Behind every door is a fall escrita por Vihctoria


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786110/chapter/3

 

Capítulo 3

(Música: They All Fall Down – SR-71)

 

Foi a tarde mais longa da minha vida. Acabei com o que ainda me restava de unhas nos dedos e vários fios louros do meu cabelo estavam no chão. Esperei ansiosamente que meu plano desse certo, embora soubesse em meu âmago que era uma ideia estupida em comparação à experiência do único que Lord Voldemort já temera. Sabia, ainda, que aquilo tudo era um castigo e que minha vida não importava nem um pouco para o grande lord das Trevas. A única pessoa que talvez tivesse um pingo de consideração por mim naquele momento eu havia destruído, e tudo que me restava era encostar a cabeça no concreto e esperar pelo pior.

—.-.-

Eu poderia tê-lo esquecido, se quisesse. Poderia ter enumerado os motivos que me faziam odiá-lo, poderia listar todas as humilhações pelas quais você havia me feito passar. Mas aquela dor que martelava lá no fundo do meu peito, que fazia aquele coração gelado bater desesperadamente procurando pelo fluxo de sangue que não chegava, me lembrava que eu estava viva, e que aquilo importava. Eu sabia quando você mentia, e tinha certeza ter visto as írises cinza gritando pra mim nas últimas palavras que Draco Malfoy dissera.

Aconteceu rápido demais. Katie foi amaldiçoada por um colar enfeitiçado e por um triz não a perdemos, e então os dias passaram sem notícias e eu esperava o pior, enquanto guardava no íntimo a sensação de conhecer o autor daquela tentativa horrível de assassinato. Tentei afastar a ideia, mas parei de ver o louro da gravata verde nos corredores e notei que sua palidez estava acentuada nos últimos dias. Desejei poder aproximar-me de você, mas todas as vezes que o avistava nas aulas, eu estava acompanhada. Nossos olhares só se cruzaram uma vez naqueles oito dias, e eu nunca me senti tão impotente.

— Hermione, você ouviu o que eu disse? Katie Bell voltou! – Havia escutado da primeira vez, só não tinha certeza do que aquilo significava. Fiquei feliz em sentir o alívio me inundando, mas havia outra sensação conhecida na boca do meu estômago. Demorei um instante para perceber que você saiu em disparada do Salão Principal. Demorei um instante ainda maior para notar que Harry havia levantado e o seguido, e só quando ouvi Rony gritando comigo foi que a ficha caiu. Dispensei seus comentários sobre Quadribol e levantei para segui-los, porque minha intuição raramente falhava, e naquele momento ela estava desesperada. Passei pelos corredores largos e tentei escutar qualquer barulho que não fosse o tagarelar dos estudantes indo jantar e dos quadros se abrindo para as passagens. Pensei ter ouvido um farfalhar de capas virando um dos corredores, mas dei de cara com a parede.

''Onde diabos vocês estão?'' Eu sabia que Harry havia ido procura-lo, ele era tão inconsequente quanto você quando queria, e nenhum dos dois jamais foi bom com provocações. Quando pensei em desistir, quase ao ponto de utilizar um feitiço de localização, eu ouvi o barulho inconfundível de batalha e de algo quebrando. Voei na direção do barulho e dei de cara um banheiro masculino escondido em uma dobra de corredor. O choque estampou meu rosto ao som dos murmúrios horrorizados de Harry.

— Não, não. Não era minha intenção... – Ele também estava em choque, mas tudo que eu via era o sangue vermelho como o meu escapando de vários pontos do teu corpo.

— Hermione, não sei o que aconteceu, eu nunca quis feri-lo assim... – Eu acreditava em Harry, mas sabia que aquele feitiço era obra de magia das trevas e que não havia tempo para se lamentar. Minha mente trabalhou em segundos enquanto eu ouvia Harry murmurar e você chorar baixinho, e sabia que aquilo tinha que ser escondido. Se soubessem que Harry havia utilizado um feitiço daquele potencial em alguém, o que pensariam do incidente com Katie? Não podia deixar que ele entrasse em um problema maior do que conseguiria resolver, então ajoelhei-me ao seu lado e segurei seus ombros com firmeza.

— Me escute: vou limpá-lo e você saíra daqui e irá direto para o Comunal, entendeu? – Ele fez que não com a cabeça. – Harry, isso é magia das trevas! Se alguém souber que você fez isso, sua inocência acaba aqui, ouviu? –

O medo continuava estampado nos olhos verdes dele, enquanto seus gemidos me cortavam o coração. Mas eu tinha que cuidar de Harry antes de cuidar de você, e foi o que fiz. Limpei as mãos sujas de sangue d'O Eleito e o empurrei para fora do banheiro.

— Eu vou fechar esses ferimentos, mas me prometa que não vai contar isso pra ninguém, entendeu? Harry! – Ele finalmente fez que sim com a cabeça, e consegui manda-lo embora dali. Tranquei o banheiro com um feitiço e então corri para ajoelhar-me ao seu lado, mas você já havia desmaiado.

— Malfoy? Fique comigo. –Apoiei sua cabeça no meu colo e analisei a extensão dos ferimentos: eu nunca havia tentado curar feridas que sangravam daquela maneira, mas já tinha lido livros demais para puxar na memória o que fazer. Consegui fazer com que a hemorragia parasse, e então comecei a fechar os ferimentos um por um. Rasguei o trapo que havia virado sua camisa e me foquei no trabalho de curá-lo, desenhando seu corpo com a varinha enquanto passava a outra mão pelos teus fios louros demais. Em determinado momento você acordou e agarrou minha mão com uma força surpreendente para alguém que havia acabado de perder metade do sangue do corpo.

— Granger. – Não foi uma pergunta, apenas uma confirmação de que era isso mesmo que você estava vendo. Senti meu coração bater duas vezes mais forte.

— Não se mexa, ainda falta um pouco. – Murmurei, mas continuei segurando-lhe a mão. Você não disse mais nada, embora teus olhos tenham permanecido nos meus por tempo suficiente para que eu acreditasse que podia beijá-lo, ali e agora. Depois voltei a focar nas suas feridas, e lentamente teu corpo pálido deixou de ser vermelho e voltou ao tom que eu conhecia tão bem.

— Como está se sentindo? – Você demorou para responder e eu pensei que havia desmaiado outra vez, mas então minha mão estava em seu coração.

— Vivo. O que você fez com Potter? – Sua preocupação era meramente curiosidade, e eu não senti raiva nas suas palavras. De alguma maneira, isso tornava tudo pior.

— Mandei-o ir para o Comunal. – Mordi o lábio e fiz a pergunta que você esperava. – Foi você que fez aquilo com a Katie? – Sua mão continuou na minha, mas você não subiu os olhos para me encarar.

— O quão importante essa resposta é pra você? – Não havia confirmação nenhuma ali, porque o rumo da pergunta era totalmente diferente, porém nós dois sabíamos a resposta.

— Quis acreditar que você não seria capaz de tentar matar alguém. – Eu parei de me segurar e chorei. Chorei e minhas lágrimas caíram em seu cabelo, escorrendo para o seu rosto. Por um momento acreditei que você também estava chorando.

— Eu também. – Você fez esforço para se sentar e eu não o impedi. Doía demais ouvir aquilo da sua boca, e eu não encontrei mais nada para falar. – Não era direcionado a Katie Bell, se isso trouxer algum consolo. –

— É só isso? Você vai dizer que tentou matar alguém dentro da Escola e não vai me contar nem o porquê? – Era horrível que a minha maior indignação restava no fato de que você não queria dividir sua história comigo, mas não parei para pensar naquele instante, eu só queria algo concreto no qual me agarrar.

— Granger, eu não posso ser o cara que você quer que eu seja. – Seus olhos finalmente encontraram os meus e pude ver sua insatisfação com aquilo tudo. Estávamos fartos daquele jogo, mas nenhum dos dois queria ceder. – Sinto muito.

—.-.-

''Eu não posso ser o cara que você quer que eu seja.'' Onde eu havia visto essa frase clichê, em algum filme de romance idiota? Você sabia que eu mentia, estava estampado naqueles grandes olhos castanhos seus, e eu odiava esse seu superpoder. Nós sabíamos a verdade, mas não era algo que se dizia em voz alta. No lugar da verdade, se arrumava um clichê ainda maior, o famoso ''Sinto muito''. Nesta vez, porém, eu realmente sentia.

— Precisamos ir. – Você não disse nada e então eu levantei, gemendo, percebendo finalmente que estava sem camisa. Os restos da gravata verde jaziam no chão ainda pintado do vermelho do meu sangue, e aquela mistura me causou desconforto. Estendi a mão para que você levantasse, mas tudo que teus grandes olhos fizeram foi me encarar.

— Eu imaginei que seria a primeira a desistir. Pensei que um dia acordaria e pensaria ''O que diabos estou fazendo dormindo com Draco Malfoy''? Desejei, por um instante, que Harry e Rony descobrissem, pra que eu tivesse um motivo para parar de vê-lo. – Você riu, e a risada cortou meu coração gelado. – E aqui estamos, com você me dando a resposta mais covarde do mundo pra qualquer coisa. – Só vi o momento que seus punhos me acertaram no peito nu e eu senti os ferimentos recém-fechados gritarem. – Eu não sinto muito! Não sinto muito porra nenhuma. – Segurei seus pulsos, mas você continuou me batendo e empurrando meu corpo para trás, querendo me machucar depois de ter me curado, esperando uma reação minha depois de tudo aquilo que havíamos passado. A dura verdade era que eu era um covarde, e isso nunca bastou pra você.

— Não ouse terminar comigo porque você não ''pode ser o cara que eu quero'', porra. – Sua raiva tinha se transformado em lágrimas novamente e senti seu corpo caindo sobre o meu. Encostei na parede fria do banheiro e escorreguei, sentando-me e carregando você comigo, embalada nos meus braços. Seus soluços se tornaram as batidas do meu coração e de repente tudo o que eu senti foi paz. Era uma paz momentânea e frágil, que se quebraria com qualquer oscilação daquela sincronia perfeita entre nós, mas era paz. – Não ouse fazer isso. Não com mentiras. – Seu rosto estava pressionado contra meu peito e as lágrimas escorriam pelo meu corpo. Lembrei de quando as lágrimas eram sangue e fechei os olhos.

— Você sabe a verdade, Granger. Você sabe que sou covarde demais pra mudar por qualquer pessoa, até mesmo por você. Não sou como Potter ou Weasley. – Incontestável esses fatos, e foi um alívio finalmente retirá-los do meu peito. Lembrei-me que um dia desejei ser herói, ter meu nome reconhecido pelas coisas boas que havia feito, quando ainda não existia toda a pressão sobre o meu sobrenome, e como a aceitação de que eu nunca seria como Potter demorou para chegar. Eu nunca poderia ser como teus amigos, que estariam ali em qualquer situação, por quem você daria a vida sem pensar duas vezes. Desejei, confesso, ter ido parar na grifinória e ter quebrado a tradição do sangue puro. Ali, naquele chão imundo e pensando na menina que eu quase havia matado, meu sangue era tão sujo quanto o de qualquer outro.

— Eu nunca pedi que você fosse igual a eles. – Sua voz veio baixinho do meu peito até que seu rosto alcançou a altura do meu. ''Você não pediu, mas desejou''. Eu sabia que também mentia, mas não podia culpa-la por isso.

— Nunca serei. E não acredito que você esteja preparada para lidar com isso. – Seus olhos se encheram de uma fúria intensa, o que me trouxe instantânea alegria.

— Deixe que eu sei com o que eu posso lidar. – Seus soluços haviam parado e você enxugou os olhos vermelhos, deixando transparecer aquela diária irritação que tanto me divertia. Quase ri, mas o riso se transformou em um esgar de pesar quando olhei para meus braços enroscados ao teu redor: os ferimentos haviam se transformado em finas cicatrizes, como se eu houvesse feito diversos cortes nos braços. Você captou meu olhar e traçou as linhas com o indicador.

— Parece que você não poderá desfilar sem camisa pelo dormitório pelas próximas semanas. – Desta vez ri com a provocação nas tuas palavras, e meu aperto em torno do teu corpo ficou mais forte.

— Posso lidar com isso. A questão é: você pode? – Rebati a provocação e você riu, um som tão harmonioso que quase fez meu coração parar.

— Vamos descobrir. – Seu tom passou de divertido para sério, e quando vi sua testa estava encostada na minha. Tentei me lembrar dos últimos minutos, mas tudo que meu cérebro visualizava agora era sua boca na minha.

—.-.-

Foi um beijo diferente. Nada daquele desespero frequente em nossos toques, nada daquela paixão ardente transformada em sexo rápido. Ficamos por uns instantes apenas sentindo a respiração um do outro, e eu estava tão presa em seu abraço que não me importei de esperar. Deixamos os lábios se tocarem com suavidade e quando vi já estava te amando de novo. Como eu sabia o que você estava fazendo, tentei me concentrar na lista de motivos para dispensá-lo, mas não encontrei mais nenhum, porque sua mão já estava embaixo da minha blusa e minha cabeça só pensava em quanto tempo ainda tínhamos até tudo desabar.

—.-.-

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Behind every door is a fall" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.