Behind every door is a fall escrita por Vihctoria


Capítulo 4
Capítulo 4




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Capítulo 4

(Música: Final Masquerade – Linkin Park)

 

O terceiro momento foi quando eu a abandonei.

A queda era inevitável, e sempre soubemos disso. Amávamos como amantes, mas éramos desconhecidos um ao outro. Eu sabia detalhar todas as marcas que haviam em seu corpo, sabia descrever teu cheiro e identifica-lo dentre milhares de alunos, tinha plena consciência de onde podia tocá-la e onde você sentia dor. Mas eu não sabia sobre sua família, sobre o que você gostava de conversar ou o que fazia quando não estava comigo. Podia desenhar tuas íris castanhas e ainda assim não saberia o teu nome do meio. Talvez não soubesse nem o teu nome, já que você era Granger pra mim, e eu era Malfoy pra você. Não saber era doloroso, mas eu estava embriagado por viver naquela realidade paralela que possuíamos, só eu e você, onde nem o Lord das Trevas nem o famoso Harry Potter podiam nos atingir. Não até a inevitável queda, que ficava cada dia mais próxima conforme eu me apaixonava mais por você.

—.-.-

— Onde você está indo? – Sua voz me atingiu no meio do corredor e por um momento eu pensei em correr. Eu era mais rápido, mas você era mais sagaz. – Não tente fugir de mim, Malfoy. – Eu sempre adorei e desprezei aquele tom imperativo na tua voz. Me deixava inebriado pelo teu poder, apesar de ser a coisa mais perigosa que eu havia experimentado até então. Parei no meio do caminho e esperei que você me alcançasse. O Castelo estava vazio, o sol já havia se posto e eu acabara de descobrir que Dumbledore deixara Hogwarts. Era o momento de colocar o meu plano a prova, e eu estava morrendo de medo de que desse certo.

— Tem alguma coisa errada, não tem? – Você me encarou e confirmou seus receios no meu olhar, que exibia muito mais do que eu imaginava quando eu estava na sua presença. Passei as mãos pelo cabelo louro e senti os fios saírem entre meus dedos. Você tomou minha mão nas suas e adquiriu aquela expressão compenetrada que me deixava louco de expectativa. – Harry me pediu uma coisa estranha hoje, e eu sinto que tem algo no ar. – Você comprimiu os lábios e me encarou, pedindo explicações, mas eu não consegui encará-la de volta.

— Estava patrulhando os corredores, apenas. – Mas você sabia quando eu mentia, e não havia como fugir daquilo. – Você não devia estar aqui, Granger. – Confidenciei, e minha voz firme pareceu um sussurro amedrontado naquela escuridão. Eu via seu rosto apenas parcialmente, um lado deles ocultado pela penumbra.

— Se dependesse de você, nós nunca estaríamos perto um do outro. – A ironia pingou dos teus lábios rosados, mas logo a preocupação se insinuou de volta no teu rosto. Eu não queria mentir pra você, mas sabia que nunca entenderia. Queria protege-la da verdade e da possibilidade de aquilo acabar mal naquela noite, mas se teve uma coisa que aprendi nos dias convivendo com você, foi que você era a mais forte de nós dois. Se alguém pudesse lidar com a verdade, era você.

— Granger, algo muito ruim vai acontecer essa noite. Pelo menos essa vez, confie no que Potter disse e faça o que ele te pediu para fazer. – Eu já sabia que Potter havia deixado o Castelo junto com o Diretor, e imaginava que ele teria dito à você que ficasse de olho na escola. Heróis tinham um instinto engraçado de saber quando as coisas iam dar errado, e você, Granger, não era diferente. Nós não havíamos discutido mais sobre o que eu fizera ou deixara de fazer após o incidente com Katie Bell, mas a desconfiança sempre esteve nos teus olhos quando notava a minha insegurança. Eu não sabia o quanto a menina mais inteligente daquele lugar sabia, mas nunca quis que descobrisse. Por mais transparente que eu fosse quando estava sob o teu olhar, nunca quis que você soubesse o quão podre estava minha alma por dentro. Eu me matava aos poucos a cada vez que testava o armário sumidouro e depois lhe tocava com as mãos sujas de traição, mas eu sempre gostei do trágico. Naquele instante, eu sabia que não adiantava protege-la, você sempre foi melhor em mentir do que eu.

— O que quer que você esteja pensando em fazer, não faça. – A súplica saiu dos teus lábios sem qualquer sutileza, e eu odiei você por isso. Odiei que me pedisse algo que eu não podia fazer.

— Só suma daqui, Granger. Junte seus amigos e fique no seu Comunal. – Não era uma ordem, porque eu descobri que você não acatava nenhuma ordem que não viesse de uma autoridade, mas um pedido. Eu não podia protege-la, mas podia fazê-la entender que precisava se proteger. Mas você cruzou os braços e se colocou na minha frente, me desafiando. Teus olhos exigiam que eu lhe contasse, mas já era tarde para mudar de ideia.

— Você fez diversas coisas estúpidas ao longo desses anos, Malfoy, mas me escutar não foi uma delas. Me escute agora: fique comigo essa noite. – Seus ombros suavizaram e eu vi tua fragilidade de grifinória aparecer embaixo daquele olhar firme com o qual me encarava. Eu quis tanto beijar você naquele momento que me pareceu um pecado estar ali parado enquanto podia amá-la nos corredores, me pareceu desperdício gastarmos palavras quando devíamos nos comunicar por olhares. Quis poder leva-la comigo quando aquilo tudo acabasse, e nunca a gravata verde e cinza pesou tanto no meu pescoço.

— Fique comigo. – Você repetiu, e seu sussurro apagou qualquer pensamento coerente da minha cabeça. Avancei e tomei-lhe nos braços, sufocando seus murmúrios com meu beijo desesperado. Empurrei-a contra a parede e beijei seus lábios, suas bochechas, seu pescoço e seus seios; senti tuas unhas arranhando meu peito e tuas mãos ansiosas por tirar minha camisa. Sua gravata era tão vermelha quanto o sangue que corria nas tuas veias, imundo e delicioso, tão sujo quanto o meu, tão cheio de perdição que eu esqueci o que devia fazer, esqueci que tinha que me proteger dos teus olhos sagazes. Coloquei suas pernas em volta dos meus quadris e prendi tuas mãos na parede; só queria me perder em você e na tua pureza de grifinória, mas eu cometi um erro imperdoável.

— O que é isso? – Você interrompeu o beijo quanto tentou rasgar minha camisa e viu o que estava gravado à fogo em meu antebraço. A marca negra pairou sobre nós e eu senti o asco que envolveu tuas íris, antes tão transparentes de desejo. Eu me afastei, tentando cobrir a marca, mas não havia camisa branca que escondesse aquela mancha podre e negra que agora fazia parte de mim. Eu a tinha desde o começo do ano, mas a mantinha escondida com um feitiço de ocultação. Naquela noite, porém, eu precisaria da marca, por isso não me preocupara em escondê-la. O horror era tão palpável em teus olhos que quis arrancá-los só para não vê-los direcionados à mim.

— Você é mesmo um deles então. – Não foi uma pergunta, até porque a resposta era evidente. Cobri a marca com a outra mão, mas não tinha como cobrir a minha vergonha.

— O que você esperava? – Murmurei em resposta, ciente do tom de desespero em minha voz, quando eu tentava parecer indiferente. Você havia descoberto minha farsa desde o início, e agora não havia como mascará-la. – Eu sou um Malfoy, Granger. –

Seus olhos se encheram de lágrimas. Eu tentei amá-la outra vez, mas tudo que vi foi o abismo entre nossas vidas. Você era a heroína, enquanto eu sempre fiz papel de vilão na história toda.

— Eu achei que não fosse tarde demais. Achei que tinha tempo de lhe mostrar que existem meios de mudar seu destino, independente de um sobrenome. –

— Você não sabe o peso do meu sobrenome, Granger. –

— Não, eu sei o peso do meu. – As palavras pairaram sobre nós, quase palpáveis. A ferida se escancarou. – Eu sou a menina estranha viciada em livros e com os dentes grandes demais. Eu sou uma sangue-ruim filha de trouxas que nunca deveria ter vindo para Hogwarts, não é? Não é isso que você sempre pensou? – Suas lágrimas haviam secado, e o peso das palavras era maior que nunca. – Eu mudei meu destino ridículo e transformei em algo em que eu pudesse me agarrar, eu descobri por quem eu deveria lutar. –

— E porque Potter é o cara por quem você deve lutar? Por quem eu devo lutar? – Inevitavelmente, sempre chegávamos nesse impasse. Você era fielmente leal ao garoto da cicatriz, e talvez isso eu nunca fosse entender.

— Porque é o certo, Malfoy, você sabe que é o certo. Você não é um deles. – Seus olhos pousaram na minha marca, e o abismo entre nós se tornou maior. Eu amei você, Granger, mas nunca amei seu causa. A verdade era que eu não tinha lado algum, eu só rumava para onde meu sobrenome havia me levado até então, e eu não estava pronto para desistir disso.

— O que você sabe sobre mim, Granger, de verdade? – Cheguei mais perto, prendendo seu corpo contra a parede, mas você não recuou. Encarou-me como se estivéssemos na mesma altura e eu senti que perderia aquela disputa de olhares.

— Sei que você não é um assassino. Sei que você se esconde por trás dessa máscara de frieza, mas seu coração não é inteiramente sonserino. Assim como eu não sou inteiramente grifinória. – Sua voz se transformou em um sussurro e eu pensei que fosse beijá-la de novo. Aquela inconstância me fazia amá-la e odiá-la em intervalos, e eu queria que acabasse logo. Sua mão tocou meu coração e eu fechei os olhos por um breve momento. Cogitei desistir outra vez, mas lembrei que não havia mais tempo.

— Corra, Granger. Se esconda e proteja seus amigos. Eles estão vindos. – Foram minhas últimas palavras pra você antes que eu ouvisse o baque vindo do sétimo andar, seguido de vários estouros. Você assustou e eu corri antes que me alcançasse, olhando em teus olhos pela última vez pra ver a exclamação muda nos teus lábios, e a certeza de que você nunca me perdoaria por tê-la feito me amar, e depois abandoná-la quando as escolhas ficaram difíceis.

Afinal de contas, você sempre foi mais forte que eu.

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