vá vestir o uniforme do futebol. Vai se atrasar para o treino. Seu pai vai te levar hoje.

— Você pode ir junto, se quiser — Emmett lembrou.

Joshua pulou, mostrando entusiasmo com a sugestão.

— Sim, vem com a gente mamãe — vendo que pensava em negar, emendou: — Por favor, igual ontem quando você e o papai me levarem na escola. — Juntou as mãos embaixo do queixo. — Por favor, por favor.

— Ontem foi diferente.

— Diferente de quê?

— Foi um pedido especial de aniversário.

— Ainda não tive minha festa de aniversário, meu pedido ainda está valendo.

— Disse que não queria festa esse ano — argumentou esperando a reação dele.

O rosto feliz se fechou em clara decepção.

— Estou brincando, vida. Sua festinha ainda está de pé.

— E quanto à hoje?

— A festa é amanhã.

— Não, mamãe. Sobre meu pedido.

— Tá bom, vai.

Os olhos de Joshua brilharam em expectativa.

— Você vem com a gente?

— Sim, eu vou.

— Viva! Obrigado, mamãe. — Saiu correndo pela casa até estar no quarto. — Vem, papai! Você também precisa se trocar. A mamãe já está pronta.

— Que bom que resolveu ir junto — Emmett aguardou para falar.

— Pensei que não me quisesse por perto, afinal é o que tem demonstrado — cutucou.

— Eu me importo…

— Eu sei. Você se importa com Josh, eu também. Só por isso aceitei. — Virou as costas para ele, indo em direção à cozinha.

— Rose.

Diferente de outras ocasiões, desde que descobriu a verdade sobre a existência de Joshua, não pareceu estar com raiva ao chamar seu nome. E ela quase acreditou que estava tudo bem.

Parou e olhou, aguardando o que tinha a dizer.

— O que aconteceu ontem à noite… na casa de seus pais?

A lembrança recente da conversa dele com Gwen voltou incomodá-la.

— Nada — respondeu. — Não aconteceu nada.

Joshua chamou pelo pai novamente.

— Papai, assim nós não iremos chegar tão cedo no treino.

— Estou indo, filho.

[…]

Não fazia muito tempo, estavam assistindo ao treino de futebol de Joshua da arquibancada. A expressão no rosto do garoto era a maior parte do tempo de alegria. De tempos em tempos, buscava, com o olhar, a presença dos pais. Mas ele não era o único, o treinador fazia o mesmo sempre que tinha oportunidade. O que Emmettt percebeu desde o primeiro momento, gerando ciúmes e mau humor.

— Patético — resmungou. — Ridículo. — E deu-se início a extensa lista.

Rosalie olhou em seu rosto todas às vezes que uma palavra ofensiva a respeito do treinador, Harrison, era proferida.

— Qual o seu problema? — questionou incomodada. — Por que está dizendo essas coisas?

Emmett se levantou bastante aborrecido, com mais uma olhada do treinador a Rosalie.

— Qual é a desse babaca?

— Seria ótimo se eu soubesse a que se refere?

— Esse cara não para de olhar para cá.

— E por que isso te incomoda?

Balançou a cabeça, sem paciência.

— É para você que está olhando. E você está comigo.

— Estou?

— Não basta o bobão do Royce… mais esse agora. Ele tinha de se concentrar no treino das crianças. É por isso que é o treinador.

— Emmett, você não me respondeu — se queixou Rosalie.

Tornou se sentar e, dessa vez, mais perto dela. Rosalie avaliou seu rosto aborrecido.

Alguém gritou o nome de Joshua em campo, mudando o foco de sua atenção. Levantou e começou descer a arquibancada praticamente vazia. Apenas poucos pais estavam esperando os filhos serem liberados. Alguns voltavam depois para levá-los embora.

— Onde está indo? — Emmett questionou.

— Eu…

O telefone dele começou tocar no bolso, interrompendo seu raciocínio. Ficou atenta quando ele alcançou o celular com a mão. Era a fotografia de uma mulher na tela iluminada.

Virou de costas continuando o trajeto interrompido por ele.

— Rose — chamou atrás de suas costas. Ainda ouvia o celular dele tocando.

Parou diante a demarcação do campo. O telefone silenciou. Ele falava com a tal Gwen mais uma vez.

Emmett viu o momento que abaixou a cabeça. Algo estava errado, imaginou. Rosalie não prestava mais atenção a Joshua em campo.

Em meio a tudo isso, Joshua notou o clima estranho entre eles. Viu o pai ao telefone, embora parecesse não se concentrar na conversa. A mãe agindo estranho por algo que aconteceu.

Se atrapalhou com a bola nós pés e foi ao chão, o ombro atingiu o gramado antes do restante do corpo. Não conseguiu conter o gemido e a expressão de dor. Ficou no gramado sentindo o ombro.

O apito do treinador soou alto o bastante. As crianças pararam imediatamente o que faziam.

Rosalie olhou o campo, procurando por Joshua entre as outras crianças. Viu o treinador abrir espaço entre o grupo que se formou, então, visualizou Joshua no chão. Os batimentos cardíacos aceleraram no mesmo instante. Não chegou a ver o que aconteceu e, de repente, Joshua estava no chão, rodeado por outras crianças. Apressou-se em ir até lá.

— Josh! — gritou seu nome.

Emmett olhou ao som de sua voz. Viu Joshua no chão, as outras crianças por perto. O treinador ao lado dele. Rosalie entrando no campo apressada.

— Gwen, eu preciso ir agora — encerrou a ligação e enfiou o telefone no bolso. Desceu a arquibancada quase correndo se dirigindo ao campo.

Rosalie se aproximou de Joshua, levou a mão ao seu ombro, aflita para ver seu rosto e descobrir se estava bem.

— Josh.

O menino gemeu. O treinador o ajudou sentar no gramado.

— Josh — Rosalie tornou chamar seu nome. — Você está bem? O que aconteceu, vida?

Joshua encostou a mão no ombro.

— Eu caí — a expressão de dor marcou seu rosto.

O treinador avaliou seu ombro.

— Ai — se queixou Joshua.

— O que está fazendo? — Rosalie se precipitou ao questionar o treinador. — Pare, está machucando ele. — Em um movimento automático, suas mãos agarram o pulso do treinador, que ficou olhando seu rosto tão de perto.

— O que está acontecendo aqui? — a voz de Emmett soou com uma nota de ciúmes e preocupação. — Josh, você está bem? — Afastou o treinador, em seguida, levantou Joshua do chão. Fez a mesma avaliação no ombro do menino que treinador, Harrison, havia feito.

O olhar de Joshua encontrou o olhar aflito da mãe.

— Onde dói, filho? — Emmett continuou.

— Estou bem, papai. Já parou de doer. — O olhar indo do pai para a mãe tentando descobrir se estavam sem se falar.

— Tem certeza que não dói mais?

— É melhor levar ele ao médico — Rosalie concluiu.

— Estou bem, mamãe — afirmou, movendo o braço para provar o que dizia.

— Você tem certeza?

— Sim, eu tenho.

Emmett se voltou para Rosalie.

— Se quiser levamos ele para ver como está o ombro.

Joshua deu um passo para trás.

— Não precisa nada disso. Eu estou bem.

— É melhor ter certeza, vida.

— Não, mamãe. Eu quero ficar e treinar.

— Tem certeza mesmo que não está doendo?

Joshua rolou os olhos ao responder:

— Tenho.

— Ele realmente está bem, do contrário, estaria chorando — Emmett emendou.

— Tudo bem — Rosalie concordou, dobrando-se para beijar o rosto de Joshua. Os amigos olhando, fez com que se sentisse envergonhado. O rosto já corado do esforço físico ficou ainda pior. — Te amo.

Joshua sorriu com timidez.

— Mamãe — chamou num tom de censura.

Dilan veio falar com ele. Ambos bateram as mãos e se moveram pelo campo.

— Ele está realmente bem — disse o treinador, Harrison, a Rosalie.

Emmett observou com aborrecimento.

O treinador se afastou, dando instruções as crianças.

— Que susto — comentou Rosalie, enquanto deixavam o campo.

— Quando terminar aqui ainda podemos levá-lo ao médico para ver como está o ombro, se achar necessário.

Rosalie balançou a cabeça, concordando. Sentou ainda no início da arquibancada dessa vez. Emmett sentou ao seu lado.

— Você está bem? — pediu.

Voltou balançar a cabeça de forma positiva.

Emmett pegou o telefone no bolso, deslizou o dedo na tela algumas vezes, e o guardou novamente.

Pelos minutos finais do treino de Joshua, ambos estiveram em silêncio. Emmett o tempo todo tentando adivinhar em que estava pensando. Enquanto Rosalie ignorava sua presença propositalmente. Vez por outra, o pegava olhando em sua direção. Parecia desesperado por questioná-la.

— Vamos tomar sorvete? — Joshua perguntou depois de beber um pouco de água na sua própria garrafinha. Os cabelos úmidos de suor, o uniforme do time com algumas manchas de sujeira do gramado.

Estavam a caminho do estacionamento. Depois que os pais se sentaram próximos na arquibancada, Joshua ficou menos ansioso e conseguiu se concentrar melhor no treino.

— Precisa de um banho, filho — lembrou Rosalie com a mão em seus cabelos. — Está suado.

— Um sorvete agora iria refrescar.

— O banho também. — Rosalie mandou de volta.

— Papai, me ajuda aqui.

Pararam ao lado do carro, aguardando Emmett destravar as portas.

— Estava pensando se poderíamos almoçar os três juntos, assim que Josh tomar banho.

— Maneiro — comemorou Joshua. O sorriso de covinhas no rosto.

Rosalie se acomodou no assento do carona, aproveitando para responder ao convite inesperado:

— Vou ter de recusar.

A resposta causou espanto não só em Emmett, mas em Joshua também. O menino se apressou em entrar no carro se colocando de pé entre os bancos da frente.

— Por que vai recusar mamãe?

Emmett fechou a porta por onde Joshua entrou no carro e foi se acomodar atrás do volante. Prestou atenção no rosto de Rosalie, aguardando o filho arrancar dela a reposta.

— Prefiro ir para casa.

— Não — Joshua insistiu. — Não pode preferir ficar em casa.

— Quem disse que não?

A resposta desanimou Joshua.

— Somos nós três — lembrou. Olhou o pai e de volta a mãe. — Papai, você e eu.

— Sente — orientou. — Vá para seu assento e coloque o cinto de segurança.

Joshua se esticou entre os bancos, envolvendo o pescoço da mãe em seus braços.

— Por favor, mamãe. — Beijou seu rosto e ficou olhando bem de pertinho. — Por favor, por favor.

— Você ainda pode ir com seu pai. — Tocou no braço dele, tornando a dizer: — Vá para seu assento e coloque o cinto.

— Eu te amo — Joshua declarou.

Emmett sorriu.

— Eu também te amo, mas não vai me fazer mudar de ideia dessa vez.

Ela era teimosa, pensou Emmett.

Joshua mostrou seu aborrecimento com um gemido.

— Pensei que fosse gostar de ir com meu pai e eu — lamentou, ocupando seu assento finalmente.

— Eu também — Emmett admitiu em voz baixa, com as mãos ao volante, aguardando Joshua colocar o cinto de segurança para sair com o carro do estacionamento.

Rosalie o olhou com a certeza de ter plantado a dúvida. Sobretudo, a curiosidade.

— Pronto? — Emmett olhou o menino, que agora mostrava desanimo.

— Sim, papai.

Manobrou o veículo para fora do estacionamento. Concentrado na direção resmungou de modo que Rosalie ouvisse.

— Depois vai dizer que não convidei.

Rosalie o olhou como acusasse de dizer inverdades. Desejou responder de volta, mas Joshua estava no carro, então se limitou em sussurrar.

— Cínico.

[…]

Rosalie terminou de arrumar os cabelos de Joshua dando um beijo em sua testa.

— Lindo. Meu pequeno príncipe.

— Não quer mesmo ir com a gente?

— Você adora sair com seu pai. — Afastou a mão do rosto dele. Na outra, segurava a escova de cabelos.

— Gosto mais quando estamos os três juntos.

— Estamos fazendo muitas coisas juntos, desde ontem, seu aniversário.

— Eu não entendo…

Ela o abraçou.

— Não tem problema, você é só uma criança.

— Josh — Emmett chamou parando diante a porta aberta do quarto. — Já está pronto filho?

Rosalie o deixou ir. Joshua passou ao lado do pai na porta aberta. Emmett ficou para trás bloqueando a passagem. Fora alguns segundos de troca de olhares onde nenhum dos dois disse qualquer palavra.

— Papai — Joshua chamou da sala.

Emmett saiu da frente deixando o caminho livre para Rosalie passar. Ela não olhou em seu rosto. Quis segurá-la pelo braço e beijá-la, mas Joshua chamou novamente.

Deu mais uma olhada nela, quando Joshua abriu a porta da frente e os dois saíram para o jardim.

— Tchau, mamãe!

— Tchau, vida.

Emmett olhou para trás, a chave do carro na mão, bem quando Rosalie fechava a porta sem se importar com ele.

— Começando sentir o que eu senti — falou consigo mesma. Embora quisesse ir com eles, resistiu bravamente. Ouviu o motor do carro e gradualmente o silêncio voltou.

Já que recusou o convite deles para almoçar fora, foi à cozinha preparar um lanche.

Alguns metros à frente, Emmett avistou um tesla parado sem ninguém ao volante. Não deu muita importância até ouvir o que Joshua disse. Voltou com o carro de ré até estar perto do veículo estacionado.

— Você tem certeza que é mesmo o carro de Royce?

— Tenho, sim. Aquele boneco de time de beisebol, pendurado no vidro é inconfundível, além do próprio carro.

Emmett fez a curva refazendo o caminho de volta. Estacionou um pouco antes da casa de Rosalie.

— Por que estamos voltando?

Emmett retirou o cinto de segurança.

— Papai — chamou Joshua, ficando apreensivo.

Emmett abriu a porta do carro e saiu.

— Papai. O que está fazendo?

— Fique no carro.

— Não — recusou o menino, retirando também o cinto de segurança.

Emmett moveu o braço com impaciência ao vê-lo fora do carro.

— Volte!

— Por quê?

— Preciso confirmar uma coisa.

— Que coisa?

— Entre no carro, Joshua.

Os olhos de Joshua arregalaram ao tom firme do pai ao falar com ele dessa vez. Obedeceu, e ficou de pé entre os bancos, olhando o que iria fazer. Viu o pai se aproximar da cerca branca olhando do outro lado como procurasse algo no jardim.

Desobedeceu ao sair do carro.

Emmett saltou sobre a cerca. Atento aos sons, ele seguiu pela lateral da casa onde deparou com Royce espiando na janela do quarto de Rosalie.

Um passo atrás do outro, sem fazer barulho, o alcançou pela camisa levando-o para longe da janela. Royce deixou cair no gramado algum tipo de ferramenta para soltar parafusos. Ele se assustou com o golpe surpresa, tentando se libertar a todo o momento, até conseguir correr pela lateral da casa.

Joshua se assustou ao vê-lo vindo em sua direção.

Emmett alcançou Royce, derrubando-o com uma rasteira. Royce levantou cambaleante e tentou golpear seu rosto.

Joshua voltou correndo para junto da cerca, assustado com a sequência de golpes que os viu trocarem. Olhos bem abertos. Apesar de Royce parecer em desvantagem, sentiu medo pelo pai.

Correu para abrir o portão.

— Papai.

— Fique longe, Josh. — Emmett respondeu de volta.

— Moleque intrometido — Royce resmungou.

— Papai.

— Vá para casa.

Royce acertou o queixo de Emmett, se aproveitando de sua distração com o menino. Mas foi golpeado de volta na sequência.

— Foi você quem assustou Josh com a fantasia macabra de coelho. Deixou aquela coisa propositalmente na nossa porta. — Não eram questionamentos, eram afirmações.

Joshua bateu na porta da frente, aflito.

— Mamãe, mamãe, mamãe.

Rosalie estava tremendo quando alcançou a porta da frente, com dificuldades em abrir a fechadura. A primeira reação foi trazer Joshua para seus braços.

— Josh.

— Mamãe.

— O que aconteceu? Onde está seu pai?

Joshua se soltou de seus braços.

— Meu pai está brigando com Royce.

Só então percebeu o que acontecia. Saiu para o jardim a tempo de ver Emmett golpear Royce e ele bater as costas na cerca depois cair no gramado.

— Emmett. Royce — sem entender o que ocasionou a briga, quis que acabassem com aquilo. — Parem!

Mas eles continuaram.

— Parem.

— Mamãe. Papai.

— Josh, vá para dentro de casa.

— Não. Meu pai…

— Joshua me obedeça.

— Papai, pare! — Joshua pediu assustado.

— Emmett — Rosalie também pediu.

Royce estava no chão quando Emmett olhou Joshua ao lado da porta.

— Vá pegar a cabeça da fantasia de coelho — pediu.

— Não sei onde está.

— Na garagem, no armário.

— Não quero voltar a ver.

— Você não vai ver, está em uma caixa.

— O que vai fazer? — pediu Rosalie.

— Foi este verme quem assustou Josh.

O olhar incrédulo de Rosalie foi direcionado a Royce.

— Por quê? — questionou.

— Rose — Royce chamou seu nome.

Emmett cutucou a perna dele com a ponta do pé.

— Não olhe para ela. Não fale com ela. — Virou para olhar o menino. — Josh, vá!

— Ele tem medo — Rosalie lembrou.

— Então vá você pegar.

— Deixe Royce ir.

— Vou deixar, mas ele vai levar o que trouxe.

Enquanto falavam, Joshua correu na garagem e pegou a caixa no armário.

— Eu sabia que conseguiria filho — Emmett incentivou no instante que Joshua jogou a caixa no chão e recuou um passo, ofegante.

Rosalie puxou o menino para junto dela.

Emmett retirou a cabeça da fantasia macabra de coelho da caixa enfiando na cabeça de Royce, mesmo ele se recusando. O ergueu pelos ombros e o levou para fora do jardim.

— Se eu souber que anda rondando outra vez a casa que meu filho mora com a mãe dele, você vai se arrepender.

Royce se afastou cambaleante, tentando retirar a cabeça assustadora da fantasia de coelho que usou para fazer medo a Joshua.

Rosalie e Joshua ficaram olhando ele ir embora. Emmett, mais a frente, ofegante, determinado a protegê-los.

 


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